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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Politicagem Hipster

, em Natal - RN, Brazil
É impressão minha ou a esquerda virou mainstream? Desde a eleição de Lula e o aparecimento do fenômeno hipster na cultura pop, o cúmulo do niilismo sobre o niilismo, temos visto a ascensão de um novo tipo de intelectual de classe média, meio fotógrafo, sempre publicitário (mesmo que nunca tenha pisado em uma faculdade, mas ostenta o título nas mídias sociais acompanhado com um adjetivo irônico), o Comentador de Direita. Comentador, apenas, porque é nos seus comentários nas Mídias Sociais (Facebook, Twitter, LinkedIn, blogs); e nunca, mas nunca mesmo, na produção de ensaios e discussões mais aprofundadas e maiores do que uma única lauda; que ele manifesta suas opiniões sobre o mundo, a sociedade, a política, isto é, o mundo real. O Comentador de Direita surge em detrimento do Sindicalista de DCE e os Socialistas de Beira de Piscina que estão cada vez mais fora de moda.
É interessante ver como, todavia, estes grupos têm coisas em comum. Ambos são formados por jovens estudantes ingressando no mundo acadêmico e descobrindo seu poder transformador no mundo ou, pelo menos, alguém que passou por esta fase e continuou lá. Contudo, os de esquerda, nossos intelectuais old fashion, tão populares nos anos anteriores a eleição de Luís Inácio Lula da Silva como presidente, foram formados em um ambiente intelectual de repressão política e sérias restrições econômicas. Oriundos de um Brasil extremamente pobre, a transformação/salvação brilhava nas páginas do Manifesto Comunista como um farol, as promessas utópicas de Karl Marx, reforçadas pela excelente análise sobre o modo de produção capitalista, eram o escape ideal para imaginar que este país poderia sim ser o país do futuro. Além disso, a vaidade intelectual também cobria muitos. Em um universo intelectual em que ser inteligente era dominar as ciências humanas, que Psicologia, História, Antropologia e Ciência Política eram as disciplinas da elite pensante do país, era nos centros estudantis destas faculdades que tudo acontecia.
Mas aí chegamos ao novo milênio, elegemos Lula em 2002, a internet se espalhou por todo este país varonil, em 2006 o Twitter dá o ar de sua graça, Steve Jobs lançou o iPhone em 2007, e tudo mudou na senda dos intelectuais brasileiros. De repente, não mais do que de repente, aquele nerd (ser associal que somente sabia sobre computadores, sci-fi e e língua élfica) tornou-se o novo modelo de intelectual. Repetiu-se: smart is the new sexy. Mas é um novo modelo de inteligência. Diz-se mais inteligente que o antigo, mas que abandona todo o conhecimento filosófico e histórico construído pela tradição ocidental em nome do novo, da descoberta, da invenção. Este novo intelectual de conhecimento meramente técnico programa computadores e constrói códigos e pode, do dia para noite, tornar-se um milionário ao vender uma de suas ideias que desenvolveu na garagem da sua mãe para uma gigante internacional. 
Este novo intelectual, que não é capaz de relações sociais (inclusive manifestando isso através de síndromes como Tourette, Bipolaridade, entre outras) porque é inteiramente analfabeto em métodos de avaliação do mundo que está ao redor dele dado que passou a própria adolescência e toda a sua formação acadêmica construindo um universo só para ele, torna-se o novo modelo e é imitando este novo nerd que surgem nossos personagens. Eles nasceram e cresceram em outro um ambiente, em um país cujo novo estado econômico e uma democracia nunca antes experimentada criaram uma juventude yuppie anacrônica que visava, somente, seu sucesso no futuro.
Óculos quadrados, camisetas com personagens de filmes sci-fi, quadrinhos e livros de fantasia em uma mão e um smartphone na outra, esta é a descrição destes Comentadores de Direita que só existem, como nerds, atrás de suas telas. Fora do ambiente virtual estes homens e mulheres não existe, porque incapazes de avaliar o mundo como ele realmente é, estes Comentadores precisam da segurança e do recorte que o mundo virtual garante a eles. Segurança porque, escondidos atrás de seus nicks, eles se tornam quem desejam ser, elencam personagens que se fazem sucesso entre seus amigos ou seguidores permanecem, mas se não são facilmente substituídos e transformados em outros, podem ser homens ou mulheres ou mesmo uma Sailor Moon independente do sexo de quem está entre a cadeira e o teclado. Recorte porque estes novos intelectuais de direita não aprenderam, porque nunca ouviram falar nisso, que existem, no mínimo, duas verdades para cada fato, e que uma não exclui a outra. O raciocínio binário não comporta esta percepção da realidade, mas o mundo real não é binário, não é preto ou branco, ele tem uma gama de cores, padronagens e, me desculpem, salmão não é apenas um peixe e o pufe fica melhor perto da ráfia. 
O conhecimento, e era isso que se aprendia dentro das faculdades de ciências humanas que, agora, são tão mainstream, é que o mundo é absurdamente mais complexo do que 140 caracteres podem responder, que discursos irônicos não conseguem transmitir nenhuma verdade e que críticas de verdade só podem ser feitas quando se demonstra o começo, o entremeio e um modo de resolver o problema. E eu ofereço um: parem! Simplesmente parem! Primeiro porque inteligência sem capacidade emocional de lidar com a realidade é um problema sério que precisa ser tratado e não estimulado porque faz garotos espinhentos se tornarem milionários do dia para noite, a maioria deles continua sendo homens espinhentos sem pódio de chegada ou beijo de namorada. Segundo porque inteligência sem capacidade crítica de lidar com a informação não é inteligência é treinamento especializado e até peixes dourados em aquários podem ser treinados para fazer alguns truques, aprender a programar não é nada mais do que ensinar a alguém um imenso truque, saber, no entanto, avaliar este conhecimento para reconhecer o que ele significa em um nível maior dentro da história da Humanidade é que significa alguma coisa. Neste caso, o mesmo vale para os antigos Sindicalistas e Socialistas, Karl Marx sucks! Antes de comentarem sobre o mundo, criticá-lo, é bom entendê-lo e isso somente com bastante pesquisa e bastante experiência na maior variedade possível de atividades, então, antes de ironizar qualquer coisa, acho que é bom experimentá-la de peito aberto. Vale mais a pena!

12 comentários:

  1. Quase tive um receio de me enquadrar neste grupo, mas já passou. Rs

    Beijo!

    E qualquer dia vamos para o Japão, acho que dou para um guia... Rsrs

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    1. Vc nunca seria parte deste grupo, amigo, vc não é desses.
      =)

      gente, eu no Japão? Eu não consigo nem ir te visitar, quanto mais sair do país.

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  2. Disse tudo, Foxx... mas eu escreveria o trecho "de repente aquele nerd tornou-se o novo modelo de intelectual" de outra forma: "de repente aquele nerd fez surgir o geek, um novo modelo de intelectual".

    Uma ilustração pro seu post: http://iranwire.com/sites/default/files/u67/mana_facebookrevolt_01.jpg

    Abração!

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    1. gente que surpresa vc aqui e, de fato, a forma que vc escreveu ficou bem melhor mesmo!

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  3. De peito aberto (quase) tudo é mais gostoso mesmo... ;)

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  4. Nada como uma boa dose de lucidez! Passa lá no banheiro que tem coisa nova!

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  5. Interessante, nem eu sei falar japonês. Rs

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  6. Eu gostei, parece sinopse de livro de distopia.

    Mu gusto muito principalmente esse trecho aqui: "porque inteligência sem capacidade emocional de lidar com a realidade é um problema sério que precisa ser tratado e não estimulado porque faz garotos espinhentos se tornarem milionários do dia para noite, a maioria deles continua sendo homens espinhentos sem pódio de chegada ou beijo de namorada. "

    Nada contra ele ficarem milionários do dia pra noite ou vice-versa, mas essa falta de sensibilidade, capacidade emocional é tão doentia e ofensiva. Na internet, essa terra de ninguém, todo merdinha ganha coragem e abastece sua armadura de RPG com declarações preconceituosas e fora da realidade, aquela "real" mesmo.

    Mas eu confesso que sou muito negligente com política, mesmo sendo absurdamente necessário para um feminismo social pleno, que é realmente a minha praia. Pretendo ir consertando isso aos poucos.

    Ótimo texto!

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway