Google+ Estórias Do Mundo: abril 2010

quinta-feira, 29 de abril de 2010

EXTRA, EXTRA, EXTRA: O PRÍNCIPE E A RAPOSA: O Derradeiro Fim

Havia, ao lado do poço, a ruína de um velho muro de pedra. Quando voltei do trabalho, no dia seguinte, vi, de longe, o principezinho sentado no alto, com as pernas balançando. E eu o escutei dizer a alguém:

- Você não se lembra então? Não foi bem aqui o lugar?

Uma outra voz devia responder-lhe, porque replicou em seguida:

- Não; não estou enganado. O dia é este, mas não o lugar...

Prossegui o caminho para o muro. Continuava a não ver ninguém. No entanto o principezinho replicou novamente:

- ... Está bem. Você verá onde começa, na areia, o sinal dos meus passos. Basta esperar-me. Estarei ali esta noite.

Eu me achava a vinte metros do muro e continuava a não ver nada. Meu principezinho disse ainda, após um silêncio:

- O teu veneno é do bom? Estás certa de que não vou sofrer muito tempo?

Parei, o coração apertado, sem compreender ainda.

- Agora, vai-te embora - disse ele - ... eu quero descer!

Então baixei os olhos para o pé do muro, e dei um salto! Lá estava, erguida para o principezinho, uma dessas serpentes amarelas que nos liquidam num minuto. Enquanto procurava o revólver no bolso, dei uma rápida corrida. Mas, percebendo o barulho, a serpente se foi encolhendo lentamente, como um repuxo que morre. E, sem se apressar demais, enfiou-se entre as pedras, num leve tinir de metal. Cheguei ao muro a tempo de receber nos braços o meu caro principezinho, pálido como a neve.

- Que história é essa? Você conversa com as serpentes agora?

Desatei o nó do lenço que envolvia-lhe o pescoço. Umedeci-lhe as têmporas. Dei-lhe água. E agora, não ousava perguntar-lhe coisa alguma. Olhou-me gravemente e passou-me os bracinhos no pescoço. Sentia-lhe o coração bater de encontro ao meu, como o de um pássaro que morre, atingido pela carabina. Ele me disse:

- Estou contente de você ter descoberto o defeito do maquinismo. Vais poder voltar para casa...

- Como você soube disso?

- Eu vinha justamente anunciar-lhe que, contra toda expectativa, havia realizado o conserto!

Nada respondeu à minha pergunta, mas acrescentou:

- Eu também volto hoje para casa...

Depois, com melancolia, ele disse:

- É bem mais longe... bem mais difícil...

Eu percebia claramente que algo de extraordinário se passava. Apertava-o nos braços como se fosse uma criancinha; mas tinha a impressão de que ele ia deslizando verticalmente no abismo, sem que eu nada pudesse fazer para detê-lo. Seu olhar estava sério, perdido ao longe:

- Tenho o teu carneiro. E a caixa para o carneiro. E a mordaça...

Ele sorriu com tristeza. Esperei muito tempo. Pareceu-me que ele ia se aquecendo de novo, pouco a pouco:

- Meu querido, você teve medo...

É claro que tivera. Mas ele sorriu docemente.

- Terei mais medo ainda esta noite...

O sentimento do irreparável gelou-me de novo. E eu compreendi que não podia suportar a idéia de nunca mais escutar aquele riso. Ele era para mim como uma fonte no deserto.

- Meu bem, eu quero ainda escutar o teu riso...

Mas ele me disse:

- Fazemos aniversário esta noite. Minha estrela se achará justamente em cima do lugar onde nos encontramos meses atrás...

- Meu bem, não será um sonho mau essa história de serpente, de encontro marcado, de estrela?

Mas não respondeu à minha pergunta. E disse:

- O que é importante, a gente não vê...

- A gente não vê...

- Será como a flor. Se você ama uma flor que se acha numa estrela, é doce, de noite, olhar o céu. Todas as estrelas estão floridas.

- Todas as estrelas estão floridas. Repeti.

- Será como a água. Aquela que me deste parecia música, por causa da roldana e da corda... Lembra como era boa?

- Lembro...

- Você vai olhar, de noite, as estrelas. Onde eu moro é muito pequeno, para que eu possa te mostrar onde se encontra a minha. É melhor assim, minha estrela será então qualquer das estrelas. Você vai gostar de olhar todas elas... serão, todas, tuas amigas. E depois, eu vou fazer-te um presente...

Ele riu outra vez.

- Ah! meu pedacinho de gente, meu amor, como eu gosto de ouvir esse riso!

- Pois é ele o meu presente... será como a água...

- Que você quer dizer?

- As pessoas têm estrelas que não são as mesmas. Para uns, que viajam, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. Para outros, os sábios, são problemas. Para o meu negociante, eram ouro, mas todas essas estrelas se calam. Você, porém, terá estrelas como ninguém...

- Que quer dizer?

- Quando olhares o céu de noite, porque habitarei uma delas, porque numa delas estarei rindo, então será como se todas as estrelas te rissem! E você terá estrelas que sabem rir!

E ele riu mais uma vez.

- E quando te houveres consolado (a gente sempre se consola), você se sentirás contente por me ter conhecido. Você será sempre meu amigo. Terá vontade de rir comigo. E abrirás às vezes a janela à toa, por gosto... e teus amigos ficarão espantados de te ouvir rir olhando o céu. Você explicará então: "Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!" E eles te julgarão maluco. Será uma peça que te prego...

E riu de novo.

- Será como se eu te houvesse dado, em vez de estrelas, montões de guizos que riem...

E riu de novo, mais uma vez. Depois, ficou sério:

- Esta noite... tu sabes... não venhas.

- Eu não te deixarei.

- Eu parecerei sofrer... eu parecerei morrer. É assim. Não venha ver. Não vale a pena...

- Eu não te deixarei.

Mas ele estava preocupado.

- Eu digo isto... também por causa da serpente. É preciso que não te morda. As serpentes são más. Podem morder por gosto...

- Eu não te deixarei.

Mas uma coisa o tranqüilizou:

- Elas não têm veneno, é verdade, para uma segunda mordida...

Essa noite, não o vi pôr-se a caminho. Evadiu-se sem rumor. Quando consegui apanhá-lo, caminhava decidido, a passo rápido. Disse-me apenas:

- Ah! Você veio...

E ele me tomou pela mão. Mas afligiu-se ainda:

- Isso é um erro. Você vai sofrer. Eu parecerei morto e não será verdade...

Eu me calava.

- Você entende? É longe demais.

Eu me calava. E ele perdeu um pouco de coragem. Mas fez ainda um esforço:

- Será bonito, sabe? Eu também olharei as estrelas. Todas as estrelas serão poços com uma roldana enferrujada. Todas as estrelas me darão de beber...

Eu me calava.

- Será tão divertido! Você terá quinhentos milhões de guizos, eu terei quinhentos milhões de fontes...

E ele se calou também, porque estava chorando...

- É aqui. Deixa-me dar um passo sozinho.

E sentou-se, porque tinha medo. Eu sentei-me também, pois não podia mais ficar de pé.

Ele disse:

- Pronto... Acabou-se...


Texto novamente adaptado de O Pequeno Príncipe de Antoine Saint-Exúpery.
Sim, terminamos de novo, agora definitivamente.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

EXTRA, EXTRA, EXTRA: O PRINCIPE E A RAPOSA: Voltamos!

"Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta ausência tua me causou
Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu"
______________________________________________

Eu, inconsequente, mandão, ciumento.
Você, desligado, mandão, ciumento (mas não adimite, ops!)
Sou passional
Você,racional!
Somos diferentes e ao mesmo tempo iguais. Eu não consigo comprender...
... e quem compreende?!

A distancia, nos afasta e nos junta, ao mesmo tempo.
A saudade é dolorosa, os reencontros curam todas as feridas.
Seu nome é o primeiro e ultimo que digo todos os dias,
e o mais engraçado entre nós, é que nos doamos mutuamente sem esperar
nada em troca.
Apenas amamos.

Separados, estaremos
Juntos, estaremos felizes.

Vamos viver o hoje, o agora! Vamos viver este instante!
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure

Ps. Não deixarei a raposa fugir assim tão facíl.
É minha e ponto final!!!

Tato

Ps²: Então, o Tato se arrependeu, e decidimos tentar mais uma vez.
Foxx

sexta-feira, 16 de abril de 2010

EXTRA, EXTRA, EXTRA: O PRINCIPE E A RAPOSA: A Despedida


Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:

- Ah! Eu vou chorar.

- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...

- Quis, disse a raposa.

- Mas tu vais chorar! disse o principezinho.

- Vou, disse a raposa.

- Então, não sais lucrando nada!

- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.

Depois ela acrescentou:

- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.

Foi o principezinho rever as rosas:

- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela á agora única no mundo.

E as rosas estavam desapontadas.

- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.

E voltou, então, à raposa:

- Adeus, disse ele...

- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.

- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.

- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...

- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.



Acabou... simplesmente, acabou.



*Texto adaptado de O Pequeno Príncipe, de Saint-Antoine Exúpery

domingo, 4 de abril de 2010

PASSADO: E Quando Aprendi a Mentir

Eu assistia "Minha Vida Em Cor de Rosa" (download aqui) quando, pensei: "em que momento eu aprendi a mentir para sobreviver?"




Em que momento começamos a mentir? Em que momento descobrimos que estamos errados e que nossos pensamentos devem ficar somente para nós? Em que momento da infância, sim da infância porque desde pequeno eu olhava mais para os meninos, nunca para as meninas, em que momento da infância eu aprendi, nós aprendemos, que para sermos amados por nossos pais, irmãos, tios e primos precisamos nos conter? Em que momento abrimos a porta do armário e entramos para nunca mais sair? Quando isso aconteceu?
Tento lembrar e não me recordo de um momento. Lembro, não obstante, de vários pensamentos que me atravessaram o cérebro infantil, também brincadeiras com amigos que não podiam ser mencionadas, também beijos roubados que deviam ficar em segredo, mas desde o primeiro é como eu já soubesse. Devia tudo ficar em segredo porque era errado. Foi antes então, antes de tudo começar, eu já estava trancado dentro do armário, abraçado aos meus joelhos, e uma lágrima rolava pelo meu rosto, porque naquela idade eu tinha medo do escuro.
Mas quem me disse que era errado e quando? Quando alguém segurou minha mão e disse: não pode! Não deve! Eu lembro de vários momentos que eu escutei de meu pai e de meus irmãos mais velhos que eu estava errado, mas aí era tarde, eu também achava que estava errado. Que meu amor e meu sexo eram pecado. E me culpava. Grandemente! Então eu aprendi antes: quando? Quando isso aconteceu? Em que momento eu fui tragado por aquele armário? Em que momento fiquei ali dentro sozinho e perdido, completamente perdido, e completamente só, logo eu que tenho medo de ficar sozinho, quando aconteceu? Quando?
Eu não consigo lembrar. Perco-me em lembranças. Mas esta única, esta única lembraça do momento em que eu me distanciei de todos porque não podia ser eu mesmo, esta única me escapa. Em que momento eu aprendi a mentir pra sobreviver? Eu não lembro!