A origem da pederastia, isto é, do relacionamento homoerótico entre um homem adulto e um menino na antiga Pérsia foi um assunto debatido desde a Antiguidade. Heródoto, historiógrafo grego, afirmava que os persas tinham aprendido aquele hábito com os gregos: "Os persas assimilam facilmente os costumes estrangeiros. Dominados os Medos, começaram a adotar os trajes destes por considerá-los mais belos que os seus. Nas guerras, envergavam couraças à maneira egípcia. Entregam-se com ardor aos prazeres de todo gênero de que ouvem falar, e adquiriram com os Gregos o amor aos jovens" (Livro I, CXXXIV). No entanto, Plutarco afirma que os persas já conheciam o chamado "amor grego" desde muito antes do contato com os gregos, já que nas primeiras guerras médicas os persas já tem entre suas fileiras inúmeros eunucos. Apesar destes autores antigos, Richard Francis Burton (1821-1890), historiador inglês do século XIX, o primeiro a traduzir os contos árabes para a língua inglesa, era da opinião de que os persas haviam absorvido o costume das populações que habitam o vale do Tigre-Eufrates. A questão de como começou, no entanto, é uma discussão inútil sendo bem mais interessante reconhecer quais as formas sociais mais comuns em que se davam, na Pérsia, as relações homoeróticas.
Stephen Murray explica em seu Homossexualities que na região de Khorasan, no nordeste da Pérsia, região habitada sobretudo pelos Parsis, o costume da pederastia era bastante comum. Porém, ao contrário do que acontecia na Grécia e Roma em que as relações eróticas entre homens e meninos eram recobertas com um significado pedagógico no qual o jovem seria iniciado pelo homem mais velho nas tarefas masculinas, na Pérsia este relacionamento não tem nenhuma outra finalidade além de conseguir prazer sexual com meninos. O Amado (aquele que é penetrado na relação e o mais jovem) não é, ao contrário da Grécia, idealizado, este não precisava ser nobre e virtuoso, muito pelo contrário, era muitas vezes escravo de guerra, ou fora vendido pelos pais para servir sexualmente ao seu senhor. O que importava era que estes meninos fossem bonitos. Plutarco, inclusive, afirma em A Vida de Alexandre que um dos generais compra dois meninos de excepcional beleza para dar de presente a um amigo na Grécia.
Este jovem continuava servindo aos homens até sua barba crescer, quando isto acontecia seu Amante (o homem mais velho) então fornecia-lhe uma mulher, normalmente do seu próprio harém, com a qual o antigo Amado tornava-se agora homem de fato. Notamos aqui que, apesar da pederastia persa ser distinta da grega, sobretudo, por causa da ausência de idealizações sobre o parceiro passivo da relação, ela também tem o caráter de transição social para o jovem menino que precisa passar por aquele momento para tornar-se homem, obviamente isso vale para os meninos livres, mas não para aqueles vendidos ou aprisionados como escravos. Esses meninos livres precisam passar por esta iniciação para tornarem-se homens aptos a casar. Sua experiência infantil passiva, no entanto, será apagada de sua vida e nunca mais será comentada. Sua honra como homem dependerá agora de todo o seu comportamento como homem adulto o que incluía, também, relacionar-se sexualmente com jovens garotos sendo agora ativo.
Engraçado que lendo inicialmente n me deu essa sensação que todos necessariamente passavam, achei apenas que alguns homens se interessavam e então investiam nisso e não que se tratava de algo geral...
ResponderExcluirsério? era algo geral sim. raros seriam os homens que não participavam disso e, estes, eram mal vistos.
ExcluirIsto segundo o q existe de registro histórico né Foxx? A prática deve remontar aos homens das cavernas ... rs
ResponderExcluirbjão
Estou falando de um rito de passagem especificamente persa, Paulo, do qual existe registro histórico, não podemos falar da pré-história aqui porque não nos restou nenhuma referência...
ExcluirAcho interessante notar que a ideia de macho=ativo vem enraizada desde que o mundo é mundo. Tipo, alguns milhares de anos a frente, isso ainda reflete em preconceito e homofobia... E como toda uma era gira em torno do falo.
ResponderExcluirA posição ativa na relação, de macho, de portador do falo, é sempre uma posição de dominação, Bernardo, sempre! Mesmo nas relações homoafetivas! Inclusive um dos motivos para que o preconceito seja tão evidente como os homossexuais masculinos é porque nessa sociedade do falo este homem, portador do falo, abre mão desse poder de dominação para ser dominado por outro homem. Acredito que qndo um homofóbico usa a expressão que ser gay não é natural ou não e de Deus ele quer dizer, no fundo, que abrir mão de sua posição de dominação e se colocar numa posição de submissão (feminina por excelência) não é natural nem de Deus... tanto que o preconceito com as lésbicas é menor porque nesta sociedade do falo também existe o espaço para ver as mulheres desejarem tomar o poder, mesmo sendo incapazes de fazer isso por nascerem sem o falo, mas elas tentam e os homens riem de suas tentativas frustradas...
ExcluirEfetivamente esse seu comentário está ótimo! Em poucas palavras você conseguiu sintetizar todo o problema. É exatamente esse imenso "meme" psico-cultural o cerne de todo o processo homofóbico, especialmente na nossa tradição judaico-cristã-islâmica.
ExcluirLevando a discussao um pouco a frente mas em uma direcao levemente diferente, a Pérsia foi o que hoje é o Ira (iran, meu teclado nao tem til). Alguns milhares de anos atrás, todo mundo dando e comendo todo mundo, hoje em dia um puta país homofóbico.
ExcluirEsse seu texto rende tanta discussao...
Então, Bernardo, eu pessoalmente não considero o Irã um país homofóbico apesar das afirmações de seu presidente. Na verdade, eu até acho que o Ahmadinejad está certo em afirmar que em seu país não existem gays, lembrando que ele não falou nada em relações homoeróticas e homoafetivas. Ser gay é uma identidade que não está diretamente ligada a relacionamentos sexuais (veja meu exemplo que eu não faço sexo com homens há tempos e continuo gay), ser gay é uma identidade ligada a um comportamento político e social que só funciona na sociedade ocidental. Em países como o Irã, muçulmanos, muitos países da África e Ásia, como Índia e Tailândia, essa concepção não funciona e é severamente combatida porque "ser gay" também significa no contexto social e político do Irã, por exemplo, compartilhar do "american way of life". É necessário saber que hoje, no Irã, e desde 1979, existem cirurgias de mudança de sexo; sexo entre homens tb obviamente é comum também, mas naquela sociedade assumir-se gay, assumir a identidade gay, é assumir que apoia o inimigo. É um traidor da pátria e um traidor do Islã, portanto, merece a morte.
ExcluirSerá que me fiz entender?
Existem gays no Irã e não somente HSH... assim como existe bar gay lá... tem até um documentário sobre isso... vou buscar e tento dar o link aqui...
ExcluirSim, Max, mas o que falo é que o governo é contra essa formação identitária gay, eles preferem os HSH, na verdade, porque tem mais a ver com a cultura islâmica.
ExcluirTá tudo explicado então... hehehehe!
ResponderExcluiracho que existem várias outras coisas por trás de tudo isso , de qualquer forma , você deixou algumas coisas claras , e outras que eu preciso pensar!
ResponderExcluirse fiz vc pensar então já cumpri minha missão. =)
ExcluirMais conhecimento para mim, história se tornando interessante!
ResponderExcluirAbraços!
mas... gente... história É interessante! não? só eu que acho?
ExcluirNão me agrada muito, prefiro biologia, química e literatura. Rsrsr
Excluirestou chocado.
ExcluirAs vezes acho que a vida na antiguidade era mais fácil e sem muto pudor em certos aspectos.
ResponderExcluirAi, cacete! Tô te devendo tanta coisa (vegetais, x-men, etc) que tô achando que vou ter que pagar com o corpo... ai, ai... #dessas! Hahahahahahahahaha!
ResponderExcluiro q significa q vc me deve além de tudo o corpo...
ExcluirCertamente o fato de ser mais maleável do que outras potências da época contribuiu para o sucesso da dominação Persa no vale do Tigre e Eufrates. E também para a assimilação de costumes oriundos de outras partes do império, entre eles práticas homoeróticas . Mas, dentro da cultura do tempo – sacral - a prática homoerótica não estaria diretamente ligada a ritos de passagem para a vida adulta e a ritos de fertilidade? O homem também era ‘fecundado’, imitando na vida humana ciclos naturais , colocando o homem em ligação com o ‘sagrado’. Relações desse tipo aconteciam mais ao norte, nas estepes asiáticas e se estendiam até os povos que habitavam regiões remotas como a Sibéria, e que perduraram por muito tempo até o advento do cristianismo e do islâmismo.
ResponderExcluirRenato, no caso persa, eu diria que está ligado a ritos de passagem a vida adulta sim, mas não a ritos de fertilidade. Eu sei de muitas tribos (na américa, ásia e oceania) que ainda hoje mantém relações homoeróticas como parte dos ritos de fertilidade, e a ligação mágica com o esperma e o pênis que esses tipos de rito costuma ter não fazem parte do costume persa.
ExcluirTá convidado desde já! Deus me livre de uma praga de Foxx! ME-DO! Hahahahahaha! Bjs!
ResponderExcluirBem... isso não mudou muito nos dias de hoje. Rs
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