Minha mãe escreve algo em um caderno e eu confiro coisas no caixa da loja dela. Quando, sem mais nem porquês, ela fala:
- Muitas vezes eu tive que impedir seu pai de bater em você...
Levanto os olhos sem entender o que ela pretende com aquilo e balbucio:
- Mas por quê?
- Porque chegavam falando que você parecia viadinho lá em casa e ele não gostava de ouvir as pessoas dizendo isto.
- E por que ele não brigava com as pessoas que diziam isso? Por que ele pretendia brigar comigo? Bater em mim?
- Era exatamente o que eu dizia a ele.
- Mas ele ia me bater assim, do nada, sem eu ter feito nada errado? Só porque alguém disse que eu parecia ser viado?
- Sim! Imagina só se você fosse...
E me olhou dos pés a cabeça, por cima dos seus óculos de armação de tartaruga, com um olhar frio, calculando.
- É... imagina só!
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
PRESENTE: Eu Devia...
Eu devia fechar as janelas e as cortinas deste quarto. Devia trancar a porta e desligar o computador. Devia fechar este blog e cancelar minha conta do MSN. Devia parar de sair a boates, tentar fazer amigos, arranjar sexo gratuito no Disponível ou Manhunt, parar de sonhar que um dia algum cara vai olhar pra mim e sorrir, sorrir porque viu em mim uma beleza que ninguém mais alcançou. Eu devia parar com tudo isso. Devia parar de sonhar.
Devia finalmente me conformar que eu não nasci para amigos eternos ou amores românticos, devia conseguir aceitar que eu nasci para a lama e caos, para puteiros e bordeis próximos a rodoviária de cidade grandes, que eu nasci para um viadinho e quanto mais luto para fugir do gueto a qual pertenço mais fico distante de uma suposta felicidade que eu poderia ter. Eu devia desistir de tudo. Devia!
Devia largar o doutorado e o sonho de ser professor universitário, meu lugar é como manicure num salãozinho, usando um short jeans justo e sandálias havaianas, juntando os parcos reais e entregando para um macho, que me bate e gasta o dinheiro com putas num bar próximo, mas eu acredito piamente que ele me ama. É esse o destino que está escrito em minha mão e eu teimo em renegar. E devia aceitá-lo, porque enquanto corro atrás daquilo que eu acho que eu mereço, um Deus irado fecha-me as portas e me empurra de volta, ele deve pensar: "Quem és tu, ratinho, que pensa que pode fugir do meu labirinto?".
Eu devia desistir e cortar os pulsos, pelo menos os pulsos desta figura que criei sobre mim, de bonito, de vencedor, de pegador, de homem feliz e realizado, desculpem-me todos os meninos que lêem meu blog e acreditam que alguém pode ser gay, feliz, realizado e vencer na vida, eu não consigo mais, e clamo, por favor, piedade!
Devia finalmente me conformar que eu não nasci para amigos eternos ou amores românticos, devia conseguir aceitar que eu nasci para a lama e caos, para puteiros e bordeis próximos a rodoviária de cidade grandes, que eu nasci para um viadinho e quanto mais luto para fugir do gueto a qual pertenço mais fico distante de uma suposta felicidade que eu poderia ter. Eu devia desistir de tudo. Devia!
Devia largar o doutorado e o sonho de ser professor universitário, meu lugar é como manicure num salãozinho, usando um short jeans justo e sandálias havaianas, juntando os parcos reais e entregando para um macho, que me bate e gasta o dinheiro com putas num bar próximo, mas eu acredito piamente que ele me ama. É esse o destino que está escrito em minha mão e eu teimo em renegar. E devia aceitá-lo, porque enquanto corro atrás daquilo que eu acho que eu mereço, um Deus irado fecha-me as portas e me empurra de volta, ele deve pensar: "Quem és tu, ratinho, que pensa que pode fugir do meu labirinto?".
Eu devia desistir e cortar os pulsos, pelo menos os pulsos desta figura que criei sobre mim, de bonito, de vencedor, de pegador, de homem feliz e realizado, desculpem-me todos os meninos que lêem meu blog e acreditam que alguém pode ser gay, feliz, realizado e vencer na vida, eu não consigo mais, e clamo, por favor, piedade!
terça-feira, 22 de setembro de 2009
A insana VIDA DE HEITOR RENARD
Pegaram um táxi saindo do Shopping DelRey, onde haviam comido uma pizza e visto um filme, Heitor e Igor então indicaram que o motorista seguisse para o Estúdio da Carne, Heitor passou as instruções ao motorista com calma e quando voltou-se para o jovem de nome russo e olhos claros como os habitantes de terras siberianas, este sorriu. Sorriu e aproximou-se pedindo um beijo. Heitor se incomodou. "O motorista". Igor não. "Não estamos pagando? Podemos fazer o que quisermos aqui!". Heitor não acreditou no que ouvira e outro continuava a tentar beijá-lo. Heitor negou-se. O garoto de olhos claros, com não mais de 21 anos, então segurou a mão do outro e tentou colocar sobre seu membro que fazia volume na calça. Heitor evitou a tempo, mas a mão do outro foi mais rápida e apertou as coxas duras do herói troiano. "Delícia de pernas!", feliz com o elogio, o troiano relaxou, e outro aproveitou e rápido encaixou sua mão e já apertava a bunda do outro por cima da cueca. "Hei, aqui não, calma, porra!". O outro cruzou os braços e se afundou neles, visivelmente chateado. "É que você não entende", começou a falar, "você é mais velho, mas eu sou jovem e o fogo é grande". Heitor se enfureceu. "Como é que é? Aguentar um tarado eu até consigo, mas aguentar você me chamando de velho é demais! Pára o carro!", o motorista olhou pelo retrovisor. "Isso mesmo! Pára que eu fico aqui mesmo!". Heitor levantou-se e abriu a porta saindo pelo lado da rua mesmo, chegou ao canteiro e acenou para outro táxi. Entrou, irritado, batendo a porta atrás de si. "Liberdade, por favor!", e o táxi zarpou.
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
PASSADO: Sol, Piscina e Beijos
O sol deixa o céu laranja enquanto se esconde atrás das montanhas do horizonte que nomeou a capital de Minas Gerais, eu e Lê estamos sentados em espreguiçadeiras enquanto algumas pessoas dão braçadas na piscina olímpica do Centro Esportivo Universitário da UFMG.
- Meu primeiro beijo foi com minha prima - comenta Lê, sorrindo - A gente tava treinando no banheiro lá de casa, p'ra aprender a beijar melhor.
- Nunca tive nada com primos, comento.
- E seu primeiro beijo?
- Ih, estória longa! - falo emendando um sorriso - Eu beijei dois meninos na adolescência, o André e o Marlon. Mas André foi apenas um selinho. O primeiro beijo de verdade eu devo ao Marlon. Mas os meninos da minha rua, os que participavam daquele clubinho que te contei, sabe?
- Eu queria era ter um clubinho desse também.
Risos.
- Bem os meninos do clubinho se pegavam, se comiam, trocavam, mas não se beijavam. Porque beijar era coisa de viado.
Mais risos.
- Então o Marlon me beijava, mas meio contrariado.
Muito mais risos.
- Coincidência ou não, meu primeiro beijo, aonde o cara queria mesmo me beijar só aconteceu aos 21 anos. Com um mineiro, chamado Marcelo, que eu conheci lá no pagode em Natal.
- E com meninas?
- Foi aos 17, a prima de uma vizinha. A qual não me recordo o nome, porque será?
Risos. E o sol continua a brilhar, enquanto mais pessoas dão braçadas.
- Meu primeiro beijo foi com minha prima - comenta Lê, sorrindo - A gente tava treinando no banheiro lá de casa, p'ra aprender a beijar melhor.
- Nunca tive nada com primos, comento.
- E seu primeiro beijo?
- Ih, estória longa! - falo emendando um sorriso - Eu beijei dois meninos na adolescência, o André e o Marlon. Mas André foi apenas um selinho. O primeiro beijo de verdade eu devo ao Marlon. Mas os meninos da minha rua, os que participavam daquele clubinho que te contei, sabe?
- Eu queria era ter um clubinho desse também.
Risos.
- Bem os meninos do clubinho se pegavam, se comiam, trocavam, mas não se beijavam. Porque beijar era coisa de viado.
Mais risos.
- Então o Marlon me beijava, mas meio contrariado.
Muito mais risos.
- Coincidência ou não, meu primeiro beijo, aonde o cara queria mesmo me beijar só aconteceu aos 21 anos. Com um mineiro, chamado Marcelo, que eu conheci lá no pagode em Natal.
- E com meninas?
- Foi aos 17, a prima de uma vizinha. A qual não me recordo o nome, porque será?
Risos. E o sol continua a brilhar, enquanto mais pessoas dão braçadas.
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
PRESENTE: Surreal
Após esperar Pombinha e a namorada na porta do Gis por quase uma hora, finalmente entramos. Primeira vez das meninas na boate quer dizer que temos que mostrar o lugar a elas. Do hall com o imponente candelabro de cristais, deparamo-nos com as escadas: para o curto lance descendente, encontramos a pista em que o dj tocava o tribal comum aquele lugar, meninos dançam ao som de um pout-porri de Michael Jackson; o bar, a direita, anexo a área vip, está apinhado de pessoas pedindo cervejas, caipirinhas e energéticos, ainda é cedo para as primeiras doses de tequila; ao fundo, ladeado por um manequim vestido como Halle Barry em Mulher-Gato, está o palco onde dois go-go boys cariocas apresentam o seu show; no centro, um queijo, com um pole, onde poucas meninas brincam, e um aspirante a drag queen faz um show melhor do que qualquer uma delas. O lance ascendete leva para um pequeno bar, algumas mesas, separadas de uma segunda pista por alguns degraus, lá, onde a música ao vivo da própria dona do lugar e convidados animam um público majoritariamente feminino. À esquerda da pista uma pequena área vip, ao fundo um novo bar, banheiros, e um lounge com imensos painés com fotos de divas, atrás de nós uma sala com sinucas e painés com belas fotos de meninas trocando beijos.
Aquela parte está bem mais lotada que a anterior, ainda é cedo. Paramos naqueles degraus, então, para observar e ouvir a música. Quando, de repente, sinto uma mão tocando minha cabeça. Eu havia recentemente a raspado, com raiva de meus cabelos desobedientes, resolvi mantê-los à maquina 0.5, decisão tomada e executada, ouvi o dono da mão dizer. "Olha só, que macio!". Pombinha e eu nos entreolhamos. "É sim, uma delícia de pegar, vê só". Antes que eu pudesse me virar, para saber quem fazia aquilo, ou melhor, o que de fato estava acontecendo, mais mãos tocam minha cabeça e novas vozes masculinas repetem o que o primeiro diz e completam: "Achei que não tinha mais cabelo, mas tem, uma delícia de ficar passando a mão". Novo olhar entre eu e Pombinha, tento me virar, mas o primeiro agora desliza a mão pelo meu peito e fala: "E o peitoral dele também é uma delícia". Só consigo pensar em uma coisa, e o filtro entre mente e fala parece que não estava muito ativo neste instante: "Que porra é isso acontecendo aqui?", os três que me bolinam então riem, uma mão desce agora até minha barba. "É! Até a barba dele é gostosa!", dessa vez consigo vê-lo e ele sorri para mim, sorri e se afasta e os dois amigos o seguem. "Que porra foi isso aqui?", volto-me as meninas que somente riem. "Surreal, surreal!".
Aquela parte está bem mais lotada que a anterior, ainda é cedo. Paramos naqueles degraus, então, para observar e ouvir a música. Quando, de repente, sinto uma mão tocando minha cabeça. Eu havia recentemente a raspado, com raiva de meus cabelos desobedientes, resolvi mantê-los à maquina 0.5, decisão tomada e executada, ouvi o dono da mão dizer. "Olha só, que macio!". Pombinha e eu nos entreolhamos. "É sim, uma delícia de pegar, vê só". Antes que eu pudesse me virar, para saber quem fazia aquilo, ou melhor, o que de fato estava acontecendo, mais mãos tocam minha cabeça e novas vozes masculinas repetem o que o primeiro diz e completam: "Achei que não tinha mais cabelo, mas tem, uma delícia de ficar passando a mão". Novo olhar entre eu e Pombinha, tento me virar, mas o primeiro agora desliza a mão pelo meu peito e fala: "E o peitoral dele também é uma delícia". Só consigo pensar em uma coisa, e o filtro entre mente e fala parece que não estava muito ativo neste instante: "Que porra é isso acontecendo aqui?", os três que me bolinam então riem, uma mão desce agora até minha barba. "É! Até a barba dele é gostosa!", dessa vez consigo vê-lo e ele sorri para mim, sorri e se afasta e os dois amigos o seguem. "Que porra foi isso aqui?", volto-me as meninas que somente riem. "Surreal, surreal!".
terça-feira, 8 de setembro de 2009
EXTRA, EXTRA, EXTRA: Heitor e/ou Foxx?
Ser duas pessoas causa problemas. Ter duas identidades causa tumultos. Porque tem horas que você deveria agir como uma, mas age como outra, tem horas que devia ser uma, mas acaba sendo outra. É o que há comigo, entre o Heitor Renard e o Foxx. Contemos o caso em detalhes. Que fique claro, o Heitor Renard que protagoniza a série A ... VIDA DE HEITOR RENARD sou eu. Heitor é aquilo que eu não gosto de ser, mas sou obrigado a ser pelas circunstâncias que vivo. Heitor é o garanhão que leva facilmente qualquer um para cama, levanta-se, veste sua roupa e vai embora. Não olha para trás, e enquanto desce a escada apaga o número do fulaninho da agenda. É o que repete orgulhosamente que "figurinha repetida não completa album". Heitor é a minha vingança com todos os homens que fizeram o mesmo comigo. Que me usaram e me jogaram fora. Através dele faço o mesmo a outros.
O Foxx, a raposa que esconde meu nome verdadeiro, é o extremo oposto. O Foxx é o menino que espera a ligação, que se magoa todas às vezes que é desprezado e usado, é a vítima que o Heitor cria. Minha promessa aqui, então, desde abril, é que a partir daquela data sufocaria o Foxx e deixaria Heitor Renard lidar com minha vida sentimental e sexual. O Foxx continuaria lidando com o meu doutorado e com meus amigos, coisas que ele sabe fazer; Heitor trataria daquilo que o Foxx não sabe lidar, ou melhor, aquilo que quando o Foxx assume sempre faz com que eu sofra.
Simples? Não né? Por isso algumas confusões às vezes acontecem. Sempre quando o Foxx resolve se meter nos assuntos que ele não conhece. Temos dois casos recentes, dois homens maravilhosos que o Heitor apresentou a todos nós, mas o Foxx resolveu cuidar deles. O primeiro, com nome de artista mineiro barroco, que chegou-se a mim elogiando meu sorriso, pagando uma bebida num bar indie, e salvando uma noite em que o carão reinava. Artista plástico e dono de uma exportadora, ele me deu uma carona até em casa, e falamos de arte, musicais da Broadway, cinema realista alemão, taxas de conversão de dollar, e não fizemos sexo, porque o Foxx gritava dentro de minha cabeça: "Se você fizer sexo, ele nunca mais vai querer te ver de novo", e ele foi para casa dizendo que tava subindo pelas paredes, que eu o deixei louco de tesão, e eu o fiz prometer que me ligaria no dia seguinte. Ele sumiu. Não ligou, eu liguei, ele atendeu desconfiado e prometeu ligar-me em seguida porque estava "um tanto ocupado naquele momento". Eu desliguei o telefone e apaguei o número dele da agenda do celular. Nunca mais o vi.
Terça feira última, antes do feriado de independência, o Foxx agiu de novo. Heitor nos apresentou um novo príncipe. Bonito, publicitário, dançarino de dança de salão nas horas vagas, dono de uma loja de roupas num dos shoppings mais badalados da cidade, o Foxx o encontrou na Pampulha, um programa de domingo para famílias, caminhar pela orla e conversar sentados nos bancos ou na grama. O Heitor o encontraria aqui em casa, não daria tempo para conhecê-lo, somente o jogaria na cama e pronto, para quê conhecer as belíssimas qualidades de alguém que provavelmente sumiria? Porém o Foxx conheceu e se encantou e o primeiro beijo deles soou como um conto de fadas naquele gramado. A lua alta no céu, banhando de prata a lagoa, os olhos deles se encontraram, o menino cujo nome significa moreno sorriu um sorriso de marfim e o Foxx se inclinou para beija-lo. Foi um beijo simples, delicado, que outros se seguiram. O moreno sussurou ao Foxx que ele era um tesão, apertou suas pernas, repetindo o elogio, e foi quando a raposinha que protege minha real identidade decidiu que não iria fazer sexo com ele. Heitor gritou "não", dentro de minha cabeça! Dizia "aproveita que esse cara vai sumir depois". "Que chance você terá com ele de novo?" Mas o Foxx acreditava, o papo estava bom, já era 20h e eles haviam se conhecido as 16:30, só saíriam de lá uma hora depois, e ele tinha dito: "não tenho nada que possa ser melhor a fazer do que ficar com você aqui". O Foxx acreditava piamente que ele gostaria de um segundo encontro, no terceiro o sexo poderia acontecer. Perfeito. Ele, no entanto, não prometera ligar quando se despediram. O Foxx esperou um dia, ligou na quinta feira convidando-o para uma festa na universidade, ele disse que já tinha compromisso, e se despediram; no sábado, nova ligação mas desta vez não atendida, que é retornada minutos depois. "Quem é que 'tá falando?", o Foxx admite que era ele. O moreno atendeu desconfiado e prometeu ligar-me em seguida porque estava "um tanto ocupado naquele momento". Desta vez foi o Heitor que desligou o telefone e apagou o número dele da agenda do celular. Ele havia apagado o telefone do celular dele, por isso não sabia quem havia telefonado. Nunca mais o vi.
Por isso que digo, cada um tratando de seus respectivos assuntos. Trabalho, vida acadêmica, família e amigos, deixa que o Foxx cuida. E muito bem. Vida amorosa e sexual são o departamento do senhor Heitor Renard. Voltando agora com mais certeza de que ele é o único que pode me proteger desse mundo lá fora.
O Foxx, a raposa que esconde meu nome verdadeiro, é o extremo oposto. O Foxx é o menino que espera a ligação, que se magoa todas às vezes que é desprezado e usado, é a vítima que o Heitor cria. Minha promessa aqui, então, desde abril, é que a partir daquela data sufocaria o Foxx e deixaria Heitor Renard lidar com minha vida sentimental e sexual. O Foxx continuaria lidando com o meu doutorado e com meus amigos, coisas que ele sabe fazer; Heitor trataria daquilo que o Foxx não sabe lidar, ou melhor, aquilo que quando o Foxx assume sempre faz com que eu sofra.
Simples? Não né? Por isso algumas confusões às vezes acontecem. Sempre quando o Foxx resolve se meter nos assuntos que ele não conhece. Temos dois casos recentes, dois homens maravilhosos que o Heitor apresentou a todos nós, mas o Foxx resolveu cuidar deles. O primeiro, com nome de artista mineiro barroco, que chegou-se a mim elogiando meu sorriso, pagando uma bebida num bar indie, e salvando uma noite em que o carão reinava. Artista plástico e dono de uma exportadora, ele me deu uma carona até em casa, e falamos de arte, musicais da Broadway, cinema realista alemão, taxas de conversão de dollar, e não fizemos sexo, porque o Foxx gritava dentro de minha cabeça: "Se você fizer sexo, ele nunca mais vai querer te ver de novo", e ele foi para casa dizendo que tava subindo pelas paredes, que eu o deixei louco de tesão, e eu o fiz prometer que me ligaria no dia seguinte. Ele sumiu. Não ligou, eu liguei, ele atendeu desconfiado e prometeu ligar-me em seguida porque estava "um tanto ocupado naquele momento". Eu desliguei o telefone e apaguei o número dele da agenda do celular. Nunca mais o vi.
Terça feira última, antes do feriado de independência, o Foxx agiu de novo. Heitor nos apresentou um novo príncipe. Bonito, publicitário, dançarino de dança de salão nas horas vagas, dono de uma loja de roupas num dos shoppings mais badalados da cidade, o Foxx o encontrou na Pampulha, um programa de domingo para famílias, caminhar pela orla e conversar sentados nos bancos ou na grama. O Heitor o encontraria aqui em casa, não daria tempo para conhecê-lo, somente o jogaria na cama e pronto, para quê conhecer as belíssimas qualidades de alguém que provavelmente sumiria? Porém o Foxx conheceu e se encantou e o primeiro beijo deles soou como um conto de fadas naquele gramado. A lua alta no céu, banhando de prata a lagoa, os olhos deles se encontraram, o menino cujo nome significa moreno sorriu um sorriso de marfim e o Foxx se inclinou para beija-lo. Foi um beijo simples, delicado, que outros se seguiram. O moreno sussurou ao Foxx que ele era um tesão, apertou suas pernas, repetindo o elogio, e foi quando a raposinha que protege minha real identidade decidiu que não iria fazer sexo com ele. Heitor gritou "não", dentro de minha cabeça! Dizia "aproveita que esse cara vai sumir depois". "Que chance você terá com ele de novo?" Mas o Foxx acreditava, o papo estava bom, já era 20h e eles haviam se conhecido as 16:30, só saíriam de lá uma hora depois, e ele tinha dito: "não tenho nada que possa ser melhor a fazer do que ficar com você aqui". O Foxx acreditava piamente que ele gostaria de um segundo encontro, no terceiro o sexo poderia acontecer. Perfeito. Ele, no entanto, não prometera ligar quando se despediram. O Foxx esperou um dia, ligou na quinta feira convidando-o para uma festa na universidade, ele disse que já tinha compromisso, e se despediram; no sábado, nova ligação mas desta vez não atendida, que é retornada minutos depois. "Quem é que 'tá falando?", o Foxx admite que era ele. O moreno atendeu desconfiado e prometeu ligar-me em seguida porque estava "um tanto ocupado naquele momento". Desta vez foi o Heitor que desligou o telefone e apagou o número dele da agenda do celular. Ele havia apagado o telefone do celular dele, por isso não sabia quem havia telefonado. Nunca mais o vi.
Por isso que digo, cada um tratando de seus respectivos assuntos. Trabalho, vida acadêmica, família e amigos, deixa que o Foxx cuida. E muito bem. Vida amorosa e sexual são o departamento do senhor Heitor Renard. Voltando agora com mais certeza de que ele é o único que pode me proteger desse mundo lá fora.
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