Google+ Estórias Do Mundo: julho 2007

segunda-feira, 30 de julho de 2007

PRESENTE: Reflexões Emeesseênicas

Um tema recorrente a minhas conversas emeesseênicas é a minha auto-estima. Sou criticados por todos aqui, em meio a elogios (graças a Deus e aos bons olhos de meus amigos), e eu sempre respondo que não tenho baixa auto-estima, que sou apenas realista, não convencendo ninguém. Acho então que chegou a hora de contar-lhes a que realidade me refiro. Não me considero feio, de forma alguma, afinal quem mantem um fotolog, pega os homens que eu pego e participa de desafios com o Trintinha e o Imperfeito, dois gatos, deve se garantir não é? Bem, deixando a modéstia de lado, eu tenho traços harmonioso, um nariz pequeno que se alinha perfeitamente com o resto do meu rosto, olhos expressivos que sempre rendem admiradores, lábios bem desenhados e convidativos, tenho um peito bonito que me restou de anos de musculação que foram tristemente soterrados pelas areias do tempo, costas largas, uma bunda branquinha, redonda e empinada apesar de pequena, sinceramente, diante dela nunca vi ninguém resistir e pernas grossas e musculosas que sempre aceitam carinhos. Além disso, sou inteligente, como prova um mestrado aos 25 anos, e tenho um bom papo, como os inúmeros amigos que conquistei aqui podem atestar. Mas queremos ser realistas não é? Até aqui pintei um jovem príncipe (ou não?), mas eu não sou tão perfeito. Então narremos minha lista de defeitos: até os 18 anos eu tinha lindos cabelos, lisos que chegavam a ser escorridos, cheguei a usá-los a altura dos ombros o que despertava comentários invejosos de homens, mas principalmente de mulheres, mas a partir desta idade eles me abandonaram, caíram e se eu não tomar todos os dias meu comprimido bicolor, ele continuará seu progresso (eu tomei hoje? não, deixa eu ir lá, esperem ai... voltei). Sim, sou calvo. Tem mais, estou novamente gordo. Só não fui gordo entre os 20 e 24 anos, neste meio tempo experimentei ser sarado e ser comum, e agora eu sei a dor e delícia de cada um, sei o quanto isto influencia os olhares das pessoas. Se considero isso ruim? Absolutamente! Não quero ninguém do meu lado por causa de minha barriguinha sarada, passei desta fase, sou outro, quero alguém que goste do FOXX a ponto de não ver essa barriguinha. Nem a barriguinha, nem nenhum outro defeito. Um destes outros defeitos: minha voz é muito feia. Escutando pela primeira vez a maioria diria efeminada, com o tempo, no entanto você perceberá que ela é anazalada e acabará por fim por classificá-la como a voz do Nº 4 da Turma do Bairro na dublagem americana: irritantemente infantil. Um terceiro defeito é o que considero mais feio em mim: meu jeito de andar. Ironicamente é um problema congênito nas pernas (as quais faltam cinco centímetros para harmonizar o tamanho de minhas pernas para o tamanho de meu tórax) que herdei da família de minha mãe, eu nasci com os ossos de minhas pernas centímetros mais próximos do que o normal, isso além de me causar assaduras, calos entre as coxas, arrancar os pêlos de minhas pernas com o atrito e, no caso do meu tio, que tem um "deslocamento" maior, dores insuportáveis, me faz andar rebolando e não há ortopedista que dê jeito. Ao me ver rebolando e com a voz anazalada muita gente me define como "uma bichinha", é o que sempre acontece no primeiro mês na escola em que eu esteja trabalhando, mas com o tempo eles começam a reconhecer que sou mais homem do que eles imaginam, e a certeza do primeiro mês começa a se desfazer e logo só paira uma dúvida: será que ele é? Para muitos este é outro defeito. A dúvida. Gravíssimo principalmente para os natalenses. Mas estamos sendo realistas não é? Sou leonino. E, por mais que às vezes eu não queira, eu apareço em qualquer lugar que esteja. Chamo atenção. Sou cobiçado sim. Sou invejado sim. Sou criticado sim. Pelo meu jeito, pelo meu estilo (sim eu tenho estilo, e muitos me imitam), pela minha aparência, pela minha personalidade. E inclusive só deixo de ter alguém ao meu lado quando quero. Mas é gente boa? Gente que vale a pena? Pessoas para construir algo? Não. Ainda não. Não tenho baixa auto-estima. Eu sei meus pontos positivos e negativos. Só não tenho muita sorte. Dedo podre talvez?

quinta-feira, 26 de julho de 2007

PASSADO: Casos (hetero)sexuais

Introdução

Há uma necessidade de separar minhas primeiras experiências com meninos que hoje se dizem "heteros" com os casos que vou narrar aqui nesta nova série. Todos aqui ocorrem após a tomada de consciência sobre eu mesmo que ocorreu entre 18 e 21 anos. Nesta época eu sofri os principais conflitos e me fechei como ostra até despontar como pérola, ou será que foi como Afrodite puxada num carro de madrepérola guiado por um sem número de golfinhos?

Caso A

Santa Rita. Praia deserta. Lua gigantesca banhando o mar com prata. A direita a praia se estende com seu tapete de areia, de um lado um mar crespo de arrecifes escondidos pela maré, do outro casas só habitadas no verão. A esquerda arrecifes que só o vento consegue vencer. A areia cobre alguns, o mar beija os pés de outros. Santa Rita. Uma casa. Amigos rindo. Vodca espalhada. Um carro com a mala aberta espalha axé e meninas ensinam umas as outras as coreografias que todos os rapazes sabem de cor. Eu faço massagem no pé de May. Sentado no chão eu faço ela gemer com uma massagem tailandesa, erótica, afrodisíaca. "Toda massagem nos pés tem segundas intenções". Ele, Diego, pede: me ensina. Ele, Diego, moreno, cabelo militar, corpo esculpido. Eu, só eu, ensino. Pega o pé, até o terceiro dedo, desce em linha reta até o início da cava do pé e pressiona aquele ponto. Ligado diretamente aos órgãos sexuais. Toda a energia que estava presa vai ser liberada e vai fluir. Ele fecha os olhos e geme. Ele me convida: vamos para outro lugar? Eu não entendi nada, achei que ele só queria um lugar mais discreto, afinal um homem estava fazendo ele gemer. Mas ao ficarmos, nós, sozinhos, ele, Diego, me pegou, me mordeu, me comeu.

Caso B

Tahity. Rua do Salsa. Música pop enche o ambiente. Felipe me acompanha naquela noite, como ele fazia em todas as quarta feiras quentes do verão de Natal. Caipirosca. Cigarros. Eu paro, já cansado no meio da noite e coloco as mãos para trás. Sinto uma bunda se encaixando na minha mão e me afasto. Novamente a bunda se aproxima, e se encaixa. Coloco-me ao lado e novamente. Decido então testar, no máximo levo um soco, e aperto. Nenhuma reação. Aperto mais. Nada. Aperto com as duas mãos ao mesmo tempo. Uma reboladinha. Eu não acredito. Ninguém está notando nada. Eu chuto a canela de Felipe e o faço perceber. Ele arregala os olhos e deixa o queixo cair de seus 1,60. Viro-me finalmente, e ai é minha vez de lançar meu queixo ao chão. Lindo. Lindo. Lindo. Ele sorri e vai em direção ao banheiro masculino, por um segundo eu hesito, mas logo depois Régulus brilha sobre mim. Enfrento. Encontro-o na fila. Esperando sua vez. Conversamos. Breno. Salesiano. 18 anos. Ele sorri. Eu respondo. E a fila cresce, tanto a masculina como a feminina do lado. Na hora que ele abre a porta para entrar olha com pena e entra sozinho. Eu espero. Faço cara de pena quando ele sai e ele volta a pista.
Minutos depois eu retorno, passo por ele e digo: "Me encontra lá fora" e saio. Ele me segue. Ruas vazias. Feitas de estacionamento. Uma hora da manhã. Árvores criam sombras. Ele conta que nunca ficou com um homem. Nunca beijou um homem. Nem nunca beijaria. Eu sorrio enquanto caminhamos. Ele diz que gostaria de ser ativo. Ai paramos. Ficamos nos olhando um tempo, ele não sabia o que fazer. Então eu agi. Protegidos pelas sombras das árvores, entre carros estacionados. Peguei. Bati. Ele me olhava no fundo dos olhos e me imitou. Continuava olhando nos meus olhos. Eu olhava para a boca dele. Mas ele havia dito, nada de beijos, quando de repente ele começa a olhar fixamente para minha boca. E Breno me beijou. Beijou.


Caso C

Noite chuvosa de junho em Natal. A chuva briga com as brasas das fogueiras acesas para as festas da estação. Eu saio, de guarda-chuva, adoro andar na chuva. Menino, 13 anos ainda. Branquinho. Imberbe. Uso um calção curto e camiseta. Chove. Mas não faz frio. Ele era alto. Moreno. Peito largo. Sempre o via por lá. Primo do meu vizinho. 28 anos. Corpo talhado a formão. Peito peludo. Noivo de uma menina linda. Parado no portão da casa do primo. Eu na rua, olhando a batalha épica entre as brasas e a chuva fina. E sentindo-me observado. Eu também observava. Com desejo e com malícia. Ele notava. E eu corava. Até que ele decide ir embora. Eu brincando, apenas tentando aproveitar para vê-lo mais um pouco, vou seguindo ele de longe. Até que ele sorrindo nota e volta. Encontra-me num beco escuro e ele pergunta meu nome. Gaguejo a resposta inebriado pelo som da voz dele. Pergunta onde moro, e explico claramente. Ele toca no meu rosto e olha para os lados. Ele entra no guarda chuva comigo, meio abaixado e quase que me pega no colo apertando minhas coxas grossas e brancas, e me beija. Primeiro beijo de homem. E me coloca no chão. E vai embora sorrindo com a aliança dele refletindo a luz incandescente da iluminação pública.





domingo, 22 de julho de 2007

EXTRA, EXTRA, EXTRA: Quase um conto erótico

Noite quente de julho. Fim de semana começando, e todo mundo espera alguma coisa acontecer. Lua minguante no céu azul marinho, salpicado de pequenas estrelas. Órion, o caçador, está particularmente brilhante no céu austral. Ele exercerá sua influência hoje. Último dia de Câncer. Leão aponta no horizonte. Aquela noite começara para eu, Peter e o Andarilho ao som de um expeliarmus e com vinho egípcio, quando somos convidados a ir a Torre. "Foxx, eu vou se você for". A Torre tem um padrão para vestimentas, e eu estava de bermuda e sandália. "Eu não entro assim na Torre, Andarilho". E mais rápido do que pensar: "Passamos lá em casa e te empresto um tênis". "Preto!". O Andarilho paga minha conta no bar, nossa carona chega e nos apanha, calçado com o tênis dele chegamos na Torre e eu pago-lhe a entrada. Entramos.
Noite comum. Música boa. Gente feia. Primeira vez do Andarilho sobre aquelas escadas. Cerveja, fumaça, eu um tanto tonto. E olhos verdes me seguindo pelo ambiente onde a música eletrônica rompia que estavam acompanhados de lindos olhos castanhos cobertos de rímel e máscara. Estava o casalsinho abraçado na porta que dava acesso ao ambiente onde vibrava um mais suave pop-rock. Até onde pop-rock consegue ser suave. Paro no bar, perdi de vista o Andarilho e o Peter pan, peço uma cerveja e um barman magrinho e simpático me atende e dali a pouco ouço palavras desconexas, querendo começar um papo, atrás de mim. Viro-me e me deparo com os olhos verdes, em quase 1,80 de altura, cabelos loiro-escuros e um corpo de quem faz alguns meses que parou a academia. Conversamos, ele contou que já me vira em outras baladas, eu disse que também o reconhecera, e ele se apresentou Rique e sobrenome alemão. Falou que a morena era namorada dele, eu a elogiei respeitosamente, e o papo fluiu tanto quanto minha timidez deixava.
Uma hora ele voltou à namorada que observei, através da divisória de vidro, que dançava com as amigas, eu então procurei meus amigos e os avistei e pensei em ir me juntar a eles, mas no intervalo entre o pensamento e a ação ele voltou e me pegou gentilmente pelo braço. "Vou tomar um ar lá fora, me acompanha?". Meio desorientado, acabei aceitando o convite e descemos. Caminhavamos lado a lado, conversando normalmente até que chegamos no carro. Estranhei, e pensei: "ele deve pegar algo". Mas ele me convidou a entrar, com um sorriso safado. Entrei e ele me beijou. Pensei rapidamente "pronto, agora vou dar num carro no meio da rua para um cara 'hetero'... era só o que me faltava". E lembrei do Imperfeito e todas as piadas que ele ia fazer quando eu contasse como havia acabado com o meu jejum. Num puxão só, ele arrancou meu cinto e eu me vi com as calças e a cueca pelo joelho. Ele então me enguliu. Sugou-me com intensidade e, para minha surpresa, experiência. Lambia, subia, engolia. Concentrado no meu prazer, eu nem percebi que ele também tirara toda sua roupa, colocou-se então ajoelhado sobre mim, pernas ao lado das minhas, expondo a minha boca aquele falo em riste, claro, róseo, com parcos pêlos loiros, mas para a sua supresa o meu encaixou-se perfeitamente nele.
A ponta encaixou, senti-lhe receptivo, e eu, então, agi por impulso. Segurei-o forte pela cintura e puxei. Foi apenas uma penetração. De vez. E profunda. Ele gemeu baixinho. Agüentou como bom homem hetero deveria agüentar e eu pensava na namorada dele estava esperando lá na boate. Eu soquei mais uma vez e aí dei-me conta que estavamos sem camisinha. Tirei e disse-lhe no ouvido. "Tem camisinha?". Ele respondeu negativamente, eu também não tinha. Então, disse-lhe que era melhor parar mesmo, afinal a namorada dele estava por ali. Contrariado ele concordou, mas exigiu meu telefone que dei prontamente.
Vestimo-nos, saímos e voltamos para a boate, bebendo água de coco, ele para a namorada, eu para meus amigos. Pouco tempo depois, sai e o encontrei próximo a saida com a namorada e amigos, cumprimentei educadamente e ele correspondeu, sorrindo. "Já vai?". Falei que sim. Ele apertou minha mão e eu fui embora com minhas 3 mulheres no carro.
No outro dia, a tarde, meu telefone toca. Um número Claro desconhecido. "Oi Foxx". Não reconheço a voz. "Sou eu o Rique". Desconfiado, o comprimento educadamente. "Você esqueceu seu cinto no meu carro sabia?". Cinto?! Que cinto?! Eu fui de cinto?!. "Não, nem lembrava dele". Ele riu. "Então vamos marcar pra eu te devolver o cinto?"

domingo, 15 de julho de 2007

PRESENTE: O que se faz com 60 reais em Natal

Tarde de sábado. Os raios dourados do por do sol tingem de laranja, púrpura e rosa o céu plúmbeo do inverno natalense. Eu saio de casa atrasado, ainda tenho que passar no caixa eletrônico para tirar dinheiro. Vejo minha carteira. 2 reais. Papeis. Comprovantes de pagamento. Algumas moedas. Meu crucifixo. Caneta. Cartão do banco. Carteira de estudante. Saco o celular e procuro o número de Mané no celular. Ligo. Só chama. "O número chamado não atende no momento". Desligo antes de ouvir toda gravação. No caminho, calculo quanto vou precisar para a noite. 10 reais a entrada. 20 reais para consumir. Não quero beber muito, mas também não quero que falte dinheiro no meio da balada. Já deu 30. Droga. Com a passagem de ônibus e mais uma carteira de cigarro. Só tem 6 aqui comigo. Vou ter que tirar 40 reais. Droga! Dinheiro demais... ah, mas foi feito para isso mesmo. Gastar!! Chego na rodoviária, corro até o caixa. Fila. Fico olhando para as pernas do menino no caixa. Roupa justa. Colada. Ciclista. Deve ser. E o rosto? Vira. Vai Vira! Cadê? Meu deus! Belas pernas! Belo rosto! Uau! Agora levanta a camisa! Quero ver a bunda! Vai! Vai!? Não foi! Se foi! Chega minha vez. Tiro o dinheiro planejado. Vou a banca e peço um Carlton Blue. "O que?". Um Carlton Azul. Puxo o isqueiro, também azul. Coincidência. Guardo e saio. Compro duas passagens? Melhor 3, para garantir. 4, 50. 3 vales, por favor. Paro na parada, puxo um dos 6 cigarros que eu trazia comigo e acendo. Suavemente aqueles rolos de fumaça dançam entre meus dentes e saem. Espero o ônibus e vejo um menino com os olhos de Athena olhando para mim. Ele me fitava timidamente, quase não querendo fazer isso. Turista, as malas denunciavam, os cabelos loiros e a pele alva também. Ele cruzara comigo enquanto eu tirava dinheiro, mas não me vira. Agora olhava. Olhava. E o 34 chega.
Pego o ônibus e desço por detrás do teatro. Paredes negras de mofo e ruas molhadas de lama e chuva. A noite já caiu sobre a Ribeira. Dois caminhos. Qual tomar? Vou pelo mais movimentado, afinal tem show hoje também na Estação Ribeira. Rockers. Muito preto. Spikes. Camisas de bandas. All Star. Baforadas de cigarros. Cacos de cerveja na calçada. Meninos a pular. Continuo meu caminho acompanhando o porto. Ruas esvaziam. Becos estreitam. Continuo reto. Formas sombrias distantes. Cruzo com um homem que me lança um sorriso sinistro e murmura algo ininteligível. O porto. Felipe. Lembro de como aquela parte de Natal lembra o Recife. Prédios antigos. Altos. Ruas largas e espaçosas brigando com becos quase coloniais. Casas históricas mal conservadas. Portas fechadas com tijolos. Mofo. Foligem. Esgosto. Queria ter dinheiro para comprar todas elas. Fazê-las minhas. Protegê-las. Salva-las daquele triste destino. E morar nelas, porque não? Quero uma casa antiga. Histórica. Eu.
Chego no DoSol Rock Bar. Um casarão reformado com paredes amarelas e marrons numa rua estreita, a Rua Chile. Pouca gente do lado de fora. Um som tímido lá dentro. Vou até pouco depois de todos. Procuro Mané, ele me ligou enquanto eu estava no ônibus, disse que iria, disse que já estava tomando banho, mas ele não está lá. Volto, paro num carrinho de cachorro quente em frente ao bar, peço uma cerveja e encontro Vander. Cercado de meninas, eu me aproximo e toco-lhe o ombro. Ele abre um sorriso. Ordena que eu o acompanhe. Comento que Mané está chegando. Ele sorri novamente e diz as meninas comemorando, ao mesmo tempo que pede que eu sente nas mesinhas plásticas que eles dividiam. Eles bebem Colonial com Coca, apenas uma das meninas beberica uma cerveja. Sento e elas se apresentam. Tê, Diana, Lí. Bebemos, brindamos, contamos histórias. Dali a pouco entramos. Uma banda cujas meninas parecem meninos ou drag queens tocava. "There’s only so much you can learn in one place, the more that I wait, then more time that I waste". Madonna, Jump, versão core. Vamos ao banheiro. Meninas de um lado. Meninos de outro. Mas alguns meninos também vão ao banheiro das meninas. Entram junto. Se olham no espelho e conversam enquanto elas usam os reservados. Alguns glam demais para o meu gosto. Outros emo demais para todos os gostos. "Are you ready to jump? Get ready to jump" toca baixinho. Voltamos para a frente do palco. Dançando, exalando fumaça, gritamos que as "drags" eram gostosas. Rimos de nossas caras e a de alguns meninos chocados que nos olhavam de lado. Fumaças. Eles tem cara de fumaça. Dançando um menino, que vi dentro do banheiro das meninas se aproxima. Vira e sem cerimônia, no meio de todos, me beija. "You're toxic, I'm slipping under, oh, the taste of a poison, I'm in paradise
I'm addicted to you". Assusto-me, mas correspondo. "Se gostou, me liga". Ligar?! Eu nem te conheço! Então Diana se aproxima: "Gostou de Vinho?". Pode melhorar no chaveco. E saímos, rindo, em direção ao bar. Duas cervejas. 4 reais. Tê se aproxima, eu sorrio, e ela me puxa e me beija. Um beijo cheio de dentes, línguas e puxões.
A noite continua e Ludov começa. "Se eu disser que longe é um lugar que não existe". O Vinho se aproxima de novo, meu puxa e eu escapo. Tê se aproxima de novo, me puxa e me beija, aí Vinho se aproveita e se mete no beijo, a três, no meio daquele casarão antigo, onde provavelmente abastadas famílias do passado natalense viveram, em que agora um clima úmido mantém um certo ar de decadência retrô. "Mantenha as aparências em evidência, vá, resolva seus problemas sem discordância, dance a música que for". Dançamos mais. Gritamos que o guitarrista da banda é gostoso (mesmo sem ele ser). Rimos dele se achando. Rimos das pessoas achando que nós achamos ele gostoso. Rimos. Até que a noite termina, pelo menos no DoSol, com fotos com a banda e muita tietagem. E olho no meu relógio e ainda são 22:14. Ir para casa está fora de cogitação. Duas opções: pagar mais de 20 reais para ir ao show de Capim Cubano e me esguelar por Yego Gonzalez, se conseguirmos chegar na Via Costeira (é, no plural mesmo porque Vander também não quer ir para casa); ou ir para uma boate GLS, a Vogue, que fica a 5 minutos dali, pegando qualquer ônibus. Meio alto, decido: Vogue!
Contamos nossos trocados. Sobrou-me 4 reais e Vander tem mais 4. Vamos. Lanchamos antes de entrar por conta de Vander e ao subir os 300 lances de escada antes de chegar aquela boate e passo as entradas e mais 10 reais de consumação no meu cartão de débito. 18 reais. Compramos cerveja, Vander quer cigarro. Bebo devagar. Estou mole. Desatento. A cerveja me enche, acho que vou vomitar a qualquer momento, então começo a dançar. Giro. Pulo. Traspiro. "Everybody line up, the show is about to start". Uma amiga minha então me encontra no meio da pista, me agarra e me dá um selinho e quando me afasto, o namorado dela está logo atrás. Recrimino-a, por me beijar na frente dele, ele ri e fala que para que eu possa beijá-la, eu tenho que beijar ele antes e me puxa. Mole, caio sobre o peito forte e largo dele, os braços dele me seguram pela cintura, com força, junto, em qualquer outra situação eu estaria derretido, mas ela estava ali e não sou deste tipo. Em segundos virei meu rosto, e ele beijou o canto da minha boca, eu sorri desconcertado, ela riu como se fosse a coisa mais normal do mundo e eu me arrependi piamente de não ter aproveitado.
Vander estava sentado no palco, me aproximei então e sentei entre as pernas dele. Ele enrolou os braços dele em volta do meu corpo e me abraçou. Em segundos lembrei que ele era ex de um amigo meu. O Peter. O sinal vermelho ligou. Em mais dois segundos, eu lembrei que ele era ex. E o sinal verde ligou. Ele então lentamente puxou minha cabeça para trás e me deu um beijo lento e carinhoso. Macio. Suave. E sedoso. Como poucos homens sabem dar. "We ain't here to hurt nobody, so give it to me, give it to me, give it to me". Fomos, depois, juntos comprar mais uma cerveja e perto do bar, onde é a parte ao vivo da boate, encontramos o Peter, a Tia e a Mãe de Hudson. Conversamos um pouco com eles, e vi de longe um ex-namorado, o Francisco, com o atual dele e fiquei perturbando-o. Olhava, encarava, fingia estar interessado. Admito, apenas para ver o mal. Não me interessava nem um pouco, mas eu gosto de fazer o Francisco achar que eu ainda gosto dele. Não sei porquê, tenho esse prazer sádico de fingir para ele. É engraçado. Ele ri tão satisfeito e faz questão de não me dar bola. Faz-me bem fazê-lo se sentir bem. De uma forma torta, eu sei, mas faz. "I'm leaving you now, I want you to know, I know what I want and I knew all along". Vander voltou e eu fiquei um pouco mais. Conversei com uns amigos, causei uma briga entre namorados, e depois voltei ao Dance, e encontrei Vander já beijando outro. Ri e beijei minha cerveja, continuei a dançar, alguns cigarros para adocicar, e continuei a noite.
Vander então me chama e pede meu isqueiro, acendo o cigarro dele, e ele me puxa e me beija, a mim e ao menino que ele estava beijando, o segundo beijo a três da noite. Ri e saí dali, resolvendo ir procurar Peter. Procuro no lounge e nada, quando estou voltando uma amiga minha me puxa e começamos a dançar forró, enquanto eu danço com ela, observo um menino com um corpo perfeito dançando sozinho mais adiante e coberto pela coragem que só a bebida pode dar puxo-o para dançar. Dançamos, eu arrisco um beijo, e ele me beija. Jeff, esse era o nome dele. O mesmo beijo de Vander. Lento. Suave. Macio. Sedoso. Minhas mão passeiam pelo corpo dele e ele está com a camiseta toda suada, ele tira, e exibe um peito bonito, forte, másculo e uma barriga magrinha e definida, uma bunda durinha e uma belas coxas, além de um sorriso super branco completam o pacote. Eu o beijo e o puxo para a parede. Ele ri, dizendo não acreditar que alguém tão bonito como eu queria ficar com ele. E eu começo a rir.
Ficamos juntos o resto da noite, mas a maior parte sozinhos. Apenas quando quase amanhecia, que me juntei a Vander e aos nossos amigos. Eu sentei no palco, e Jeff continuava dançando. "Ay, let’s not kill the karma, ay, let’s not start a fight, ay, it’s not worth the drama for a beautiful liar". E Vander comentava no meu ouvido: "Imagina esse monte de musculos rebolando em cima de um pau" e eu dava uma cotovelada nele, pedia que ele parasse, mas ele repetia. "Imagina". E eu ria. "Eu não pego um desses pra mim". Jeff então me puxa, dançamos um pouco, ele me beija e pergunta: "O que seu amigo tava falando de mim?". Eu rindo conto-lhe que ele estava elogiando o meu gosto. Ele agradece. E o sol amanhece em Natal.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

PASSADO: Momento Leonino.


Este texto foi escrito no dia 03 de agosto de 2004, eu o alterei um pouco para se encaixar a data de hoje, mas vocês não se importam não é?


Estaremos em Leão daqui a 10 dias. Não deveria haver aula, trabalho ou qualquer outra obrigação em Leão. Ou melhor, só deveria haver uma obrigação em Leão: bajular os leoninos. É tudo o que queremos. Sim, sou leonino, do dia 10 de agosto. E bajulação é o que todo leonino quer. Nossos aniversários têm que ser datas especiais. Sempre fico esperando. Sempre. Inclusive já comecei a contagem regressiva, faltam exatos 31 dias. E eu sempre espero uma festa surpresa, que todos os meus amigos se reúnam ao meu redor e celebrem a minha existência, receber provas de amor e de amizade. Já sonhei muito com isso, mas nunca aconteceu. Nunca.
Minha raiva e minha carência são sempre os primeiros a se manifestar. Por que eu não posso ter essas coisas? Por que eu não posso ter todos os meus amigos ao meu redor dizendo que me amam? Grandes manifestações de carinho. Era isso o que eu queria no meu momento leonino. Mas ai meu bom censo (é, ele existe) grita: Por que diabos eu não posso me contentar com as pequenas manifestações do dia-a-dia? Por que eu tenho que tornar o dia 10 de agosto um dia especial? É um dia como qualquer outro. E nesses dias comuns eu comecei a aprender o que são grandes declarações de amor. Elas são sempre tão pequenas, imperceptíveis para a maioria, e pra mim também eram. Até que eu aprendi a ler as entrelinhas (porque homens só dizem que gostam de alguém nas entrelinhas) e a entender que “eu não quero nada com você” na verdade significa “você é meu irmão”.

Este ano eu não vou precisar de grandes declarações de amor. Porque hoje eu já sei que independente delas meus amigos gostam de mim e minha família se preocupa comigo. Eu sei. Eu sei. (Mas continuo carente, se alguém quiser fazer uma grande declaração de amor próximo dia 10, por favor, não se acanhe)...




quarta-feira, 4 de julho de 2007

A Carta

É, começando uma nova sessão de ficção aqui no blog. São exercícios de criatividade. Chamem de pequenos contos. Tudo irreal, repito! Espero que gostem.



