Google+ Estórias Do Mundo: dezembro 2011

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Presente de Natal

, em Natal - RN, Brasil
Aquele sorriso simplesmente me acertou como uma certeira seta. Quando ele, o amigo de uma amiga de um amigo, Sid, sorriu para mim enquanto conversávamos sentados na mesa daquele bar. Fora o Peter quem me convidara para ir ao Bar do Cajueiro naquela antevéspera de natal, um bar montado embaixo da copa de um imenso cajueiro na zona sul da cidade, onde a cerveja é barata e ele, o Peter, e o Andarilho são amigos das garçonetes que atendem lá. Encontrei com eles por volta das 21h, após cumprir o expediente de trabalho na loja de roupas da minha família, e assim que sentei fui apresentado à amiga e ao Sid, ele sorriu e eu cai abatido. Aquele sorriso tinha me derrubado facilmente. Eu estava entregue como Menelau ao deparar-se com o corpo nu de Helena. Mas foi no instante que acusei um dos amigos presentes de homofobia que ele passou a prestar mais atenção em mim, conversando comigo sobre o assunto, recitando definições da ONU sobre sexo, gênero e sexualidade, discutindo Freud e conforme concordávamos e ele me sorria ainda mais, aquele sorriso lindo, eu me vi ainda mais interessado, interessado ao ponto do marido do Andarilho me cutucar e dizer rindo: “Cá entre nós, garotinho, não dá p’ra você ser mais discreto não? Você ‘tá babando pelo menino”. Mas eu estava mesmo, além do sorriso lindo, me vi conversando com um cara super inteligente, também. “Ele me pegou pelo meu ponto fraco, conteúdo e um belo sorriso”.
Quando eles, a amiga e o Sid, anunciaram que estavam indo para outro lugar, para continuar a noite, eu me senti triste, com uma vontade de acompanhá-los, afinal eu queria desfrutar mais da companhia dele, do sorriso dele, mas fiquei com vergonha de dar essa bandeira toda, afinal, acabara de conhecê-los. Foi quando um dos amigos na mesa, o que eu acusara de homofóbico, fez uma proposta: “Vamos p’ra Vogue?”. Peter e o Andarilho não se animaram. No entanto, nosso amigo ofereceu para pagar a entrada deles se eles topassem ir, eles toparam e eu imediatamente aceitei o convite já que Sid e a amiga também decidiram ir. Como não dava para irmos todos no carro do Peter, o Andarilho e o marido, e o amigo que eu chamara de homofóbico foram no carro, e a amiga do Sid me puxou para irmos a pé, já que estávamos a apenas alguns quarteirões da boate, “Ah, você vai com a gente”.
Caminhamos conversando e rindo, e ao chegar à boate, entramos juntos e permanecemos o tempo todo juntos também. Dançando, conversando, rindo e bebendo. Até que a amiga dele se envolveu numa confusão com a ex-namorada e resolveu sair da boate, ele, obviamente, decidiu acompanhá-la, mas antes segurou minha mão, entrelaçou os dedos nos meus e sorriu perguntando: “Vamos comigo?”. Saímos, ela sentou em um bar de cadeiras de metal, ao lado, e ele me puxou e nós demos nosso primeiro beijo. Um beijo suave, sem pressa. Um beijo, antes de mais nada, com carinho. Aquele beijo que os lábios se tocam lentamente, conhecendo um ao outro. Só ai ele sentou junto dela, na mesa do bar, mas não largou minha mão. De mãos dadas, enquanto eu fazia pequenos círculos com o dedo na palma da mão dele, ele falava sobre a ex-namorada da amiga dando conselhos preocupados de amigo, sorrindo de vez em quando para mim que o olhava encantado. Foi assim que nossos amigos nos reencontraram horas depois quando quiseram ir embora.
No carro ele sentou ao meu lado. Coloquei meu braço em torno dos seus ombros e ele se aninhou no meu peito, conversando com os outros durante o trajeto enquanto eu fazia-lhe cafuné entre os anéis dos seus cabelos castanhos. Alguns beijos curtos ainda foram trocados, mas logo chegávamos a casa da amiga dele, onde ele dormiria, um último beijo ainda foi trocado e ele saiu do carro e entrou na casa, eu observei-o entrar absorto e só voltei a mim quando o marido do Andarilho me puxou de volta para a realidade. “E aí, ‘tá feliz agora?”. Eu sorri em resposta e falei o quanto ele era fofo e tudo mais. Todos sorriam ao redor. “Então, vai entrar em contato com ele de novo né?”. Ai foi que a ficha caiu. “Eu me esqueci de pedir o telefone dele...”. E uma gargalhada explodiu no carro de todos eles. “Relaxa, sua sorte é que a amiga dele é nossa amiga mesmo...”.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Sabedoria Materna II

, em Natal - RN, Brasil
-  Essa situação sua de agora, só pode ser castigo, castigo por causa dessa sua arrogância.
Minha mãe falou isso e uma onda começou a emergir do meu peito.
-  É verdade, é castigo mesmo! – E as lágrimas começaram a arrebentar – É castigo, e é sim por causa da minha arrogância. Eu fui arrogante, mainha! Eu imaginei que poderia sair daquela vida que eu tinha. Daqueles 600 reais que e ganhava na Prefeitura de Natal, das humilhações que meu irmão mais novo me impunha na escola porque tinha vergonha de mim; do meu irmão do meio ter me ameaçado de morte porque eu quando crescer ia virar gay; do meu pai que me batia porque alguém na rua me chamava de viadinho; ou de vc me tratando mal porque eu era o único filho que te ajudava nas tarefas domésticas.
-  Não é assim...
-  É sim, mainha – repeti com as lágrimas banhando meu rosto – eu fui castigado sim, por Deus, porque eu fui arrogante o bastante pra acreditar que eu poderia ter uma vida melhor, ser alguém melhor, ser finalmente feliz.
- Deus não é culpado de nada...
- Não é uma questão de culpa – eu falava entre soluços -, mas se não fosse da vontade dele eu não teria passado na prova para o doutorado em BH e eu não teria ido para lá. Não teria ido lá aprender que eu nunca poderei ser feliz nesta vida. Que eu não tenho esse direito, que por mais que eu tente, eu nunca sairei daqui.
Minha mãe, neste momento, me olhava assustada. Eu também chorava intensamente.
- Que quando vocês morrerem, mainha – continuava eu – eu vou morrer de fome. Porque você acha mesmo que eu vou poder contar com meus irmãos? Esses irmãos que eu tenho? Eu realmente fui castigado por ser arrogante. Sem sombra de dúvida. Minha arrogância foi acreditar que eu poderia ser feliz nesta vida, que eu poderia realizar meus sonhos.
- Como você está revoltado... 

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Gin, Cachaça, Vodca e Rum

, em Natal - RN, Brasil






Levantei os olhos do livro de Lolita Pille exatamente quando Syd tinha relutado um pouco em classificar a ocorrência como um acidente: “Ele conhecia a noite; pertencia a ela. Conhecia a noite e as suas constelações de pequenas luzes doentes, esses olhos bacentos, vazios, em que sempre vira alguma coisa como uma espera, a espera vital, iluminada da autodestruição, por alguma coisa que não existia”, e estirei a mão para meu copo de coca com gin, o cheiro perfumado da bebida tão imediatamente associada com as prostitutas francesas preenceu minhas narinas. Estava eu deitado ao sol, em uma esteira de sisal,  por trás das lentes escuras de um Raiban, usando apenas uma sunga branca, um fiapo de tecido de menos um palmo de largura diante dos "lírios de fogo", plantados por meu pai, no seu mais novo hobby, jardinagem.
O mar de Santa Rita cintilava celeste mais adiante. O único barulho era do vento sacudindo as folhas dos coqueiros plantados em todas as casas ao redor, vazias ainda porque ainda não é temporada de veraneio em Natal, que começa após o Dia de Ano. A maré está secando e resolvo caminhar até lá e mergulhar. Fazem pelo menos três anos que eu não mergulho na água salgada do mar. Água que sempre foi meu grande playground, lugar das minhas brincadeiras e castelos de infância. Não havia quase ninguém na praia, apenas uma família, um jovem casal com um menino, mais seus pais, sentados na única barraca de toda a praia, sob a sombra de uma palhoça de folhas de coqueiro.
O mergulho fora rápido, apenas o bastante para o forro da sunga mostrar a que veio, logo retornei e após uma ducha rápida, para tirar o sal e areia, preparei outra dose de coca com gin, acho que esta já é a terceira, tudo culpa de Pille, mulheres francesas me deixam com essa vontade. Abrindo a geladeira, pensei em preparar algo para comer, na geladeira da casa de praia, havia filé de arraia, milho, alho, cebola e batatas. Refoguei então a cebola e o alho no azeite e junto joguei os filés de arraia, desfiados, para em seguida colocar um pouco de molho de tomate mais meio copo d'água, deixando ferver até reduzir para formar um molho. Foi quando então acrescentei uma dose generosa de cachaça e flambei. Uma ultima pitada de orégano, junto com umas colheres de milho verde, terminam o prato, que será acompanhado de batatas ao murro. Quando o almoço ficou pronto, o gin tinha acabado. Deixando-me na dúvida que o que combinaria melhor com a arraia, um White Russian ou um Cuba Libre.  Acabei decidindo-me pelo Cuba




E a todos, um feliz Natal.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Ben 10

, em Natal - RN, Brasil
Já eram quatro da tarde quando aquela mãe entrou na loja. Estava acompanhada de uma filha de no máximo doze anos, que trazia sua bolsa a tira-colo e uma sombrinha, no colo um menino gordo, de cabelo todo arrepiado e de uns curiosos olhos verde ardósia, mas o mais interessante era a menina, de cabelos encaracolados e um vestidinho florido, com uma tiara na cabeça, com uma flor enorme. A menina chamava-se Silvia e não queria vestir-se como menina. "É o pai dela o culpado", reclamava a mãe, "que fica fazendo as vontades dessa menina". A menina reclamava do vestido, da tiara na cabeça. "Preciso comprar roupas de menina p'ra ela, o que você tem aí?". E a Silvia esperneava.
Apresentávamos vestidinhos, macaquinhos, shorts e blusas, mas Silvia não gostava, ela apontava as bermudas masculinas e as camisetas pólo expostas e implorava que queria uma daquelas. A mãe ignorava o pedido. E escolhia vestidos cor de rosa, com borboletas, princesas Disney, Barbies,  escolhia shorts bordados e meias com babados e rendas, Silvia implorava que não, não queria, não gostava, dizia ela num quase soluço, mas sua mãe continuava ignorando, forçando-lhe a experimentar novas roupas, novos vestidos, novas "coisas de menina". Uma hora Silvia parou de reclamar, parecia ter sido vencida, só seus olhos que denotavam uma tristeza assombrosa enquanto ela admirava os manequins de meninos com seus bonés, bermudas, cintos de lona, camisas e camisetas, mas ela trocava as roupas, resignada.
A mãe então escolheu as roupas que gostaria que a filha deveria usar. Ela estava em silêncio já quando a conta foi dada e o dinheiro foi entregue ao caixa. Silvia deu a mão a mãe e, na porta loja, ela falou, quase que para si mesma, "Mas eu posso ganhar pelo menos uma sandália do Ben 10?". A mãe bufou. "Ah, menina... 'tá bom! Vamos ali comprar essa maldita sandália!". E Sivlia sorriu, pela primeira vez, Silvia sorriu.   

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Egito: Papiro de Turim

, em Belo Horizonte - MG, Brasil



Quando se fala em manuais de sexo sempre se lembra do manual indiano, o Kamasutra, porém existe uma versão mais antiga, o Papiro de Turim. Este documento foi encontrado ainda no século XIX, perto do Vale dos Reis, a região aonde esta concentrada a maior parte dos túmulos dos faraós egípcios, o papiro de mais de três mil anos, no entanto, ficou guardado dentro de uma biblioteca em Turim, na Itália, com acesso restrito (somente homens podiam acessa-lo). Ele foi publicado, pela primeira vez, com suas falhas (oriundas de sua degradação) pela primeira vez em 1973, e somente em 1987, graças ao alemão J. Oslim, este documento foi explorado e reconstituído. Explica José Miguel Ortiz, q isto se dá porque a maioria dos arqueólogos, cristãos e muçulmanos, se surpreendiam com naturalidade com que os egípcios lidavam com o tema da sexualidade, chegando muitas vezes a alterar os documentos para censurar o que eles consideravam imorais.  
As imagens do papiro trazem funcionários da corte, e mais mulheres, muitas vezes consideradas prostitutas, realizando atos sexuais. É interessante frisar que nestes desenhos os pênis são sempre representados com tamanhos desproporcionais o que Oslim explica como frisando o poder fálico destes homens dentro da sociedade egípcia. As imagens tão explícitas do papiro, no entanto, não surpreendem os historiadores dado a variedade de imagens com conteúdo sexual que são encontradas nas pirâmides, sem contar as inúmeras esculturas de imagens com pênis desproporcionais. 


As imagens se dividem em coito vaginal, sexo oral, coito anal e masturbação. Sendo que representam algumas posições distintas para cada opção. O coito vaginal está representado em seis posições: 1) o homem deitado em cima da mulher; 2) o homem ajoelhado e a mulher deitada de costas no chão; 3) o homem ajoelhado e a mulher de quatro, sobre também seus joelhos; 4) "de ladinho", com a mulher dando as costas para o homem; 5) o hoje conhecido como "frango assado"; 6) sexo em pé, com a mulher sendo sustentada pelo homem com as pernas sobre seus ombros. O sexo oral é pouco representado, contudo, sempre em relações entre homens e mulheres. Sempre homens em pé com mulheres segurando o pênis próximo a sua boca.


As imagens homoeróticas aparecem em relação ao coito anal e a masturbação. Duas posições aparecem sobre o coito anal. 1) com o personagem passivo de quatro; 2) e com o personagem passivo apoiado em uma perna, com a outra sustentada pelo parceiro. Sobre a masturbação, existem inúmeras cenas em que personagens femininos e masculinos masturbam um ao outro (homens masturbando mulheres, mulheres masturbando homens, homens masturbando homens e se masturbando e mulheres se masturbando). José Miguel Ortiz ainda lembra que muitos pênis de madeira e pedra foram encontrados nos túmulos tanto de homens quanto mulheres, o que faz crer que eles também eram usados para masturbação dado o seu tamanho.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

"Last Friday Night"

, em Natal - RN, Brasil
Eu estava voltando da minha corrida. ao som de Arctic Monkeys, relembrando do menino que eu era quando passava por aquelas mesmas ruas voltando da escola, quando lembrei de ligar para o Bobtuso e cobrar que ele me apresentasse o Jazzy Rocks Lounge Bar. "Meu amor, claro, passo na sua casa daqui a pouco e te pego, ok?". Combinamos e ele logo me buscou em casa e fomos ao novo bar de rock de Natal, e eu sinceramente esperava mais. É uma casa no meio de um bairro residencial, com as paredes descascando, quente e apertada, com a área externa coberta por areia e poucas mesas de madeira, mesas estas que provavelmente foram o maior investimento feito no bar. Nas paredes, fotos de bandas de rock, recentemente imprimidas em papel ofício, eram a única coisa que diferenciava aquele bar de qualquer festa organizada por um menino de 15 anos com seus amigos da escola, mas admito que a forma que foram coladas na parede me lembravam muito os álbuns seriados que eu fiz em minha aulas de inglês na escola. Ah, minto!, também havia uma banda, Talma & Gadelha, que eu não conhecia (foram 4 anos fora, não é?), tocando na sala apinhada de fãs que sabiam todas as letras, enquanto eu cantava apenas os covers e as pessoas fumavam despudoradamente.  
Como dissse, decepcionante, porém tudo me cheirava a uma decadência tão planejada que comecei a achar tudo muito interessante. De fato, o clima do bar era esse, então pedi minha primeira cerveja no balcão enquanto observava um negro de dreads apertando um beck do outro lado e me dediquei a observar a fauna local. Muitos casais de lésbicas estavam abraçados, alguns casais gays também, me surpreendi como estes estavam a vontade naquele ambiente, como os gays estavam a vontade em Natal. Camisetas quadriculadas mostravam que os hipsters já haviam também chegado aqui e circulavam em meio as meninas que pareciam ter estudado em alguma escola pública, me lembrando, desagradavelmente, muitas das minhas ex-alunas, e, não obstante, muitos meninos bonitos. Foi quando um passou por mim, lindo, alto, barba por fazer, corpo bonito, e o Bob percebeu e disse no meu ouvido: "Ele deve ter pouco mais que metade de sua idade". Eu me assustei e ele confirmou: "17!". Chocado, sai do salão e fui ao jardim dianteiro da casa, acendi um cigarro e fiquei observando as pessoas por lá, reencontrando alguns conhecidos. Muitos abraços, sempre fui uma pessoa muito popular, do tipo que conhecia metade da cidade, foi fácil encontrar muitas pessoas perguntando como eu estava e se havia voltado de vez. 
Foi quando recebi uma ligação de Peter, meu amigo que coleciona meninos perdidos. Contei-lhe onde eu estava e ele comentou: "Nossa, como você é chique!". E eu pensei: "Como assim? O conceito de chique de Natal mudou eu não soube?". Ele então disse que passaria por lá, logo, e me pegaria para fazermos alguma coisa. Como o Bob já havia dito para irmos embora após o fim do show, concordei com o convite. Peter chegou exatamente cinco minutos após o fim do show da banda que eu não conhecia nenhuma das músicas, mas que havia gostado do que ouvira e, junto com um amigo nosso, me convidou para ir a Vogue, a maior boate gay da cidade. Bob declinou da oferta imediatamente. Eu topei.
Saímos do Jazzy e, após uma parada na casa deste amigo para ele trocar de roupa, logo estávamos entrando na rua da boate e ao estacionar um garoto de programa de braços gigantescos se ofereceu para um de nós, se ofereceu aleatoriamente pegando no pau por cima da calça, o que foi sumariamente descartado  por nós três com uma gargalhada. Caminhamos pouco pela rua de paralelepípedos do estacionamento até a entrada da boate e, recebidos pela drag queen residente, Shakira, entramos naquele local que eu não visitava fazia dois anos e fui recebido por cantora usando um chapéu panamá tocando no palco samba. Decidi então fazer um giro no local, para me aperceber de quem eram as pessoas que estavam lá, e eu revi o mais do mesmo. Homens sarados sem camisa ficando com outros sarados sem camisa; meninos efeminados sozinhos dançado e se divertindo, além de esbanjando dinheiro; cafuçus de todo tamanho e jeito esperando para encontrar algum homem que decida sustentá-los; muita gente feia também, o que me fez pensar como eu conseguia ficar com tantas pessoas ali (será que meu gosto melhorou ou as pessoas ficaram mais feias?). Além disso, encontrei alguns conhecidos, gente que me abraçava e dizia que era muito bom que eu estava de volta, e um ex-aluno e um vizinho.
O ex-aluno foi o que eu vi primeiro. Não era nenhum dos que eu contei aqui anteriormente, mas era da mesma escola. E eu provavelmente ainda vou encontrar mais uns cinco meninos e duas meninas que estudavam naquela escola na noite gay de Natal, podem esperar. Todos os que eu suspeitei, em todas as turmas tinha pelo menos um, em uma delas tinha três, e este era desta turma, da que tinha três que eu desconfiava. Fui falar com ele e ele não me reconheceu de imediato, ficou bem sem graça, era óbvio que ele achava que me aproximei porque queria ficar com ele, até lembrar-se quem eu era. "Fui seu professor no J.P.". E ele disse meu nome. Conversamos pouco, um cara muito bonito logo o chamou para dançar e ele foi. Estávamos na pista de música ao vivo da boate, eles tocavam forró naquela noite. E enquanto meu ex-aluno saiu para dançar com o cara bonito, eu me peguei pensando como era irônico o fato de naquela boate gay ter pessoas dançando forró enquanto alguns já me acusaram aqui de defender uma "cultura gay" baseada somente nas divas pop. Pensava eu: "Eu sou daqui, dessa terra em que viado dança forró na buatchy! E a pessoa tem a cara de pau de me dizer que eu acho que a cultura gay é homogênica. Tifudê!".
Meus amigos decidiram então entrar na pista de música eletrônica. Peter terminara de fumar então poderíamos entrar. O som ali estava irritantemente ruim. Parecia que as caixas de som não suportavam a altura do que se tocava. O DJ também não ajudava. Parecia que ele queria compensar a péssima qualidade do som e da escolha de músicas aumentando o som no máximo. Ouvia-se apenas uma batida abafada do que deveria ser uma música da Britney, eu acho. Foi lá que eu vi meu vizinho pela primeira vez. Ele dançava abraçado a um menino que notei ser-lhe um amigo, pois logo já estava dançando com outro. Contei a Peter que ele estava ali. "Aquele ali, meu vizinho... já peguei o irmão dele!". Peter gargalhou, perguntando se eu não tinha pego ele também, "afinal ninguém te escapa, né?". Ai meu vizinho virou-se para nós e Peter respondeu sua própria pergunta: "Ah, já vi por que você preferiu pegar o irmão e não ele". Rimos os dois. E saímos de lá, indo buscar uma cerveja para cada um.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

"Não Tenho O Que Falar"

, em Natal - RN, Brasil
Domingo a tarde, estamos na casa de praia de uma amiga de um amigo. A praia é Pitangui. Uma colônia de pescadores com uma única rua asfaltada e todas as demais de areia. Praia onde as pessoas não usam sapatos em lugar nenhum. Em que todos estão sempre descalços. Fica em outra cidade ao norte de Natal, chama-se Extremoz, antiga missão jesuíta, em que todas as localidades ou tem nomes indígenas ou nomes de cidades portuguesas, culpa de Pombal. Faz calor, mas o vento é constante, farfalhando as folhas da mangueira no quintal. Uma travessa grande de caranguejo está servida no meio da mesa de centro, colocada no alpendre. As pessoas estão sentadas em torno da mesa, em cadeiras de madeira, tomam cerveja e quebram as pernas dos caranguejos com as mãos e os dentes. São três casais e eu. Quatro meninas, o casal dono da casa, um casal de amiga delas e meus amigos. Todos conversam sobre seus relacionamentos. Falam sobre como começaram, como se conheceram, sobre sua intimidade, as estórias que viveram. Até que uma das meninas para e me olha. "E você não fala nada? 'Tá em silêncio ai o tempo todo". Eu sorri e respondi: "Não tenho o que falar, minha querida, simplesmente não tenho o que falar".

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Sabedoria Materna

, em Natal - RN, Brasil
UM

- ... Então, quem sabe por lá, no interior, você não conhece alguém p'ra casar...
- Ah, mãe, nem adianta! Ninguém é capaz de gostar de mim não...
- Como assim, Foxx? Deixa de estória, menino!
- É verdade, mãe! Nenhuma chance de eu conhecer alguém, desista. Não vou casar não.
- Você pare com essas estórias! Mas de qualquer forma, como você espera namorar se nem carro você tem.
- Oi?
- É! Tem que ter carro p'ra namorar! E ficar girando a chave do carro p'ra todo mundo ver também!
- Minha mãezinha querida, você está mesmo me dizendo, preciso deste esclarecimento... você está mesmo me dizendo que se eu tivesse um carro eu ia encontrar alguém que quisesse namorar comigo?
- Sim, exatamente isso.
- Ah tá... então aquela estória de você conhecer alguém que goste de você pelo que você é não vale de nada?
- Em que espécie de mundo você vive, meu filho? Nesse mundo você vale o que você tem. Se você só tem uma galinha, você vale apenas uma galinha. Você não namora porque você não tem um carro sim. Se tivesse ia chover na sua horta. Veja seu irmão mais velho, por exemplo, ele é mais feio que você, mas agora 'tá casado e sempre teve mulher correndo atrás dele, porque ele tem carro e moto, e mostra isso.
- Sério, mãe?
- Sério, Foxx. Compre um carro que você vai notar a diferença.


DOIS

- Foxx, que estória foi essa de seu sobrinho estar te ligando?
- Não é, mãe? Também me surpreendi.
- Seu irmão mais velho nem gosta de você, porque ele ia insistir nessa amizade com o seu sobrinho?
- Verdade! Também me perguntei isso...
- Ele deve estar achando que agora que você voltou do doutorado deve ter algum dinheiro...
- Ou ele estava do lado de alguém da Igreja e queria mostrar como a família dele é perfeita e unida.
- Também pode ser isso mesmo, Foxx.
- Eu sei!

TRÊS

- Ainda bem que você não se envolve com gays, Foxx, que sua vida não depende deles, senão sua vida estaria muito pior do que está agora. Nenhum gay presta, em lugar nenhum. Eles não pagam suas contas e... não valem nada. Absolutamente nada.
- Só se for os que você conhece, mãe...
- Nem sei porque você vem defender. Todo gay devia ser morto, isso sim. Morto.
- Aonde está seu espírito cristão nessas horas hein? "Amai o próximo"?

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Egito: A Tumba dos Amantes

, em Belo Horizonte - MG, Brasil

Niankhkhnum e Knumhotep foram servos reais do faraó Niuserré, da V Dinastia egípcia, e viveram entre os anos de 2480 e 2420 antes de Cristo. Ambos partilhavam o título de "supervisores dos manicuros reais" e como confidentes do faraó. Seu túmulo foi descoberto apenas em 1964 pelo arqueólogo egípcio Ahmed Moussa na necrópole de Saqqara, a maior reunião de túmulos egípcios, localizado ao sul do Cairo, uns 30km, próximo a antiga capital de Mênfis. O túmulo, recheado de imagens com os dois homens abraçados, de mãos dadas e sendo carinhosos um com o outro, deixou os historiadores confusos. Os primeiros registros do túmulo, inclusive, os declaravam como irmãos. Denominação esta que não se sustentou ao se decifrar os textos escritos pelas paredes decoradas do túmulo.

Túmulo dos Dois Amantes - Saqqara

Nas paredes do túmulo, em hieróglifos, há “uma declaração legal que autoriza os sacerdotes do hm realizar seus deveres e que proíbe os membros das famílias dos donos dos túmulos de impedi-los”. Está escrito: "O chefe dos manicures do Faraó, que venera o Grande deus, declara: 'Para estes colegas, Niankhkhnum e Khnumhotep, os sacerdotes funerários que são responsáveis pelas oferendas de sua necropole, nós não permitimos que se prevaleça a vontade de seus filhos ou de suas esposas, pois eles sozinhos devem ser honrados por nós, como nossos pais e nossas mães, e aqueles que estão na necropole'." Essa afirmação revela que ambos eram casados com mulheres, possuíam seus filhos, mas, provavelmente se separaram de suas esposas e, como foram enterrados juntos, acredita-se que eles tenham contraído novas núpcias entre si, abandonando suas famílias anteriores os quais estariam proibidos de serem sepultados no túmulo que elevava o amor entre eles. Niankhkhnum era casado com Khentkaus, uma sacerdotisa, e Khnumhotep era casado com Khenut, chamada na tumba de 'Profetisa de Hathor, Senhora do Sicômoro'. Uma pista que demonstra que ambos estavam casados é o uso de Khnum em seus nomes que significa em egípcio "estamos juntos". Seus nomes juntos então diriam a frase: "Juntos na vida e na morte", numa tradução livre.


Na decoração das paredes, Niankhkhnum sempre aparece numa posição masculina, a direita, enquanto Khnumhotep é caracterizado mais femininamente, a esquerda. A decoração não é distinta dos outros túmulos egípcios, contudo conta um pouco da vida dos manicures. Na entrada eles estão sentados, lado a lado, na porta de sua morada para a eternidade, além de vários locais estarem de mãos dadas, sempre na posição de Niankhkhnum guiado o outro na posição de marido. Na imagem abaixo, localizada ao sul do túmulo, mostra um banquete em que os servos entregam presentes, bebida e comida aos dois amantes, sempre entregando primeiro a Niankhkhnum, o qual este passaria ao seu marido, reproduzindo claramente a posição de um casamento realizado entre um homem e uma mulher na sociedade egípcia.


É, no entanto, na câmara mais íntima que guardava as múmias dos dois chefes dos manicures do faraó que a decoração mostra as cenas mais íntimas entre o casal. Eles aparecem sempre abraçados, sem suas perucas, em cenas claras de extrema intimidade.Os historiadores perceberam, inclusive, que eles se apresentam sempre com seu torso desnudo, sem colares por exemplo, e que nunca usam cintos. Mas poucos historiadores tiveram a coragem de afirmar que estas cenas seriam, basicamente, representações de alcova dos dois amantes. 



PASSEIO VIRTUAL PELO TÚMULO AQUI.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

"Então É Natal"

, em Natal - RN, Brasil
Hoje eu tenho apenas
Uma pedra no meu peito
Exijo respeito
Não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira


Estou em Natal. Voltei. Voltei para a cidade em que eu nasci e de onde sai quatro anos atrás em busca dos meus sonhos. Agora voltei, sem nenhum sonho na bagagem, trouxe apenas uma tristeza intensa e uma decepção enorme. Saí de Natal porque eu sabia que aqui eu nunca poderia encontrar a felicidade. Principalmente, eu não poderia encontrar amor. Esta cidade esnobe, fútil e superficial não pode amar alguém como eu cujas maiores qualidades se encontram em níveis mais profundos do que a derme. Mas voltei, voltei porque durante os quatro anos em Belo Horizonte, os sonhos que eu achei que não conseguiria aqui em Natal porque eu estava em Natal, na cidade esnobe, fútil e superficial, esses sonhos, descobri, também não são possíveis em Minas Gerais, ou no Rio de Janeiro, ou em São Paulo, ou em Pretória, Berlim ou Manila. Então eu desisti de meus sonhos e por isso voltei para Natal. 
Estou triste aqui. Uma tristeza profunda. Uma tristeza que mescla e invade tudo na minha vida. Porque eu não queria estar onde estou. Na casa dos meus pais, trabalhando na loja da minha mãe. Mas eu aprendi minha lição, o mundo imenso que agora eu sei que existe lá fora, com seus sete bilhões de seres humanos, ele não me pertence.Qualquer pessoa diria agora que se eu estou incomodado eu deveria lutar e tentar mudar aquilo que me incomoda. Verdade, deveria. Contudo eu desisti. A luta, a batalha, só fazem sentido se ainda existe esperança de que você pode sair vencedor. Eu não serei vencedor. Foi a maior lição que Belo Horizonte me deixou: estas batalhas, principalmente a batalha por amor, eu nunca pude vencer.
Pois é, sou um derrotado, um perdedor. E este blog nunca foi pensado para contar estórias de derrota. Sim, tenho pensado em fechar o blog. Ou mantê-lo apenas com os textos históricos, apesar de que estes são os menos agradam aos leitores. Então, estou pensando, mas uma coisa é certa, não haverá mais estórias a contar, elas acabaram.