Estava saindo do ensaio do coral quando o Tutz me manda uma mensagem no celular. "Você vai ao show de Tulipa Ruiz no largo do Teatro Alberto Maranhão?". Eu respondi que não sabia de show algum, e ele me explicou que se tratava do Agosto da Alegria, que comemora o mês do folclore na cidade, e seria gratuito. "Vamos comigo?", ele convidou e eu aceitei. Acabamos pegando o ônibus juntos e fomos conversando, comentando que "todas as hipsters da cidade" estariam neste show. Eu contava piadas sobre hipsters, sobre o mainstream e as bandas desconhecidas, sobre bigodes, gadgets e óculos wayfarer, até que chegamos a Ribeira e descemos do ônibus e demos de cara com um grupo de meninos vestidos exatamente como eu. Camiseta, bermuda um dedo acima do joelho, sapatilhas nos pés e bolsa carteiro. "Pois é", riu o Tutz de mim, "eu quero é ver você me chamando de indie, seu hipster!"
"Ah, eu não sou puta nada!", negou o Tutz, "Eu só estou curtindo minha solteirice por enquanto". Eu continuava dizendo que quem pega tanto quanto ele tem pego atualmente já estava bem próximo a puta sim, e ria, era apenas uma piada obviamente, quando passou um menino extremamente bonito do nosso lado e meus olhos o acompanharam, quando voltei a olhar para o Tutz, ele estava rindo: "Depois eu que sou a puta né?", e gargalhou. Eu contra-argumentei: "Ah, querido, mas eu não quero pegar! Eu olho por pura admiração estética, como quem admira uma obra de arte em um museu!". Ele riu: "Admiração estética? Sei!". E gargalhamos juntos.
Era um sábado cuja chuva deu um tempo apenas para o show de Alceu Valença no largo do teatro regado a cerveja por apenas R$ 2,00. Estávamos já no ônibus, indo em direção ao Parque das Dunas porque eu dormiria na casa nova do Miguel, que eu ainda não conhecia. Era uma visita que eu estava devendo. Íamos eu e ele, além do menino que ele estava pegando. Um dos vários pretendentes que Miguel tem. Vários! "Pois é, nós nos conhecemos há seis anos, Foxx", ele falava meio arrastado já por efeito do álcool, "e por isso me sinto no direito de falar o que penso a você". Eu concordei que ele realmente tinha aquele direito. "Pois a Taís achou que eu fui grosso com você quando falei que realmente você nunca vai ter um namorado aqui em Natal porque você não tem o biotipo que agrada o público natalense". Eu me interessei e vi que o ficante do Miguel estava um pouco constrangido, ele apenas continuou. "Você usa barba, tem pêlos, não é magro e nem sarado. Eu entendo e concordo que você deve ser do jeito que você se sente bem! Para você mesmo! Se você gosta do seu visual no espelho você 'tá certíssimo em, por exemplo, cultivar a sua barba. Mas que isso afasta as pessoas, afasta p'ra caralho!". Eu concordava com a cabeça e ele continuava: "É claro que é possível que nesse mundo de Deus haja alguém que curta o seu biotipo, porém nesta cidade em que vivemos é praticamente impossível!". Eu sorri, ele também. "Não que eu te ache feio, claro que não! Mas você não agrada a todo mundo e isso faz diferença porque reduz consideravelmente as suas possibilidades".
Eu saía da casa do Miguel ao meio-dia já para ir ao ensaio do coral, quando ele e o ficante resolvem ir me deixar no ponto de ônibus. Caminhamos na avenida pouco, e adiante vemos um homem por volta de 40 anos, carregando inúmeras sacolas, e resmungando alto. Ele nos olhava com óbvia reprovação, e quando passa por nós fala alto. "Antes nesse Parque das Dunas era só eu de viado, agora 'tá infestado!". Nós três nos olhamos, o tom de raiva do homem era claro. Nós então gargalhamos. "Isso tudo é inveja porque somos lindas!", comento.
*
"Ah, eu não sou puta nada!", negou o Tutz, "Eu só estou curtindo minha solteirice por enquanto". Eu continuava dizendo que quem pega tanto quanto ele tem pego atualmente já estava bem próximo a puta sim, e ria, era apenas uma piada obviamente, quando passou um menino extremamente bonito do nosso lado e meus olhos o acompanharam, quando voltei a olhar para o Tutz, ele estava rindo: "Depois eu que sou a puta né?", e gargalhou. Eu contra-argumentei: "Ah, querido, mas eu não quero pegar! Eu olho por pura admiração estética, como quem admira uma obra de arte em um museu!". Ele riu: "Admiração estética? Sei!". E gargalhamos juntos.
*
Era um sábado cuja chuva deu um tempo apenas para o show de Alceu Valença no largo do teatro regado a cerveja por apenas R$ 2,00. Estávamos já no ônibus, indo em direção ao Parque das Dunas porque eu dormiria na casa nova do Miguel, que eu ainda não conhecia. Era uma visita que eu estava devendo. Íamos eu e ele, além do menino que ele estava pegando. Um dos vários pretendentes que Miguel tem. Vários! "Pois é, nós nos conhecemos há seis anos, Foxx", ele falava meio arrastado já por efeito do álcool, "e por isso me sinto no direito de falar o que penso a você". Eu concordei que ele realmente tinha aquele direito. "Pois a Taís achou que eu fui grosso com você quando falei que realmente você nunca vai ter um namorado aqui em Natal porque você não tem o biotipo que agrada o público natalense". Eu me interessei e vi que o ficante do Miguel estava um pouco constrangido, ele apenas continuou. "Você usa barba, tem pêlos, não é magro e nem sarado. Eu entendo e concordo que você deve ser do jeito que você se sente bem! Para você mesmo! Se você gosta do seu visual no espelho você 'tá certíssimo em, por exemplo, cultivar a sua barba. Mas que isso afasta as pessoas, afasta p'ra caralho!". Eu concordava com a cabeça e ele continuava: "É claro que é possível que nesse mundo de Deus haja alguém que curta o seu biotipo, porém nesta cidade em que vivemos é praticamente impossível!". Eu sorri, ele também. "Não que eu te ache feio, claro que não! Mas você não agrada a todo mundo e isso faz diferença porque reduz consideravelmente as suas possibilidades".
*
Eu saía da casa do Miguel ao meio-dia já para ir ao ensaio do coral, quando ele e o ficante resolvem ir me deixar no ponto de ônibus. Caminhamos na avenida pouco, e adiante vemos um homem por volta de 40 anos, carregando inúmeras sacolas, e resmungando alto. Ele nos olhava com óbvia reprovação, e quando passa por nós fala alto. "Antes nesse Parque das Dunas era só eu de viado, agora 'tá infestado!". Nós três nos olhamos, o tom de raiva do homem era claro. Nós então gargalhamos. "Isso tudo é inveja porque somos lindas!", comento.