Azul
Noite de domingo em Belo Horizonte, aniversário do querido ex-blogayro HMG na Velvet, uma boate underground, num dos porões dos prédios da Savassi, que caiu nas graças do público moderninho da cidade recentemente, sobretudo pelas festas eletro-pop que ocuparam o espaço carente de baladas que era o domingo a noite. Estou no banheiro, já estou lavando as mãos e o rosto, quando um moreno de cabelo moicano aparece no espelho, atrás de mim.
- Oi. Ele fala.
- Tudo bom? Respondo.
- Sim! Sabia que você é muito lindo?
- Obrigado! - respondo - Você também é.
Ele sorri malicioso.
- Vi que seu namorado já foi embora.
- Namorado?
Antes que eu pudesse explicar qualquer coisa, ele me puxou para um dos reservados, e me pressionando contra a parede, me beijou, apertando meu pau por cima da calça (que reagiu rapidamente). Beijou rápido, como quem rouba um beijo. Somente quando ele parou para respirar um pouco que pude falar.
- Não tenho namorado. Ele é só meu amigo.
Ele me deu um beijo mais suave dessa vez.
- Amigo? S-e-i. Falou se demorando em cada uma das letras. E saiu, me deixando sozinho no reservado.
Foi quando voltei até o HMG na pista e falei:
- Acabaram de me dizer que o seu amigo, Lou, é meu namorado.
Fazendo-o rir em alto e bom som.
Amarelo
Na área de fumantes da Velvet, em Belo Horizonte, um desconhecido se aproxima de mim e do meu amigo.
- Qual o seu signo?
- Leão - respondo, me recompondo.
- Leão?! De que dia?
- Dez de agosto.
- E você? - vira-se para meu amigo.
- Leão também, de sete de agosto.
Ele nos olha assustado e apreensivo e vira-se para o homem que está ao seu lado.
- Olha, amor, os dois são leoninos.
- E carecas - responde o "amor" - e com cara de homens. - E vira-se para mim. - Você tem cara de homem. Essa barba, têm pêlos também?
- Tenho! - e mostro pela gola da camisa os pêlos do peito.
- Mas tem nas costas? Ele - apontando para o namorado - gosta de pêlos nas costas.
O "amor", visivelmente embriagado, aloja-se no meu ombro insinuante, quando o namorado fala.
- Leoninos são perigosos, sempre sexuais, não são bons namorados.
- Quem é perigoso são os librianos que sempre traem seus namorados, - respondo - sempre têm dois namorados, e nunca sabem com devem ficar.
Os dois desconhecidos me olham assustados. "Amor" é o primeiro a falar.
- Ele é de libra.
- Vamos embora, amor!
E sai, sem dizer mais nada. Eu e meu amigo trocamos apenas um olhar e caímos na gargalhada.
Vermelho
Parado no ponto de ônibus, na Av. Paraná, é madrugada. Poucas pessoas esperam seus ônibus para casa. Um cara qualquer se aproxima e pede um trago no meu cigarro. Ele tem as mãos sujas, usa havaianas, e fala tropeçando nas palavras.
- Você gosta de uma orgia? Pergunta ele.
Sem responder, apenas olho para ele, surpreendido.
- Desculpe, não queria ser inconveniente. Mas você gosta?
- Depende, ora. Respondo.
- Depende de quem.
- Pode ser eu... - falou tentando se aproximar, quase colocando a mão suja no meu ombro - você é um cara legal, simples, humilde como a gente, não deixa de falar com as pessoas... eu 'tô muito maluco.
- Eu estou vendo!
- Você não está não?
- Não!
- Você não bebe?
- Bebo, mas eu 'tô legal.
- Ah, eu 'tô maluco. Eu uso craque, sabe como é?
Fudeu, pensei na hora.
- Você é um cara legal, não vai rolar a orgia não?
- Não, cara.
- Então passa o celular ai - e mudou o tom de voz - passa o celular, só quero o celular, trabalho com dinheiro não. E passa o celular que tua vida não tem muita importância p'ra mim não. Passa rápido!
- 'Tá bom! 'Tá bom! - e tirei o celular do bolso, passando para ele - Toma! Mas você não vai conseguir nada com essa bosta que você 'tá roubando. Vale nada!
- Passa essa porra, logo! Que tua vida não vale nada p'ra mim! Quer dizer, vale: menos de cinco reais que é o preço de uma bala. Passa logo e sai caminhando... quero ver tua cara por aqui mais não.
- Ok!
E sai andando, até encontrar um posto policial, onde fiquei esperando, novamente, meu ônibus.