Google+ Estórias Do Mundo: janeiro 2010

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domingo, 24 de janeiro de 2010

PASSADO: Anna Karenina, capítulo 3


"O pior é a malícia, sim, a malícia da inteligência. A fraude da inteligência"


Ficamos! Ali e várias outras vezes, e descobri quem era Anna. Mulher fogosa apesar dos olhos mortos e da pele fria. Olhava para as pessoas com aquele ar de quem não se importava com ninguém e caminhava como se não houvesse mulher mais bonita do que ela em toda cidade. Dançava como raras pessoas conseguem, aulas de balé e de dança de salão, vivera dois anos na Itália, e jurava, com lábios trêmulos, que nunca se prostituíra lá, apesar de ter trabalhado como dançarina "exótica". Ninguém acreditava. Ninguém acreditava porque era a Itália e porque era Anna. E porque Anna tinha dinheiro. Muito, pagava tudo para quem estivesse com ela. Mas não se vestia com luxo, na verdade, se vestia como uma putinha daquelas mais baixas que você possa imaginar. E não, não imagine as putinhas de Lolita Pille. Um dia me apareceu com uma minissaia branca e uma bota até o joelho para passear no shopping. Ela era olhada, admirada, temida, homens a cercavam e ela fingia-se de inocente nestes momentos, brincava com eles, como se fosse somente uma menina. Um dia me colocou contra a parede: "Por que ainda não fizemos sexo? Parece que você tem medo". Olhei-a de cima a baixo e confirmei: "Sim, tenho medo de você, de quem eu posso ser estando com você, mas principalmente você é uma mulher que assusta qualquer homem". E foi quando a chamei pela primeira vez de Anna Karenina, e ela sorriu, maliciosamente, por trás dos olhos mortos.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

A imperfeita VIDA DE HEITOR RENARD

Heitor estava sentado ao lado dele, na sala de seu apartamento, quando aquela mão resolveu vasculhar o seu corpo. Apalpando o peitoral, dobrando-lhe a pele, caçando glândulas, até, categórico, ele declarar: "Acho que você precisa perder uns cinco quilos, mas só aqui". E apertou a barriga de Heitor com um olhar sério. "Acredito que perdendo essa barriga, seu corpo ficaria perfeito".
Suspirando, o herói troiano olhou em volta, a sala milimetricamente arrumada, depois desviou seu olhar para o companheiro cujas cicatrizes atrás da orelha denunciavam a plástica para eliminar as rugas; os dois pontos escuros logo acima das nádegas revelavam a lipoescultura; a textura das coxas diziam quanto de uma prótese havia sido depositada ali e o negrume dos cabelos exibia a tintura e os implantes feitos. Além disso, livros entreabertos, garrafas mal tocadas, músicas sofejadas, tudo para criar um pretenso conteúdo. Fingimentos afinal de contas. Até a excitação é falsa, afinal o vidro vazio, na lixeira metálica do banheiro, escrito Viagra lhe pertencia. "Eu não preciso de fato, mas é um ótimo adtivo".
Heitor perdeu-se em pensamento por um segundo, então, questionando a si mesmo se era pior ser falso ou imperfeito.


E Aqui Se Encerram As Aventuras de Heitor Renard: Sua Vida.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

PRESENTE: O Anjo, parte II

O The L é uma boate de e para lésbicas. Tem uma pista pequena, pois a maior parte do espaço é tomado por mesas de madeira e cadeiras de ripa, simples, móveis de boteco. Ficam a direita, enquanto a esquerda um palco para música ao vivo, às vezes ocupado por um dj, toma mais um terço do espaço. Facilmente encontramos aquele lugar lotado, com filas dobrando o quarteirão. Lotado de meninas lindas, bem vestidas e de cabelos sempre lisos e escovados, usando belas roupas e caros cortes de cabelo. Contudo, aquela noite estava diferente. Poucas mulheres haviam ali, ao contrário, muito homens circulavam sob aquela meia luz. Bebíamos cerveja, novamente, e contávamos causos, o amigo do Behink contava suas estórias na Bahia, "Loiro na Bahia você já viu né? Faz sucesso!", quando uma mensagem chegou no meu celular: "Estou no The L, e você?", olhei então em volta e não o vi, até que ele passou na minha frente, indo ao banheiro, fiquei animado, mas não interrompi o caminho dele. Eu devia esperar.
Foi quando ele voltou, e dessa vez segurou a minha cintura, voltei-me e ele sorriu iluminando tudo e me beijou. "Que bom que você veio", e um novo beijo eu ganhei. Ficamos juntos toda a noite, dançando, cantando e bebendo juntos. Quem nos via julgavá-nos namorados de anos, apaixonados. E eu estava encantado. Conversamos muito. E rimos também. E o Behink, a distância, observava e comentava ao meu ouvido como estávamos bonitinhos juntos e quando resolveu ir embora, e eu e o amigo dele decidimos ficar, ele saiu me desejando sorte. "Sinto que dessa vez vai ser diferente, bicha! Não estraga nada não! Ok?". Sorrindo eu o abracei e voltei para o meu menino com nome de anjo, que me abraçou e beijou novamente.
Era alta madrugada quando decidimos ir embora e ele me convidou para ir para a casa dele e eu repeti para mim mesmo. "Mas nada de sexo, senão acabou!". E eu fui, e dormimos juntinhos e acordamos tarde, e ele sorrindo e segurando minha mão foi me deixar no ponto de ônibus, e pisando em nuvens eu cheguei em casa porque achava que havia conhecido um anjo.
E aí, nos dias posteriores, nas semanas posteriores, telefonei, tentei conversar com ele pelo MSN, mas apesar de tudo que aconteceu entre nós naquela noite tão estranha, pois fazia frio e era fim de primavera, ele reagiu como qualquer um, e a regra se fez valer, e ele foi frio e, por mais que eu tentasse contato, ele demonstrava que não queria mais nenhum. E sumiu, como um anjo, simplesmente sumiu no ar.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

PASSADO: Anna Karenina, capítulo 2

"E eu que procurava milagres, pesaroso de não ter visto nenhum que me convencesse! Um milagre material ter-me-ia conquistado. E sem ver o único milagre possível, o milagre permanente e que nos rodeia por todos os lados!"


Quando me aproximei de meus amigos, eles me perguntaram o que havia acontecido. Jonathan já havia corrido atrás de Anna, que saíra em disparada após bofetear-lhe a face com uma impetuosidade de mulher traída. Eu não sabia explicar. Ao meu redor, outros também me olhavam sem acreditar e sem entender o que acontecia. Afoguei minhas preocupações em outras cervejas, quando Jonathan voltou. E voltou me puxando para junto dele, exibindo os músculos do braço e as tatuagens, mas antes dele beijar-me novamente, perguntei o que tinha acontecido e, rindo, ele respondeu: "É que ela queria ficar com você!".
Disparei a rir, sinceramente surpreso, sinceramente lisongeado. E ele continuou a falar: "Mas eu disse que você, com certeza, preferia ficar comigo". E apertou minha bunda com as mãos calejadas pelas barras da musculação. Eu o beijei de novo, mas desta vez comentei no seu ouvido: "Não tenha tanta certeza que você seria o escolhido". Ele riu, meio sem acreditar, e me desafiou, duvidando que eu ficaria com ela também. Coincidentemente ela se aproximou, com o mesmo olhar morto, foi quando ele sorriu para ela e soltou: "Ele disse que também ficaria com você, se você quisesse...".



sábado, 2 de janeiro de 2010

A dolorosa VIDA DE HEITOR RENARD

"Devagar, devagar", ele reclamava. Heitor se sentia surpreso. "Meu pau não é tão grande assim", comentou. O outro sorriu por entre os travesseiros nos quais afundava, virou o rosto e beijou a boca do herói troiano. "É que estou um tanto dolorido". Heitor sorriu, e puxando-o de quatro espalhou sua mão naquelas nádegas morenas. "A noite ontem foi boa hein?". Tapas foram ouvidas. A mão branca do herói nas nádegas volumosas daquele negro de corpo magro explodiram alto. O outro sorriu e seu pênis vibrou de tão duro, Heitor então o agarrou, mesmo ele de quatro, com o herói cravado, e o masturbava lentamente, fazendo o jovem negro amolecer e acabar por deixar-se cair novamente a cabeça entre os travesseiros, empinado ainda. "Posso?". O outro gemeu. "Pode... vai, pode! Me fode!!".


Penúltima Estória de Heitor Renard