Google+ Estórias Do Mundo: maio 2012

terça-feira, 29 de maio de 2012

"...Alguma Coisa de Um Sábado a Noite"

, em Natal - RN, Brasil
I

Eu estava no ponto de ônibus, esperando-o para encontrar o Miguel e irmos para a Vogue. Sábado a noite, passava das 22:30h, quando ele surgiu do meu lado, como quem brota da terra, feito um demônio súcubo. "Vai p'ra onde bonito assim?", falou e, antes de eu responder, ele já havia levantado a camisa para exibir o abdômen perfeito. Meus olhos devem me denunciar profundamente nestes momentos porque o sorriso de satisfação que ele coloca no próprio rosto chega a me irritar. Respondi que ia encontrar amigos. "Ah, se você tivesse um tempo a gente bem que podia ir para um motel que tem ali". Eu olhei para ele, interessado em saber como ele concluiria o convite. "O motel custa apenas sete reais, o que me diz?". Minhas sinapses pipocaram. Lembrei que eu estou a sete meses sem sexo, olho para o corpo lindo que se oferece para mim ali, com certeza seria muito divertido, mas também não consigo não me preocupar em como eu me sentiria depois se entrasse neste relacionamento que nos usaríamos somente para sexo e que nunca evoluiria para nada mais que isso, afinal ele "é hétero". Posterguei então. "Ah, querido, eu tenho que ir agora. Já estou atrasado, na verdade. Fica para uma outra oportunidade". Ele me encara decepcionado e prepara-se para contra-argumentar. "Ó, meu ônibus 'tá vindo ali. 'Té mais!" E estendo a mão para ele apertar. "Até, então... ah, mas antes tu não teria 2 reais aí que pudesse me arranjar?". Aí eu lembrei que tem esse problema dele estar investindo em mim somente por vantagens financeiras.

II

Eu estava na área externa da Vogue, numa área em que existe um vídeo-bar, que naquele noite estava integrado a pista dado a quantidade de pessoas que haviam resolvido vir assistir aquele dj paulista tocar. Naquele momento que tocava "hey-ey-ey, like a girl gone wild, a good girl gone wild" foi quando ele passou por mim sorrindo e eu sorri em resposta,e ele falou baixinho: "Volto já!". Ele foi até o bar e comprou uma caipirinha em um copo de plástico, descartável. "Você está sozinho?", me perguntou e eu respondi que estava esperando meu amigo retornar do banheiro. "E o namorado, onde está?", eu ri da pergunta e disse que não tenho namorado. "Não acredito!", foi sua reação imediata, "Alguém como você, com certeza, tem namorado!". Eu ri alto, ele sorria do meu lado, um sorriso bonito que combinava com seu rosto e com a cara de safado que usava. Ele tinha o corpo fora de forma, não gordo, apenas fora de forma. E me convidou para acompanhá-lo de volta a pista de dança. Foi neste momento que eu lhe perguntei: "Você realmente não se lembra de mim?". Ele empalideceu e gaguejou uma resposta que nem ouvi. "Nós já ficamos uma vez e você nem lembra?". Enrubescido, notadamente envergonhado, gaguejando se afastou, se misturando as pessoas que dançavam na parte interna da boate.

III

Converso numa roda de conhecidos sobre o coral que faço parte, e me afastou para apagar no cinzeiro de vidro sobre a mesa o cigarro Lucky Strike que tenho entre os dedos. É quando um menino de regata branca me chama para outro grupo. "Posso te apresentar um amigo?". Consenti e ele me apresentou um menino negro, de cabelo raspado na lateral e alisado com algum produto químico, vestido uma camisa Cyclone. Conversamos um pouco, até o Miguel se aproximar trazendo uma lata de cerveja para mim e eu pedir licença porque precisava ir ao banheiro. Foi quando meu amigo, após sua quarta caipirinha, falou para o menino: "Mas não se preocupe que quando ele diz isso é porque ele não vai voltar". Eu me virei chocado. O menino também estava surpreendido, mas se recuperou rápido e foi o primeiro a falar: "Tudo bem, não tem problema. Foi um prazer te conhecer". Eu tentei negar que este não era o meu objetivo, eu realmente pretendia ir apenas até o banheiro e voltar. Ele então estendeu sua mão para mim que eu apertei e ele disse: "Se você voltar, de qualquer forma, vai ficar parecendo que fez isso somente para provar que seu amigo estava errado, então... vamos manter assim? Foi um prazer!". Eu senti minhas bochechas ficarem rubras e fuzilei o Miguel com o olhar, que brincava inocentemente com o canudo do seu copo, girando as pedras de gelo. "Desculpe meu amigo, então...". Ele sorriu e voltou a seus amigos, foi quando puxei o Miguel. "Como você faz uma coisa dessas?". Ele revirou os olhos, bebeu um gole de sua caipirinha e falou: "Se ele tivesse um pouco mais de atitude tinha era te beijado naquela hora", eu continuava o olhando incrédulo, "e eu bem sei que você não ficaria com ele, muito feio!". 

IV

Ele é lindo. Achei desde o primeiro momento, a descendência árabe da-lhe um charme especial e a inteligência de quem estuda questões de gênero e pesquisa o meio ursino entre os gay me chamaram bastante atenção. Neste mesmo dia ele me pediu um beijo e não vi motivos para negar-lhe, até ele terminar, e me dar uma nota. "Oito!", disse, e eu o olhei sem entender, ele sorriu como uma criança que brinca com a própria comida, "É que estou dando notas para os beijos hoje. O seu é bom, mas não perfeito!". Eu sorri, mantive a pose, apesar da minha vontade de espalmar meus dedos naquele rosto coberto por uma barba espessa. Naquela noite ele passou por mim e me enlaçou a cintura, me puxou e já pretendia um beijo, quando eu parei e disse não. Ele ficou surpreso! Olhava-me de olhos arregalados quando eu expliquei: "É que eu não quero ser avaliado hoje não!".

V

Os amigos dançam juntos quando um conhecido, de muito tempo, Caelus, me cumprimenta. Pergunta se voltei de vez para Natal e sobre os nossos antigos amigos em comum. Conto-lhe que não tenho mais nenhum contato com eles. "Por culpa do Fê, não é?". Eu arregalei os olhos, mas concordei. "Eu nunca gostei daquele menino, de verdade!". E ele conta porque não gostava de nosso antigo amigo em comum, e não deixo de demonstrar que suas palavras me surpreendiam. É quando o Miguel se aproxima, novamente, e eu apresento os dois, o Caelus, no entanto, se aproxima de mim e se deixa abraçar e eu, inocentemente, envolvo sua cintura com meu abraço e pouso minha mão na bunda linda dele. Ele não se incomoda e continuamos conversando. É quando eu lembro que preciso pegar o telefone de um amigo que está mais a frente porque ele decidiu participar do coral e eu vou precisar conversar com ele. Peço licença e deixo Caelus conversando com o Miguel quando me aproximo do meu amigo e peço-lhe o telefone. Troco mais algumas palavras com ele, enquanto uma go-go girl tira a roupa em cima do palco sob os olhos atentos de um dj que babava sobre ela. Foi quando retornei para perto do Caelus e Miguel e o primeiro dirigiu-se, sem alterar a voz e sempre com um sorriso no rosto meio irônico, a mim, dizendo: "Como assim você sai de perto de mim p'ra pegar o telefone de outro?". Eu me surpreendi e tentava responder que era meu amigo. "Me deixou aqui sozinho com alguém que eu nem conheço". Eu tentava me desculpar, mas ele mantinha um sorriso que me fazia achar que aquilo tudo não passava de uma brincadeira. "Preciso ir...", ele falou e saiu andando. Tentei segurá-lo, mas ele não quis ficar e quando eu o procurei, novamente, não o encontrei mais, dado a boate estar tão lotada. Foi quando só me restou me xingar: idiota, idiota, idiota!


sexta-feira, 25 de maio de 2012

O Que Me Cabe Fazer?

, em Natal - RN, Brasil
"eu me afastei de você porque eu não aguentava mais você reclamando de sua vida"

Ouvi isso de um "amigo" no MSN. E gostei de tê-lo ouvido, admito, gosto da sinceridade. Mas isso me fez fazer uma série de perguntas a mim mesmo, sobre este blog, sobre como lido com meus problemas. Sou uma pessoa sincera, que fala o que sente, que costuma dizer a verdade as pessoas, não que eu faça isso doa a quem doer, porém tenho como princípio ser verdadeiro. Isto quer dizer que eu não costumo inventar estórias, ou floreá-las para parecerem mais interessantes ou para que criem uma imagem positiva da minha pessoa. Acho que eu fico mesmo diferente, quando eu falo tudo o que penso realmente. Mostro a todo mundo que eu não sei quem sou, eu uso as palavras de um perdedor. Esta música do Pato fu está se repetindo dentro da minha cabeça agora over and over again. Por isso mesmo, como eu estou mal, muito mal, inclusive, no nível de quem pensa em suicídio pelo menos uma vez por semana, quando não mais, e alguém me cumprimenta na rua, um conhecido, alguém que eu não tenho muita intimidade, e diz: "Como vai?", eu respondo "Tudo bem!". Ai abro um parêntese, antes de continuar: ao contrário do que me acusam aqui, eu não saio contando sobre meus problemas para alguém que me diz bom dia na rua, e fecho o parêntese, porém eu me sinto profundamente mal por estar mentindo. Por que para mim é uma mentira do mesmo naipe daquela que você conta a seu namorado quando o trai ou quando precisa arranjar uma desculpa quando é pego roubando. Aos amigos, pelo menos aqueles que eu considero amigos, eu digo a verdade, acho que posso me dar ao luxo de falar com eles a verdade, de ser sincero com eles, de algumas vezes simplesmente desabafar, mas na maioria das vezes só falar a verdade per si, todavia é um destes amigos que me diz isso, e o que me cabe fazer? Era esta a minha grande pergunta.
Minha dúvida começa em que tipo de mundo é este que aquele que é verdadeiro e sincero é punido e proibido de fazer o que é certo. Sobretudo, o que eu considero que é certo. Não entendo um mundo que é contra o roubo, a traição e a corrupção, mas fica ofendido com a verdade. Diria Cazuza: Migalhas dormidas do teu pão, raspas e restos me interessam. Pequenas porções de ilusão, mentiras sinceras me interessam. Minha outra dúvida relaciona-se com que tipo de amizade é essa. Eu não sou esse tipo de amigo que vira as costas para o outro que sofre, que não está disponível nos momentos ruins, apenas nos bons, este não é o comportamento de um amigo, então, penso, que este amigo deve, no mínimo, ser colocado na prateleira de conhecidos. Que, se ele não se sente bem comigo dividindo meus problemas, só posso evitar fazê-lo este mal. Tratá-lo como um qualquer conhecido, como uma pessoa com a qual eu não tenho nenhum intimidade. Penso em, não evitá-lo, mas evitar contar-lhe pelo que passo. Vou contar-lhe apenas as coisas boas que me acontecem, e como nada bom acontece, acabo por não ter o que falar com essa pessoa.  Eu posso simplesmente omitir qualquer informação da minha vida.
Ou. Eu poderia admitir que estou errado simplesmente, e parar de dizer a verdade a qualquer um. Eu poderia simplesmente calar sobre o meu desejo de todas as noites que Deus tenha piedade de mim e encerre minha vida enquanto durmo, que Ele permita que eu simplesmente não acorde nunca. Imagino isto sobre o blog também, cujo qual é o espaço em que meus desabafos são criticados, porque basicamente eles são feitos aqui. Seria tão mais fácil eu começar a falar mentiras para todos na internet. Podia inventar um namorado lindo e um relacionamento perfeito agora mesmo, no lugar deste texto, podia contar viagens perfeitas e vitórias profissionais inacreditáveis. Isto aqui ainda é a internet, vocês nunca perceberiam, convenhamos! Eu poderia sim construir uma mentira intrincada, sou um escritor bom o bastante para criar esta ficção perfeita. Eu podia simplesmente desistir de contar a minha vida e contar uma mais agradável a vossos ouvidos. Eu podia, eu posso! Mas eu devo? Eu ainda não sei essa resposta, mas pelo menos eu sei porque tenho tão poucos amigos hoje em dia. Uma pena! Uma pena!

terça-feira, 22 de maio de 2012

Índia: Os Amores de Krishna





Sri Krishna é conhecido também como o mais belo deus. Na verdade, o nome Krishna significa "todo-atrativo" e sua beleza incomparável cativava todos os seres, homem, mulher ou o terceiro sexo. Em textos védicos, especialmente o Bhagavata Purana, Krishna é descrito como fonte e o manancial original de Vishnu. Um dos deuses originais ele representa o masculino primordial.  No entanto, ele não é adorado com gravidade e formalidade, mas, por representar o amor, é retratado não como um rei coroado, sentado no trono real, mas como um charmoso jovem, brincando nos pastos com seus amigos durante o dia e a convidar as donzelas com sua flauta a sua cama durante a noite. 
Muitos sábios e semideuses aspiravam estar ao lado do divino Krishna. Arjuna, Narada e até mesmo Shiva transformaram-se em mulheres com a finalidade de ter relações íntimas. No entanto, esta pode ser uma metáfora, já que como Krishna é a potência masculina primordial, qualquer um comparado a ele, necessariamente seria feminino. Porém no mito de  Kamadeva que era conhecido como o mais jovem deus e de também de uma rara beleza dentro da criação, o que encantava e fascinava a todos, conhecido também como o deus do sexo, e por isso extremamente sedutor também se viu completamente encantado e perplexo com a beleza incomparável de Krishna, e sem tornar-se mulher teve relacionamentos íntimos com o deus.
No Padma Purana é dito que, durante o advento do Senhor Rama, os sábios da  floresta Dandakaranya tornaram-se tão atraídos pelo lorde Krishna que desejaram casar-se com o  deus. Uma vez que o deus, no entanto, poderia aceitar apenas uma esposa, Sita, Ele abençoou os sábios para se tornar pastores nos campos em que ele jogava, permitindo que eles o tivessem também um pouco, cumprindo assim os seus desejos.
Krishna era muito brincalhão e gostava de praticar esportes; narrativas dos Puranas, bem como textos medievais, muitas vezes retratam Krishna e seus amigos (de ambos os sexos) vestidos com roupas do sexo oposto só por diversão. O deus tem muitos servos do sexo masculino (sahayakas) que meticulosamente o vestem e cuidam para ele e seus amigos íntimos possam se encontrar com as gopis ou outros jovens. Esses amigos íntimos tem, dizem, as mesmas emoções (bhava) por Krishna que as gopis e estando sempre dominados pela beleza de Krishna e o amor que sentem por ele.
Krishna é adorado por toda a Índia e em todo o mundo. Um festival que comemora o seu aparecimento, Janmastami, ocorre no oitavo dia da lua minguante no mês de Bhadrapada (agosto-setembro) e é um dos maiores festivais na Índia. Enquanto as pessoas comuns adoram Krishna para todos os tipos de bênçãos, seus iniciados o adorám com o único propósito de alcançar krishna-prema ou o puro amor de deus.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Lançamento de Espartanos

, em Av. Olinto Meira, 390-576 - Alecrim, Natal - RN, 59030-180, Brasil



Espartanos é um filho que eu venho cuidando há anos, primeiro publicado no meu blog Pseudea, agora ele se tornou livro que estou publicando pelo Clube de Autores, como ele é filho de um blog, desta vida virtual, achei nada mais justo fazer seu lançamento pela net e não em uma livraria que o distanciaria de todos os seus leitores de todo o país que sempre o acompanharam. O livro trata da história de quatro meninos espartanos que crescem durante a Guerra do Peloponeso, uma guerra no século IV antes de Cristo entre Atenas e Esparta. E é um livro escrito por um historiador, isto é, este romance pode não aconteceu exatamente do jeito que eu estou narrando, porém ele poderia ter acontecido exatamente deste jeito porque ele é historicamente possível. 

Para comprar o livro, cliquem aqui.


Como fico um tanto tímido para elogiar meu próprio filho. Aqui, a orelha do livro:

A vida daqueles meninos os condicionaria a se tornarem guerreiros de Esparta: Alceu, Iolau, Heleno e Clício deixam suas posições de crianças para traçarem sua trajetória rumo à glória de servir sua cidade, em seus ínfimos sete anos de idade. A realidade em que são expostos é agressiva, é intimidadora e implacável. Apenas os fortes sobrevivem para que haja “liberdade para os gregos!” e, cada um, a sua maneira, mostra sua força para driblar os perigos que aparecem – tanto perigos para sua imagem como cidadão de Esparta, quanto perigos que colocam suas próprias vidas em risco.
Ao passar dos anos, e com seus desenvolvimentos pessoais construindo suas posições sociais na realidade em que vivem, os meninos se tornam adolescentes e, após, homens. Novas personagens vão se inserindo na vida dos protagonistas e criam novas estruturas para situação que explode ao redor, a guerra entre Esparta e Atenas.
Escrito com fluidez, o romance é uma verdadeira arca de informações históricas. Arca essa, aberta em cada trejeito de fala das personagens e na facilidade com que o narrador coloca o leitor imerso na realidade que está propondo. A carga informativa da obra não impede que o leitor, já impregnado pela verdade descrita, se emocione e se surpreenda a cada novo fato narrado.
Transitando entre as diferentes visões dos jovens guerreiros, a narrativa problematizará diferentes valores sociais da Antiguidade Clássica com a visão de mundo contemporânea do leitor, debatendo assuntos que vão desde as possíveis políticas que existiam, relações familiares, amor, até as vestimentas, tudo dentro de uma descrição minuciosa e embebedada pelo homoerotismo.
A obra entretém, além de informar, e pode ser usada como ponto de partida para discussões mais amplas que ultrapassam a época em que há o desenrolar da história. É uma trama que avança além do que se propõe, uma resposta artística a História de ontem e hoje.
Gabriel Bruno Martins

terça-feira, 15 de maio de 2012

Rumour Has It!

, em Natal - RN, Brasil


Eu caminhava para minha aula de pilotagem de moto. Atravessara a avenida Lima e Silva e na calçada de uma igreja batista, Adele começou a cantar aos meus ouvidos. She, she ain't real, she ain't gonna be able to love you like I will. She is a stranger, you and I have history, or don't you remember? Eu cantava junto quando levantei a cabeça e vi um grupo de garotos se aproximando. Eram crianças, pré-adolescentes no máximo. Sure, she's got it all, but, baby, is that really what you want? Eles caminhavam em minha direção rindo e rebolando. Eles rebolavam me imitando e rindo de mim. Bless your soul, you've got you're head in the clouds, she made a fool out of you, and, boy, she's bringing you down. Eu tenho uma má formação, minhas pernas são mais juntas do que o normal, então eu ando como uma modelo na passarela, e quando eu apresso mais o passo, mais isso fica óbvio. Esta má formação nunca foi tratada, só descobri dela adulto por causa de um amigo médico. She made your heart melt, but you're cold to the core, now rumour has it she ain't got your love anymore. Na ignorância dos meus pais, eu apanhava por andar rebolando, no lugar de usar uma bota ortopédica que teria resolvido o problema. Rumour has it, ooh! Rumour has it, ooh! Aquelas crianças passaram então rebolando e rindo, claramente tentando me humilhar, porque para eles, o jeito que eu ando, denuncia minha sexualidade. Eu quis reagir. She is half your age, but I'm guessing that's the reason that you strayed, I heard you've been missing me. Mas eram crianças, eu não podia discutir com elas, simplesmente. Mas eu parei e me virei. Tirei meus óculos escuros e os olhei com o olhar mais reprovador que minha experiência como professor me permitiu. Os risos pararam imediatamente e eles aceleraram seus passos, nervosos. You've been telling people things that you shouldn't be, like when we creep out and she ain't around, haven't you heard the rumours? Foi quando me virei para continuar o caminho. Dois senhores estavam mais distantes, eles teriam observado tudo da porta de suas casas. Eu esperei um comentário. E ouvi. Um deles, sem vergonha nenhuma disse: "Viado tem que ser tratado assim mesmo! All of these words whispered in my ear. Tell a story that I cannot bear to hear, just 'cause I said it, it don't mean that I meant it! People say crazy things, just 'cause I said it, don't mean that I meant it, just 'cause you heard it. Rumour has it!

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Atendendo Pedidos...

, em Natal - RN, Brasil
Então, todo mundo pediu para eu colocar uma gravação minha cantando. Então. Aqui está. Mas antes quero lembrar-lhes de duas coisas: primeiro, a gravação está tenebrosa pela falta de material certo para fazer isso, gravei com meu mp3 player, e foi o melhor que eu consegui, ele não registra muito bem os agudos; segundo, não esperem encontrar aqui um grande cantor que com certeza faria sucesso com um microfone e um violão, minha voz não se presta a isso. O que quero dizer é que existem vários tipos de vozes, algumas pessoas são bons para ópera, outros são bons para música popular, outros são ótimos para musicais, já no meu caso, eu sou um cantor de coral, é aonde minha voz funciona, sendo assim, aqui, eu estou colocando minha voz destacada, e eu, particularmente, não a acho agradável sozinha. Mas tomem suas próprias conclusões.


terça-feira, 8 de maio de 2012

Índia: Os Dançarinos do Deva




Sri Jagannatha, senhor dos Gotipuas, é uma divindade popular de Krsna, adorado em Orissa e em todo o mundo. Ele é acompanhado por seu irmão, Sri Baladeva, tanto quanto a sua irmã, Subhadra, a personificação da potência interna do Senhor. As três divindades são adoradas com grande pompa em Jagannatha Puri, onde seu tempo original está localizado.
O templo Jagannatha tem uma longa história de danças tradicionais, tanto femininas como de travestis masculinos. Em tempos antigos, as devadasis, dançarinas dos deuses, femininos eram jovens mulheres que dedicavam sua vida apenas as deidades do templo. No seu auge, chegavam a centenas e mantinham coreografias elaboradas e inúmeras músicas que faziam parte essencial do culto diário aos deuses. As devadasis estavam divididas em vários grupos diferentes, cada um com seus códigos de conduta específicos, estilos de danças e perímetros de culto. As classes mais altas, as mahari, era composto por virgens celibatárias que dançavam privadamente para o Lorde Jagannatha nos santuários mais íntimos do templo, enquanto as classes mais baixas, dançavam nas cerimônias públicas dentro do templo e, com frequência, serviam também como cortesãs. Outra classe conhecida são as nachuni dançava diante da corte real de Orissa, entretendo os reis e outros nobres. 
O atual templo Jagannatha foi construído no século X a.C., depois de muitas devadasis serem trazidas do sul da Índia onde a tradição era mais comum. No século XII, Maharaja Chodagangadeva (1076-1147) estabeleceu grande parte do novo rito e estabeleceu regras severas para as devadasis, proibindo toda prostituição como também qualquer contato de homens com as garotas. Depois disso, no entanto, a tradição das devadasis começou a declinar e em 1360, após um ataque muçulmano, as virgens foram violadas. Puri, todavia, recuperou-se, e no início do século XVI - sobre o reinado do Maharaja Pratuparudra (1497-1540) - todo o culto original foi reestabelecido. Sri Caitanya foi recolocado no Puri ao mesmo tempo, inaugurando o reinício do culto de bhakti.
Dançarinos masculinos travestidos, conhecidos como gotipuas, também participavam da longa tradição  de Puri, especialmente popular durante o reinado do marajá Prataparudra. Na tradição gotipua, belos jovens homens eram treinados nas várias técnicas de dança como a bandha-nrtya, na qual se vestiam como as devadasis com saris coloridos e pesada maquiagem. Mas, diferente das devadasis, gotipuas se apresentavam muito mais em público e estavam ligados a grandes cerimônias que recebiam inúmeros peregrinos. As suas coreografias mais populares eram exatamente aquelas em que os gotipua tentavam seduzir a divindade do Sri Baladeva. 
Os gotipuas eram devotos do Jagannatha e viviam fora do perímetro do templo. Em tempos antigos, os gotipuas mais talentosos serviam como instrutores de dança, cortesãos masculinos, e atuavam como intermediários entre homens e as devadasis. Em um tempo em que todos os festivais, cerimônias e o próprio entretenimento estava todo centrado no templo, os mais talentosos devadasis e gotipuas eram extremamente celebrados. 
A tradição devadasi de Puri é atualmente extinta. Em 1956 só havia 9 devadasis no templo, e aos fins do século XX apenas duas, já idosas, ainda restavam. Suas coreografias e técnicas foram perdidas, no entanto, a tradição gotipua continua, e muitos pequenos grupos continuam a se apresentar em Puri e pelo estado de Orissa. Apesar do fim das devadasis, o templo Jagannatha Mandira mantem-se um dos mais populares e conhecidos da Índia. Lorde Jagannatha é especialmente piedoso com aqueles que falham e por esta razão é extremamente adorado por todos os hindus, inclusive aqueles do terceiro sexo. Todo verão, no mês de Asadha (junho-julho), acontece um grande festival conhecido como Ratha-yatra, em honra dos três deuses, que atraem milhões.
O mais importante aqui, e tem sido em todos os textos que temos feito aqui sobre a Índia é sua relação com os transexuais. Eles, sem sombra de dúvida, são tratados de uma forma distinta da nossa sociedade ocidental. Não que eles sejam tratados bem, nem sempre o são, mas há um lugar para eles, um estamento claro do qual eles não podem se mover, mas existe um lugar, enquanto nossa sociedade insiste em empurrar estes personagens para as margens, para tentar fazê-los ficar invisíveis. Na Índia tais personagens não precisam ser invisíveis, pelo contrário, existem momentos muito nobres em que eles devem receber seus louros.




sexta-feira, 4 de maio de 2012

Scheiße

, em Natal - RN, Brasil

Eu voltava do ensaio do coral. Era noite e já passava das 22:30h. Desci do ônibus, e caminhava ouvindo Lady Gaga no fone de ouvido. I don't speak German but I can if you like. Eu então o vi no fim do quarteirão. Usava uma camisa justa e apertada, mostrando os músculos, o braço forte e o peitoral imenso. Ich schleiban austa be clair es kumpent madre monstère, aus-be aus-can-be flaugen begun be üske but-bair. Ich schleiban austa be clair es kumpent madre monstère, aus-be aus-can-be flaugen fräulein uske-be clair.  Ele usava a cabeça raspada e tinha sim uma cara de mau, de que poderia se irritar pelo simples fato de eu estar passando e notando os seus músculos querendo rasgar o tecido de algodão da camisa. I'll take you out tonight, say whatever you like. Scheiße, Scheiße be mine! Scheiße be mine!  Foi quando ele sorriu, contra todas as probabilidades, ainda distante alguns metros de mim, e disse "Boa noite!", retardando o passo. Eu respondi o boa noite também, enquanto o via olhar minhas pernas dentro da calça jeans justa que eu usava. "Que horas são?". Put on a show tonight. Do whatever you like. Eu tive que parar para dizer-lhe as horas, e ele sorriu novamente. 22:37h. E ele sorriu, dessa vez com malícia, e apertou seu pau sobre a bermuda de surf wear que usava. When I'm on a mission, I rebuke my condition. If you're a strong female, you don't need permission! Eu o observei atentamente por alguns segundos. Sua segurança e a certeza que aquela inclinação que fazia com com seus ombros o deixava com o abdômen mais contraído e chamaria mais minha atenção. Aquele sorriso de caçador que já ferira mortalmente a presa. I wish that I could dance on a single prayer, I wish I could be strong without somebody there! I wish that I could dance on a single prayer, I wish I could be strong without the Scheiße, yeah! Ele não havia me perguntado meu nome, mas já considerava que o sexo era garantido.   I wish that I could dance on a single prayer, I wish I could be strong without the Scheiße, yeah!  Eu, no entanto, o olhei com a mesma cara que a Miranda Priestly fez para os sapatos da Andy, e desejei-lhe boa noite, seguindo direto o meu caminho. Love is objectified by what men say is right! Scheiße, Scheiße be mine! Bullshit be mine!



