Google+ Estórias Do Mundo: Os Cavaleiros de Hela

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Os Cavaleiros de Hela

, em Belo Horizonte - MG, Brasil
 (foto de minha autoria)

Eles estão vindo. Ele ouve o barulho no escuro. Os passos apressados. As palavras aterradoras. Eles falam contra nós. E estão vindo. Estão vindo. Ouve o barulho de armas e punhos cerrados. Escuta o ódio que vaza aos borbotões. Escuta a morte, Hela, que abençoa seus cavaleiros. Eles estão vindo. Eles desejam o sangue. O sangue de inocentes. Seu ódio, pelo outro, por aquele que não é como eles.  Odeiam quem é diferente. Eles estão vindo. Chegaram. Mas ele não foi rápido o suficiente para escapar ao primeiro soco.
Eles gritam a todo pulmão, sem vergonha. "Monstro", gritam! "Anormal", gritam! "Viadinho", gritam! E puxam. Puxam o seu corpo assustado que cai inerte e chutam. Eles que chegaram, do escuro, chutam o corpo que está no chão e xingam. "Você não é normal", "Você é contra a natureza", "Você não é de Deus"! No chão, ele sangra. A costela se rompe, o pâncreas é perfurado, mas é o bílis do outro que o inunda. Porque eles chegaram.
E ele do chão ergue os olhos em volta, e pede ajuda. Estão ali, ao redor todos como ele, iguais a ele, frágeis como ele. Mas não vêem o sangue que ele cospe, e não ouvem as palavras que eles gritam para ele. Ele ergue seus olhos, que agora têm dificuldade de olhar para o céu e implora ajuda. Mas Ele também não o atende. Eles, lotados de ódio, são os únicos que o vêem. Os iguais não querem vê-lo ali no chão, sangrando, porque sabem que podem se tornar os próximos. Os iguais se escondem, de medo, atrás da cegueira. 
Mas eles terminaram de matar mais um inocente. E saíram, e nenhum dos iguais os viu, porque os diferentes nem notaram. O sangue de mais um está no concreto do calçamento. Mais um corpo jaz inerte agora, e agora ele é igual a todos os outros que jazem inertes. Aos mortos. Os cavaleiros de Hela que perseguem os diferentes agora saem a caça de seu próximo alvo. Um daqueles iguais que se esconderam. Eles estão vindo. Ele ouve o barulho no escuro. Os passos apressados. As palavras aterradoras. Eles falam contra nós. E estão vindo. Estão vindo.


Dia 02 de Abril de 2011, numa calourada de Letras, da Faculdade Federal de Minas Gerais, cinco homossexuais foram agredidos em manifestações de homofobia. Ninguém, afirmam os presentes, gays e heterossexuais, viu os casos acontecendo. A própria universidade se recusa a acreditar que tais casos realmente aconteceram. As pessoas têm medo de ver, acredito, até o dia que eles chegarem até você. 

15 comentários:

  1. A vergonha maior vem dos iguais q se omitem! E olha q é no contexto de uma Universidade ... Pobre do ser humano!

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  2. Deus,a té quando passaremos por isso. Fechar os olhos para o que ocorre em frente aos nossos olhos é um ato de covardia. Parece que vivemos num mundo covarde.

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  3. Caraca, não dá para acreditar em uma coisa dessas... isso porque a UNIVERSidade é um lugar de pluralidade, dialogo e pensar...

    É em horas como essas que ficamos em dúvidas se estamos realmente evoluindo ou apenas fingimos que melhoramos!

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  4. a UFMG me decepcionou muito com essa omissão!

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  5. Depois me perguntam se eu estou brincando que ando com um canivete no bolso da mochila.

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  6. pior do que virar coisa normal e virar coisa comum...

    triste, acho que aqui não tem mais jeito

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  7. nota: na universidade, que profissionais excelentes sairão daí...

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  8. Foda! Não sabe de, infelizmente, mais este caso.

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  9. Treinemos as amigues em combate desarmado? Em combate com facas? Porque, sério.

    Não dá pra ficar dando mole por ai. Se ninguém olha pela gente, temos que dar um jeito de nos safarmos por nós mesmos.

    Beijo Primo.

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  10. Ateh quando? Banalizar o ser humano... não basta perceber que são humanos contra humanos? que barbárie é esta?

    Enfim... os iguais que se escondem colaboram para que existam outros tantos agredidos... Se todos saíssem dos armários, em cada familia teríamos uma luz para clarear pensamentos na fonte!

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  11. Isso é de deixar pasmo, dentro de uma instituição de ensino superior, afinal, o que tem de superior???

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  12. Quando vejo esse tipo de coisa medieval acontecendo, me pergunto como podem pessoas teorica e oficialmente civilizadas se comportarem assim.

    Porque a omissão da instituição é conivência, cumplicidade!

    Triste, isso, muito triste.

    Sobre animais que cometeram o crime não dá nem pra comentar.

    Até quando?

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  13. Fico fascinado com a sua habilidade de criar estórias. Parabéns meu lindo! Esse é um dom que poucos possuem.

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  14. Eu acreditava que nós, homossexuais tinhamos conseguido sair da escuridão para a sociedade estávamos sendo bem aceitos. Mas nos últimos meses eu tenho visto tanta coisa... Coisas que estavam em baixo do tapete. Não estamos seguros. Não estamos saindo da escuridão. Estamos mergulhando em uma maior ainda. E não há ninguém para nos ajudar. Ninguém...

    Bjs

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  15. Sério que isso aconteceu na UFMG e eu não fiquei sabendo antes??? Tô pasmo...

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway