I
Encontro o meu regente antes do ensaio do coral numa padaria, com seu marido. Eles estão terminando um lanche e eu vou apenas comprar uma tapioca já que estou evitando o trigo na minha vida. Voltamos juntos, então, e no caminho, a pé, meu regente pergunta:
- Como anda a vida?
Eu respondo que tudo anda bem difícil. Difícil e complicado. Ele me olha surpreso e fala:
- Como assim? Você está sempre tão bem humorado. Sempre com um sorriso no rosto, nunca vejo você reclamando de nada. Me surpreende você dizer isso.
Eu sorri lembrando das críticas que recebo no blog e respondi-lhe que eu precisava manter o sorriso senão podia acabar fazendo uma besteira. Ele então concluiu:
- Tipo desistir da tese do doutorado?
Eu respondi que sim, dizendo que o doutorado é realmente traumatizante. Mas, aviso, que terminarei em junho, sem falta.
II
Minha mãe vira-se para mim e pergunta se estou gostando das aulas de direção que ela tem pago para mim. Eu respondo que não e ela se surpreende:
- Como não? Nunca ouvi falar nisso. Todo mundo que eu conheço gosta de dirigir.
Eu contive minha condescendência e respondi que, pelo menos, eu não gostava em nada, e que não pretendia dirigir nunca mais na minha vida, somente se ela ou meu pai precisarem, porque, reforcei, estou fazendo isso apenas por eles dois. Ainda surpresa, ela esperneou:
- Então você nunca vai comprar o seu carro?
Eu assenti e ela, entre sinais da cruz, orava:
- Ave Maria! Deus te livre de tanta pobreza!
Eu falava, no entanto, que pretendia gastar qualquer dinheiro que eu tivesse comprando uma casa, mas ela não ouvia mais. Só repetia sua oração:
- Deus te livre de tanta pobreza.
III
Noite de quinta feira, véspera do feriadão do Dia do Trabalho, e eu me dirijo a sede do grupo espiritualista que tenho frequentado desde que voltei a Natal. É um grupo ecumênico que tem como objetivo a evolução espiritual das pessoas através do aprendizado das mensagens de bondade que estão presentes em todas as religiões. Sê bom é o lema deles. Para ir até lá eu preciso caminhar uns vinte minutos até o ponto de ônibus, para não precisar pegar dois. Eu caminhava ouvindo Lady Gaga no celular, quando vi de um carro, preto, com tração nas quatro rodas, um homem fazendo alguns gestos, eu não sabia se eram para mim e, por isso, continuei meu caminho. Atravessei a avenida, e do outro lado, no fim do quarteirão fiquei a esperar o meu ônibus. É quando, segundos depois, o mesmo carro aparece e para diante de mim. Novos gestos e eu retiro meu fone de ouvido e vejo o motorista. Um homem de mais de 40 anos, provavelmente 50, corpo forte de quem malhou toda sua juventude, com entradas tão intensas que já se tornaram uma careca, vestindo uma camisa pólo preta cuja manga era forçada pelo braço grosso.
- Quer uma carona?
Eu olhei de novo para ele, e para trás de mim. Ele apontava na direção que eu estava indo, claramente indicando que me levaria. Lembrei da mesma coisa que aconteceu com o Bruno. Ele sorria com malícia e eu sabia que aquilo não podia ser apenas uma carona. Eu então respondi:
- Não, obrigado.
Ele pareceu desapontado. Mas eu voltei a recolocar meus fones de ouvido e agora tocava I see, do Mika. Somente vi então o carro preto acelerar, somente para parar alguns metros depois, porque no cruzamento o sinal fechou.
Gato: q aconteceu com o Bruno?
ResponderExcluirAlgumas considerações:
1. Se eu tô morrendo no Mestrado, imagina se eu fizer Doutorado? Rs.
2. Gato, impressionante como no Brasil ter carro é sinônimo de status, né? A pessoa pode tá fudida, sem dinheiro pro pão, mas se tem um carro se sente rica, milionária. Uma coisa meio made in USA, só q com mais impostos.
Aliás: cada dia sinto q o brasileiro tem buscado ser mais estadunidense q tudo. E o pior nas coisas mais babacas q eles tanto idolatram: um consumismo exagerado, exacerbado, cada dia mais jactancioso. Triste. Muito triste.
3. Eu tb não sei dirigir. Rs.
Um bjo de alguém com frio.
o Bruno também não aceito. hehehe
ExcluirPercebi um fio condutor nas três histórias: você está cada dia mais sábio, mais sereno, remando, velejando. A vida é assim mesmo, um dia após o outro... com calma! Sendo você mesmo.
ResponderExcluirestou mais maduro né, Alex?
Excluirgostei do coment do Alex ... tb tive esta impressão ...
ResponderExcluirPelo menos você sabe que ter uma casa é muito mais importante que ter um carro!
ResponderExcluirEssa frase da sua mãe se aplica a ela e não a você: Deus te livre de tanta pobreza (de espírito!)
E eu me jogaria lindamente no carro do tiozão careca gostosão se fosse solteiro
aloka!
Beijos
sabemos q o senhor se jogaria...
Excluirhauahauhaauah
pequenas polaróides urbanas e de um amadurecimento ímpar diria eu mesmo tendo estado distante certo tempo....
ResponderExcluire eu, quando estou assim/assim, venho aqui e gosto de ler aqueles posts sobre outras culturas, outras histórias e coisas que me tiram a mente do que a aborrece...
que bom q vc gosta, moço, essa coluna sobre história é mto cara pra mim, mas poucas pessoas comentam nela.
ExcluirVocê está mesmo mais maduro. A gente vai aprendendo com a vida e depois de aprender cestas coisas é menos complicado seguir em frente.
ResponderExcluirBeijos!
em cada fase da vida nossa maturidade se reflete de uma maneira e que bom quando ela vai crescendo junto com a gente.
ResponderExcluirabraços!
Lindas curtas! Eu só não entendo uma coisa: você não ter prazer de dirigir. Não falo pelo status de ter carro, que isso é babaquice, mas sim pelo prazer de "andar mais rápido". Ainda mais para o senhor que gosta das coisas mais, digamos, urgentes... (rsrs).
ResponderExcluirBeijos, meu lindo.
kkkkkkkkk
Excluirprefiro ser passageiro, César, muito mais tranquilo.
Se está mais maduro, não sei... parece que sim, ao menos quando escreveu estes textos. Passou pra mim uma sensação de maior serenidade. Prefiro esse seu modo de escrever e, muito também, os seus textos históricos.
ResponderExcluirAbração.
obrigado pelo elogio, querido.
ExcluirEu dirigo se precisar, também não gosto, nem deixo de gostar, rs. Bjs
ResponderExcluirMeu Amor, sabes da minha negação para direção né? Me acho instável demais, depois do incidente na garagem de casa com meu irmão... Tu ainda tem a força de vontade de fazer as aulas, mesmo que seja por seus pais, eu nem essa coragem tive mais.
ResponderExcluirE sim, Siga com este doutorado.. adorei saber de suas idas ao grupo, volta e meioe stou em um por aqui... serenidade sempre é bem vinda né?
Oi Foxx, tudo bem?
ResponderExcluirMenino, eu até o presente momento não tenho a pretensão de aprender a dirigir, pq meu senso de direção é péssimo. Moto muito menos, antes tenho q aprender a andar de bicicleta, kkkkkkkk
Bjo menino
Dirigir é otimo,
ResponderExcluirvc fala que nunca vai dirigir so porque nunca teve um carro,
poder ir e vir sem depender de transporte publico é muito melhor, serio mesmo, assim que puder sugiro q compre um carro
bem, anônimo, não é uma prioridade na minha vida.
ExcluirDirigir hoje não é um luxo, é uma necessidade.
ResponderExcluirEmbora não te conheça o suficiente, as atitudes tomadas nestas três histórias revelam que tens os pés assentes na terra e isso é muito importante.
1) Acham que o doutorado é o importante mesmo, acima de tudo, né? rs
ResponderExcluirMas, até que pra quem não te conhece tão bem como o seu regente, ele teve uma suposição acertada
2) Acho tão engraçado a necessidade que vcs tem em natal por carro. é tão diferente do que se aprende aqui no rio. carro aí para ser o ticket pra aceitação social, enquanto aqui é só mais um supérfluo
3) vc me contou disso. pois é, querido... será que estamos nos portando/vestindo como gigolôs? pelo menos o seu não te ofereceu grana rs
beijo
Sou outro que tem carteira, mas detesto dirigir. É uma arma na minha mão. De mau humor, com certeza mataria alguém. na auto-escola, quase o fiz algumas vezes por muito menos.
