Google+ Estórias Do Mundo: novembro 2012

terça-feira, 27 de novembro de 2012

O Que É Homofobia?

, em Natal - RN, Brasil
Eu fiquei chocado demais com o último texto do Para Ladys para ficar em silêncio desta vez. O trecho que me incomodou eu repito abaixo:

Existem várias formas de ser preconceituoso. Outro dia eu admiti que não gosto de gays "afetados", alguns falaram que isso era homofobia, mas não é. Isso por que eu nunca agredi fisicamente ou verbalmente ninguém. Mas existe um tipo de preconceito que é o pior de todos, que são aquelas pessoas que se dizem abertas para a diversidade em seu discurso mas que na prática agem de forma preconceituosa.


Eu sinceramente reli esse excerto umas quinze vezes para ver se eu não estava entendendo errado. Pedi ajuda perguntando a algumas pessoas se eu não tinha lido errado, mas, infelizmente não li. O trecho repete um discurso extremamente comum, inclusive, de que homofobia só existe quando há uma agressão. O bom é a própria resposta ao comentário do Frederico que ele escreve em seguida: o pior tipo de preconceito é o que advém de pessoas que se dizem mente aberta ou que sofrem o preconceito, mas que na prática agem com preconceito. 
Deixem-me então ser mais didático e explicar o que é homofobia. O dicionário Priberam define homofobia como "repulsa ou preconceito contra a homossexualidade ou os homossexuais". É bom lembrar que o dicionário nos dá duas pistas, a primeira é a ideia de repulsa, a segunda de preconceito. Falemos da primeira. Repulsa, segundo o mesmo dicionário, se aproxima dos significados de repelir, rejeitar, recusar, afastar, você repele, rejeita, recusa, afasta de si, coisas que você não gosta, não é? Ou estou enganado? É quando você não gosta de algo que você a distancia de si, não é? Então, quando ele fala que ele "não gosta de gays afetados", ele afirma com todas as letras que repele, rejeita, recusa e afasta de si gays afetados, se ele faz tudo isso, ele tem repulsa a uma das formas em que a homossexualidade se apresenta. 
E que isso fique claro: ser efeminado, afetado, afeminado, é também uma das formas que a homossexualidade, como sexualidade humana, se apresenta. Homens com traços femininos fazem parte da História humana desde a Antiguidade e nunca deixaram de existir entre nós, muitos deles inclusive são heterossexuais, mas vários são homossexuais. Inclusive culturalmente, os japoneses e, aqui no Brasil, os mineiros têm uma expressão de sua masculinidade que para muitas outras regiões do mundo seriam consideradas efeminadas. Então, manifestar repulsa contra essa parcela da população homossexual é sim manifestar homofobia, não contra todos os gays, mas homofobia contra um parcela específica da população homossexual. Tipo este de homofobia extremamente comum entre os próprios gays em relação a grupos com os quais eles não se identificam, vejam os efeminados contra os machos, ou as barbies contra os ursos, ou os travestis contra todos os outros, preconceito comum, e preconceito homofóbico.
É importante lembrar que "não gostar de efeminados" não significa apenas não gostar de um determinado recorte do universo homossexual. É bem mais que isso! É rechaçar uma característica que é entendida historicamente no meio heterossexual como um sinônimo mais direto de homossexualidade. Um homossexual que nega de forma muito veemente características que são culturalmente impostas a condição gay talvez tenha dificuldades para se auto-aceitar e, por meio desta fuga destes elementos, seja ser efeminado, seja gostar de divas pops, seja manter o corpo sarado, tenta intimamente se heterossexualizar.
Voltando ao segundo significado dado pelo dicionário, o que significa preconceito? Preconceito, segundo o Priberam, é uma "ideia ou conceito formado antecipadamente sem fundamento sério ou imparcial", significa que no caso dos efeminados você nem viu o garoto, mas já define que não tem tesão por ele porque você já sabe por antecipação que nenhum homem que possua a característica de ser efeminado pode vir a despertar desejo em você. O segundo significado de preconceito no dicionário fala de manter uma "opinião desfavorável que não é baseada em dados objetivos", cito o texto do Frederico como exemplo (chamava-se Seria Eu Um Homofóbico?): neste ele dizia que homossexuais efeminados eram sempre mais escandalosos e "mal educados", foi a expressão que ele usou, quais dados objetivos ele levantou para afirmar que todos os homens gays efeminados do universo são mal educados?
Por fim, o dicionário dá o último significado para preconceito como um "estado de cegueira moral", e ai eu fico a pensar se não é exatamente esse o problema. Quando não reconhecemos nossa própria homofobia e criamos um blog que fala para um público imenso nossa opinião que está permeada com nosso preconceito, não enxergamos que estamos alimentando também a homofobia que nos atinge. Afinal todo blog tem a capacidade de falar para um público imenso, isso é a internet, e o Google está ai e alguém pode perguntar "Sou homofóbico?", e cair nos nossos blogs e por causa de textos como estes achar que não é. Ou pior, quando alguém afirma claramente que por que ninguém foi agredido fisicamente ou verbalmente o ódio pode existir, porque este pode não ser um significado presente no dicionário, mas quando vivemos numa sociedade em que seres humanos são brutalmente agredidos com lampadas, paus e pedras (um menino de 19 anos morreu a pedradas em Natal por ser gay essa semana) precisamos incluir no significado de homofobia também o ódio a homossexuais de tal maneira que pode mover alguém a acabar com a vida de uma pessoa inocente apenas por causa de sua orientação sexual. 
O ódio por outro ser humano não pode existir de forma alguma. Em nível algum. Sua homofobia não está perdoada se você a mantém apenas dentro de sua mente, se você não tirou sangue de nenhum viado que passou pela sua frente ou porque você não xingou ninguém que passava por você na rua. O respeito, "sentimento que nos impede de fazer ou dizer coisas desagradáveis a alguém", e a aceitação, "estar conforme com, admitir", não podem conviver com o mal, e como dizia Confúcio, o bem não está em não fazer o mal, está antes em não desejar fazê-lo.


sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Sexta, Sábado e Domingo

, em Natal - RN, Brasil
Por causa da conversa com meu chefe e com o Bernardo, eu fiquei curioso sobre os sites de relacionamento em Natal. Sabem? Ursos, Manhunt e Disponível? Estes sites em que as pessoas fazem perfis para encontrar alguém, normalmente para sexo, mas também para relacionamentos? Então, eu me inscrevi por pura curiosidade. E também para livrar minha consciência de ficar pensando que eu não tentei absolutamente tudo. Fiz um perfil, totalmente desconectado da possibilidade de sexo sem compromisso (coisa que realmente não me interessa), com uma foto de rosto e uma foto de corpo inteiro, a que já postei aqui. Não demorou uma hora para eu receber a minha primeira mensagem, a foto um torso muito bonito, pêlos no peito, uma barriga sarada, convidando para um sexo sem compromisso: "Sou casado e muito discreto, afim?". Agradeci, mencionando que ele era muito bonito, mas eu não estava interessado em sexo desta forma. Outros vários também apareceram. Diariamente são pelo menos quatro mensagens convidando para sexo. Não me surpreendeu em nada. 
Mas também houve outras mensagens: Gente do Rio de Janeiro; de Barcelona, Espanha; de Curitiba e Florianópolis, de João Pessoa, que diziam que sou lindo e que namorariam fácil comigo se eu morasse na mesma cidade que eles. Também não me surpreendeu. Foi quando, numa noite de sexta-feira, eu recebi uma mensagem de um menino de Natal. "Olá, afim de papo?". Eu o reconheci assim que abri o perfil, temos alguns amigos em comum, frequentamos os mesmos ambientes na cidade, eu já tinha pego ônibus com ele e sempre o achei lindo. Respondi: "Claro! O que você diria se eu dissesse que te conheço e que sempre te achei lindo?". Ele não demorou a responder: "Isso me instiga. Vamos conversar no MSN?". E trocamos endereços. Conversamos bastante naquela noite, contei de onde o conhecia, e ele lembrou que já havia me visto em uma festa numa casa de praia. Falamos sobre nossas pretensões no site, sobre a vida, trabalho e até mesmo sobre sexo. Ele confessou-se tímido e eu acabei propondo que nos encontrássemos no sábado mesmo. Ele concordou, mas não terminamos de conversar. Somente as 4h da manhã nós desligamos, porque ele lembrou que tinha que trabalhar pela manhã, durante toda manhã do sábado. Eu o obriguei a desconectar e desejei-lhe uma boa noite.
Marcamos no dia seguinte. Ele iria tocar num dos bares de rock da cidade. Ele é vocalista de uma banda que toca um indie rock depressivo. Eu cheguei no bar e avisei-lhe por mensagem que estava lá, ele respondeu rápido dizendo que logo chegaria, mas iria direto para o palco, que depois nos falaríamos e eu disse que tudo bem. Fui sozinho, apesar de ter convidado alguns amigos, nenhum deles topou. Ao chegar ao bar, ele me viu e me cumprimentou rapidamente, mas logo foi cuidar dos últimos preparativos para a banda. Eles tocaram por uns 45 minutos, eu bebi uma garrafa de cerveja sozinho, em um canto perto do palco, esperando que ele terminasse para vir falar comigo.
