Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos. (Fernando Pessoa)
Parto!
Deixo para trás uma cidade, muitas pessoas, uma família.
Claro que não os abandono para sempre. Não fujo de crimes inafiençáveis. Mas vou-me. Por minhas pernas. Para novos caminhos, novos e belos horizontes que se abrem. Deixo ventos novos soprarem em minhas velas e me levarem por mares não navegados.
Atrás de mim ficam uma cidade que far-me-á falta em seu vento fresco e úmido, suas praias desertas a 20 minutos, o mar quente, seu sol incandescente, sua decoração natalina colocada no dia 21 de novembro, este pé-de-jambo que vejo da minha janela, coqueiros além dela, meninos de calção correndo pela calçada, o céu anil, dunas de areia branca, ladeiras, a Ribeira decadente e Ponta Negra saída de Hell, holandeses, noruegueses e finlandeses invadindo as praias, ter que dar dicas em inglês para um alemão. Mas também deixo uma cidade de preconceitos. Em que eu, nascido e criado aqui, nunca fui aceito. Em que muitas vezes em suas ruas fui humilhado e denegrido, mas também deixo isso para trás. Abandono traumas, medos e complexos. Deixo Natal e renasço mineiro, para uma nova ordem, uma nova vida, novas cores.
Deixo amigos também. Conhecidos muitos. Porque em todos os ambientes que ando, muitos me conhecem, das praças, dos bares, das boates, das raves, dos shows, da universidade. Quem mandou ser simpático. Pessoas que conhecem meu passado, que talvez me conheçam melhor ou tão bem quanto eu. Deixo o Andarilho, minha maior dor. O Peter Pan já me deixou, ou quase. Ele tem tentado me trocar desde que contei-lhe da viagem. Ele se deixou ir, levado por aqueles que não o queriam comigo. Ele lutava contra, mas desistiu de lutar quando me viu arrumando as malas para partir. Mas não lhes digo adeus. Eu os encontrarei em muitos aeroportos ainda. Augusto Severo. Confins. Augusto Severo. Confins. Ah, mas também deixo sombras negras. A escola, meu high school digno de filmes americanos, é óbvio que não falamos da Disney, em que eu fui do c.d.f. à bichinha, mas extremamente conhecido, de nome doce quando falado. Adeus Daniel, adeus Juju, adeus. A faculdade também atraiu-me peças tolas: adeus Beatriz, adeus, adeus! E a net, ai a net, não dá para citar todos, mas quem me marcou mais? Wagner, que disse que eu era perfeito, mas andava e era muito bichinha e por isso não podia ficar comigo, adeus;
Família não se deixa. Afinal, ano que vem, Júpiter estará na minha casa 4, e é hora de lidar com a família. Somos próximos, mas não conversamos, a distância vai curar este problema. As palavras terão que sair, as coisas, histórias, atos, terão que ser comunicados, e essa via não utilizada, tornar-se-á de mão dupla. Falar-se-á. Um pouco de afastamento é sempre bom para qualquer relacionamento. A imersão total de um no outro sufoca, atrita, implica. Então tchau.
Parto!
Recadinho: Ficarei um pouco ausente. Até me estabilizar em Belo Horizonte. Então tchau para vocês. Eu volto logo. Com Estórias Mineiras.
Parto!
Deixo para trás uma cidade, muitas pessoas, uma família.
Claro que não os abandono para sempre. Não fujo de crimes inafiençáveis. Mas vou-me. Por minhas pernas. Para novos caminhos, novos e belos horizontes que se abrem. Deixo ventos novos soprarem em minhas velas e me levarem por mares não navegados.
Atrás de mim ficam uma cidade que far-me-á falta em seu vento fresco e úmido, suas praias desertas a 20 minutos, o mar quente, seu sol incandescente, sua decoração natalina colocada no dia 21 de novembro, este pé-de-jambo que vejo da minha janela, coqueiros além dela, meninos de calção correndo pela calçada, o céu anil, dunas de areia branca, ladeiras, a Ribeira decadente e Ponta Negra saída de Hell, holandeses, noruegueses e finlandeses invadindo as praias, ter que dar dicas em inglês para um alemão. Mas também deixo uma cidade de preconceitos. Em que eu, nascido e criado aqui, nunca fui aceito. Em que muitas vezes em suas ruas fui humilhado e denegrido, mas também deixo isso para trás. Abandono traumas, medos e complexos. Deixo Natal e renasço mineiro, para uma nova ordem, uma nova vida, novas cores.
Deixo amigos também. Conhecidos muitos. Porque em todos os ambientes que ando, muitos me conhecem, das praças, dos bares, das boates, das raves, dos shows, da universidade. Quem mandou ser simpático. Pessoas que conhecem meu passado, que talvez me conheçam melhor ou tão bem quanto eu. Deixo o Andarilho, minha maior dor. O Peter Pan já me deixou, ou quase. Ele tem tentado me trocar desde que contei-lhe da viagem. Ele se deixou ir, levado por aqueles que não o queriam comigo. Ele lutava contra, mas desistiu de lutar quando me viu arrumando as malas para partir. Mas não lhes digo adeus. Eu os encontrarei em muitos aeroportos ainda. Augusto Severo. Confins. Augusto Severo. Confins. Ah, mas também deixo sombras negras. A escola, meu high school digno de filmes americanos, é óbvio que não falamos da Disney, em que eu fui do c.d.f. à bichinha, mas extremamente conhecido, de nome doce quando falado. Adeus Daniel, adeus Juju, adeus. A faculdade também atraiu-me peças tolas: adeus Beatriz, adeus, adeus! E a net, ai a net, não dá para citar todos, mas quem me marcou mais? Wagner, que disse que eu era perfeito, mas andava e era muito bichinha e por isso não podia ficar comigo, adeus;
Família não se deixa. Afinal, ano que vem, Júpiter estará na minha casa 4, e é hora de lidar com a família. Somos próximos, mas não conversamos, a distância vai curar este problema. As palavras terão que sair, as coisas, histórias, atos, terão que ser comunicados, e essa via não utilizada, tornar-se-á de mão dupla. Falar-se-á. Um pouco de afastamento é sempre bom para qualquer relacionamento. A imersão total de um no outro sufoca, atrita, implica. Então tchau.
Parto!
Recadinho: Ficarei um pouco ausente. Até me estabilizar em Belo Horizonte. Então tchau para vocês. Eu volto logo. Com Estórias Mineiras.