terça-feira, 1 de maio de 2012

Curtas-Metragem

, em Natal - RN, Brasil
I

Encontro o meu regente antes do ensaio do coral numa padaria, com seu marido. Eles estão terminando um lanche e eu vou apenas comprar uma tapioca já que estou evitando o trigo na minha vida. Voltamos juntos, então, e no caminho, a pé, meu regente pergunta:
- Como anda a vida?
Eu respondo que tudo anda bem difícil. Difícil e complicado. Ele me olha surpreso e fala:
- Como assim? Você está sempre tão bem humorado. Sempre com um sorriso no rosto, nunca vejo você reclamando de nada. Me surpreende você dizer isso.
Eu sorri lembrando das críticas que recebo no blog e respondi-lhe que eu precisava manter o sorriso senão podia acabar fazendo uma besteira. Ele então concluiu:
- Tipo desistir da tese do doutorado?
Eu respondi que sim, dizendo que o doutorado é realmente traumatizante. Mas, aviso, que terminarei em junho, sem falta.

II

Minha mãe vira-se para mim e pergunta se estou gostando das aulas de direção que ela tem pago para mim. Eu respondo que não e ela se surpreende:
- Como não? Nunca ouvi falar nisso. Todo mundo que eu conheço gosta de dirigir.
Eu contive minha condescendência e respondi que, pelo menos, eu não gostava em nada, e que não pretendia dirigir nunca mais na minha vida, somente se ela ou meu pai precisarem, porque, reforcei, estou fazendo isso apenas por eles dois. Ainda surpresa, ela esperneou:
- Então você nunca vai comprar o seu carro?
Eu assenti e ela, entre sinais da cruz, orava:
- Ave Maria! Deus te livre de tanta pobreza!
Eu falava, no entanto, que pretendia gastar qualquer dinheiro que eu tivesse comprando uma casa, mas ela não ouvia mais. Só repetia sua oração:
- Deus te livre de tanta pobreza.

III

Noite de quinta feira, véspera do feriadão do Dia do Trabalho, e eu me dirijo a sede do grupo espiritualista que tenho frequentado desde que voltei a Natal. É um grupo ecumênico que tem como objetivo a evolução espiritual das pessoas através do aprendizado das mensagens de bondade que estão presentes em todas as religiões. Sê bom é o lema deles. Para ir até lá eu preciso caminhar uns vinte minutos até o ponto de ônibus, para não precisar pegar dois. Eu caminhava ouvindo Lady Gaga no celular, quando vi de um carro, preto, com tração nas quatro rodas, um homem fazendo alguns gestos, eu não sabia se eram para mim e, por isso, continuei meu caminho. Atravessei a avenida, e do outro lado, no fim do quarteirão fiquei a esperar o meu ônibus. É quando, segundos depois, o mesmo carro aparece e para diante de mim. Novos gestos e eu retiro meu fone de ouvido e vejo o motorista. Um homem de mais de 40 anos, provavelmente 50, corpo forte de quem malhou toda sua juventude, com entradas tão intensas que já se tornaram uma careca, vestindo uma camisa pólo preta cuja manga era forçada pelo braço grosso. 
- Quer uma carona?
Eu olhei de novo para ele, e para trás de mim. Ele apontava na direção que eu estava indo, claramente indicando que me levaria. Lembrei da mesma coisa que aconteceu com o Bruno. Ele sorria com malícia e eu sabia que aquilo não podia ser apenas uma carona. Eu então respondi:
- Não, obrigado.
Ele pareceu desapontado. Mas eu voltei a recolocar meus fones de ouvido e agora tocava I see, do Mika. Somente vi então o carro preto acelerar, somente para parar alguns metros depois, porque no cruzamento o sinal fechou.