Eu não gosto de homem que gosta de homem. Pronto! Falei! Agora explico: eu gosto de V-I-A-D-O. Porque homem gosta de mulher, 'tá? Encubados, enrustidos, hétero-que-come-bichas, não, não estou falando disso. Eles não estão incluídos nem na lista de possibilidades porque de problemático já basta eu. Estou falando é daqueles bem resolvidos, alguns até assumidos, todos com seu objeto de desejo bem acertado, sem problemas de perversão. Falo dos que se comportam como héteros, mas que gostam de homem. Estou falando que se é para manter o lugar social que se mantenha todo ele.
Comecei a falar difícil? Lugar social? Calma, eu explico! Lugar social é aquilo que a sociedade espera de um sujeito quando este ocupa um determinado lugar dentro dela mesma. É o comportamento que a sociedade exige quando você se propõe a ocupar um determinado papel. Existe o papel de pai, existe o papel de mãe, de homem casado, de mulher casada, de padre, de bombeiro, de policial, de bandido. Imagine-se num grande teatro, e cada um tem que interpretar o papel que escolheu, e o diretor é carrasco, ele não permite que você altere em nada o personagem que escolheu vivenciar.
Entre estes papeis, entre estes personagens, entre estes lugares sociais, um dos mais claros em todas as sociedades históricas e pré-históricas é definido pelo gênero, existe o papel masculino e o papel feminino, e fazendo uma rápida generalizada, observamos o primeiro associado ao papel de proteção e liderança, e o segundo de fragilidade e manutenção. E, caso alguém pense em contra-argumentar dizendo que existiram sociedades matriarcais durante, sobretudo, a pré-história européia, aviso: não existem provas históricas de que tal regime de fato existiu. Estatuetas de idolatria de deusas não configura um matriarcado, no máximo, uma posição de igualdade entre homens e mulheres cujo ciclo celta do Rei Arthur é um bom exemplo.
Não obstante, como a História e a Antropologia estão ai para provar, estes papeis masculinos e femininos não se confundem com os tipos sexuais até o século XIX (Ah, não confundir: gênero, masculino e feminino; sexo, heterossexual e homossexual). A partir dos oitocentos, graças aos escritos de homens com obras tão diversas tal qual Freud e o Marquês de Sade, o heterossexual masculino - o homem - e o homossexual feminino - a lésbica - foram aproximados, também o heterossexual feminino - a mulher - e o homossexual masculino - o pederasta. Hoje, no entanto, quando os gays assumiram orgulhosamente sua própria existência, eles passaram a exigir o mesmo lugar do heterossexual masculino, o mesmo papel que era reservado ao homem, isto é, o mesmo comportamento, a mesma imagem, a mesma vida. É um movimento perceptível a necessidade de voltar a ser homem, mas sem negar seus próprios desejos. Isto, por um motivo óbvio: o homossexual masculino não quer ser apontado, ridicularizado, humilhado, o que algumas gerações atrás usavam o "armário" para se proteger, hoje assumir o comportamento/ lugar social hetero masculino é o escudo. Quando antes ninguém queria ser descoberto, hoje quer se ouvir durante o outting que você nem parece ser gay. Não se nega o desejo - este quase foi perdoado pelo discurso politicamente correto que vivemos hoje - mas se nega o lugar social, aquilo que a sociedade espera da bichinha, o famoso estereotipo.
Vocês acham que é pura coincidência que personagens gays em séries de tv, novelas e filmes possam todos ser confundidos com heteros? Isto não é a mídia tentando destruir um preconceito. É a mídia encontrando um preconceito que ela pode usar. E por que isso me irrita? Porque eu não consigo aceitar que o papel do heterossexual masculino seja o tipo padrão. Em outras palavras, por que para um homem ser homem ele tem que ser um homem hetero? Por que os homens heteros são os modelos que nós devemos imitar? Por que eles são como nós deveríamos ser? Por que o jeito deles viverem é o jeito correto? É isso? Então, se for meus amigos, não é nos comportando como eles que vamos acertar, a gente tem é que pegar mulher. E aí, lanço o desafio, quem vai ser o primeiro a tentar?
quarta-feira, 30 de julho de 2008
segunda-feira, 28 de julho de 2008
PASSADO: O Dia Em Que Eu Nasci
Segunda feira, 10 de Agosto de 1981, 23:30h, Natal, Rio Grande do Norte, lat: 5º 47' 42" Sul, long: 35º 12' 34" Oeste.
O Sol Dominante estava em 18° Leão 20' 17", a Lua em 24° Sargitário 30' 41". E Touro Ascendente no horizonte em 22° 15', iniciando o meu mapa astral. Uma regra simples define muito bem um mapa: os planetas mostram o que acontece; os signos mostram como acontece e as casas mostram onde acontece. O ascendente marca a casa I do mapa, a Casa do Corpo também chamada de Casa Ascendente. É aquilo que viemos buscar, chamem de missão, aquilo que devemos nos tornar. É através deste signo, no meu caso Touro e os asteiróides Quíron em 22° Touro 43' 15" e Varun em 16° Gêmeos 36' 10", que expresso minha individualidade. Touro é a solidez. É manter os pés no chão. É evitar sonhar, e sim transformar os sonhos em objetivos e tentar materializá-los. E agir. É ser sensivel e realista, ao mesmo tempo, e não ser mais do que você tem a capacidade de se tornar. Humildade.
Marte Retrógrado em 15° Câncer 48' 16" é a segunda casa do meu mapa astral. Talentos, posses e recursos, materiais ou não, e necessidade de realização fazem parte da segunda casa. Aquilo que entendemos como segurança pessoal. A casa em que Marte se encontra demonstra onde a pessoa tem mais força. Em que área da sua vida a pessoa é um melhor guerreiro. E como ele também está em Câncer demonstra que meu poder maior é a emoção e o sentimento, que me defendo expondo quem sou, apesar da insegurança com minha auto-imagem.
O asteiróide Nesso em 26º Câncer 21' 37", e em Leão, o Sol, um Nódulo em 1° 30' 7", os asteiroides Orcus em 2° 8' 56", Palas em 10° 30' 16", Ísis em 18° 28' 31", Apolo em 19° 51' 7" e o planeta Mercúrio em 19º 15' 32" reinam sobre minha terceira casa. A terceira casa, a Casa dos Irmãos, representa nossa comunicação e expressão, aprendizado e ensino. Este posicionamento confere-me possibilidades de sucesso nos assuntos intelectuais e nos relacionamentos com amigos, graças a minha capacidade de expressar o que sinto de forma clara e tangível. Paralelamente me torna sensível a dispersão entre diversos objetivos, no entanto, Palas, Ísis e Apolo controlam esta tendência me oferecendo a virtude do equilíbrio.
Minha casa IV, ou o Fundo do Céu, têm Vênus Retrógrado em 21° Virgem 4' 29" como regente, junto com Eos em 0° Virgem 40' 52", Ceres em 6º 22' 4", Cibele em 15° 17' 13" e Verte 16° 48' 40". Ela representa nossas raízes, nossa família e a herança psicológica. A quarta casa também se refere à nossa mãe. Vênus sendo o planeta do amor, caindo em Virgem, o signo da perfeição, e ainda de forma retrógrada, influencia-me de forma mais intensa a pensar o amor como um virginiano pensa a vida, ou seja, nada mais do que o perfeito importa. Eos, Ceres e Cibele reforçam a idéia que para que esse amor seja perfeito ele precisa ser cultivado, não é uma paixão a primeira vista, necessita de trabalho e esforço, isso lembra que a quarta casa também aponta para o queserá construído apenas na segunda metade da nossa vida.
Minha casa V, a Casa da Criança Interior, temos, em Libra, Vesta em 3° 13' 21", Saturno Exaltado em 6° 28 ' 5", Júpiter em 7º 47' 17", Ariadne em 8° 34' 5", Plutão em 21° 59' 13" e Clio em 24° 0' 13". O signo e os planetas nesta casa nos mostram onde e como podemos usar nossa criatividade. É o lugar onde nossos limites podem ser ultrapassados, onde descobrimos o poder que possuímos. Clio, Saturno e Plutão falam do passado, falam de coisas enterradas que devem ser trazidas a tona. Da história. Ariadne fala de caminhos que são difíceis de trilhar, mas que a gente sempre encontra o caminho correto por percorrer. Júpiter fala de força e poder, e estando em Libra, força associada a justiça que é reforçada pela presença de Vesta.
Minha sexta casa, a Casa dos Tios, a casa responsável por disciplinar a função criativa da Casa V, a casa do emprego, mas também a casa das doenças - aquilo que limita também teu corpo - está vazia de planetas mas é regida por Libra, a justiça materializada, e Escorpião, o mal controlado, e tem os asteiroides, em Libra, Nikê em 28° 5' 41" e Juno em 29° 8' 54", reforçam a idéia de justiça do signo, apesar de Juno representar o castigo, mais que a justiça, e em Esporpião, Dike em 3° 18' 54", Quaoa em 12° 53' 26" e Íxion em 13° 37' 12", dizem que aquilo que de mal te acontecer é apenas resultado de suas próprias ações.
Lilith, ou a Lua Negra, em 25° Escorpião 5' 40", Urano Exaltado em 26° Escorpião 4' 16" e Ájax Retrógrado em 14° Sargitário 44' 19", no entanto, regem minha sétima casa. A Casa Descendente, o ponto que desaparece no horizonte no dia que nascemos, fala dos nossos relacionamentos íntimos. O signo ou os planetas que se encontram na nossa sétima casa indicam os tipos de parceiros pelos quais nos atraímos, o que buscamos ou repelimos nos outros. Por isto a sétima casa é também a casa dos nossos inimigos declarados. Lilith nesta casa representa o sombrio dentro de nós. Qualquer corpo celeste retrógrado em Sargitário significa tédio, Ájax, no entanto, representa isso com muito mais força. Estes são meus inimigos, o que me enfraquece. Urano, no entanto, fala do que me atrai: criatividade, idealismo, amizade, originalidade. Mas também tenho Urano em Escorpião e isso me faz adorar experimentar. De tudo! E de todos!
A casa VIII, a primeira casa que fala do fora do seu corpo, é a única que eu tenho algum planeta, representa nossas experiências místicas. No meu mapa, a Lua e Netuno em 22° Sargitário 13' 49", Enya em 5° Capricórnio 10' 7", um ponto forte em 16° Capricórnio 4' 33" reinam sobre a casa. Netuno representa a inspiração criadora, a fé, a intuição, indica a sua ligação com o Universo, nesta posição ele me fala de poderes premonitórios e grande contato com o mundo espiritual. Os aspectos em Capricórnio só reforçam essa habilidade intimista como o signo costuma ser.
As casas IX, a Casa dos Sogros e dos Netos, também a casa que fala sobre religião e filosofia, sobre intelectualidade, viagens longas e outras línguas é regida por Capricórnio - o signo mais preso ao antigo - e Aquário - o mais aberto ao novo -, este é o principal conflito que eu vivo. A vontade de manter-se firmemente preso a terra, Touro, e a necessidade intrísseca de deixar a cabeça arejar nas nuvens. Na casa X, ou a Casa do Meio do Céu, que se refere a profissão, o lugar que ela nos faz ocupar na sociedade, a nossa reputação, o modo como “chegamos lá” são assuntos da décima casa que tem o Meio Céu a 19° Aquário 21' e Ártemis em 21° Aquário 10' 46", que indicam a possibilidade de vislumbrar o variável, o excitante desconhecido, sempre com o destino me empurrando para situações fora do meu controle.
A décima primeira casa, a Casa dos Amigos, nos mostra os amigos que atraímos e como os fazemos, mas também a maneira como avaliamos as possibilidades de realizar nossos sonhos. Peixes e Áries, Éris em 15° Áries 22' 44" e Pholus em 7° Áries 29' 23" regem esta casa. Éris na Casa dos Amigos fala de brigas, amizades que duram pouco; Pholus, de amigos que costumam me trair. Áries fala de uma posição realista sobre si e sobre os sonhos. Sonhos muitos, porque Peixes é sonhador, mas sonhos que devem ser transformados em objetivos e, se lutar, para transformá-los em realidade.
E a casa XII, a Casa dos Inimigos, representa o desejo de se unir a algo maior. É onde fugimos e escapamos de nossa realidade. É também o fim dos ciclos e seus recomeços. É a casa de nossos segredos e do que gostaríamos de esconder, regida no meu caso por Áries e Touro, o que no fim quer dizer que não há segredos, além de Eros em 6° Touro 36' 26" e Sedna em 7° Touro 9' 44", que contam da minha necessidade de amor para sentir-me completo.
segunda-feira, 21 de julho de 2008
EXTRA, EXTRA, EXTRA: 55
"Que frio! Por que ninguém vem de casaco pra cá?". Ouvi atrás de mim. Um menino magro, com calça skinny e uma pólo Triton colada ao corpo reclamava enquanto esfregava os próprios braços. Eu acabara de chegar a fila da Bubu, após passar em uma lanchonete e comprar uma carteira de Carlton, procurava o Mike ou o Paulo. No caminho havia enviado-lhes uma mensagem: "P'ra me encontrar: estou de boné e um casaco escrito 55", havia marcado com ambos do lado de fora as 00:30h, porém não os encontrei. Resolvi então entrar assim mesmo. A fila na calçada impar da Rua dos Pinheiros estava grande, mas andava rapidamente, logo, na porta recebi uma ficha dourada, "Entregue no balcão", e entrei pagando R$ 50,00 de entrada que se convertiam em consumação. Aquele horário, a pista principal ainda estava fechada, no entanto, o lounge já estava apinhado de gente. Meninos que não pareciam ter mais de 15 anos, casais heteros posando de hype por frequentar a noite gay e meninas paqueradoras, bonitas e magérrimas.
Porém logo a pista principal abriu e rapidamente se encheu, ao comando de um DJ que, sob um letreiro luminoso em que as palavras fashion e passion se alternavam com art e sexy, tocava um house batido e maçante. Pensando em ficar mais visível e lembrando dos conselhos do Cara Imperfeito, subi para um dos mezzaninos que ladeavam a pista, me debruçando no parapeito. Minutos depois, enquanto eu observava distraído e beijava minha cerveja, um menino alto e com um sorriso caloroso me chama pelo nome: Mike. Ele me chama para descer, encontrar o Cuiabá e irmos juntos para outra pista. "Ah, não te reconheci pela roupa não, foi de tanto fuçar seu fotolog". Descemos, a caminho da pista, paramos no bar, eles pedem vodca com energético, eu continuo na cerveja que já bebo desde as 14h com o Dih. Dizem para não misturar. Atravessamos então o lounge e subimos para a outra pista que fica um lance de escadas mais alto que o mezzanino.
O DJ aqui toca eletro-pop. Britney, Beyoncé, Mariah Carey e Madonna disputam espaço no set junto com Olivia Newton-John e John Travolta em Grease e o chic-bum-bum da Gretchen. Muitos casais heteros e muitas meninas já aos beijos, disputam o espaço da pista. Homens bonitos de regata dançam em cima do queijo. Vejo então um homem alto, loiro e bonito aproximar-se de mim e perguntar se sou o Foxx: Paulo. "Eu vi o 55 lá de cima". "É, eu estou aqui fantasiado de placa de trânsito: KM 55". "Pois então aproveita e cobra pedágio". Risadas. Cervejas. Cigarros. Tequilas. Vodcas. Alguém passa a mão na minha bunda, reclamo com o Mike: "Eu não achei que você fosse tão cheio de pudores". Nem eu.
Mas a noite foi para enterrar a minha Sandy, de vez. Primeiro, um moreno, um pouco mais alto que eu. Não tão bonito. Cabelo espetado, lembro dele da fila. Olha-me, e sorri. Camisa apertada mostrando os parcos músculos. Eu sorri também, porém mais por educação, do que por interesse. Ele então passa a me olhar, sorri um sorriso de interesse e me lança um olhar sob as sobrancelhas, enquanto eu fico conversando ou com o Mike, ou com o Paulo. Ele, sinceramente, não me interessa mesmo. Em certo momento, vou ao banheiro, e para tanto devo passar ao lado do menino de cabelo espetado. Ele me segura pelo braço, delicadamente, e me pede um beijo. E como aprendi que beijo e água não se nega a ninguém. Beijei sim. Apenas por caridade. Minha religião ordena fazer caridade na balada de vez em quando. Apenas para que o universo saiba que estou disposto. Ele tem que saber que hoje a Britney está em modo ON. Apenas para entrar na lista. O número 1 da noite. Mas beijei.
No entanto, a noite me reservava mais. Eu, de costas para o vidro que dava para a pista principal, as luzes brancas me ofuscavam quando um outro moreno, corpo atlético, camisa aberta mostrando o peitoral definido, pernas grossas e bunda pequena e empinada, barba por fazer, fala no meu ouvido: "Eu ainda beijo essa sua boca hoje". Eu apenas viro o rosto, sorriu, e falo: "E porque vai esperar tanto?". Ele se encaixa nas minhas costas, e segurando minha cabeça para trás me dá o primeiro beijo. Depois me vira, me puxa pela cintura. Uma pegada forte. Minhas mãos deslizam pelas costas dele, musculosas, enquanto a barba dele arranha meu rosto. "Vou ficar todo vermelho, 'tô até vendo!", penso. Seguro-lhe a bunda. Aperto e ele me beija mais intensamente. "Olha vou procurar minha amiga, volto logo 'tá?". Risos. O dia que eu cair nessa dispensada, eu não me chamo mais Foxx.
Diante dos elogios ao menino feitos pelo Mike e pelo Paulo, recomeçamos a caçada. Passeios pela pista principal. O Paulo beija um, dois. Cervejas. Olhares. Gracejos. Dispensadas. "Como 'tô dando fora em feio hoje!". O Mike gargalha. "Quem mandou entrar no clube dos ex-gordos, é assim, muda tudo". Mais gargalhadas. Todo mundo desaparece. Procurando os meninos, me deparo com um negro, alto, com uma camiseta justa que mostrava os braços musculosos, ele passou por mim de mãos dadas com outro cara, mas segurou a minha mão, e apertou. Quando olhei, ele pediu que eu esperasse. Como não tinha muito mais o que fazer, paguei para ver. Ele voltou em segundos. Segurou-me a mão e me levou para o outro lado da pista. Recostou-se ao balcão e me segurou pela cintura junto a ele. "Quem era aquele cara que você estava?", perguntei. Ele me olhou seriamente com seus olhos verdes: "Você quer mesmo saber?", e sorriu um sorriso doce. Sabendo que aquele com certeza era o namorado dele, eu o beijei, e ficamos juntos por muito tempo. Até o segurança tocar o ombro dele e dizer: "Rapazes, essa pista já está fechando!". No mezzanino, ele me deu mais um beijo, e foi falar com as amigas e quando eu passei por ele, ele sorriu sem jeito, e se eu tinha alguma dúvida que ele estava traindo o namorado, seu comportamento diante das amigas desfez.
Resolvi descer. Já eram 6 da manhã, não obstante a falta de janelas daquele lugar impedir que alguém percebesse. Eu tinha duas opções: ir embora, ou continuar a caçada. Resolvi deixar o destino escolher, fiquei lá, diante do letreiro, diante do DJ, se ninguém me olhasse eu iria, se alguém se aproximasse eu ficaria. Apenas mais um: só porque não gosto de números ímpares: 4. Quatro seria um bom número para uma noite em São Paulo. Pois então, me deixei ficar, e não a toa: algumas pessoas me rondam, me secam, me comem com os olhos, mas as ignoro. Não me interessam. Afinal a escalada agora tem sido vertiginosa: o último tem que ser o melhor de todos. Apenas fico a sorrir. É quando sinto um par de olhos azuis sobre mim. Observo-o se aproximar dançando. Passa a mão no cabelo loiro, com uma franja longa e luzes sem retoque, e dança em torno de mim. Dança como meninos de rave: pernas marcadas, braços caídos, nenhum quadril. Eu só sei sorrir novamente, desta vez, com todo ar de aprovação, ele dança na minha frente eu me aproximo mais dele, é quando ele gira e para atrás de mim. Ele então se aproxima e beija minha nuca, esfregando-se na minha bunda. Eu me viro, seguro-o pelo rosto, o beijo. Ele dança, nós dançamos juntos enquanto nossas bocas não se desprendem. Beijamo-nos sem pressa da noite acabar. "Eu tenho que ir". Eu o beijo e vou pagar minha comanda. 50 reais exatos! Ele me acompanha. "Por que ele está atrás de mim?". Saímos, peço um taxi, o valete abre a porta do carro, dou-lhe um último beijo, entro e fecho a porta atrás de mim. "Jaguaré, por favor!". E ele ficou lá na porta, sem entender. "Ele achou que vinha comigo? Britney, querido, mas eu chego já já em Paris Hilton".
Porém logo a pista principal abriu e rapidamente se encheu, ao comando de um DJ que, sob um letreiro luminoso em que as palavras fashion e passion se alternavam com art e sexy, tocava um house batido e maçante. Pensando em ficar mais visível e lembrando dos conselhos do Cara Imperfeito, subi para um dos mezzaninos que ladeavam a pista, me debruçando no parapeito. Minutos depois, enquanto eu observava distraído e beijava minha cerveja, um menino alto e com um sorriso caloroso me chama pelo nome: Mike. Ele me chama para descer, encontrar o Cuiabá e irmos juntos para outra pista. "Ah, não te reconheci pela roupa não, foi de tanto fuçar seu fotolog". Descemos, a caminho da pista, paramos no bar, eles pedem vodca com energético, eu continuo na cerveja que já bebo desde as 14h com o Dih. Dizem para não misturar. Atravessamos então o lounge e subimos para a outra pista que fica um lance de escadas mais alto que o mezzanino.
O DJ aqui toca eletro-pop. Britney, Beyoncé, Mariah Carey e Madonna disputam espaço no set junto com Olivia Newton-John e John Travolta em Grease e o chic-bum-bum da Gretchen. Muitos casais heteros e muitas meninas já aos beijos, disputam o espaço da pista. Homens bonitos de regata dançam em cima do queijo. Vejo então um homem alto, loiro e bonito aproximar-se de mim e perguntar se sou o Foxx: Paulo. "Eu vi o 55 lá de cima". "É, eu estou aqui fantasiado de placa de trânsito: KM 55". "Pois então aproveita e cobra pedágio". Risadas. Cervejas. Cigarros. Tequilas. Vodcas. Alguém passa a mão na minha bunda, reclamo com o Mike: "Eu não achei que você fosse tão cheio de pudores". Nem eu.
Mas a noite foi para enterrar a minha Sandy, de vez. Primeiro, um moreno, um pouco mais alto que eu. Não tão bonito. Cabelo espetado, lembro dele da fila. Olha-me, e sorri. Camisa apertada mostrando os parcos músculos. Eu sorri também, porém mais por educação, do que por interesse. Ele então passa a me olhar, sorri um sorriso de interesse e me lança um olhar sob as sobrancelhas, enquanto eu fico conversando ou com o Mike, ou com o Paulo. Ele, sinceramente, não me interessa mesmo. Em certo momento, vou ao banheiro, e para tanto devo passar ao lado do menino de cabelo espetado. Ele me segura pelo braço, delicadamente, e me pede um beijo. E como aprendi que beijo e água não se nega a ninguém. Beijei sim. Apenas por caridade. Minha religião ordena fazer caridade na balada de vez em quando. Apenas para que o universo saiba que estou disposto. Ele tem que saber que hoje a Britney está em modo ON. Apenas para entrar na lista. O número 1 da noite. Mas beijei.
No entanto, a noite me reservava mais. Eu, de costas para o vidro que dava para a pista principal, as luzes brancas me ofuscavam quando um outro moreno, corpo atlético, camisa aberta mostrando o peitoral definido, pernas grossas e bunda pequena e empinada, barba por fazer, fala no meu ouvido: "Eu ainda beijo essa sua boca hoje". Eu apenas viro o rosto, sorriu, e falo: "E porque vai esperar tanto?". Ele se encaixa nas minhas costas, e segurando minha cabeça para trás me dá o primeiro beijo. Depois me vira, me puxa pela cintura. Uma pegada forte. Minhas mãos deslizam pelas costas dele, musculosas, enquanto a barba dele arranha meu rosto. "Vou ficar todo vermelho, 'tô até vendo!", penso. Seguro-lhe a bunda. Aperto e ele me beija mais intensamente. "Olha vou procurar minha amiga, volto logo 'tá?". Risos. O dia que eu cair nessa dispensada, eu não me chamo mais Foxx.
Diante dos elogios ao menino feitos pelo Mike e pelo Paulo, recomeçamos a caçada. Passeios pela pista principal. O Paulo beija um, dois. Cervejas. Olhares. Gracejos. Dispensadas. "Como 'tô dando fora em feio hoje!". O Mike gargalha. "Quem mandou entrar no clube dos ex-gordos, é assim, muda tudo". Mais gargalhadas. Todo mundo desaparece. Procurando os meninos, me deparo com um negro, alto, com uma camiseta justa que mostrava os braços musculosos, ele passou por mim de mãos dadas com outro cara, mas segurou a minha mão, e apertou. Quando olhei, ele pediu que eu esperasse. Como não tinha muito mais o que fazer, paguei para ver. Ele voltou em segundos. Segurou-me a mão e me levou para o outro lado da pista. Recostou-se ao balcão e me segurou pela cintura junto a ele. "Quem era aquele cara que você estava?", perguntei. Ele me olhou seriamente com seus olhos verdes: "Você quer mesmo saber?", e sorriu um sorriso doce. Sabendo que aquele com certeza era o namorado dele, eu o beijei, e ficamos juntos por muito tempo. Até o segurança tocar o ombro dele e dizer: "Rapazes, essa pista já está fechando!". No mezzanino, ele me deu mais um beijo, e foi falar com as amigas e quando eu passei por ele, ele sorriu sem jeito, e se eu tinha alguma dúvida que ele estava traindo o namorado, seu comportamento diante das amigas desfez.
Resolvi descer. Já eram 6 da manhã, não obstante a falta de janelas daquele lugar impedir que alguém percebesse. Eu tinha duas opções: ir embora, ou continuar a caçada. Resolvi deixar o destino escolher, fiquei lá, diante do letreiro, diante do DJ, se ninguém me olhasse eu iria, se alguém se aproximasse eu ficaria. Apenas mais um: só porque não gosto de números ímpares: 4. Quatro seria um bom número para uma noite em São Paulo. Pois então, me deixei ficar, e não a toa: algumas pessoas me rondam, me secam, me comem com os olhos, mas as ignoro. Não me interessam. Afinal a escalada agora tem sido vertiginosa: o último tem que ser o melhor de todos. Apenas fico a sorrir. É quando sinto um par de olhos azuis sobre mim. Observo-o se aproximar dançando. Passa a mão no cabelo loiro, com uma franja longa e luzes sem retoque, e dança em torno de mim. Dança como meninos de rave: pernas marcadas, braços caídos, nenhum quadril. Eu só sei sorrir novamente, desta vez, com todo ar de aprovação, ele dança na minha frente eu me aproximo mais dele, é quando ele gira e para atrás de mim. Ele então se aproxima e beija minha nuca, esfregando-se na minha bunda. Eu me viro, seguro-o pelo rosto, o beijo. Ele dança, nós dançamos juntos enquanto nossas bocas não se desprendem. Beijamo-nos sem pressa da noite acabar. "Eu tenho que ir". Eu o beijo e vou pagar minha comanda. 50 reais exatos! Ele me acompanha. "Por que ele está atrás de mim?". Saímos, peço um taxi, o valete abre a porta do carro, dou-lhe um último beijo, entro e fecho a porta atrás de mim. "Jaguaré, por favor!". E ele ficou lá na porta, sem entender. "Ele achou que vinha comigo? Britney, querido, mas eu chego já já em Paris Hilton".
PRESENTE: Tic-tac-tic-tac
2:25h, Natal, Aeroporto Internacional Augusto Severo. Check-in no guichê da TAM. Vôo 3319 NAT-GRU. Natal, Guarulhos. Trinta e cinco minutos depois o avião taxeia pela pista e decola, digo adeus a Natal mais uma vez, porém com menos entusiamsmo do que disse em janeiro quando a deixei.
6:45h, São Paulo, Aeroporto Internacional Governador André Franco Montoro. Acordo segundos antes do comandante anunciar que nos aproximávamos da terra da garoa e que faziam 11°. Um coockie do lanche servido a bordo - torradas, suco, geléia e requeijão - ainda estava no bolso do meu casaco. Esteiras 10 e 9, bagagens. Eu não tenho medo algum de andar de avião, minha fobia está em perder a minha bagagem. E minha mala é logo a que demora mais a aparecer e, com segundos na cidade, a tensão metropolitana já me invadia as têmporas.
7:30h, telefone, mainha, frio e fumaça saindo da boca. Sandália no pé. Dih, ele me busca e me leva a casa dele. Um banho. Uma rápida olhada na net. Cama, o sono dos justos.
14:08h, os travesseiros me cercam e o edredom preto cobre meu corpo. Susto, ainda dormindo acho que tem alguém deitado comigo. Desperto, e vejo-me sozinho. Compras para um churrasco. Amigos do Dih. Telefonemas. Samcleber, "Que Foxx? Ah, o Foxx!!". Mike, Paulo, Vilser. Programação para mais tarde.
17:30h, chácara, Ibiúna, Itaipava, Malboro vermelho. Três perdidos numa estrada de terra usando a principal prerrogativa masculina. Amigos dos amigos de Dih, pizza caseira, quebra-cabeças. Professores discutindo a profissão, contadores exercendo a sua. Risadas frouxas. Obrigado.
00:30h, fila da Bubu.
6:45h, São Paulo, Aeroporto Internacional Governador André Franco Montoro. Acordo segundos antes do comandante anunciar que nos aproximávamos da terra da garoa e que faziam 11°. Um coockie do lanche servido a bordo - torradas, suco, geléia e requeijão - ainda estava no bolso do meu casaco. Esteiras 10 e 9, bagagens. Eu não tenho medo algum de andar de avião, minha fobia está em perder a minha bagagem. E minha mala é logo a que demora mais a aparecer e, com segundos na cidade, a tensão metropolitana já me invadia as têmporas.
7:30h, telefone, mainha, frio e fumaça saindo da boca. Sandália no pé. Dih, ele me busca e me leva a casa dele. Um banho. Uma rápida olhada na net. Cama, o sono dos justos.
14:08h, os travesseiros me cercam e o edredom preto cobre meu corpo. Susto, ainda dormindo acho que tem alguém deitado comigo. Desperto, e vejo-me sozinho. Compras para um churrasco. Amigos do Dih. Telefonemas. Samcleber, "Que Foxx? Ah, o Foxx!!". Mike, Paulo, Vilser. Programação para mais tarde.
17:30h, chácara, Ibiúna, Itaipava, Malboro vermelho. Três perdidos numa estrada de terra usando a principal prerrogativa masculina. Amigos dos amigos de Dih, pizza caseira, quebra-cabeças. Professores discutindo a profissão, contadores exercendo a sua. Risadas frouxas. Obrigado.
00:30h, fila da Bubu.
quarta-feira, 16 de julho de 2008
PASSADO: "Você é louco, sabia?" ou Banheirão
Noite. 15:30h. Felipe me liga. "A gente se encontra umas 18h no Via Direta e de lá vai! 'Cê sabe que eu adoro festinhas na UFRN!". Sorrí do outro lado do telefone. Eu avisei-o que quando saísse da aula, iria direto encontrá-lo no shopping. Tocou o sinal avisando que o intervalo na escola já havia terminado. Eu retornei à sala de aula. Pose de professor. Alunos da 6ª série diante de mim. Cinquenta minutos de aula. Mais cinquenta em outra turma de meninos entre 11 e 12 anos. 17:20h. Eu pego o 79 sabendo que vou chegar atrasado. Mensagem no celular avisando que só saira naquele instante, e que da zona norte até o Via duraria, no mínimo, quarenta minutos se não houvesse trânsito. Mas houve. 18:20h. Felipe reclama do atraso. "Como se algo comessasse no horário neste país!". Ele compra cigarros, Carlton Mint, e um isqueiro. Bafora enquanto compramos cervejas no Carrefour também. Long Necks. Uma para cada, mais, esquentaria. Vamos bebendo, contando causos e caminhando pela lateral do shopping, através do Floriano Cavalcanti, até chegar ao campus da universidade. Entramos pela porta lateral, na cerca coberta por trepadeiras. Os cascos das cervejas ficam pelo caminho. E nos dirigimos ao Centro de Convivência da universidade onde o centro de ciências humanas organizava uma calourada. Felipe me contava sobre seu ex-namorado. Eu apenas observava o piercing dele balançando sob seu lábio inferior. "Eu me assustava com David dizendo que queria envelhecer do meu lado, Foxx. A gente namorava há menos de seis meses e ele já fazia planos para o futuro". Engraçado como o piercing brilhava sobre a luz de mercúrio que deixava Natal dourada àquela hora.
No Centro de Convivência, poucas pessoas, o palco ainda estava terminando de ser montado. "Eu não disse", sapequei. Ao longe, alguns universitários com seus jeans surrados, pessoas que saíam da livraria apressadas e sem muitas vezes perceber o movimento que se formava ali, um grupo de adolescentes góticos com camisas pretas e all stars de cano alto, new hippies com cabelos rastafari e saias indianas. Ficamos próximos a uma coluna, esperávamos as bandas começarem e o bar abrir. Alguns amigos, participantes da organização apareceram, Brand New Hate abriria o show - góticos explicados - e o SeuZé encerraria - new hippies explicados. "O que eu estou fazendo aqui é que não se explica, não é?", brandia furiosamente o sangue de Felipe. Eu não! "Eu até que gosto do SeuZé".
A música começa. Os góticos se espalham. Misturam-se. Como Felipe gostava de repetir: "Festas democráticas!". E me deparo com um menino. Ele usa uma camiseta do Nightwish, munhequeira de couro no braço esquerdo, pulseiras de bolinhas pretas no direito. Calça jeans reta, com o joelho rasgado, que não escondiam as pernas finas e, no pé, um all star preto, riscado. Ele me olha curioso. Eu, mais curioso, correspondo. Vejo-o tomar algumas cervejas. Eu bebo outras. Felipe completamente alheio. Ele tem o cabelo negro e curto, cortado num quase topete; seus olhos da mesma cor se apertam toda vez que ele sorri. Só para as amigas, nunca para mim. Porém, uma hora, ele vai ao banheiro, passa por mim e me encara seriamente. Quando ele passa, sem pensar duas vezes, o sigo. Ele entra, e quando se dirige ao reservado percebe que estou atrás. Não sorri, apenas me encara, e quando tenta fechar a porta, dá com a minha mão mantendo-a aberta para poder entrar. "Você é louco, sabia?". Eu sorri: "Se você quiser que eu saia...". Ele sorri. Pela primeira vez para mim, me puxa pelo cinto e me beija. Empurra seu quadril contra o meu, minha mão aperta sua bunda pequena. "Dim, 'cê 'tá passando bem?". Ele responde que sim para o amigo que veio descobrir porque demorava tanto. Ele então sorri e se apresenta.
No Centro de Convivência, poucas pessoas, o palco ainda estava terminando de ser montado. "Eu não disse", sapequei. Ao longe, alguns universitários com seus jeans surrados, pessoas que saíam da livraria apressadas e sem muitas vezes perceber o movimento que se formava ali, um grupo de adolescentes góticos com camisas pretas e all stars de cano alto, new hippies com cabelos rastafari e saias indianas. Ficamos próximos a uma coluna, esperávamos as bandas começarem e o bar abrir. Alguns amigos, participantes da organização apareceram, Brand New Hate abriria o show - góticos explicados - e o SeuZé encerraria - new hippies explicados. "O que eu estou fazendo aqui é que não se explica, não é?", brandia furiosamente o sangue de Felipe. Eu não! "Eu até que gosto do SeuZé".
A música começa. Os góticos se espalham. Misturam-se. Como Felipe gostava de repetir: "Festas democráticas!". E me deparo com um menino. Ele usa uma camiseta do Nightwish, munhequeira de couro no braço esquerdo, pulseiras de bolinhas pretas no direito. Calça jeans reta, com o joelho rasgado, que não escondiam as pernas finas e, no pé, um all star preto, riscado. Ele me olha curioso. Eu, mais curioso, correspondo. Vejo-o tomar algumas cervejas. Eu bebo outras. Felipe completamente alheio. Ele tem o cabelo negro e curto, cortado num quase topete; seus olhos da mesma cor se apertam toda vez que ele sorri. Só para as amigas, nunca para mim. Porém, uma hora, ele vai ao banheiro, passa por mim e me encara seriamente. Quando ele passa, sem pensar duas vezes, o sigo. Ele entra, e quando se dirige ao reservado percebe que estou atrás. Não sorri, apenas me encara, e quando tenta fechar a porta, dá com a minha mão mantendo-a aberta para poder entrar. "Você é louco, sabia?". Eu sorri: "Se você quiser que eu saia...". Ele sorri. Pela primeira vez para mim, me puxa pelo cinto e me beija. Empurra seu quadril contra o meu, minha mão aperta sua bunda pequena. "Dim, 'cê 'tá passando bem?". Ele responde que sim para o amigo que veio descobrir porque demorava tanto. Ele então sorri e se apresenta.
quinta-feira, 10 de julho de 2008
ESPECIAL DE NATAL: O genro que mamãe pediu a Deus
Loja da minha mãe na Cidade da Esperança. Ela estava sentada na porta, num banco. Eu remexia numa bancada, quando ela fala:
- Foxx, você não tem nenhuma paquera não? Nenhuma namorada? Ninguém que você se interesse?
- Ninguém me quer não.
- Ah, não é possível! Tem muita gente mais feia que você por aí que tem namorada.
Sorriso sem graça.
- Eu acho que você não se dedica. Você tem quase trinta anos, Foxx, tem que começar a pensar em formar uma família.
- Verdade!
Quase trinta?!
- Isso é coisa que não presta: homem sem família. Tem que casar, com uma historiadora ou uma arquiteta. Seu irmão com uma engenheira.
- Arquiteta?
- É! P'ra assinar os projetos quando a gente precisar.
- Olha, cheia de segundas intenções.
- Mas, é claro, foi muito investimento que eu e seu pai fizemos em vocês. Queremos lucro!
- ...
- E tem que ter três filhos!
- Três?! Deus me livre!
- Ora, 'cê vai ter dinheiro p'ra criar.
- Dinheiro não é o problema. É o trabalho!
- Ah! Bobagem.
- No máximo dois. E com cinco ou dez anos de diferença entre um e outro.
- Negativo! No máximo dois anos entre um e outro. Um, quando o mais velho tivesse quatro anos e outro quando tivesse seis. E meninos! Seus irmãos já deram meninas demais.
- Foxx, você não tem nenhuma paquera não? Nenhuma namorada? Ninguém que você se interesse?
- Ninguém me quer não.
- Ah, não é possível! Tem muita gente mais feia que você por aí que tem namorada.
Sorriso sem graça.
- Eu acho que você não se dedica. Você tem quase trinta anos, Foxx, tem que começar a pensar em formar uma família.
- Verdade!
Quase trinta?!
- Isso é coisa que não presta: homem sem família. Tem que casar, com uma historiadora ou uma arquiteta. Seu irmão com uma engenheira.
- Arquiteta?
- É! P'ra assinar os projetos quando a gente precisar.
- Olha, cheia de segundas intenções.
- Mas, é claro, foi muito investimento que eu e seu pai fizemos em vocês. Queremos lucro!
- ...
- E tem que ter três filhos!
- Três?! Deus me livre!
- Ora, 'cê vai ter dinheiro p'ra criar.
- Dinheiro não é o problema. É o trabalho!
- Ah! Bobagem.
- No máximo dois. E com cinco ou dez anos de diferença entre um e outro.
- Negativo! No máximo dois anos entre um e outro. Um, quando o mais velho tivesse quatro anos e outro quando tivesse seis. E meninos! Seus irmãos já deram meninas demais.
quarta-feira, 9 de julho de 2008
ESPECIAL DE NATAL: "Sou aquele que tem amor, e aonde estiver eu vou!"
Chovia. É raro, mas acontece também em Natal. Ruim porque vai ter pouca gente no Kafofu, mas desde quando chuva atrapalha quando a gente quer rever os amigos. Seis meses longe desse povo que por muito tempo foi mais importante do que minha família. Quero revê-los e abraçá-los. Mas não vou poder exibir meu novo corpo, mas quem disse que em Natal faz frio assim? Então escolho uma camiseta que não entrava em mim desde tempos imemoriais. Já ganhei a noite.
Cheguei pontualmente. E pontualidade é uma virtude sem testemunhas. Mas tudo bem, marquei cedo mesmo e saí mais cedo de casa também. Não queria dar explicações para onde ia. E nem explicar porque eu carregava um presente. Fui de ônibus, e entre a parada final e o bar, um menino loiro, olhos azuis, acompanhado de um outro moreno, ambos lindos, me olharam dos pés a cabeça e ganharam de volta um belo carão. No bar, poucas mesas estão ocupadas. Uma sapa de jaqueta de couro por ali, duas meninas e um menino gay em outra mesa sopram nuvens de fumaça no ar e pedem petiscos ao garçom, um ex-Ídolos discute o novo show que fará na cidade na minha frente, um casal lá fora - um menino de pouco mais que dezoito anos e um homem de trinta e poucos - conversam descontraidamente. O gerente pergunta onde eu andava: quem mandou marcar ponto no bar toda quarta-feira e ter o recorde do bar de cervejas bebidas em uma noite. "Uma Skol, por favor" e um Carlton aceso. Esperar. Falling to the night.
Rihanna irrompe. Come mr. DJ song pon de replay, come mr. DJ won't you turn the music up. Telefone. Cadê? Peter, "já 'tô chegando". Maddie, "amor, eu 'tô indo viu?". Sam e Almeida chegam. "Menino, como você 'tá magro?!". O Andarilho com o novo namorado. "Quanta saudade, meu deus! Eu te amo, sabia?". Peter, Ribeiro, Maddie, Guh, Deh, Michel. "Mas você 'tá muito gostoso!!". Bob, o blogger que o Bê pediu para eu levar uma "encomenda". Lembranças, Orla Sul, Praça, Ponta Negra. Piadas internas, "Tange! Tange! Tange!". "Pior é que foi isso mesmo que aconteceu! Foi só você ir embora que cada um tomou caminho diferente. A última vez que a gente se reuniu assim foi na sua despedida. Fazer o quê se você é o coração do grupo?". É, mas agora eu estou aqui, e amo todos vocês. "Vamos para o birita free, sexta?".
Cheguei pontualmente. E pontualidade é uma virtude sem testemunhas. Mas tudo bem, marquei cedo mesmo e saí mais cedo de casa também. Não queria dar explicações para onde ia. E nem explicar porque eu carregava um presente. Fui de ônibus, e entre a parada final e o bar, um menino loiro, olhos azuis, acompanhado de um outro moreno, ambos lindos, me olharam dos pés a cabeça e ganharam de volta um belo carão. No bar, poucas mesas estão ocupadas. Uma sapa de jaqueta de couro por ali, duas meninas e um menino gay em outra mesa sopram nuvens de fumaça no ar e pedem petiscos ao garçom, um ex-Ídolos discute o novo show que fará na cidade na minha frente, um casal lá fora - um menino de pouco mais que dezoito anos e um homem de trinta e poucos - conversam descontraidamente. O gerente pergunta onde eu andava: quem mandou marcar ponto no bar toda quarta-feira e ter o recorde do bar de cervejas bebidas em uma noite. "Uma Skol, por favor" e um Carlton aceso. Esperar. Falling to the night.
Rihanna irrompe. Come mr. DJ song pon de replay, come mr. DJ won't you turn the music up. Telefone. Cadê? Peter, "já 'tô chegando". Maddie, "amor, eu 'tô indo viu?". Sam e Almeida chegam. "Menino, como você 'tá magro?!". O Andarilho com o novo namorado. "Quanta saudade, meu deus! Eu te amo, sabia?". Peter, Ribeiro, Maddie, Guh, Deh, Michel. "Mas você 'tá muito gostoso!!". Bob, o blogger que o Bê pediu para eu levar uma "encomenda". Lembranças, Orla Sul, Praça, Ponta Negra. Piadas internas, "Tange! Tange! Tange!". "Pior é que foi isso mesmo que aconteceu! Foi só você ir embora que cada um tomou caminho diferente. A última vez que a gente se reuniu assim foi na sua despedida. Fazer o quê se você é o coração do grupo?". É, mas agora eu estou aqui, e amo todos vocês. "Vamos para o birita free, sexta?".
sexta-feira, 4 de julho de 2008
PRESENTE: "Panis Et Circensis"
A água começava a ferver na boca no canto direito do fogão. Eu chegara da academia há pouco, nem tinha trocado de roupa, tinha que preparar logo as coisas, pois Rick chegaria as 19:30 e só me restavam uma hora e meia para no mínimo colocar aquele arroz ao fogo para poder ir tomar banho. Aproveitei, então, enquanto a água não levantava sua fervura para desfiar o frango com cuidado e descascar as batatas e cenouras. Sal e azeite se misturam na água. Uma medida de arroz. Páprica, curry, açafrão, pimenta, cravo-da-índia e caldo de frango. Reservo o frango.
Hora do banho. O chuveiro elétrico me aquece dos 18° que fazem lá fora em Belo Horizonte. Xampu e sabonete tomam conta do banheiro, mas minha cabeça está na cozinha, tenho que ser rápido porque ainda há muito o que fazer e quando abro a porta o cheiro do meu arroz indiano invade-me as narinas. Ainda enrolado na toalha, vou a cozinha apertada da minha república. Coloco o frango cozido previamente, que se mistura com os temperos do arroz. Tenho que mexer pouco. O cheiro só melhora, e eu provo o ponto. Perfeito.
Para acompanhar um prato tão apimentado é necessário algo mais "adistringente" e decidi enquanto voltava da academia por um purê de batatas e cenouras. Batatas inglesas e cenouras, descascadas e cortadas, já cozinhavam em outra panela. Eu os cortei antes mesmo de desfiar o frango. Estes então ficam prontos antes do arroz. Amasso-as juntas, acrescento margarina, leite e sal. Olho o relógio, quase no horário dele chegar o porteiro eletrônico toca. Ele diz oi, do outro lado, eu abro a porta e peço para ele entrar, ele me encontra mexendo o purê e fala: "Que cheiro bom!". Eu falo que é para ele, e ele sorri agradecido, ofereço uma cerveja que ele recusa: "Mais tarde". Desligo o purê, já pronto, "falta apenas o arroz secar mais". E o levo para guardar a bolsa no meu quarto, ele entra e me puxa, me beija com delicadeza e diz que é a primeira vez que cozinham para ele. "É sempre bom ser o primeiro". Ele sorri e voltamos a cozinha.
"Estamos na fase crítica, se você se distrair o arroz queima". Ele me manda então ter cuidado enquanto vai a área de serviço e acende um Carlton. Pergunta-me do meu dia e do cardápio de hoje: "Biryani de frango e o purê que você falou p'ra eu mandar p'ra Ana Maria Braga". Ele se assusta, eu explico do que falo, ele quer ir ver o aspecto na cozinha. Passa-me o cigarro, sugo dois tragos, e ele volta dizendo que o Biryani está com um aspecto ótimo, mas o purê. "Mas está gostoso, pode ter certeza!". O arroz seca, jogo um punhado de salsa para cozinhar apenas no vapor que ainda subia. Fecho a panela e a levo para meu quarto. Dois pratos também. Almofadas já esperava no chão para sentarmos. Sirvo-o, a mim também, lembro e vou buscar duas latinhas de cerveja, uma para cada um. "Sim, cerveja combina muito bem com comida indiana". Comemos e ele me elogia: "Não é que isso 'tá muito bom?". "Você me faz bem sabia?"
- Não, eu não consegui dormir esta noite.
- Que houve?
Claro que me preocupo. É uma pessoa incrível que está na minha vida. E quando eu fiquei gripado, semana passada, ele fez questão de ir na farmácia comprar os remédios. Queria sair do trabalho para vir deixar os remédios para mim, tive que avisa-lo que eu estava apenas resfriado, não morrendo com uma crise fatal de pedra nos rins. E o tarot sempre me aconselha a retribuir tudo o que recebo na mesma intensidade, então está na minha obrigação kármica ser o mais prestativo e tentar ajuda-lo a dormir melhor, se puder.
- Foxx, ontem eu encontrei com o L, o Macêdo e o Ambulância no Estúdio da Carne.
E isso o fez não dormir?
- Eu soube de umas histórias.
Isso não vai acabar bem.
- O que você andou falando p'ro Ambulância sobre o Macêdo?
Ufa!
- Bem, eu falei o que você sabe que eu penso dele. Nada de novo! Nada de monstruoso!
- Olha, na verdade, o Ambulância contou que você disse que ele poderia conseguir coisa melhor e que você ficou empurrando dois meninos que estavam a fim dele lá no Miss Pig.
Gente, eu tenho que parar de rir.
- Rick, você sabe perfeitamente que eu acho que o Ambulância poderia conseguir uma coisa melhor. Eu já falei isso a você e ao L. Ele é bonito, inteligente, tem um bom papo, e ficar com aquela criança de 26 anos e mentalidade de 10, é muito mal gosto. Agora que eu estava jogando ele p'ra cima de alguém... o máximo que eu fiz foi apresentar dois amigos meus a ele, porque nos encontramos.
Ele fica em silêncio. Olha-me pensativo.
- As histórias não estão batendo.
- Você sabe minha versão. Qual foi a história que ele te contou?
- Ele deu a entender que você queria sabotar o namoro dele com o Macêdo.
Eu definitivamente devo parar de rir.
- Acho que você tem que se questionar o que eu ganharia com isso? Ou melhor, quem ganharia algo com isso?
- Eu não sei.
- Bem, você pode não enxergar, mas o Macêdo tem sim uma queda gigantesca por você. Arrasta um boing, quanto mais uma asa. Como o Ambulância não é nada burro percebeu isso, e resolveu colocar seu melhor amigo contra mim, para assim você que parece estar interessado ficar do meu lado, e se afastar do Macêdo, deixando o caminho livre para o Ambulância. Praticamente a Samara Filipo contra a Priscilla Fantim na Malhação.
- Praticamente.
Ah, arranquei um sorriso. Bom sinal!
- E agora... pelo disse-me-disse e pelo ataque-Samara-Filipo, eu retiro tudo o que falei. Ele está muito bem acompanhado. Como uma luva feita para uma mão.
- Eu não sei o que pensar.
Como assim não sabe? Eu já disse o que você deveria pensar, ora bolas!
- Passei hoje a manhã toda brigando com o Macêdo. Ele está irredutível!
Ele? E quem quer saber dele? Achei que o importante era eu e você.
- Eu fiquei me achando um idiota, sabe, tentando me equilibrar entre você e meus amigos. Tentando fazer com que houvesse uma harmonia entre vocês. E você não gosta deles. E eles agora.
- 'Pera lá! Eu nunca tive nada contra o L ou o Ambulância. E nunca neguei minha antipatia pelo Macêdo. As piadas sem graça, o hi-5, ele tem 27 anos e é virgem, Rick! Pelo amor de Deus! Virgem aos 27!
- Mas eu te avisei que não poderia sustentar um relacionamento com alguém que não se dá bem com meus amigos. Lembra? Eu não conseguiria.
Mini-flashback. Dia dos namorados. Saímos para jantar, e lá conversamos sobre relacionamentos passados. E relacionamentos futuros. Contei da minha antipatia e minhas opiniões, ele me pediu mais uma chance para o Macêdo e falou que ele era como um irmão e, portanto, um namoro com ele, teria os amigos juntos.
- Meus amigos são uma parte muito importante da minha vida.
- Entendo.
Pior que entendo sim. Meus amigos também são pessoas muito importantes para mim. Não conseguiria viver sem eles.
- Eu não sei o que fazer.
Não sabe? Então eu sei.
- Então vamos fazer assim, Rick! Você está em dúvida? Eu vou viajar para Natal esses dias. Fico, no mínimo, duas semanas lá. Enquanto eu estou fora, você pode pensar no que fazer. Em como resolver essa situação chata que eu criei. Desculpe-me, inclusive.
- Tipo um tempo? Tempo? Isso existe? Tempo que eu conheço só em voley, baby!
- É! Pode ser! Quando eu voltar a gente conversa novamente sobre o assunto. E vemos como vamos ficar, ok?
- Acho que é a coisa mais acertada.
- Eu também acho!
Afinal a idéia foi minha né?
- Agora tenho que ir.
Ele sai, pego meu celular e digito uma mensagem rápida. Minutos depois o telefone toca. Rajeik.
- O que aconteceu?
- Estou solteiro de novo! Na pista p'ra negócio!
Hora do banho. O chuveiro elétrico me aquece dos 18° que fazem lá fora em Belo Horizonte. Xampu e sabonete tomam conta do banheiro, mas minha cabeça está na cozinha, tenho que ser rápido porque ainda há muito o que fazer e quando abro a porta o cheiro do meu arroz indiano invade-me as narinas. Ainda enrolado na toalha, vou a cozinha apertada da minha república. Coloco o frango cozido previamente, que se mistura com os temperos do arroz. Tenho que mexer pouco. O cheiro só melhora, e eu provo o ponto. Perfeito.
Para acompanhar um prato tão apimentado é necessário algo mais "adistringente" e decidi enquanto voltava da academia por um purê de batatas e cenouras. Batatas inglesas e cenouras, descascadas e cortadas, já cozinhavam em outra panela. Eu os cortei antes mesmo de desfiar o frango. Estes então ficam prontos antes do arroz. Amasso-as juntas, acrescento margarina, leite e sal. Olho o relógio, quase no horário dele chegar o porteiro eletrônico toca. Ele diz oi, do outro lado, eu abro a porta e peço para ele entrar, ele me encontra mexendo o purê e fala: "Que cheiro bom!". Eu falo que é para ele, e ele sorri agradecido, ofereço uma cerveja que ele recusa: "Mais tarde". Desligo o purê, já pronto, "falta apenas o arroz secar mais". E o levo para guardar a bolsa no meu quarto, ele entra e me puxa, me beija com delicadeza e diz que é a primeira vez que cozinham para ele. "É sempre bom ser o primeiro". Ele sorri e voltamos a cozinha.
"Estamos na fase crítica, se você se distrair o arroz queima". Ele me manda então ter cuidado enquanto vai a área de serviço e acende um Carlton. Pergunta-me do meu dia e do cardápio de hoje: "Biryani de frango e o purê que você falou p'ra eu mandar p'ra Ana Maria Braga". Ele se assusta, eu explico do que falo, ele quer ir ver o aspecto na cozinha. Passa-me o cigarro, sugo dois tragos, e ele volta dizendo que o Biryani está com um aspecto ótimo, mas o purê. "Mas está gostoso, pode ter certeza!". O arroz seca, jogo um punhado de salsa para cozinhar apenas no vapor que ainda subia. Fecho a panela e a levo para meu quarto. Dois pratos também. Almofadas já esperava no chão para sentarmos. Sirvo-o, a mim também, lembro e vou buscar duas latinhas de cerveja, uma para cada um. "Sim, cerveja combina muito bem com comida indiana". Comemos e ele me elogia: "Não é que isso 'tá muito bom?". "Você me faz bem sabia?"
5 dias depois
- Não, eu não consegui dormir esta noite.
- Que houve?
Claro que me preocupo. É uma pessoa incrível que está na minha vida. E quando eu fiquei gripado, semana passada, ele fez questão de ir na farmácia comprar os remédios. Queria sair do trabalho para vir deixar os remédios para mim, tive que avisa-lo que eu estava apenas resfriado, não morrendo com uma crise fatal de pedra nos rins. E o tarot sempre me aconselha a retribuir tudo o que recebo na mesma intensidade, então está na minha obrigação kármica ser o mais prestativo e tentar ajuda-lo a dormir melhor, se puder.
- Foxx, ontem eu encontrei com o L, o Macêdo e o Ambulância no Estúdio da Carne.
E isso o fez não dormir?
- Eu soube de umas histórias.
Isso não vai acabar bem.
- O que você andou falando p'ro Ambulância sobre o Macêdo?
Ufa!
- Bem, eu falei o que você sabe que eu penso dele. Nada de novo! Nada de monstruoso!
- Olha, na verdade, o Ambulância contou que você disse que ele poderia conseguir coisa melhor e que você ficou empurrando dois meninos que estavam a fim dele lá no Miss Pig.
Gente, eu tenho que parar de rir.
- Rick, você sabe perfeitamente que eu acho que o Ambulância poderia conseguir uma coisa melhor. Eu já falei isso a você e ao L. Ele é bonito, inteligente, tem um bom papo, e ficar com aquela criança de 26 anos e mentalidade de 10, é muito mal gosto. Agora que eu estava jogando ele p'ra cima de alguém... o máximo que eu fiz foi apresentar dois amigos meus a ele, porque nos encontramos.
Ele fica em silêncio. Olha-me pensativo.
- As histórias não estão batendo.
- Você sabe minha versão. Qual foi a história que ele te contou?
- Ele deu a entender que você queria sabotar o namoro dele com o Macêdo.
Eu definitivamente devo parar de rir.
- Acho que você tem que se questionar o que eu ganharia com isso? Ou melhor, quem ganharia algo com isso?
- Eu não sei.
- Bem, você pode não enxergar, mas o Macêdo tem sim uma queda gigantesca por você. Arrasta um boing, quanto mais uma asa. Como o Ambulância não é nada burro percebeu isso, e resolveu colocar seu melhor amigo contra mim, para assim você que parece estar interessado ficar do meu lado, e se afastar do Macêdo, deixando o caminho livre para o Ambulância. Praticamente a Samara Filipo contra a Priscilla Fantim na Malhação.
- Praticamente.
Ah, arranquei um sorriso. Bom sinal!
- E agora... pelo disse-me-disse e pelo ataque-Samara-Filipo, eu retiro tudo o que falei. Ele está muito bem acompanhado. Como uma luva feita para uma mão.
- Eu não sei o que pensar.
Como assim não sabe? Eu já disse o que você deveria pensar, ora bolas!
- Passei hoje a manhã toda brigando com o Macêdo. Ele está irredutível!
Ele? E quem quer saber dele? Achei que o importante era eu e você.
- Eu fiquei me achando um idiota, sabe, tentando me equilibrar entre você e meus amigos. Tentando fazer com que houvesse uma harmonia entre vocês. E você não gosta deles. E eles agora.
- 'Pera lá! Eu nunca tive nada contra o L ou o Ambulância. E nunca neguei minha antipatia pelo Macêdo. As piadas sem graça, o hi-5, ele tem 27 anos e é virgem, Rick! Pelo amor de Deus! Virgem aos 27!
- Mas eu te avisei que não poderia sustentar um relacionamento com alguém que não se dá bem com meus amigos. Lembra? Eu não conseguiria.
Mini-flashback. Dia dos namorados. Saímos para jantar, e lá conversamos sobre relacionamentos passados. E relacionamentos futuros. Contei da minha antipatia e minhas opiniões, ele me pediu mais uma chance para o Macêdo e falou que ele era como um irmão e, portanto, um namoro com ele, teria os amigos juntos.
- Meus amigos são uma parte muito importante da minha vida.
- Entendo.
Pior que entendo sim. Meus amigos também são pessoas muito importantes para mim. Não conseguiria viver sem eles.
- Eu não sei o que fazer.
Não sabe? Então eu sei.
- Então vamos fazer assim, Rick! Você está em dúvida? Eu vou viajar para Natal esses dias. Fico, no mínimo, duas semanas lá. Enquanto eu estou fora, você pode pensar no que fazer. Em como resolver essa situação chata que eu criei. Desculpe-me, inclusive.
- Tipo um tempo? Tempo? Isso existe? Tempo que eu conheço só em voley, baby!
- É! Pode ser! Quando eu voltar a gente conversa novamente sobre o assunto. E vemos como vamos ficar, ok?
- Acho que é a coisa mais acertada.
- Eu também acho!
Afinal a idéia foi minha né?
- Agora tenho que ir.
Ele sai, pego meu celular e digito uma mensagem rápida. Minutos depois o telefone toca. Rajeik.
- O que aconteceu?
- Estou solteiro de novo! Na pista p'ra negócio!
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