Lembra-te como nos conhecemos? Eu não. Não tenho idéia, porque, impressio-namente, nunca pensei que poderíamos nos tornar o que somos hoje. É estranho isso não?
Em compensação, eu lembro em detalhes do dia que descobri que seríamos tudo o que somos hoje: lembro da festa na piscina na casa do Rodrigo, em detalhes, como o dia amanheceu meio nublado, o Rodrigo me ligou preocupado: “Será que vai chover?”, ele me perguntou. Respondi rindo, que bobagem se preocupar. Mas fez sol.
Lembro quando você chegou, o sorriso habitual, o sorriso que tinha me feito tornar-me seu amigo. Nos cumprimentamos de longe, afinal, nem tão próximos éramos, você tinha mais intimidade com a Dri, não era? Não! Era com a Alice. Alice, cadê ela hein?
O destino é mesmo estranho. A festa rolou, tinha tanta gente, mas em um instante virou só eu e você, e depois virou tudo uma música de Cássia Eller (que estou ouvindo agora para me inspirar). Eu te vi se apoiando na borda da piscina, e a porta do nosso amor estava se abrindo. Como isso aconteceu? Foi tão rápido. Quando me vi, na minha boca só morava teu nome, e você era a vista que eu queria ver.
E não sei como ninguém percebeu, temos amigos muito burros não? Passei a festa te olhando, percebendo o que nunca tinha visto. O jeito de arrumar o cabelo ao sair da água, a forma de andar, o jeito correto de comer, de olhar para aquele com quem está conversando (parece que todo mundo é importante). Nunca tinha reparado, outros sim, sua educação já fora comentada lá em casa, meus pais te elogiavam e me diziam: “Você nunca é assim”. Eu te detestava!
Mas ali tudo ficou tão bonito, que peça se encaixou em mim? Como dizem suas poesias, acho que foi ali que fui flechado. É, o Cupido deve existir, alguém deve decidir por quem vamos nos apaixonar. E este Cupido é louco, muito.
Mas é agora que sei que tinha me apaixonado ali. É claro que eu não percebi, eu só comecei a reparar tanto em você, mas ninguém percebeu. Quer dizer, a Alice percebeu não foi? Também, sua melhor amiga, claro que era a quem eu ia perguntar algo sobre você, e naquele instante, apesar de seu amigo, eu nem sabia se você estava namorando (e, graças a Deus não estava).
Meu súbito interesse, dizia ela. Ela nunca comentou nada com você? Provavelmente. Mas eu não estava preparado pra falar com você. Pela primeira vez, fiquei encabulado pra me aproximar de alguém. Isso me irritava, nunca fui tímido, mas você me causava isso. Foi aí que percebi, agora eu estava apaixonado! O caso inédito!
Sempre foram as meninas que se interessavam, ou se apaixonavam, por mim. Eu ficava ora, por motivos óbvios, não que eu nunca tivesse amado alguém, mas nunca fora “o primeiro”. Mas agora era, e você?! E, pior, você parecia nem me enxergar. Não como homem, apenas como amigo. E como você mesmo diz: “Amigo não tem sexo.”
Foi difícil deixar de ser só seu amigo não? E até ficamos antes disso, mas você ainda me enxergava como seu amigo. O que pra mim, definitivamente, não era o bastante. Lembro que foi quando fomos para a casa de praia dos meus pais que finalmente fui falar com você: como arquitetei uma estratégia para falar com você, e na hora tudo fugiu. Sentados na praia, eu e você sozinhos. Você com seus fones de ouvido, eu de cabeça baixa juntando coragem...
Tenho esta cena gravada na minha cabeça: Lua cheia, você ao luar, eu disse teu nome, você se virou, e respirei fundo e falei: “Quer namorar comigo?” Você riu, e eu me senti ridículo. Você se virou para mim e disse: “Piada né?”. Eu respirei fundo aí, eu tinha duas opções: “Sim” ou “Não”. Uma me livrava daquela cena humilhante, e a outra me expunha a você. Mas após umas horas olhando para a areia (pelo menos foi o tempo que senti) eu disse “Não, eu gosto de você de verdade.”
Lembro de sua surpresa. Lembro que não entendi sua surpresa. Lembro de ter tido raiva de sua surpresa. Eu pensei “Eu te amo, caralho, entende?”. Pensei que você deveria dizer: “Eu também te amo, mas a timidez sabe? Por isso nunca disse nada.” (eu já havia notado sua timidez mesmo antes da festa na casa do Rodrigo). Mas não... você continuou em silêncio. Olhava para o mar, e eu olhava para você, tentava descobrir o que você pensava. E assim você permaneceu, em silêncio.
Eu levantei puto. Nem olhei para trás. Fui para a casa, peguei a primeira rede que vi e me enterrei nela, todos perceberam que eu estava estranho. A Dri até tentou descobrir o que era, mas eu não disse. Logo adormeci, não vi você voltar.
Só nos vimos no outro dia não foi? E não lembro se nesse dia era eu que te evitava ou você que fazia isto. E aí o mundo (leia-se nossos amigos) percebeu. O que lembro desse dia é quando o sol se pôs, você estava na varando observando o espetáculo, quando cheguei, e por acaso você estava na minha rede.
Quando nos vimos, você logo me pediu desculpas, lembra? Disse que havia silenciado porque não sabia o que dizer simplesmente, pois não acreditava no que acontecera. Eu perguntei se era impossível por acaso que eu me apaixonasse por você. E você do alto de sua baixa auto-estima disse que era impossível qualquer um se apaixonar por você.
Ri com a bobagem que você disse, e acabamos rindo juntos. E foi assim, rindo que começamos a namorar. Não foi a partir de um beijo, e muito menos a partir de sexo. Foi, sim, a partir de uma boa gargalhada – daquelas que só entre amigos conseguimos dar.
Não me arrependo de nada desde então… só porque agora estamos juntos.
Domingo, 19 de outubro de 2003.
00h44min