Comecei o Estórias do Mundo naqueles já tão distantes anos de 2006, não como minha primeira experiência no mundo dos blogs, porém a primeira na qual eu decidi contar a verdade. Sob o disfarce da raposa, eu podia finalmente escrever sobre todos os aspectos de minha vida e, nisto, sobretudo, minha sexualidade. Inspirado pelo Divã do meu amigo Delano, eu me dispus a contar tudo o que acontece no meu mundo.
O blog começou com uma divisão: Presente e Passado , em que eu me revezava entre contar estórias recentes e também um exercício de retornar ao meu passado, revolvendo poeira, enfiando o dedo em feridas, fazendo acusações, me auto analisando, foram, de fato, 4 anos de terapia, encerrada em 2010 por causa de conselhos do meu ex-namorado que disse-me que meu passado somente bloqueava meu futuro porque eu continuava preso a ele, por causa dessas palavras dele, eu também abandonei a coluna sobre o meu passado porque ela era o ícone de como meu passado se mantinha ativo em minha vida.
O Tato, meu primeiro e único namorado, foi uma das pessoas maravilhosas que eu conheci através do blog. Mas ele não foi o único. E para contar essa estória, deixem-me contar um pouco de História. Eu divido os blogs em eras, quando eles começaram, de 2001 até a época que comecei o estilo diário de bordo (log) era evidente e a grande questão apresentada por estes blogueiros era: "ai, meu Deus, eu sou gay, e agora?". O perfil dos blogueiros era de meninos muito jovens e as questões de aceitação, de descoberta do mundo gay, em resumo, da saída do armário era muito próxima a todos. Meus primeiros textos inclusive também vão nessa direção, mas meu primeiro texto foi em setembro de 2006, em outubro eu já estava cansado destas questões que eu já havia superado aos 25 anos de idade.
E quando o Delano lançou seu texto assumindo que era garoto de programa, ele, sem querer, lançou o manifesto que criou a segunda geração de blogs gays. Gosto de chama-los "I'm here, I'm queer, deal with it!", eu segui-lhe, meu texto Sedutor Acidental modificou radicalmente os tipos de textos que eu iria escrever dali em diante. E, orgulho-me em dizer, que foi por causa do diálogo que nós dois iniciamos ali em que começamos a narrar as delícias da vida gay que houve uma reviravolta no discurso de boa parte dos blogs gays brasileiros. Foi uma época de contar baladas, narrar conquistas sexuais, relatar experiências ilegais e imorais, mas principalmente de exibir todo o glamour que a vida gay poderia conceder para jovens que tinham sua vida toda para frente e eram orgulhosos de terem nascidos como eram.
Isso atraiu um boom de novos leitores e de blogayros, e isso, somado ao fato de que eu e o Trintinha em busca de elogios e de comentários também resolvermos exercitar nosso exibicionismo com fotos, que não valem a pena serem revistas (se querem ver as fotos que publiquei por aqui vejam estas que ainda valem a pena: Meu Aniversário, Solteiro, Sozinho ou Solitário, Raposa Vermelha, Urocyon Cinereoargenteus), atraíram também um grande número de weirdos, mas um sem número de pessoas incríveis que passaram pela blogosfera e deixaram muita saudade, que sinceramente não dá para colocar seus nomes aqui sem fazer uma lista quilométrica. Mas é preciso citar os amigos que foram feitos através deste blog, nos seus anos iniciais, e permanecem em minha vida hoje: BrunoEtílico, Samuel Bryan, Alternativo e Rajeik.
No entanto, minha vida sofreu imensas reviravoltas e aquele menino que eu era em 2006 morreu em 2010, quando, após dois anos em Belo Horizonte, eu vi meus sonhos se transformando em areia e escorrendo por entre meus dedos. Nos últimos 3 anos meu blog não faz parte, não mais, desta vida de glamour gay que envolvia baladas e tornou-se extremamente mais intimista, apesar de oscilar em momentos de total devassidão sexual, como no A Vida de Heitor Renard, minha websérie sobre a vida de um parte de mim que podia viver sem esperar amor, a nova coluna sobre história da homossexualidade, HomoHistória, para dias em que discuto sobre como estou infeliz nesta vida que tenho levado. É radical a transformação do menino de 25 anos que eu era em 2006 para o homem que me tornei aos 32 em 2013, porém o trajeto ficou registrado neste blog cada passo, cada percalço, cada mudança de opinião, cada aprendizado, cada nova experiência, ficou nestas páginas virtuais registrado.
Começo com este texto a programação de aniversário do blog, vou trazer surpresas para vocês por aqui, mas este texto é principalmente para agradecer a todos! Aos poucos antigos leitores que restam, aos nem tão antigos assim que são bem numerosos (Bê, Rafael Morello, Gato, Cara Comum, que agora é o Leão, Fred, Edu, Serginho, apenas algum para representar vocês porque uma lista seria impraticável), e aos vários novos (Adriano, Cocada G, Ariano, entre vários outros), além, é claro, de todos os anônimos (que eu adoraria que adotassem um nome como o Robson, que assina o comentário, só para que eu sabia se vocês estão voltando, sabe?), o meu profundo obrigado por virem sempre aqui para puxar minha orelha, dar-me conselhos, comemorar comigo ou simplesmente deixar seu abraço. Meu carinho por vocês é imenso!