Google+ Estórias Do Mundo: setembro 2008

sábado, 27 de setembro de 2008

PASSADO: Carrinhos

Era um domingo a tarde, eu saíra com um pedaço de giz de casa. Meus pais eram professores, era muito fácil ter giz em casa. Ele me chamou para brincar. Carrinhos. Desenhamos toda uma cidade, com ruas, postos de gasolina, pontes, oficinas mecânicas, na calçada da casa da tia dele. Sentamos no chão, calções amarrotados, agora também apagavam o giz que estava no chão, delimitando nosso mundo imaginário. O meu carro era azul, o dele vermelho. Empurravamos aqueles carrinhos, pelas ruas estreitas de nossa imaginação e mal traçadas por nossas mãos de crianças. A mãe e a tia dele observavam de dentro conversando seus assuntos de adulto, na varanda da casa. As primas dele brincavam com bonecas, no jardim interno. A calçada era o lugar dos meninos.
Foi quando eu estava de cabeça abaixada, olhava para o carrinho para evitar que ele passasse entre as linhas brancas, que ele veio, engatinhando, chegou perto de mim e beijou-me os lábios. Eu me assustei. Um movimento brusco me fez jogar a cabeça para trás. Ele estava lá, de quatro, sorrindo. Foi quando vi uma mão cercar-lhe a cintura e levantá-lo no ar. Uma voz que eu não sabia de onde vinha gritava: "Que pouca vergonha é essa? Você é viado, é?". Eu fiquei vermelho de vergonha. Mas ouvi a voz se afastar, ela não se referia a mim, ele fora carregado para dentro de casa. "O que você estava pensando?", continuavam os gritos, pancadas começaram e um choro baixinho também. Olhei ao redor, sem saber exatamente o que tinha acontecido, só sabia que a brincadeira tinha acabado. Juntei os carrinhos, coloquei-os dentro do jardim, as meninas me olhavam também sem entender e pareciam perguntar-me o que se sucedera. Levantei-me e voltei para casa, em silêncio, pressentindo que algo ali estava errado.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

EXTRA, EXTRA, EXTRA: Lágrimas

Enquanto as lágrimas rolam no meu rosto, apenas uma coisa me vem a cabeça: "Quem diria?". Enquanto soluço no salão de embarque, após já ter chorado quando desci do carro, após ter chorado ao ver minha mãe dizer que me ama, após ter chorado quando deixei o Andarilho, Michel e o Peter Pan na casa de praia. "Quem diria que eu ia chorar porque não quero deixar Natal". Cada lágrima é uma surpresa nova, cada soluço é a confirmação de que as coisas mudam. Natal já foi para mim o túmulo que iria me encerrar, o mausoléu que conteria minhas ultimas esperanças, e hoje, aquela cidade luminosa e fresca, é tudo o que me dá forças para continuar. É engraçado como as coisas mudam. E como eu mudei.
E nem era necessario o comissário de bordo perguntar se eu estava passando bem. "É só saudade!". Ele sorriu, complascente, deve ter amigos, amores ou familia longe. E é isso que eu tenho. E foi isso que eu só descobri agora. E essas lágrimas que agora banham meus olhos são a prova viva disso. Do amor que meus irmãos hoje me demonstram, do amor que minha mãe sempre me teve, do orgulho que meu pai não sabe como demonstrar, do carinho que meus amigos têm comigo. Cada lágrimas é para um deles. E eu os deixo lá em Natal, guardadinhos. Prometendo que volto, e um dia para ficar.
Te amo, mainha, painho, meus irmãos, Andarilho, Peter e Michel. Eu volto. Eu volto.

domingo, 14 de setembro de 2008

PRESENTE: O maravilhoso efeito da cidade maravilhosa

Questionamentos popularam minha mente durante o meu sábado carioca. Ainda no ônibus que me trouxe das montanhas mineiras as terras cariocas, eu já pensava: ou é o Rio de Janeiro que sempre me recebe de cara fechada, ou meus pecados são tantos que o Redentor prefere se esconder entre nuvens, como dizia o Rik? Um dia nublado no Rio, apesar da semana de calor. "Foi você quem trouxe a chuva de BH", escuto sentado num quiosque diante da Farme de Amoedo, "eu prefiro acreditar que Ele sabe o que anda fazendo com minha vida e tem vergonha de me enfrentar pessoalmente diante de tudo que causou". E resoluto eu resolvo dizer: "Eu só sei que o Rio não é a minha cidade. Definitivamente."
Explicações me são exigidas. Em inglês também. Surfistas australianos com seu sotaque forte e meninas também do Novíssimo Mundo com uma simpatia desarmadora. Todos loiros. Apaixono-me por dois: Josh e Mark, mas eles não se apaixonam por mim. Mas eu continuo a divagar, quem mandou viajar sozinho, e eu penso que o Rio me ensina que eu não pertenço a este mundo. Devo ser de um lugar qualquer em que as The Weeks e Le Boys não existem. Em que não somos julgados pelo que aparentamos. Em que um paulista que não guardei o nome, sob a desculpa de ter gostado da minha cara, pode dizer que as pessoas que nos julgam são os verdadeiros inferiores. "Se ele não gostou de você, que se foda! Você é muito melhor que isso!".
Contraditoriamente a isto, junto com o cheiro de maresia que invadiu minhas narinas ao descer daquele "frescão", eu deixei o Rio me contaminar com toda a sua auto-estima. Enfim a cidade maravilhosa me ensina o quanto sou bom, e quanto as pessoas conseguem ser cegas. O Rio me ensina que não importa, eles, estes mesmos que todos nós achamos lindos e interessantes, são todos grandíssimos idiotas, tal qual eu mesmo que tive coragem de não ficar com um cineasta baiano por causa de sua barriga saliente, tal qual eu dispensando meninos na balada, tal qual eu esperando que o menino sarado, que veio sozinho e voltou sozinho, olhe para mim. Pois cada menino que eu dispensei ou simplesmente não prestei atenção porque estava prestando atenção em algum conjunto de biceps, tríceps, peitoral e abdômen, estão pensando o mesmo que eu, porém me incluindo entre os idiotas. O Rio de Janeiro me faz encarar que eu pertenço exatamente a esse mundinho da The Week e Le Boy, Pedro e Paulo do Solange, tô aberta!, o cara que eu beijei na área de fumantes da Le Boy e me perseguiu durante toda a noite, e eu fiz questão de rir dele; o peruano que me pagou uma cerveja e eu o deixei ouvindo-o dizer em espanhol: "¿usted va ya?" e eu sorri mentindo que voltaria, apenas ajudam a minha iluminação: eu também sou um idiota exatamente como eles.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

EXTRA, EXTRA, EXTRA: Rio de Janeiro e Natal



Sim! É isto mesmo que vocês estão vendo. Eu estou indo viajar. De novo. Desta vez com escala no Rio de Janeiro e, em seguida, embarco para Natal. Fico apenas um dia em terras cariocas, mas quem quiser conhecer a raposinha aqui, deixa um contato. De qualquer forma, estarei em Ipanema hospedado.
Depois, a partir de domingo, volto a casa dos meus pais e minha saudosa terra. Quem diria, não é?, eu dizendo que tenho saudades de Natal.
Pois bem, esperemos mais estórias para contar. Com tempero carioca e potiguar.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

PASSADO: O Policial

Uma tarde qualquer de 2006, o sol inclemente castigava os coqueiros que cercavam o setor de aulas II da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, onde a aula sobre o espaço colonial ibérico acontecia. O setor II da UFRN é famoso na cidade, seus banheiros, sobretudo naquele horário, são conhecidos por todos como pontos de pegação. Saí da aula um instante e entrei nos banheiros, no entanto, apenas para usá-lo normalmente e também para lavar meu rosto, hábito que conservei após as espinhas adolescentes. Porém, lá dentro, um olhar me paralisou. Ele era moreno, um pouco mais alto que eu, tinha olhos apertadinhos de índio e usava a camiseta do curso de educação física que marcava um corpo definido, mas não forte. Usei o banheiro enquanto ele se vestia, acabara de tomar banho, depois lavei o rosto, as mãos, sequei o rosto, tudo sobre o olhar atento dele. Desconcertado, saí.
Saí, mas na porta, algo me dizia para ficar. Aquele olhar não foi por acaso. Aquele olhar não podia ter sido por acaso. Fiquei então um pouco distante da porta do banheiro, naqueles corredores abertos que eu podia ver coqueiros, cajueiros, mangueiras e oliveiras que cercam os corredores balançando ao sabor do vento. Foi quando ele saiu, e para meu susto, usava a farda cinza de um policial militar. Ainda mais bonito, de cacetete na cintura e arma no coldre. Ele olhou de lado e me viu, sorriu instantaneamente e caminhou em minha direção, parou do meu lado, observou as árvores, eu estava nervoso, olhava para ele, olhava para o chão, acompanhei algumas saúvas levando folhas para seu formigueiro, sentia-me ruborizar, e aí ele virou e se apresentou.
Perguntou meu nome. Eu respondi. Conversamos pouco. Muito pouco. Logo estávamos de volta naquele banheiro com a boca dele, sedenta, buscando a minha; com suas mãos, não menos ávidas, buscando minha bunda. Em segundos, minha bermuda estava no chão, e a mão dele dentro de minha cueca. "Ai, meu Deus! Minha aula!", ele me beijava, o pescoço, a orelha, "Que se foda o espaço colonial ibérico!", e me virou contra a parede do reservado, levantou minha camiseta e sua lingua áspera desceu e subiu pela minha coluna. "Deixa eu te comer?". Ele mostrava já a camisinha. Mas ali, em pé, com aquele pau enorme? Sim, era enorme! E eu sou megalofóbico! "Não!". Ele questionou porquê: "Você é muito grande!". Ele sorriu, todos sorriem ao ouvir isso. "Eu vou ser bem cuidadoso com você". Eu repeti o não, mas sem muito entusiasmo enquanto ele brincava de me penetrar e de falar na minha orelha o quanto eu era perfeito. Tentei novos nãos, mas ele continuava, e sem dor alguma - nenhuma mesmo - o vi se instalar por completo dentro de mim. "Viu? Nem doeu não foi?", dizia ao pé do meu ouvido enquanto me masturbava até eu explodir em gozo na porta do reservado e ele dentro de mim. Ele me beijou mais uma vez, me passou seu telefone, não sem antes de comentar: "Cada vez que você dizia 'não' meu tesão aumentava!". Eu sorri sem graça.
Ele saiu. Vestido com sua farda. Lavei meu rosto, e voltei a aula, onde encontrei a sala vazia. Meu material jazia abandonado. Peguei minhas coisas e, voltei a minha vida normal, liguei para um amigo que pretendia me apresentar o seu namorado. Marcamos para aquela tarde, após a aula. Liguei confirmando, e ele disse já estar a caminho do Natal Shopping, marcamos na entrada do Rio Center. Peguei o circular, eu subi, e quando o ônibus encheu, percebi que o policial havia parado atrás de mim. "Oi!". Eu sorri. Ele já aproveitava o ônibus cheio para me encoxar e disse no meu ouvido: "Você me realizou uma fantasia!". Eu respondi que ele havia me realizado uma também. Ele perguntou qual e eu apontei para a farda dele, fazendo-o rir. "Sempre que quiser", comentou. Descemos na mesma parada, ele perguntou se eu iria ao shopping e diante de minha confirmação caminhamos juntos, conversando. Foi quando avistei meu amigo sentado no canteiro, na entrada, ele se levantou rindo. "Natal é um ovo mesmo! Vocês se conhecem?!". Eu não entendi, o policial também não. "Foxx, esse aqui é meu namorado! De onde vocês se conhecem?". Eu engoli seco. Ele suava de medo. "Da universidade, ora! Da universidade!".

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

PRESENTE: A ironia mais bela

Texto escrito em 16 de setembro de 2005, após uma conversa com Wagner, um cara que eu tinha conhecido pela internet e me vira com o Felipe na Bienal do Livro em Natal. Naquela conversa ele me disse que se eu não fosse tão bicha, como ele tinha notado, ele não me deixaria escapar, porque "aquele era meu único defeito". Como este tema tem reaparecido nas minhas conversas emessênicas ultimamente e, ontem, uma amiga do Bruno disse que perto de mim ela parece um homem, então, vale a pena rememorar o texto.





Você não acha que a Ironia é a coisa mais bonita que existe na face da Terra? Veja só.
Existe coisa mais bonita que a lágrima que você derrama quando descobre que esnobou o grande amor de sua vida?
Existe coisa mais bonita que quando você descobre que o seu maior defeito é a chave de sua felicidade?
Existe coisa mais bonita do que descobrir que o melhor dia de sua vida é o último?
Existe coisa mais bonita do que perceber que aquilo que te deixa triste alimenta tua força?
Existe coisa mais bonita do que entender que o caminho mais fácil, desistir, é também uma opção digna?
Existe coisa mais bonita do que notar que o fim é só mais um começo?
Existe coisa mais bonita do que ver a esperança nascer da dor?
Agora e para sempre eu sou como a Fênix, e não existe ironia mais bela!




E sobre o The Blogger Bachelor, estão inscritos:
minininho_badboy
Rhenan
Max Demian


o Léo, o Goiano, o The Secret Boss, o Thiago, o Little Pet e o Teago não confirmaram.

Então, se eles confirmarem, ainda resta uma vaga.

Gente, é só uma brincadeira, para nós nos conhecermos, para haver mais integração, apenas isso.
Vamos lá.
Vamos brincar.