Google+ Estórias Do Mundo: Três Dicas Para 2014

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Três Dicas Para 2014

, em Natal - RN, Brazil



O ano de 2014 será ano de eleição. E estamos órfãos, caríssimos! A população LGBT que segundo pesquisas representa pelo menos 10% da população brasileira está orfã nas próximas eleições. Nenhum partido ou candidato, ninguém nas eleições para o executivo, levantará nossa bandeira novamente e, mesmo que faça, a lição deixada por Dilma Rousseff, o PT e a Comissão de Direitos Humanos nos prova que somos moeda de troca, que valemos antes da eleição nossos votos, mas que também seremos facilmente abandonados quando nossos interesses forem de encontro com o de outras bancadas. Votaremos para ser trocados de novo?
Porém como não votar? A democracia é o respeito à vontade da maioria, mas a vontade da maioria que se manifestou. Votar nulo não é um ato de protesto, é deixar nas mãos dos outros a responsabilidade sobre nossa própria vida. Agora, mais do que antes, precisamos nos posicionar de forma muito clara para que os nossos políticos reconheçam que não estamos dispostos a ser enganados de novo. E como faz isso? Dou três dicas:

1) Conscientize-se e informe-se.

Não adianta de nada reclamarmos da política no Brasil e dos políticos que não nos representam, mas não lembramos em quem votamos, não cobramos dos nossos representantes eleitos aquilo que prometeram e não nos informamos sobre o que está acontecendo ao nosso redor, sobretudo, aquilo que nos afeta diretamente. Graças a internet, todavia, temos a possibilidade única de nos informarmos: blogs, sites, páginas no Facebook disponibilizam informação gratuitamente, mas sempre caberá somente a nós parar por alguns minutos no dia e lermos as notícias, pesquisarmos mais informação e juntarmos tudo a partir de nossa própria consciência crítica ou, trocando em miúdos, também precisamos não acreditar em tudo que falam por aí.
Mas, além disso, é preciso fazer um esforço de entender política. Entender quais os grupos estão em disputa. De que lado está o PSDB, de que lado está o PT, saber reconhecer a diferença entre o lado que eles dizem está e onde eles realmente estão. E, mais importante, de que lado você está e/ou pensa que está. Uma questão, inclusive, que a militância gay precisa superar é que como nossa ausência de direitos e cidadania não respeita classe social, o grupo se divide em relação a outras questões que historicamente defendeu, não obstante se reunir sob o propósito de lutar pela defesa dos direitos de todo homem ou mulher homossexual, bissexual ou transexual neste país. Um parêntese talvez precise ser aberto aqui: é bom todo mundo saber que o movimento gay nasceu anarquista e punk, chegou a ser comunista e de esquerda e acomodou-se na década de 1990 aliado da direita e yuppie. Todo este arcabouço unido que levantou nossas reinivindicações de hoje e, felizmente, nos permitiu nossa consciência de diversidade.

2) Posicione-se publicamente. 

Vivemos na época do Twitter, Facebook, Instagram e outras três mil redes sociais. E por causa destas postagens podemos fazer com que pessoas que não vivem o que nós vivemos possam experienciar aquilo que experimentamos. Falamos sobre comida, sobre filmes, sobre programas de tv, compartilhamos nossas opiniões sobre todo o tipo de assunto considerando que quem está do outro lado da tela do computador está interessadíssimo em nossa opinião, porém, estranhamente, não nos manifestamos quando o assunto é política. 
Nós, a população LGBT, é quem precisa estar atenta aquilo que nos afeta. E quando algo surgir, alguma ameaça, que pode nos prejudicar, cabe a nós colocarmos a boca no trombone. A reação, por exemplo, contra o Feliciano só aconteceu porque nós expusemos a pessoa que ele era. Sua situação se tornou um imenso escândalo político do governo Dilma e de todo o Congresso porque nós reclamamos nas mídias sociais. Sem nós não haveria a menor atenção sobre ele (inclusive foi por isso que ele foi escolhido para o cargo; por ser, apesar de racista e homofóbico, politicamente inexpressivo). 
Sendo assim, é hora de todo cidadão LGBT deste país ser um cabo eleitoral ao contrário. É hora de tomarmos para nós a tarefa de expôr os podres de cada um destes políticos que se posicionou contra nós. É hora de retirar deles os votos de nossos conhecidos, amigos e familiares. Se as pesquisas dizem que somos somente 10% da população, tomemos por nossa responsabilidade mudar o voto de cinco, somente cinco pessoas. Multiplique então 5 x 10% e você verá uma revolução.

3) Saia do armário.

