Era madrugada já. Alguma coisa por volta de 2h da manhã. Eu estava na casa de uma amiga, ela me convidara para tomar uma cerveja, tomamos cinco, acompanhados de alguns cigarros. Era perto da casa dos meus pais, onde moro, alguns quarteirões apenas de distância, e eu voltei a pé. As ruas são escuras e estavam desertas, da aquele receio, mas o que se há de fazer?
Mas foi somente quando eu entrei na rua de casa que algo aconteceu. Ele vinha do outro lado da rua, tinha a minha altura, mas era tão largo que parecia mais baixo. Era largo por causa dos músculos imensos que forçavam o tecido da camiseta. Tinha pernas grossas também, troncos poderosos para sustentar aquele peito de colosso. Tivemos nosso primeiro contato visual quando cheguei diante da porta da minha casa. Parei então para procurar minhas chaves, e aproveitei para observá-lo se afastar, as costas largas e a bunda poderosa. Ele olhou para trás três vezes até virar a esquina no final da travessa que eu moro, foi o tempo de eu finalmente abrir o portão que ele voltou até a esquina, e ficou de lá me observando. Foi aí que pensei com meus botões: é sempre a minha vez de tomar a iniciativa.
Eu joguei minha bolsa portão a dentro e o fechei novamente. E fui em direção dele, me vendo ele se moveu a primeira vez, mas deu passos curtos, eu logo estava diante dele.
- Oi?
Ele respondeu nervoso, quase gaguejando.
- O-oi, cara, tudo bom? 'Cê mora sozinho?
Ele falava rápido, se atropelando. Alguns cachorros latiram e ele, sobressaltado, assustou-se ao ponto de dar um pulo.
- Vamos até aqui...
Eu o chamei para nos afastarmos dos cachorros e perguntei:
- O que você havia me perguntado mesmo?
- Se você mora sozinho, cara... se a gente pode ir lá sem problema.
Eu respondi um não com um meneio de cabeça, mas ele continuava falando muito rápido, olhando para os lados o tempo todo, visivelmente com medo de ser descoberto ali falando comigo. Ele continuou:
- Por que tu curte caras, né? Lembro de você da Vogue, te vi por lá já.
Ele não me deixava responder nenhuma de suas perguntas com algo mais que um aceno de cabeça, sim ou não, até perguntar de novo.
- Você não mora sozinho mesmo?
- Não, meu caro, não moro. Moro com meus pais.
- Então não rola, não é?
- Não.
Respondi e pretendia pedir-lhe o telefone, poderíamos sair outro dia e nos conhecer melhor, mas ele logo estendeu a mão e falou:
- Meu nome é Jader, cara, vou indo então. Falou!
Eu fiquei com as palavras engasgadas, mas ele já tinha dado as costas e caminhava de novo em direção a esquina e virou nas sombras.
Era domingo a tarde e havia acabado de levar um fora. Estava em casa na internet quando um convite apareceu no Facebook. Era um convite de amizade. Abri o perfil, curioso, para saber se era algum conhecido, e não era. Na verdade era um jovem bonito, por volta de 25 anos, com um corpo sarado, em várias fotos de sunga. Jornalista, segundo o perfil, com nome de cantor de música sertaneja e com um sorriso luminoso que formava uma covinha na bochecha. Aceitei o convite, ele estava on-line e começamos a conversar. "Fiquei curioso porque alguém tão bonito havia me adicionado", falei de cara. Ele devolveu o elogio e disse que ao ver meu perfil gostou do que viu e sentiu vontade de me adicionar.
Conversamos a tarde toda, eu encantado com o a desenvoltura dele, e de como pensávamos parecido sobre muitas coisas. Foi quando ele perguntou se eu estava namorando, e falei que estava solteiro e que estava difícil de encontrar alguém que quisesse namorar. Ele concordou. "Eu não costumo ficar por ficar, acho inútil, uma perda de tempo", eu disse, "atualmente só me interessa ficar com alguém se existe interesse mútuo para que dali possa sair pelo menos uma história bonita entre os dois". Ele concordou animado, mas disse que tinha medo de sofrer também. Eu fui veemente na hora de discordar dele. "Prefiro mil vezes quebrar a cara em um relacionamento, que ele dê errado, do que perder a oportunidade. Todos preferem se proteger da dor, mas e se por causa disso você estiver perdendo a oportunidade de ser feliz?". Ele ficava em silêncio enquanto eu falava. "Eu nunca penso, quando conheço alguém, na possibilidade dele me fazer sofrer, eu penso no quanto aquela pessoa poderia me fazer feliz". Ele concordou. "É tão bom alguém que quer estar ao seu lado, alguém que sente sua falta, alguém que quer ficar com você e ter sua companhia". Falei e ele completou: "Que conta as horas para ir encontrá-lo", e também disse, "Realmente está muito difícil encontrar alguém que pense assim como você, Foxx". Eu brinquei dizendo que ele tinha acabado de encontrar alguém que pensava exatamente como eu. Ele riu e perguntou se eu não queria encontrá-lo naquele mesmo dia. Eu topei.
À noite aconteceria naquele domingo o Circuito Ribeira em que bares, boates, teatros e galerias de arte estavam de portas abertas na região portuária de Natal, projeto este para revitalizar aquela região da cidade. Eu já havia marcado com dois amigos durante a semana e não era um problema inclui-lo na programação. Marcamos de nos encontrarmos dali a poucas horas, em frente ao Teatro Alberto Maranhão, e eu cheguei primeiro, fiquei esperando por ele, e o reconheci a distância quando ele chegou. Vestia uma polo cinza e justa, mostrando o corpo talhado na academia, uma calça jeans reta, que dava pistas da bunda bonita e pequena, e sorria, formando aquela covinha no bochecha esquerda. Ele me olhava com aqueles olhos grandes, curiosos, esperando minha ação e o convidei para ir encontrar meus amigos. No caminho, eu disse: "Ah, eu tinha dito que você era tão bonito que dava vontade de pedir um beijo não é?", ele riu, confirmando, eu então o puxei e falei pertinho, no ouvido dele, "me dá um beijo?", ele sorriu e me beijou, sem pressa e com carinho, e quando nos afastamos ele estava sorrindo. "Achei que você não ia me pedir esse beijo!".
E pegou na minha mão, enquanto caminhávamos para encontrar meus amigos. Andávamos de mãos dadas pelo bairro, ele olhava sempre para o meu rosto com um sorriso nos lábios. Era bom. Ser o motivo do sorriso, e ver-lhe a covinha. Encontramos meus amigos, e ficamos juntos, ele conversava com meus amigos me abraçando e puxava meu braço em torno da cintura dele. Quando me beijava, sentia-o excitado contra minha pélvis, sobretudo quando eu apertava-lhe a bunda sob o jeans escuro. Amigos de amigos já acreditavam que éramos namorados. Eu ri da confusão deles, brinquei com ele, mas ele tremeu quando um amigo de amigo o chamou de meu namorado. Afastou-se largando minha mão, ao ouvir, eu apenas ri, o beijei dizendo que não éramos namorados. "Acabamos de nos conhecer...". Mas eu estranhei e pareceu que aquela confusão de um amigo de um amigo o abalou. O olhar dele mudou a partir daquele momento, mas como pouco depois já íamos embora nem me preocupei.
No dia seguinte, enviei-lhe uma mensagem de texto no celular: "Adorei estar com você ontem a noite, meu lindo, espero te encontrar mais vezes". Ele não respondeu, somente na quarta-feira, por acaso, reapareceu no Facebook e eu puxei assunto. Perguntei também, obviamente, se poderíamos nos encontrar de novo, e ele pareceu hesitante e falou: "Ainda tô pensando se quero te conhecer melhor ou se vamos ficar só na amizade. Eu estou um pouco confuso!". Eu reli essa frase por um bom tempo e respondi que a única forma se ele ia querer ser apenas meu amigo, ou mais que isso, era exatamente se se permitisse me conhecer melhor. "Quem sabem?", foi a única coisa que ele respondeu. Eu não sabia o que responder, sugeri apenas que ele pensasse melhor e que próxima sexta eu ligaria novamente para saber o que ele ia querer, mas sexta chegou e agora eu não sabia se valia a pena ligar por alguém que não sabia nem se queria me conhecer melhor.
Eu não sabia o que falar sobre a Comissão de Direitos Humanos e Minorias, ou melhor, sobre a indicação pelo PT do presidente da comissão por um membro do Partido Social Cristão. Eu não sabia mesmo o que tratar deste assunto dado o tamanho do absurdo que tudo isso comporta, mas acompanhem-me:
1ºPor que o PSC, um partido notadamente de direita e altamente conservador, faz parte da base aliada do PT? O PSC surgiu em 1985, logo após o fim da Ditadura Militar no país, o que o faz um dos partidos mais antigos do país. Apesar de que se procurarmos na página do partido encontrarmos que "sustentado na Doutrina Social Cristã, inspirado nos valores e propósitos do Cristianismo, em busca de uma sociedade justa, solidária e fraterna (...) o PSC (...) não segrega, não exclui, nem discrimina. Aceita a todos, independente de credo, cor, raça, ideologia, sexo, condição social, política, econômica ou financeira", de fato, entre seus parlamentares (1 senador; 20 deputados federais, dos quais pelo menos a metade são evangélicos; 25 deputados estaduais e inúmeros vereadores) se defende o que eles chamam de "valores cristãos" representados por palavras como família, moral, bons costumes, etc. Eles são claramente contra bandeiras históricas do Partido dos Trabalhadores como a descriminalização do aborto e os direitos LGBT, porque não é de hoje que o movimento LGBT tem raízes profundas dentro do partido da presidente (me recuso a usar esta palavra como a senhora Dilma exige). Questiono-me profundamente porque Dilma aceitaria o PSC entre suas fileiras, e a resposta óbvia da governabilidade surge antes de qualquer coisa, a presidente (do PT) precisa do apoio do maior número de partidos para conseguir governar o Brasil e fazer passar pelo Congresso os projetos que interessam a sua administração. Certo. Mas porque o próprio PSC aceita fazer parte do governo do PT e não se coloca como uma oposição consciente? Aí está o problema: o próprio PSC vende sua ideologia conservadora para um lugar no governo. Lembro de Rui Barbosa, ainda no Império, falando que nada é mais conservador que um liberal no poder, e nada mais liberal que um conservador em campanha. Estes são o PT e o PSC, como todos os partidos brasileiros, incapazes de defender suas próprias bandeiras se isto ameaça suas possibilidades de tomar o poder.
Vejamos o próprio PT: as políticas públicas que o seu partido criou como o Projeto de Lei 122, que torna crime inafiançável a motivação homofóbica em casos de agressão e assassinato, ou o Kit Anti-Homofobia ou sobre Educação Sexual e combate a HIV que seriam distribuídos nas escolas foram sustados por causa das manifestações contrárias de parcelas conservadoras da população, sobretudo, evangélicos. Propostas do PT como o casamento igualitário foram simplesmente nem discutidas com medo da rejeição pública a Dilma Rousseff que pretende novamente concorrer a presidência em 2014. Esta não podia correr o risco de ver os votos conservadores caminharem para seus concorrentes. O PSC, no entanto, tem votado a favor do PT em seus projetos e, em troca disso, recebeu a possibilidade de indicar o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, contudo, foi a aliança com o PMDB, também aliado do PT, que cedeu suas cadeiras na comissão, e com isso os votos, que permitiram a eleição do deputado federal e pastor, Marco Feliciano, ao cargo. O papel do PMDB também precisa ser levado em consideração, foi o presidente da Câmara, o meu querido deputado potiguar (#SQN) Henrique Alves, que destituiu o antigo presidente da comissão, Domingos Dutra (PT-MA), e convocou novas eleições que fizeram com que os lideres (do PT, PMDB e PSC) indicassem o nome do pastor. O PT abriu mão da comissão para poder liderar as comissões de Relações Exteriores e Fiscalização e Controle (#ShameOnYou), o PMDB obviamente garantiu a eleição de Henrique Alves.
2ºQuem diabos é Marco Feliciano?
Mas ao ler a notícia da indicação a única coisa que eu pensei foi: quem diabos é esse homem? E eu fui atrás de informação. Não havia quase nada, porque, simplesmente, Marco Feliciano não era ninguém. Na internet havia três ou quatro notícias sobre ele, eu lembrava do discurso inflamado que ele havia feito na Câmara dos Deputados, em 2011, sobre o fato da página do Uol ter conteúdo gay, que fez com que o portal se apavorasse por alguns meses e ameaçasse tirar o conteúdo do ar, pelo menos o link sumiu de sua página inicial por um tempo. Lembro de ter rido bastante do discurso do pastor: "Faço uso desta tribuna para denunciar graves irregularidades que constatei no site Uol. Fui procurado em meu gabinete por um jovem rapaz informando que ao acessar o referido site e clicar no índice do portal, na letra G, onde se referia a alusões gays, tal foi seu espanto ao encontrar sem uso de qualquer senha, ou seja, podendo ser acessado por crianças da mais tenra idade, fotos de homens nus, em atitudes flagrantemente eróticas". Marco Feliciano no discurso exigia que a Câmara dos Deputados agisse contra o site.
A outra notícia sobre Feliciano, antes desta situação, era sobre seu Twitter também ainda de 2011. Ele afirmava na sua conta no microblog que os negros eram descendentes do filho amaldiçoado de Noé e, por causa disso, a escravidão era permitida. Esta é a explicação medieval para o racismo que a Igreja Católica usou durante muito tempo, mas que o próprio João Paulo II, o papa, pediu desculpas mais de uma década atrás. Feliciano repetia dizendo que era o que a Bíblia dizia, e que ele não era racista por repetir a Bíblia. No mesmo dia ele também disse que "a podridão dos sentimentos homoafetivos levam ao ódio, ao crime e a rejeição". Estas frases no entanto não precisaram nem ser apagadas da conta do pastor, porque ele não era homofóbico. Somente em 2013, agora com sua indicação, Marco Feliciano se tornou notícia novamente. Com a indicação, manifestantes de diversos grupos como negros e quilombolas, LGBTs, evangélicos pentecostais e católicos trouxeram a tona vídeos em que o pastor pede pelo dízimo a seus fiéis, o que causou estardalhaço, mas de fato ele não fez nada errado, apenas pediu o dinheiro em nome de sua igreja, ele foi inteligente de não prometer nada em troca disso, é virtualmente impossível enquadrá-lo em charlatanismo, como alguns tentam.
3ºPor que interessa tanto aos pastores evangélicos controlar a CDHM?
Desde que ele foi indicado, Feliciano recebeu o apoio de outros pastores evangélicos, como Silas Malafaia, o qual escreveu (mal e porcamente) uma carta aberta em defesa do colega pastor. Ele começa o texto afirmando que discorda em muito do deputado federal, porém discorda mais dos evangélicos que tem se manifestado em oposição à presidência do PSC na Comissão de Direitos Humanos e Minorias, pois, segundo Malafaia, durante os 16 anos que o PT presidiu a comissão ela somente apoiava o ativismo gay, o qual ele no seu programa de TV associa diretamente a esquerda, ao socialismo e, pasmem, ao apoio à Fidel Castro em Cuba, sendo assim toda essa campanha contrária ao pastor Feliciano seria uma manobra do próprio PT para desviar a atenção de outras comissões que os interessariam mais como a de Constituição e Justiça e de Ética. "Eles precisavam desviar da sociedade o foco deste fato, e como têm poder na mídia, e como todo mundo sabe que a mídia não é a nosso favor, junto a fome com a vontade de comer", palavras do Malafaia, que não deve ler a Veja para ver que a mídia está sim a favor dele. Malafaia afirma que a oposição se dá sobretudo porque o pastor da Assembléia de Deus era contrário aos privilégios exigidos pelos ativistas gays e ia de encontro ao ideário humanista e ateísta que compõe os partidos de esquerda do Brasil que são contrários a ideologia judaico-cristã como paradigma de nossa sociedade. Malafaia o desculpa inclusive dos comentários que ele chama de infelizes feitos no Twitter, diz que ele não é homofóbico porque "nunca bateu ou mandar matar gay" e não é racista porque "ele é de origem negra (mesmo tendo cabelo esticado hahaha), e seu padrasto é negro".
A única coisa que dá para concordar com Malafaia é que a CDHM é realmente o único espaço em que os ativistas gays têm hoje para exigir nosso direito à igualdade e ser minimamente ouvidos. Foi lá que as discussões sobre o PL 122, sobre os ataques homofóbicos na Av. Paulista, sobre o kit anti-homofobia e os projetos sobre educação sem homofobia, sobre o casamento igualitário e a adoção por casais homossexuais tem se dado. Não porque os ativistas gays tem tomado conta e impedido outras discussões, mas porque estas discussões têm sido importantes para nossa sociedade sobretudo porque os ataques homofóbicos chegaram muito perto da elite brasileira, os ataques na Paulista jogaram na cara de um elite brasileira que fingia viver num país livre de preconceito; para esta elite o preconceito parecia só existir nas periferias de grandes e médias cidades, eles se apavoraram por seus filhos e exigiram que nossos governantes fizessem algo; os evangélicos, porém, que controlam e representam sobretudo a classe C da população se incomodaram porque aquele problema não era deles. Afinal tem crítica mais periferia/Classe C do que dizer que milhões morrem todos os dias vítimas de crimes, porque agraciar o assassinato de homossexuais com uma lei específica?
E é por isso que interessa tanto ao PSC o controle da comissão. Na pauta, os próximos projetos a discutir seriam a punição para a "heterofobia" e a descriminalização dos atos motivados pela "livre manifestação da fé" (isto é, a permissão para sacerdotes em geral pregarem contra homossexuais), além da permissão da cura gay, todos projetos do PMDB (vejam quem é nosso real inimigo aqui, meu povo!); os projetos opostos de regulamentação da prostituição, do PSOL, e a criminalização da contratação de serviços sexuais, do PSDB; a definição estrita e clara de todos os crimes relacionados a discriminação e preconceito, de autoria do PT, como a inclusão de parceiros homossexuais como dependentes; e discutiria-se a proposta de um plebiscito para decidir o casamento gay, proposta pelo PMDB (olha eles aqui de novo!), e a pauta é decidida pelo presidente. A primeira ação do deputado Feliciano foi alterar esta pauta e foram votados apenas seis requerimentos de audiências públicas e três foram aprovados: sobre maus-tratos no ambiente prisional, a situação de moradores de rua e inclusão no mercado de trabalho, ou seja, todos os projetos anteriores foram simplesmente ignorados. Segundo o Estadão, Feliciano inclusive tentou mostrar que não é homofóbico propondo uma nota de repúdio ao candidato venezuelano Nicolas Maduro que acusa seu adversário, Henrique Capriles, de ser um maricón. Porém, o fato é que ele tinha ao seu lado direito, sentado a mesa o deputado Jair Bolsonaro que afirmou que "a festa gay acabou" com a presidência do PSC, e saiu, ao fim da reunião, segurando um cartaz escrito "queima a rosca todo o dia", aplaudido pelos evangélicos que lotavam a sessão, ocupando todas as cadeiras, enquanto jornalistas e manifestantes gays e de movimentos negros ficaram espremidos nos corredores (o detalhe é que os evangélicos puderam entrar antes, enquanto os outros grupos só puderam ter acesso ao local que se realizaria a sessão minutos antes dela começar). Os objetivos são claros de barrar qualquer avanço em direção a igualdade pedida pelos homossexuais, a proposta é simplesmente impedir sua discussão para evitar que sejam aprovadas porque até eles mesmos devem admitir que não existe motivo para barrar o casamento civil (afinal propostas como união estável e união estável de bens foram até propostas). Sendo assim, o único meio de evitá-las é evitar que sequer elas sejam discutidas.
PS: Dias depois de escrever este texto, tomei conhecimento deste vídeo:
Eu tenho medo do futuro do Brasil, meus amigos, de verdade. Se não tomarmos agora mesmo uma providência, nosso país se tornará um Talibã cristão.
Robert Ingersoll afirma, em Sociologia do Mito, que o Taoismo tem como sua principal característica a crença na natureza cíclica do universo e suas mudanças incessantes, provavelmente inspirados no movimento dos astros e as estações do ano, tal ideia é congruente com os arquétipos do yin e yang, a definição de duas forças complementares que, opostas, fazem parte uma da outra se complementando. Afirma Ingersoll que o Taoísmo se baseia profundamente na existência de um todo único composto de duas metades entrelaçadas e opostas (o yin/yang, claro/escuro, inverno/verão, bom/ruim, seco/úmido e homem/mulher) por isso não é de surpreender que encontremos entre os mitos taoistas várias referências a personagens de sexualidade dúbia. O Tao pressupõe que dentro de toda criatura existe a complementaridade dos dois opostos yin e yang, e que as atitudes humanas devem estar sempre de acordo com essa natureza dual que forma as criaturas, sendo que os homens devem buscar o equilíbrio desta natureza yin (feminina) e yang (masculina).
O Taoismo é considerado uma religião politeísta. Suas divindades, embora unificadas pela ideia da prática do Tao (o caminho), são muitas vezes retratados como parte de uma hierarquia celestial que espelha a burocracia da China imperial. De acordo com a crença religiosa taoista, as divindades poderiam ser promovidos ou rebaixados de suas funções, aos quais eram especialmente designados. Algumas divindades também são seres humanos exaltados, heróis, que por causa de grandes ações que haviam realizado ascendiam. Sendo criaturas, os deuses também viviam o Tao e como tal possuíam em seus corpos uma complementaridade que une também o masculino e o feminino.
Um exemplo dos deuses taoístas de sexualidade dupla é o ambíguo, Lan Caihe, um dos Oito Imortais (ou Baxian) do Taoísmo, estes são heróis muito populares que representam aspectos da vida: a juventude e velhice, a pobreza e fortuna, a nobreza, cordialidade, feminilidade e masculinidade. Sua idade e sexo normalmente são apresentados de forma extremamente ambígua, não se localizando se trata-se de um menino ou uma menina, ou um homem velho ou uma jovem. Lan era um músico, de qualquer forma, que carrega castanholas de bambu com as quais marcam o tempo de seu canto e, através de sua música, também é capaz de prever o futuro. Bondoso, um dia ele recebeu por uma apresentação que estava fazendo de música e em seguida Li-Tieguai, um dos Oito Imortais, disfarçado como mendigo pediu ajuda. Lan não se recusou a ajudar e deu o dinheiro que tinha conseguido com suas apresentações musicais ao mendigo, também lavou-lhe as feridas e colocou-lhe unguentos nos furúnculos. Li-Tieguai então concedeu-lhe a imortalidade. Tornou-se padroeiro dos floristas e é responsável por fazer as nuvens ao deitar seu corpo quente e nu na neve, fazendo-a derreter e evaporar, mas sua principal função é cuidar daqueles que estão empobrecidos.
Um outro exemplo é Yu, o Grande. Este semi-deus, protetor contra as enchentes e inundações, era hermafrodita e imperador da China que teria reinado entre 2200 e 2100 a.C.. Sua lenda conta que quando fora governador, um grande dilúvio tomou a terra. No começo, o pai de Yu, Gun, um antigo deus da terra, foi designado pelo imperador Shun para domar as águas furiosas. Em nove anos, Gun construiu barragens por todo o reino na esperança de conter as águas, mas estas colapsaram em todos os lugares e por causa do seu fracasso, Gun fora executado por Shun, mas em outra versão, Gun foi salvo pelo demônio Gong Gong, grande inimigo do Alto Governante do Universo, com o qual se associou, algumas interpretações entendem esta associação como uma relação homoerótica entre o demônio e Gun.
O imperador recrutou então Yu para suceder o pai que seguiu um plano diferente, não criou novas barragens, mas abriu canais fluviais novos que serviram para escoar as águas e irrigar os campos, alargando inclusive um canal que levaria direto ao rio Amarelo, chamada Porta de Yu (Yu-bu). Yu, apesar de hermafrodita, era casado, porém, por causa de sua batalha contra o dilúvio, ficou apenas quatro dias casado, e durante os treze anos da enchente, ele visitou a família três vezes, quando sua esposa estava em trabalho de parto, quando seu filho, Qi, aprendeu a falar e quando ele fez treze anos. Em cada vez, Yu recusava-se a passar pela porta, dizendo que a inundação deixou incontáveis desabrigados e por causa disso ele não se permitia descansar.
A principal questão é que para a religião chinesa é exatamente essa dualidade que está presente em todos os seres. O feminino faz parte do masculino tanto quanto o masculino é parte constituinte do feminino, é uma questão filosófica que se distancia completamente da construção das ideias de masculinidade e feminilidade do mundo ocidental hodierno em que separamos em classificações estanques, em que nada do masculino pode conviver com o feminino. Essa definição na China Antiga não funciona. Ser homem ou ser mulher na China não são modelos opostos de vida, em que o que um deles faz o outro também não pode fazer, são na verdade modelos complementares em que se integram formando um único indivíduo. Poderíamos dizer que na China os gêneros não são opostos, mas complementares.
Perguntaram-me outro dia qual era a minha religião e pediram que explicasse aqui no blog, e então, a pedidos: eu sou espiritualista ou universalista, prefiro chamar de universalista na verdade por causa da proximidade da palavra espiritualista com a palavra espírita que acaba confundindo as pessoas. Mas resume-se a mesma coisa. O Espiritualismo é uma doutrina religiosa-filosófica que entende que o mundo espiritual se sobressai sobre a matéria, ela crê numa força divina superior, na alma, na imortalidade do ser e, neste caso, inclui tanto as religiões cristãs, o judaísmo e o islamismo, mas também religiões politeístas como como as clássicas (Grécia, Roma, Egito, Celtas, Nórdicos), religiões xamânicas como o candomblé, umbanda e jurema, entre outras, ou seja, toda e qualquer religião, e por isso nos consideramos universalistas.
Em resumo, acabamos por acreditar em todas as religiões, sendo que existe uma hierarquia. Consideramos que existe uma energia criadora de onde parte tudo, uma energia divina, abaixo dela temos os anjos e os seres cósmicos e mestres ascensos, em que se incluem os deuses de outras religiões, santos católicos e o próprio Jesus Cristo; abaixo destes encontramos os elohim, os daevas e os elementais que se dedicam a manutenção da criação e logo após as entidades que convivem com os seres humanos na Terra ajudando-os a progredir no seu carma, como guias espirituais, caboclos, e outras que tem acesso a zonas infernais, como exús e pombo-giras. Todos eles convivem num universo regido pela lei do carma do eterno retorno, em que sofremos para pagar os erros cometidos em encarnações passadas.
Isso também leva minha religião a acreditar em mediunidade, com médiuns capazes de psicografar, ouvir, ver e falar com espíritos, além de incorporá-los (eu mesmo sou capaz de ouvir, ver e falar com espíritos e tenho aprendido a incorporá-los também). Nós também cremos em oráculos como quiromancia (leitura das linhas das mãos), tarô, runas e a astrologia (mas obviamente não estamos falando aqui sobre o horóscopo do jornal, mas o estudo sério de como o mapa pode ajudar no desenvolvimento espiritual). Também faz parte do nosso arcabouço as curas espirituais, através de médicos incorporados a médiuns, mas também através de técnicas como o Reiki, a Cura Eletrônica e o Magnified Healing, que trabalham com a energia que circula pelo o universo e reequilibram os chacras para obter cura de doenças físicas.
Fazemos meditações, ioga, cantamos mantras e fazemos decretos de Chama Violeta para a transmutação do nosso carma pessoal e do carma planetário. Tenho um altar dedicado aos deuses gregos e egípcios, com um incensário de madeira e vários cristais. Tenho um baguá na porta do meu quarto e faço passes utilizando os três raios da Chama Trina do coração de Deus. É uma religião que prega a máxima espírita de que a caridade é o único caminho da salvação, mas que seus iniciados fazem os juramentos budistas para alcançar a iluminação e pedem as bençãos de Sidhartha Gautama. Quase todos são vegetarianos, eu sou quase, mas podemos beber, fumar e fazer sexo, mas é bom evitar um dia antes dos trabalhos espirituais. Acreditamos em projeção astral e em trabalhos no mundo espiritual enquanto estamos dormindo, a comunicação na verdade com espíritos, seres ascensos e, principalmente, com entidades é fácil e capaz de ser realizado em qualquer lugar. O universalismo é de fato o verdadeiro ecumenismo, porque minha religião é aquela que afirma "sê bom, que serei salvo", e isso basta como único mandamento.
Depois daquelas cervejas na praça de alimentação do shopping, voltei para casa achando que tinha encontrado alguém como sempre sonhei. Não que ele fosse perfeito, porque nunca sonhei com alguém perfeito, mas era alguém que tinha os valores que eu compartilhava, era alguém que eu acreditava que poderia viver uma estória interessante ao lado dele. E como no dia seguinte ele já havia mandado uma mensagem dizendo que tinha gostado de estar comigo e que repetiríamos, trocamos algumas mensagens durante a semana e algumas conversas no Facebook também. Eram mensagens minhas perguntando como ele estava, elogiando ele, até o convidei para um segundo encontro no fim de semana seguinte, o qual ele disse que não podia ir porque tinha um compromisso com amigos e eu respondi que tudo bem, não havia problema.
Na semana seguinte continuávamos no mesmo padrão, conversas por sms ou no Facebook. Até que na quinta-feira, eu o chamei para uma conversa: "Tudo bom, seu lindão?", ele respondeu que estava tudo tranquilo e perguntou sobre mim. "Estou bem sim, apesar que eu estaria muito melhor se um certo menino lindo estivesse aqui comigo hoje". Ele riu e perguntou quem era esse tal menino, e eu, brincando, elenquei uma série de elogios que ele disse, rindo, que neste caso não poderia ser ele mesmo. Eu então afirmei que era ele. E ele concluiu: "Fofo.". Eu continuei, brincando, fazendo-lhe elogios, até que disse: "Ele é fofíssimo, fico pensando aqui com meus botões que se ele me desse uma chance eu o faria muito feliz". Ele, rindo, pediu para eu parar dizendo que eu o deixava sem jeito com tantos elogios, mas menos de um minuto depois, mudou de discurso. "Mas, prefiro assim, por enquanto". Eu não entendi o que ele preferia assim por enquanto e ele explicou: "Prefiro ficar aqui, na minha, de boa, sozinho. Tenho motivos, entende?". Eu respondi que sim, e pedi-lhe desculpas, "Deixa quieto então...", afirmei.
Ele se apressou para responder: "Não, Foxx, não é isso. Eu só não acho justo, de forma alguma, envolver você nisso tudo que eu tenho passado ultimamente, entende? Você só ia se machucar, certamente. E a última coisa que quero nesse mundo é isso: machucar alguém que gosto e que gosta de mim, entende?". Eu falei que entendia, que até achava louvável, porém aquela decisão deveria ser minha, se eu queria me envolver e correr o risco de me magoar era uma decisão que somente eu podia tomar. "Claro que sei que você tem essa prerrogativa, mas também tenho o livre arbítrio para escolher quem e como devem entrar na minha vida". Eu concordei imediatamente. "Não quero te forçar a nada, meu lindo!", disse-lhe.
"Você não etá me forçando", ele disse, "muito pelo contrário, nesta semana você só tem sido um fofo comigo. E eu gosto disso. Mas não queria que você criasse falsas esperanças sobre nós termos alguma coisa. Qualquer coisa! Até porque não estou preparado de forma alguma para ter outro relacionamento, de qualquer tipo, com alguém. Preciso de um tempo para mim, ando muito sufocado ultimamente". Eu respirei fundo naquele instante da conversa. Era o fora de sempre com palavras mais bonitas, mas juntei minha dignidade e respondi: "Ok, querido, tudo que não quero nesta vida é te sufocar". E coloquei uma carinha sorridente. "Você é um fofo até nisso, gente!". Eu agradeci pelo encontro maravilhoso e único que tivemos na semana anterior. "Olha, mas isso não quer dizer que a gente precise se distanciar não, viu? Quero sua amizade de verdade". Eu concordei que poderíamos ser amigos, seria um prazer ter um amigo como ele, complementei. "Sim", confirmou ele, "Seremos amigos por enquanto, mas quem sabe daqui há um futuro não muito distante quando eu estiver legal, de novo, não possamos ser mais que amigos?".
Era uma segunda-feira de lua cheia como haviam previsto. Eu estava sentado numa das mesas da praça de alimentação do Shopping Via Direta. A lua estava ao nosso lado, e lá ao fundo as árvores do campus da Universidade Federal do Rio Grande do Norte balançavam com a brisa quente que soprava do mar. Eu não acreditava que estava conversando ali, entre cigarros e cervejas com aquele menino extraído diretamente dos meus sonhos. Eu havia conhecido João pelo Facebook em meados de 2012, não preciso a data, ele me adicionou e, lindo como ele é, me despertou a curiosidade de conhecê-lo. Conversamos despretenciosamente algumas vezes, até eu encontrar aquele sorriso lindo entre as ruas de paralepípedos soltos da Ribeira. Não me contive e dei em cima do garoto, que tinha apenas 19 anos, somente para ouví-lo dizer que estava começando um namoro naquele momento e falou do namorado, um publicitário que eu bem conhecia do meu novo meio profissional. Disse, no entanto, que eu fazia muito o tipo dele, mas bad timing. Não obstante, continuamos amigos.
Na mesa, no shopping, falava-me das viagens que fizera, que acabara de chegar de uma viagem de um mês por Minas Gerais, que adorara os lugares que eu indiquei para ele em Belo Horizonte como o Bar Imperial e o Velvet Club, também sobre os próximos planos dele que incluíam São Paulo e Vancouver. Conversamos sobre a faculdade dele de TI, ele me explicava coisas sobre logarítimos e somatórias, e das mudanças em minha vida profissional abandonando a formação em História e trabalhando com Mídias Sociais. Falávamos de música, séries de TV e cinema, mas sempre havia momentos que eu parava o admirando e ele mandava que eu deixasse daquilo, ruborizado.
Sentamos naquela mesa as 19h e saímos as 22h, sem silêncios constrangedores. Rindo de bobagens e conversando sério sobre o futuro, mostrando quem éramos um para o outro, com sinceridade e sem jogos, e ele afirmava, às vezes, que minhas opiniões somavam pontos a meu favor, eu respondia mais por indiretas do que afirmando que por mim ele já estava com nota máxima. A cada indireta, ele respondia somente com um sorriso carmin. No fim do nosso encontro, nada mais do que um abraço, caminhamos juntos até o ponto de ônibus e eu o apertei forte contra meu corpo quando ele se despediu. Somente no dia seguinte, no meio da tarde, recebi-lhe uma mensagem: "Adorei nosso encontrinho ontem, foi massa! Você é um fofo, nos veremos mais vezes".
A segunda expressão utilizada pela literatura chinesa antiga para se referir as relações homoeróticas é o termo duànxiù que quer dizer algo como "rasgando/cortando a manga" e refere-se ao ato do imperador Ai'di, da Dinastia Han, que cortou a manga do seu roupão, sobre a qual dormia seu adorado amante, Dong Xian, para não acordá-lo. Como Ai'di, vários outros imperadores tinham amantes masculinos. Tornar-se favorito do imperador era de uma imensa concorrência, como afirmam Francisco Moreira Filho e Daniela Madrid, porque esta posição na corte favorecia o prestigiado com riqueza e status.
A Dinastia Han durou de 206 a.C.até 220 de.C., foi precedida pela dinastia Qin e seguida pela divisão da China em três reinos: Wei, Shu e Wu. Liderada pelo clã de Liu, o período da Dinastia Han é considerado o período de ouro da história chinesa. Durante este período, a China tornou-se oficialmente um estado confucionista, e o artesanato da seda e o comércio floresceram, ampliando sua influência sobre a Coréia, Mongólia e Vietnã, além de haver intensas trocas comerciais e culturais com a Índia e Tibete, e, um pouco menos, com a Pérsia. A Dinastia Han também foi notável por sua aptidão militar. As expedições militares a oeste, além do Mar Cáspio, tornaram possível o tráfego mercantil através da Ásia Menor e pela Pérsia, desenvolvendo o comércio inclusive com os romanos. Este trajeto que ficou conhecido como a Rota da Seda. Sua primeira capital foi em Chang'an (atual Xian), de onde partia a rota da seda, no centro da China; em 25 d.C., a capital mudou para Luoyang, as margens do rio Luo, tributário do rio Amarelo, após o breve reinado da dinastia Xin, cujo único imperador foi Wang Mang. O longo período, mais de 400 anos, que os chineses viveram sobre o governo da Dinastia Han possibilitou a miscigenação dos diversos grupos étnicos que viviam na região e unificou os dialetos locais numa língua única.
No século I depois de Cristo, a luta contra os "bárbaros do oeste", como eram chamados os homens que viviam nas estepes mongóis-siberianas, os Hunos, se intensificaram. Os Hunos oscilaram no status de vassalos dos chineses a populações que atacavam as cidades fronteiras do império, porém, por volta de 220 d.C., os Hunos atacaram violentamente o império chinês, foram 75 anos de ataques que fragmentaram a China de tal maneira que três reinos (Wei, Shu e Wu) surgiram no lugar do império unificado, iniciando a Idade Média chinesa.
Entre os imperadores desta era de ouro, temos as Memórias de um Historiador, de Sima Qian (136-86 d.C.), historiógrafo, que reservou um capítulo especial da sua história do império para documentar a vida dos imperadores Han e seus amantes do sexo masculino, e graças a este precente, como afirma o professor de literatura chinesa da Universidade de Stanford, Tan Chong Kee, herdamos uma rica história oficial do amor masculino durante a história imperial chinesa. Dos 27 imperadores, dezenove são bem conhecidos pelos seus favoritos, dez são da Dinastia Han:
206-195 a.C. - Imperador Gao'di e Jiru
194-188 a.C. - Imperador Hui'di e Hongru
179-156 a.C. - Imperador Wen'di e quatro favoritos: Deng Tong, Zhao, Tan e Beigong Bozi
156-141 a.C. - Imperador Jing'di e Zho Ren
140-87 a.C. - Imperador Wu'di e quatro favoritos: Han Yan, Han, Yue e Yan Nian
86-74 a.C. - Imperador Zhao'di e Jin Shang
73-49 a.C. - Imperador Xuan'di e Zhang Pengzu
48-33 a.C. - Imperador Yuan'di e dois favoritos: Gong Kong e Shi Xian
32-07 a.C. - Imperador Cheng'di e três favoritos: Zhang Fang, Zhang e Chunyu
06a.C.-1d.C. - Imperador Ai'di e Dong Xian
Ai'di é o exemplo de mais profundo amor, um arquétipo literário de um homem mais velho e de status elevado que se apaixona por um jovem bonito. Mas existem outros arquétipos encarnados pelos imperadores, o de dois homens masculinos e guerreiros, como o caso de Wu'di e Han Yan. Wu foi um dos maiores imperadores da China, tornou-se imperador aos 16 anos e governou até os 70, expandiu o império a seu maior tamanho, também reformou o ano chinês, fazendo-o começar em janeiro, o sistema de educação e criou uma moeda única para o império chinês. E este grande imperador era apaixonado por outro homem. Han Yan e Wu se conheceram quando eram jovens, Yan era membro da corte do estado de Han, neto do governador, e Wu o jovem filho do imperador Jing. Estudaram juntos, e apesar de Yan não ser um menino bonito, se apaixonaram. Porém, de acordo com Sima Qian, Yan tinha entre 1,80 a 2m, o que fazia dele uma figura de destaque no mundo antigo onde a média de altura mantinha-se entre 1,50 e 1,60m. Yan também era hábil no hipismo, arco-e-flecha, táticas de caça e batalhas dos homens do Norte. Tudo isto fazia com que Wu o admirasse profundamente. Logo, Yan tornou-se o único homem a circular no palácio imperial, além de eunucos, e principalmente o único a frequentar a cama do imperador.
Infelizmente, conta ainda o historiógrafo chinês, Yan deixou sua posição ao lado do imperador subir-lhe a cabeça. Um dia, durante uma expedição de caça imperial, Wu pediu que Yan seguisse na frente. Quando então, Jiangdu, irmão de Wu, viu o carro imperial se aproximando de longe, pensou que este trazia o imperador, então ele desceu do cavalo e ajoelhou-se ao lado da estrada para cumprimenta-lo. Yan, no entanto, que vinha no carro, não parou e nem reconheceu o irmão do imperador. Quando Jiangdu percebeu que não era seu irmão no carro, ele ficou furioso com o desprezo de alguém de um escalão tão inferior a ele, indo imediatamente queixar-se a sua mãe sobre o incidente o que só plantou no coração da imperatriz o rancor contra Yan.
A imperatriz então logo acusou Yan de também dormir com as concubinas do imperador e ordenou sua morte. Wu pediu a mãe para anular a ordem, mas ela recusou. Tang Chong Kee afirma que não estamos testemunhando nenhum puritanismo sexual aqui. Dormir com uma concubina do imperador é uma ofensa grave porque põe em causa a linhagem imperial. Como se poderia ter certeza se o filho nascido de uma concubina seria realmente filho do imperador? Se havia dúvida como o próximo imperador seria escolhido? Yan teria ofendido o imperador da forma mais grave possível, a velha imperatriz sabia que essa seria a única forma de acusa-lo de um crime imperdoável. Tang Chong Kee afirma que isso também demonstra o quanto Wu amava Yan, afinal em face de por em dúvida sua própria linhagem, ele tentou defender o amado e ficou inconsolável com a sua morte. "Era como se ele não se importasse se era seu filho ou de Yan que o sucederia como imperador", nas palavras de Kee. Após a morte de Yan, o imperador Wu ainda tomou como amantes seu tio, Han; seu primo, filho deste último, Yue; e o famoso músico Yan Nian, sendo que quando o músico tornou-se seu amante, ele também tomou a irmã dele, Li, como concubina.
Acrescentaríamos, além disso, um fato importante: o amor de Wu por Yan, imenso como o professor de Stanford afirmou, não impedia de forma alguma que Wu mantivesse concubinas com as quais ele tinha relações sexuais comuns e constantes, com o objetivo de manter a linhagem imperial. Em todo o mundo antigo, o relacionamento homoerótico não exclui de forma alguma um relacionamento heteroerótico eventual, como o contrário também é verdade. Na realidade precisamos pensar todo o mundo antigo, da Europa a Ásia, como uma realidade que não separa as pessoas em estanques e incomunicáveis comportamentos hetero ou homoeróticos, todas as pessoas podem circular por essas expressões sexuais sem, necessariamente, apegar-se a nenhum título, inclusive também não é correto chama-los de bissexuais por isso.
(Diálogo semi-ficcional, isto é, somente parte dele aconteceu de fato)
- Estive pensando aqui, Foxx - escreveu o Bê no chat do Facebook, após uma conversa inicial em que nos atualizamos sobre a vida um do outro - acho que tem um jeito de você resolver esse seu problema com namoro...
- É? Respondi animado.
- Sim, é! Acho que você precisa arranjar um pseudo-namorado.
- Um o quê? Perguntei contendo o riso.
- Pseu-do-na-mo-ra-do! - e colocou um emoticon sorridente - Funciona assim: você sempre diz que existem homens interessados em sexo com você, não é?
- Sim, existe.
- Mas que eles não querem nada mais que sexo e que, por causa disso, você sente falta de alguém para dividir outras coisas, além do sexo, não é?
- Sim. A intimidade...
- Pois é, a intimidade. Aí eu estava pensando aqui. Se você não pode ter as duas coisas na mesma pessoa, o sexo e a intimidade, porque você não separa isso em duas pessoas diferentes. Por exemplo, você faria sexo com essas pessoas que aparecem, quando aparecem; mas além disso você poderia ter um amigo com o qual você faria os programas que normalmente se faz com o namorado... coisas como ir ao cinema, sair para jantar, até dormir de conchinha.
- Humm... - pensei um pouco e voltei a conversa - mas para isso a pessoa teria que estar muito disponível, não é, Bê?
- Como assim?
- Assim... as pessoas têm suas próprias vidas, Bê. Não acha que assumir esse papel de namorado não atrapalharia a vida de meu amigo também? E os namorados dele? Isso só seria possível com um celibatário ou com alguém que nunca arranja namorado... em resumo, um padre ou monge ou eu! E isso explica muito...
- Explica muito o quê?
- Muitas pessoas... mas muitas mesmo, agora falando com você consigo ver a lista de nomes subindo na minha memória, já me trataram como pseudo-namorado. Quando precisavam de companhia, de uma boa conversa, de dormir de conchinha, eu era convocado porque estava disponível. Como nunca tinha um namorado meu para cuidar, eu podia ser o pseudo-namorado de muita gente por ai...
- Então quer dizer que eu não inventei isso?
- Não, amigo! Pelo que consigo me lembrar, inclusive desde a época da escola com as minhas amigas, esse sempre foi o papel que me coube. Mas o ingrato desta tarefa é que o outro sempre encontra alguém e tem o momento em que sou eu que sobro na relação. Isso evoca péssimas memórias de minha adolescência...