Quando o show terminou, o palco foi invadido. Muitos fãs! Meninas estéricas, meninos gays afogueados. Vale a pena uma descrição dele: Alto, com um cabelo liso e negro, amarrado num pequeno rabo de cavalo.  Pequeno mesmo. Ele cantava com a franja cobrindo um lado do seu rosto, de calça skinny modelando as pernas e a bela bunda. Vestia uma camisa xadrez aberta, com uma t-shirt por baixo, o braço grosso forçava o tecido da camisa a exaustão. Tinha um piercing no nariz. Lindo e com uma voz grave gostosa de ouvir. Este homem foi então cercado por inúmeras pessoas e ele tentava agradar a todas, era um abraço, uma pequena conversa, uma menina ruiva chorando em seus braços, ele já me vira e tentava se aproximar, mas era sempre parado por alguém, até ele chegar perto de mim e falar: "Vou resolver as últimas coisas do show, ok? E ai a gente senta e conversa?". Eu concordei. E ele me deu um beijo na bochecha antes de se afastar.
Acabei saindo da área do bar em que acontecem os show, fui lá para fora, pedi uma nova cerveja e ele demorou tempo o bastante apenas para eu terminar o primeiro copo. Eu o via se deslocando entre mesas, sendo chamado para conversar com as pessoas, muita gente o tempo todo o chamando. Mas ele conseguiu chegar até mim e disse-me que queria comer algo, e me chamou para acompanha-lo. Sentamos numa mesa, com amigas dele, ele pediu um crepe, eu continuei na minha cerveja, nosso maior tempo de conversa foi enquanto ele comia esse crepe, porque ao terminar, novamente, novas pessoas apareciam e a todo tempo nossas conversas eram interrompidas por alguém. Um fã da banda, um amigo, muitas vezes ele se levantava da mesa e deixava-me sozinho com as amigas dele, com as quais eu até consegui conversar um pouco. Até que em determinado momento ele falou: "Desculpa, não foi uma boa ideia ter te convidado para vir hoje. Não consigo te dar atenção!". Eu sorri e brinquei: "Não se preocupa, normal! Assim eu já sei como seria se eu namorasse você!". Ele sorriu e ficou vermelho. E quando ele ia novamente falar algo uma nova pessoa o chamou para algo importante e ele pediu desculpas e se levantou.
De fato, conversamos pouco, quando há 1h da manhã ele disse que tinha que ir embora. Estava cansado. E eu disse que ia também. Ele perguntou como eu iria para casa e eu falei que de táxi. "Eu não dirijo", falei, "por princípios éticos: se todo mundo comprar carro porque o serviço de transporte público não presta eles não têm motivos para melhorar o transporte público". Ele riu com visível benevolência. Eu tentei tocar-lhe naquele momento, fiz um carinho em suas costas, ele não correspondeu, mas permitiu. Fomos então pagar nossas comandas, e ele foi embora de carona com uma amiga, eu voltei para casa sozinho. Na despedida ele me deu um outro beijo, na bochecha, novamente. Mandei-lhe uma mensagem, no entanto, no caminho de casa: "Foi um imenso prazer te conhecer de fato. Você é ainda mais lindo de perto". Ele só respondeu na tarde do domingo. "Também foi um prazer te conhecer e não quero te iludir: não bateu feeling entre nós, mas te achei super legal". Eu respondi que tudo bem, que não era um problema, e tentei até sorrir, mas o fato é que um aperto no coração fez horas depois, quando a noite já havia caído, algumas poucas lágrimas caírem.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Pérsia: Os Homens e os Meninos

, em Natal - RN, Brasil


A origem da pederastia, isto é, do relacionamento homoerótico entre um homem adulto e um menino na antiga Pérsia foi um assunto debatido desde a Antiguidade. Heródoto, historiógrafo grego, afirmava que os persas tinham aprendido aquele hábito com os gregos: "Os persas assimilam facilmente os costumes estrangeiros. Dominados os Medos, começaram a adotar os trajes destes por considerá-los mais belos que os seus. Nas guerras, envergavam couraças à maneira egípcia. Entregam-se com ardor aos prazeres de todo gênero de que ouvem falar, e adquiriram com os Gregos o amor aos jovens" (Livro I, CXXXIV). No entanto, Plutarco afirma que os persas já conheciam o chamado "amor grego" desde muito antes do contato com os gregos, já que nas primeiras guerras médicas os persas já tem entre suas fileiras inúmeros eunucos. Apesar destes autores antigos, Richard Francis Burton (1821-1890), historiador inglês do século XIX, o primeiro a traduzir os contos árabes para a língua inglesa, era da opinião de que os persas haviam absorvido o costume das populações que habitam o vale do Tigre-Eufrates. A questão de como começou, no entanto, é uma discussão inútil sendo bem mais interessante reconhecer quais as formas sociais mais comuns em que se davam, na Pérsia, as relações homoeróticas.
Stephen Murray explica em seu Homossexualities que na região de Khorasan, no nordeste da Pérsia, região habitada sobretudo pelos Parsis, o costume da pederastia era bastante comum. Porém, ao contrário do que acontecia na Grécia e Roma em que as relações eróticas entre homens e meninos eram recobertas com um significado pedagógico no qual o jovem seria iniciado pelo homem mais velho nas tarefas masculinas, na Pérsia este relacionamento não tem nenhuma outra finalidade além de conseguir prazer sexual com meninos. O Amado (aquele que é penetrado na relação e o mais jovem) não é, ao contrário da Grécia, idealizado, este não precisava ser nobre e virtuoso, muito pelo contrário, era muitas vezes escravo de guerra, ou fora vendido pelos pais para servir sexualmente ao seu senhor. O que importava era que estes meninos fossem bonitos. Plutarco, inclusive, afirma em A Vida de Alexandre que um dos generais compra dois meninos de excepcional beleza para dar de presente a um amigo na Grécia.
Este jovem continuava servindo aos homens até sua barba crescer, quando isto acontecia seu Amante (o homem mais velho) então fornecia-lhe uma mulher, normalmente do seu próprio harém, com a qual o antigo Amado tornava-se agora homem de fato. Notamos aqui que, apesar da pederastia persa ser distinta da grega, sobretudo, por causa da ausência de idealizações sobre o parceiro passivo da relação, ela também tem o caráter de transição social para o jovem menino que precisa passar por aquele momento para tornar-se homem, obviamente isso vale para os meninos livres, mas não para aqueles vendidos ou aprisionados como escravos. Esses meninos livres precisam passar por esta iniciação para tornarem-se homens aptos a casar. Sua experiência infantil passiva, no entanto, será apagada de sua vida e nunca mais será comentada. Sua honra como homem dependerá agora de todo o seu comportamento como homem adulto o que incluía, também, relacionar-se sexualmente com jovens garotos sendo agora ativo.


sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O Que As Pessoas Pensam De Mim

, em Natal - RN, Brasil


Após um dia de trabalho que terminou as 23h, estou deitado na cama já sem cueca, porque me preparo para dormir, quando sou chamado no Facebook:

Miguel: Eu queria falar com um de seus amigos em BH. Queria conversar com eles. Quero ter alguém conhecido para me apresentar pontos turisticos, bares interessantes e tals.
Foxx: Você vai mesmo morar lá, não é? Mas pode deixar que qualquer dia que você e eles estiverem on line, juntos, eu apresento.
Miguel: Ok. Queria tanto que fosses comigo.
Foxx: Pra BH?
Miguel: Era.
Foxx: BH já me deu o que tinha que dar. Agora é hora de morrer em Natal.
Miguel: Queria que você desse uma nova chance para a vida.
Foxx: Você queria que eu desse uma nova chance para a vida? Quem tem que me dar uma nova chance é a vida. Ou melhor, eu preferia era uma nova vida.
Miguel: Já sabe minha opinião.
Foxx: Ok! Então também é melhor encerrar essa conversa por aqui.
Miguel: O que você quer que eu faça? Que eu fique aqui insistindo em te mostrar que vale mais a pena buscar a sua felicidade? Adianta? Se em tudo que falo você rebate com algo negativo... Tento mostar para você que temos que tentar até o fim... mas você só pensa no pior.
Foxx: O que você não entende meu amigo é que eu já cheguei ao fim. Você que não entendeu ou não quer aceitar isso. Mas essa é a verdade.
Miguel: É muito triste ouvir isso de você! É uma pena! Queria ser capaz de te fazer querer acreditar na vida...
Foxx: Não é uma questão de querer, Miguel. Você por acaso acha que eu decido acreditar ou não? Que é uma decisão.
Miguel: É sim. É o que você quer.
Foxx: Entenda... eu não posso mais, eu não consigo mais. É simplesmente algo que eu não consigo mais fazer. Eu não consigo acordar e pensar: hoje existe alguma chance de eu ser feliz. Sinto-me um idiota fazendo isso. Eu prefiro pensar: Levante-se, tome força e coragem e aceite sua infelicidade.
Miguel: Que pensamento pequeno.
Foxx: É o único que eu consigo ter...
Miguel: Seu problema é que você pensa que só pode ser feliz com um grande amor. Não vejo outra coisa em que você possa reclamar.
Foxx: Não, meu problema é que eu penso que a gente só pode ser feliz quando realiza os sonhos. E de qualquer forma, este amor é sim algo muito importante pra mim. Pode não ser para você que sempre teve, mas para mim é importante.
Miguel: Seria muito bom se você vivesse sua vida da melhor forma possível e tentasse esquecer disso...
Foxx: Sim, Miguel, é exatamente o que eu estou tentando fazer. Eu vivo a minha merda de vida da melhor forma possível. Só que minha vida é uma merda e é isso que você não acredita.
Miguel: Ouvi dizer que o poeta só existe se sofrer... que tal se você escrevesse?
Foxx: Se você acreditasse em mim talvez entendesse o que eu passo.
Miguel: Que sua vida é uma merda, eu sei, mas você é que não quer acreditar em mim que você pode fazer com que ela melhore.
Foxx: Mas eu já fiz de tudo para melhorar a minha vida...
Miguel: Não fez.
Foxx: Mas eu não fui morar em BH, não fui fazer doutorado? Eu fiz tudo que era possível para melhorar a minha vida. Tentei tudo, acabaram as opções, possibilidades.
Miguel: As possibilidades não acabam nem quando morremos. Obviamente elas não batem à nossa porta, mas se lutarmos por elas, criaremos novas e novas oportunidades. Não podemos desistir jamais.
Foxx: Eu discordo...
Miguel: Porque você é uma pessoa pessimista. Prefere o buraco que está. Porque é mais fácil afundar na lama do quê tentar algo.
Foxx: Não, eu sou realista e vivo com o que tenho. Mas é uma pena saber que você pensa isso de mim.
Miguel: Eu? Você que faz questão de mostrar o quão nada sua vida é. Nem parece o cara estudado que conheço. Uma pena é você fugir da verdade, pelo menos sou verdadeiro o suficiente para dizer a você o que todo mundo pensa a seu respeito: tem tanta gente por ai pedindo esmolas nas ruas e com muito mais sede de vida que você. O que você quer é que as pessoas tenham pena de você, mas isso eu me recuso a sentir.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Conversas No Pico

, em Natal - RN, Brasil
Era quase seis horas e aqui já é seis horas da noite. Escurecera porque em Natal o sol se esconde rápido, tão rápido quanto nasce no outro extremo do dia. Meu chefe me dava uma carona para o evento que eu cobriria pelo Twitter. Trabalharia a noite naquela quarta e, por isso, faltaria ao ensaio do meu coral. Foi no carro, a caminho do lugar que jantaríamos, uma sanduicheria no Tirol, que ele me interpelou: "Então, você está melhor né? Faz tempo que não conversamos". Ele sempre começa nossas conversas pessoais com essa frase. E eu fico tímido para responder. Gaguejando, tento dar uma resposta inofensiva: "Vou indo do jeito que dá, né?". Ele insiste porque quer ouvir mais, recita todas as coisas boas que têm acontecido na minha vida, pergunta se estou gostando do trabalho que ele me conseguiu, pergunta sobre o doutorado e, por fim, pergunta sobre meus namoros. "Você precisa encontrar alguém, Foxx, vai te fazer bem". Eu não seguro um suspiro, e ele exige que eu fale. "Se eu pudesse pagar, talvez eu conseguisse alguém...". Ele gargalha, acreditando que estou fazendo uma piada. O carro corria pela Afonso Pena e ele pergunta quando foi a última vez que eu fiquei com alguém e, sem olhar para ele, observando as coisas que passam rápido pela janela, afirmo: "Faz um ano que não faço sexo, beijo na boca eu não lembro...". Ele se revolta dizendo que isso não é correto. Que eu deveria sair mais, para conhecer mais pessoas, "Tem que frequentar os picos, Foxx". Eu gargalhei com a expressão, e ele tentou explicar que era para eu sair, frequentar os lugares gays para poder conhecer pessoas. "As pessoas, comigo, só querem sexo sem compromisso". Meu chefe então me responde que isso não é um problema. Eu concordo. "Realmente não é, e eu apoio quem deseja fazê-lo, se quiser ainda forneço a camisinha, mas não é algo que eu quero para mim. Prefiro ficar totalmente sem sexo, como agora, do que ser usado da forma que eu já fui". Chegamos ao restaurante, e sentamos na mesa com uma amiga do meu chefe que encontramos enquanto caminhávamos. O assunto morreu, comemos e rumamos ao nosso compromisso. E lá, a palestrante que eu tuitava o que ela dizia, afirmou: "Dois em cada cinco casais hoje se conheceram nas redes sociais; e, no caso dos LGBT, 3 em cada 5 casais...". Foi quando meu chefe me cutucou e mandou um bilhete: "Vamos te arranjar um namorado na net". E eu ri baixinho. Ele sorria do meu lado.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Je Sui Désoleé

, em Natal - RN, Brasil
Era uma terça-feira, após o trabalho, o Andarilho sentou na minha frente, respirando fundo, soltou o texto que ele havia ensaiado em casa: 
- Lembra que eu havia pedido seu blog? Pois eu andei lendo... 
Ele havia me convidado no final de semana para nos encontrarmos porque ele queria ter uma conversa.
- Eu li sobre uma conversa que você teve com um amigo que ele dizia que se afastara porque você estava numa fase triste e isso incomodava a ele. Que ele deixara de te convidar para sair porque você só sabia falar sobre seus problemas...
- Sim...
- Eu sei que você estava falando de uma conversa que nós dois tivemos. E lendo seu blog, eu percebi, que péssimo amigo que eu estou sendo para você.
- Tem sido mesmo...
Ele sorriu sem graça e continuou falando:
- Foi como se eu me visse de fora naquele instante. Pelos seus olhos.
- É, pelos meus olhos.
- E eu quero te pedir desculpas. E dizer que eu sou seu amigo para o que vier, inclusive, os momentos tristes. Porque eu sei que você sempre estaria do meu lado não importa o que eu estivesse passando. 
- Estaria mesmo...
- É! Eu sei! Então... me desculpa?
- Você já estava desculpado há muito tempo!


terça-feira, 6 de novembro de 2012

Israel: A Devoção de Rute à Naomi

, em Natal - RN, Brasil


O lesbianismo é ignorado, basicamente, nos textos judaicos e na Bíblia, apesar da referência que normalmente se faz a Rute e Naomi entre as fileiras homossexuais que lutam por uma forma de reconhecimento no texto da Sagrada Escritura desta forma de amor para, de alguma forma, desconstruir o discurso religioso que prega que as formas de relacionamento homoerótico são pecado. Rute e Naomi tornaram-se então as heroínas lésbicas do texto bíblico. Se faz referência a este trecho do livro de Rute (1:8-18): " 'Ide, e voltai para a casa de vossa mãe', disse ela às suas noras, 'O Senhor use convosco misericórida, como vós usastes os que morreram e comigo! Que eles vos conceda paz em vossos lares, cada uma na casa de seu marido'. E beijou-as. Elas puseram-se a chorar: 'Nós iremos contigo para o teu povo', disseram as noras. 'Ide, minhas filhas', replicou Naomi, 'por que haveis de vir comigo? Por ventura tenho eu ainda em meu seio filhos que possam tornar-se vossos maridos?' (...) Então elas desataram a chorar. Orfa beijou a sua sogra, porém Rute não quis separar-se dela. 'Eis que tua cunhada voltou para o seu povo e para os seus deuses', disse-lhe Naomi, 'vai com ela'. 'Não insistas comigo', respondeu Rute, 'para que eu te deixe e me vá longe de ti. Aonde fores, eu irei; aonde habitares, eu habitarei. O teu povo é meu povo, o teu Deus meu Deus. Na terra em que morreres, quero também eu morrer e aí ser sepultada. O Senhor trate-me com todo o rigor, se outra coisa, a não ser a morte me separar de ti!'. Ante tal resolução, Noemi não insistiu mais". Este trecho é tomado como uma grande declaração de amor lésbico entre a nora Rute e a sogra Naomi, apesar de em nenhum momento o texto bíblico expressar nada mais do que uma nora que se considera parte da família da sogra após o casamento, não pertencendo mais a sua antiga casa, seus antigos deuses e sua antiga família. Sou da opinião que este texto não faz referência a nenhum relacionamento homoerótico e eu estranharia se encontrasse uma referência qualquer que fosse num texto escrito somente para homens sobre algo que lidava diretamente com a intimidade feminina.
O Talmud faz apenas duas referências ao lesbianismo, e nestas fica claro a pouca importância dada a matéria pelos sábios, como as próprias mulheres. A palavra mesolelot que é associada ao lesbianismo pode ser traduzida como "o roçar entre duas genitálias" (levamot) e refere-se basicamente ao contato sexual sem penetração, aparece num trecho que refere-se a uma mãe masturbando o filho, contudo também aparece em uma discussão entre os rabis para definir se as mulheres que praticam sexo com outras mulheres (mesolelot) são desqualificadas para o casamento com os sacerdotes. Eliezer Ben Horquenus afirma que a relação sexual com um homem solteiro, feita com o propósito de apenas ter prazer, sem envolvimento marital, transforma a mulher numa zonah (prostituta), porém, quando a relação ocorre entre duas mulheres a ofensa não requer nenhuma punição. Não existe nenhuma punição, nem açoitamento, apedrejamento ou qualquer outro, isto porque nenhum mandamento bíblico era contra a relação sexual entre duas mulheres, o que inclusive as tornava aptas a casar com qualquer homem judeu, porém aconselha Eliezer Ben Horquenus que os homens vigiem rigorosamente suas mulheres, impedindo-as de visitar ou receber visitas de mulheres com estes hábitos.
A falta de legislação sobre uma relação homoerótica entre duas mulheres pode soar para alguns como uma permissão, mas isso seria não reconhecer o status de objeto que pertence ao homem do próprio corpo feminino. A legislação então preocupa-se sobretudo, ao falar da mulher, de reforçar seu lugar de objeto que pertence ao homem (casamento) e garantir essa posse quando outro homem a ameaça (interdições sexuais como incesto ou punições para o adultério), para o legislador que escreve a Bíblia e o Talmud não existe risco algum quando duas mulheres estão juntas porque sua posse não estava ameaçada já que ao contrário do que acontecia em regiões como o Egito, não havia a possibilidade de mulheres hebraicas terem uma vida independente de homens em sua sociedade.






sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Espelho, Espelho Meu

, em Natal - RN, Brasil
Postei as três fotos abaixo no meu perfil no Facebook. Fotos tiradas diante do espelho. Nenhuma superprodução, obviamente, nem com retoques via Photoshop. Somente fotos que gostei apesar de eu não estar nem um pouco magro. Mas então o Bê, logo após, abre o bate-papo e comenta:
- Vi suas fotos novas.
- Ah, foi? - respondi - Gostou?
- Gostei sim, vi aqui com o Marido do lado. Ele virou-se para mim e perguntou: "O que há de errado com o Foxx, hein? Ele é tão bonito! Tão sexy! Porque está sempre sem namorado? Se ele estivesse aqui na Alemanha ia chover homem em cima dele".
Eu não tinha nenhuma resposta, então o Bê continuou.
- E eu concordo viu? Você está bem mais bonito agora mais gordinho sim. Você não nasceu para barbie, viu? Você de ursinho fica muito mais bonito do que saradinho. 
- Mas, apesar disso, continuo solteiro...
- Por causa de Natal, Foxx, só pode ser isso... você precisa ir para São Paulo, para o Rio de Janeiro, locais que apreciam a sua beleza. É por isso que meu marido fala isso de você, como ele é alemão, ele sabe apreciar coisas que essa gente provinciana, de Natal, e de BH também, não sabe apreciar.
- Será?, perguntei.
- Tenho absoluta certeza.