Eu estava na faculdade ainda. Tinhamos aula de museologia e arqueologia, e, com isso, estavámos já acostumados a visitar cidades do interior do Estado para visitar museus, arquivos e, sobretudo, sítios arqueológicos. Foi assim que conheci boa parte das cidades do interior do Rio Grande do Norte. E uma delas foi Martins. A visita foi a um sítio arqueológico: a Casa de Pedra. Esta localiza-se num pequeno vale, dentro de uma fazenda, sendo a cristalização mais antiga, no Brasil, de um afloramento marítimo de calcário, isto é, o afloramento de uma rocha que antes estava submersa quando no período Pré-Cambriano (cerca de 4,5 bilhões de anos atrás), o sertão brasileiro era um pequeno oceano. Consiste de uma caverna de 100m de comprimento, divida em recintos menores, cuja maior sala tem 216 m² e o teto está a 10 metros. Com paredes em mármore, é a segunda maior caverna do país. Esta caverna foi habitada por índios e pelas populações de caçadores-coletores, pré-históricas, anteriores a estes datando de 9,5 mil anos.
Martins, no entanto, uma cidade fundada, ainda no século XVIII, no topo de uma serra, a Serra da Conceição, chamada um dia pela alcunha de Cidade da Imperatriz, localizada mil metros acima do nível do mar, tem seu clima distinto do que se esperaria do sertão nordestino: faz frio. Um frio gostoso, acolhedor, daquele que você pode curtir com um casaco leve, um bom vinho e uma boa companhia. Apaixonei-me pela cidade, pela linda vista de pedras expostas, dos afloramentos de mármore branco e rosa, do céu repleto de estrelas que víamos do mirante, do bom vinho.
E foi exatamente no mirante, com as estrelas por testemunha, que virei para servir-me uma taça de vinho, e vi que eu era o único sozinho. Todos ali estavam acompanhados. Namorados, noivos, maridos, esposas. Meus olhos marejaram rápido e prometi a mim mesmo que um dia voltaria a Martins, acompanhado, e que teria alguém para colocar o braço em torno do meu corpo, e me abraçar naquele frio gostoso. Mas também prometi que só voltaria ali se estivesse acompanhado. Nunca retornei. Ainda lembro do frio que senti no topo daquela serra, olhando para o horizonte numa noite estrelada. Lembro de ter sonhado de olhos abertos. Lembro também que quando deitei-me abracei o travesseiro como se este pudesse me abraçar de volta e dormi encolhido. Esperando um dia diferente. Mas eu nunca retornei.
Estou indo a São Paulo, chego esta quinta feira pela manhã. Alguém quiser me ver, deixa contato.
Martins, no entanto, uma cidade fundada, ainda no século XVIII, no topo de uma serra, a Serra da Conceição, chamada um dia pela alcunha de Cidade da Imperatriz, localizada mil metros acima do nível do mar, tem seu clima distinto do que se esperaria do sertão nordestino: faz frio. Um frio gostoso, acolhedor, daquele que você pode curtir com um casaco leve, um bom vinho e uma boa companhia. Apaixonei-me pela cidade, pela linda vista de pedras expostas, dos afloramentos de mármore branco e rosa, do céu repleto de estrelas que víamos do mirante, do bom vinho.
E foi exatamente no mirante, com as estrelas por testemunha, que virei para servir-me uma taça de vinho, e vi que eu era o único sozinho. Todos ali estavam acompanhados. Namorados, noivos, maridos, esposas. Meus olhos marejaram rápido e prometi a mim mesmo que um dia voltaria a Martins, acompanhado, e que teria alguém para colocar o braço em torno do meu corpo, e me abraçar naquele frio gostoso. Mas também prometi que só voltaria ali se estivesse acompanhado. Nunca retornei. Ainda lembro do frio que senti no topo daquela serra, olhando para o horizonte numa noite estrelada. Lembro de ter sonhado de olhos abertos. Lembro também que quando deitei-me abracei o travesseiro como se este pudesse me abraçar de volta e dormi encolhido. Esperando um dia diferente. Mas eu nunca retornei.
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