Não adianta lutar, comentar, se informar, etc, se o ato político mais importante que um homem gay ou bissexual, uma mulher lésbica ou bissexual pode fazer ainda não se realizou. Foi por causa do movimento yuppie, em que gays a partir de 1980 e 1990 deixaram de lutar contra o sistema e passaram a tentar fazer parte dele, que o ato de assumir-se gay deixou de ser um manifesto libertário para tornar-se algo de foro íntimo. Estes homens e mulheres preocupados em manter seus empregos e viver uma vida sem perseguições afirmavam que isto não era da conta de ninguém. Uma bela mentira, por sinal.
De fato, assumir-se pode trazer inúmeros problemas. Há quem é expulso de casa pela família (check!), os que perdem os amigos, os que são demitidos de seus empregos ou sequer contratados (check!) ou não podem chegar a crescer dentro de empresas, e há também os que acontece tudo isso junto. Foi tentando evitar estes reveses que os jovens americanos pregavam que ser gay era algo que só devia ser mencionado dentro de quatro paredes. Porém, não obstante estes fatos, assumir-se gay é algo que você não faz para você mesmo, mas para os outros. 
Eu lembro sempre de um filme, Wedding Wars, com John Stamos (de Três é Demais) e Eric Dane (de Grey's Anatomy), um daqueles filmes B americanos, daqueles que vão direto para DVD. O filme trata da história de Ben (Dane) que faz um discurso para o governador apoiando uma lei que proibe o casamento gay, Shel (Stamos), irmão de Ben, gay, que planejava o casamento do irmão com a filha do governador suspende a organização do casamento e entra em greve. Ele faz um protesto diante da casa do governador e da noiva, o que causa um comentário negativo de um jornalista que ironiza dizendo que o mundo não precisa de gays porque eles ocupam apenas profissões supérfluas, esse comentário causa uma mobilização de todos os gays de outras profissões, jornalistas e câmeras são os primeiros a entrar em greve no ar; advogados, dentistas, professores e toda espécie de profissionais também entram em greve apoiando o personagem de Stamos. 
A ideia é perfeita, mas impraticável no mundo real porque simplesmente as pessoas teriam medo de assumir-se. O Brasil inclusive passou pelos riscos de exigir uma situação assim. A Comissão de Direitos Humanos estava em vias de decidir que ser gay era uma doença, o melhor protesto que se poderia fazer, com certeza, era que todos os homens gays e mulheres lésbicas deste pais faltassem ao trabalho no dia seguinte alegando estar com um sério caso de homossexualismo. Muitos inclusive deveriam entrar na Previdência Social com suas aposentadorias por invalidez, mas cadê que, argumentando que assumir-se é uma questão íntima, alguém teria a coragem?
Quando nós nos assumimos, quando tomamos para nós a bandeira do arco-íris, nós nos tornamos parte de um grupo político. Não é dizer para o seu amiguinho da escola que você gosta de beijar meninos, assumir-se gay é se posicionar politicamente contra uma série de posicionamentos machistas, sexistas e homofóbicos que regem o universo binário heterossexual em que homens têm um papel e mulheres outros. Além disso, nos tornamos exemplos. Assumir-se gay é assumir-se para o outro também, para a família, para os amigos, para o colega de trabalho, afinal muitas pessoas afirmam por ai que não conhecem nenhum homem gay ou nenhuma mulher lésbica, porém convivem com um em algum lugar e nem desconfiam. Como então esta pessoa vai apoiar os direitos desta minoria se ela não conhece absolutamente ninguém com quem possa relacionar aqueles problemas? Precisamos sair e mostrar a cara, mostrar que somos muitos, e que podemos fazer a diferença sim. Ou juntar as malas e fugir para a Argentina, são as únicas opções.


14 comentários:

  1. De há muito tenho meu posicionamento ... VOTO NULO assim mesmo pq o voto é obrigatório ...

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    1. O voto nulo não é um protesto, Paulo, é abrir mão da decisão, é abrir mão do processo político, mas você tem todo esse direito, com certeza.

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  2. o que é foda nisso tudo é que se algum de nós se colocar, ou até mesmo formar um partido seremos os primeiros a falar, a negar e achar absurdo. isso é o lado triste desses 10%.
    temos uma considerável parte do poder, só precisamos nos apoiar e lutar pelo nosso direito.

    ass: anonimo.com (direto de um pc que não é o seu)

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    1. Exato, Anônimo, temos um poder considerável sim, porque também podemos influenciar outras pessoas, mas precisamos estar unidos em torno do mesmo objetivo, se cada um lutar por si só a força será sempre reduzida. Torço para 2014 ser o ano em que a comunidade gay brasileira finalmente se uniu.

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  3. Acho que devemos nos posicionar politicamente sim, inclusive nas redes sociais, porque realmente faz parte das nossas vidas, assim como aquele prato gourmet do novo restaurante italiano da cidade, e deve ser celebrado!
    Quanto ao assumir... estamos trabalhando nisso.

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  4. Adorei as dicas, mas confesso que sair do armário será problema pra muitos!!!

    Vim te desejar um ótimo 2014, cheio de realizações e coisas boas! Beijos!!!

    *DB*

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    1. De fato é difícil convencer as pessoas a saírem do armário, né, Dani, mas também é preciso conscientiza-las do quão isso é importante né?

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  5. Venho a um tempo pulando de blog em blog buscando algo que, de alguma forma me cative. Enfim encontrei este, onde a sensibilidade do autor (Foxx, o nome ainda não me é familiar) me impressionou.

    E quanto ao post, nossa melhor ferramente é a informação, a palavra. Encontrar um canditato que realmente nos represente requer conhecimento (e um tantinho de paciência).


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    1. Uau, moço, obrigado pelo elogio, de verdade, espero que volte mais ao blog. E sim, informação e paciência são nossas únics armas.

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  6. aqui em natal. acredite. bjs. oceanmar

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    1. Você está em Natal? Me manda um email, moço.
      leninfoxx@gmail.com

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  7. Feliz Ano 2014! Que ele te traga tudo o que de bom e positivo tu desejares para ti e para os que mais amas! ^^

    Abração :3

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  8. Boa !
    Informação é tudo mesmo, e hojhe, mais facil que nunca !
    Mas como vc mesmo disse, precisa se interessar, senão a coisa continua na mesma !

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway