"O pior é a malícia, sim, a malícia da inteligência. A fraude da inteligência"
Ficamos! Ali e várias outras vezes, e descobri quem era Anna. Mulher fogosa apesar dos olhos mortos e da pele fria. Olhava para as pessoas com aquele ar de quem não se importava com ninguém e caminhava como se não houvesse mulher mais bonita do que ela em toda cidade. Dançava como raras pessoas conseguem, aulas de balé e de dança de salão, vivera dois anos na Itália, e jurava, com lábios trêmulos, que nunca se prostituíra lá, apesar de ter trabalhado como dançarina "exótica". Ninguém acreditava. Ninguém acreditava porque era a Itália e porque era Anna. E porque Anna tinha dinheiro. Muito, pagava tudo para quem estivesse com ela. Mas não se vestia com luxo, na verdade, se vestia como uma putinha daquelas mais baixas que você possa imaginar. E não, não imagine as putinhas de Lolita Pille. Um dia me apareceu com uma minissaia branca e uma bota até o joelho para passear no shopping. Ela era olhada, admirada, temida, homens a cercavam e ela fingia-se de inocente nestes momentos, brincava com eles, como se fosse somente uma menina. Um dia me colocou contra a parede: "Por que ainda não fizemos sexo? Parece que você tem medo". Olhei-a de cima a baixo e confirmei: "Sim, tenho medo de você, de quem eu posso ser estando com você, mas principalmente você é uma mulher que assusta qualquer homem". E foi quando a chamei pela primeira vez de Anna Karenina, e ela sorriu, maliciosamente, por trás dos olhos mortos.