ResponderExcluirpois é, primo, eu sei que é uma habilidade necessária no mundo q vivemos, como andar de bicicleta e nadar, agora só preciso aprender a atirar para o caso de um apocalipse zumbi.
Excluirvocê tem enfrentado tantas dificuldades, que as vezes devia se permitir essas pequenas aventuras.
ResponderExcluirbeijo!
meu caro, entrar no carro de um desconhecido que provavelmente só queria sexo? esse tipo de aventura eu realmente passo.
ExcluirAdorei essa versão CURTAS/DROPS... hahahahahaha! E pra que comprar carro? Basta casar com quem já tenha, nzé? Jura pra mim que se compra tapioca na padaria - como quem compra um cacetinho?????? Brasilidades! Adoro! Bjz!
ResponderExcluire sim, Fred, tem tapioca na padaria junto do pão. afinal servem exatamente pra mesma coisa. aqui também tem daquela tapioca recheada, mais o mais comum é compra-la pura, sem recheio, pra vc mesmo fazer o recheio como quem coloca queijo e presunto dentro de um pão.
ExcluirII - Eu particularmente se tivesse muito dinheiro teria um carro, provavelmente, mas com motorista, não acho que tem nada a ver pobreza com não querer carro, eu tb odeio dirigir, ainda mais que a gente só fica parado e é muito stress. Apesar de preferir ir de carro que de ônibus.
ResponderExcluiriii - Mas vc não gostou do cara ou não quis por outro motivo? Eu iria fácil. Como chove homem pra vc, meu Deus, queria eu ter a mesma sorte!!!
oi otávio, chove mesmo...
Excluirmas sempre com intuito de apenas sexo
pq ele podia ter pedido meu telefone, por ex
poderia ter dito: "já q vc não aceita a carona, q tal me dar seu telefone?", seria uma abordagem completamente diferente, uma que não parece q ele tá querendo apenas me comer e mais nada.
Oi ... Faço minhas as palavras de todos os que disseram que você está amadurecendo, demonstrando serenidade. Quanto ao segundo fato ... Aqui em Curitiba também costumam, e muito, te julgar pelo carro que tem. Costumo comentar que esquecem de que numa urna só cabe o corpo e alguns penduricalhos, que o principal eles não estão enxergando. Babacas. Quanto ao terceiro fato ... Carona de desconhecido acho suspeita e perigosa. Abraços !
ResponderExcluirobrigado pelo amadurecido e sereno. =)
Excluirpois é, minha mãe repete essa ladainha no meu ouvido o tempo todo, e a carona é com certeza mto suspeita e, convenhamos, essa nunca seria a abordagem de alguém q quisesse algo além de sexo né?
Aulas de canto, de direção, um grupo para evoluir o espírito...Quantas novidades desde que voltou pra Natal! Legal.
ResponderExcluirSó uma coisa não muda: os carros nos pontos de ônibus.
na verdade não é nada novo... qr dizer, só as aulas de direção, eu canto desde os 18 anos, Junnior, e eu sou reikiano desde 2003, então, corro atrás de evolução espiritual já faz mto tempo... mas realmente resolvi aprender a dirigir agora pq meus pais precisam de um motorista. e é verdade, só uma coisa não muda: homens querendo apenas sexo comigo.
ExcluirVaga sempre tem! Para um amigo então ;)
ResponderExcluirBom... quem sabe qualquer dia a gente ainda não compartilha uma tapioca, nzé? Hahahahaha! E sim, Jack Sparrow é o mais viado dos piratas viados! #FATO! hUGZ!
ResponderExcluirI. tomei um susto com o "desistir da tese de doutorado".
ResponderExcluirII. "Ave Maria! Deus te livre de tanta pobreza!" [+1]
carro é uma casa móvel. HAHAHAHA
III. já fizeram algo semelhante comigo, só que meu pai estava do lado e foi uma coisa MEGA CONSTRANGEDORA!
com seu pai do lado: EU MORRIA!
ExcluirPontos a ressaltar:
ResponderExcluirMEU SONHO morar em um lugar em que se vende tapioca na padaria...
Também ODEIO dirigir e tirei carteira por obrigação... Na primeira aula de direção já soube que não gostava nada daquilo...
Em tempos de sequestro relâmpago é over entrar no carro de desconhecido, tenha ele a aparência que for....
Faço coro com os que falaram que a forma que você lidou com as situações demonstra certa maturidade.
Te adoro querido!