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terça-feira, 15 de outubro de 2013

Fenícia: Os Sacerdotes de Astarté

, em Natal - RN, Brasil



Astarté ou Ashtoreth é uma deusa lunar fenícia, representada às vezes com chifres de vaca, símbolo comum da lua na Antiguidade, era protetora dos mortos que ascendiam ao céu para conviver com ela em forma de espíritos de luz que eram visíveis aos homens na forma das estrelas. Ela  é mencionada quinze vezes na Bíblia: três vezes relacionada a Moloch, na Escritura muitas vezes chamado de Melcom (em 1Reis 11:5, "Salomão prestou culto a Astarte, deusa dos sidônios, e a Melcom, o abominável ídolo dos amonitas", e 33, "Abandonaram-me, prostraram-se diante de Astarte, deusa dos sidônios, diante de Camos, deus de Moab, e diante de Melcom, deus dos amonitas" e 2Reis 23:13, "O rei profanou igualmente os lugares altos situados defronte Jerusalém, à direita do monte da Perdição. Salomão, rei de Israel, tinha os levantado em honra de Astarte, ídolo abominável dos sidônios, de Camos, ídolo abominável dos moabitas, e de Melcom, ídolo abominável dos amonitas"); seis vezes é apresentada apenas como o nome de uma cidade (Deut 1:4, Jos 9:10, 12:4, 13:12, 13:31 e 1Cron 6:71), o que significa que eram, provavelmente, cidades que honravam a deusa fenícia; nas referências que aparecem em Juízes 2:13 e 10:06 ("Os filhos de Israel fizeram de novo o mal aos olhos do Senhor servindo os baal e as astarot"), além do primeiro livro de Samuel 7:3-4 ("E Samuel falou a todo o povo de Israel, dizendo: 'Se voltardes de todo o vosso coração para o senhor, tirando do meio de vós os deuses estranhos e as Astarot, se vos apegardes de todo o vosso coração ao Senhor e só a ele servirdes, então ele vos livrará das mãos dos filisteus'. Os israelitas afastaram os Baals e as Astarot e serviram só ao Senhor"), 12:10, a palavra Astarot é utilizada no plural para representar todas as deusas, já que os hebreus não conheciam palavra para expressar a potência feminina de uma divindade, eles a consideravam o grande modelo de deusa a ser negado por seu monoteísmo machista. No entanto, como vemos, em nenhum momento referências ao seu culto, além de que eram realizados em lugares altos ( a citação do Segundo Livro de Reis), é expressa no texto bíblico.
São novamente escritores gregos e romanos que nos dão acesso a história desta deusa. Um escritor cristão do século IV d.C., Eusébio de Cesaréia, é um dos que relata que cidades fenícias como Aphaca e Baalbeck, no atual Líbano, mantinham seus templos funcionando, onde ocorria prostituição sagrada (sobretudo feminina, de mulheres que se mantinham na porta do templo de Astarté esperando que um homem pagasse por sexo por elas como oferenda a deusa), e que era um desafio para a nova igreja cristã combater esta prática pagã. John Barclay Burns afirma, no entanto, que a prática mais comum, que não é difícil encontrar documentos fiscais, é quando as cidades taxam os serviços dos gallis, homens santos, que participavam dos festivais em honra da lua nova; estes que eram sustentados exclusivamente pelo templo , cobravam a cidade sua participação no ritual da deusa, apesar deste registros fiscais não deixarem claro qual a participação exata destes homens santos no ritual, o livros como o escrito por Eusébio de Cesareia e Luciano de Samósata nos dão acesso ao que exatamente estes galli eram responsáveis e, porque era tão importante para a cidade garantir que eles recebessem sua parte devida.
Vejamos a descrição de Luciano de Samósata, o qual viveu entre de 125 e 190 aC., circulando entre os círculos intelectuais da Síria e Atenas. Ele escreveu De Dea Syria (A deusa síria) no qual narra suas observações particulares sobre o culto da deusa Astarte. Apesar de ser um cômico, e escrever textos filosóficos sofistas, este texto é escrito da mesma forma que Heródoto escreveu sua Histórias, o que nos faz antever qual o objetivo de Luciano em produzir este texto: escrever história. Luciano descreve grandes ídolos faliformes, sacerdotes travestidos castrados, prostituição ritual das próprias fieis da deusa e sacrifício infantil ocasional. Afirmam Strong e Garstang que esta é uma descrição historicamente valida, apoiada em escritores antigos, documentos e arqueologia. 
Por exemplo, Luciano narra assim a forma que os homens se tornavam gallis:

49 . O maior dos festivais que celebram é que se realiza na abertura da primavera, alguns chamam isso de Pira, outros a Lâmpada. Nesta ocasião, o sacrifício é realizado desta maneira. Corta-se árvores altas e as coloca-se na assembleia, então eles trazem cabras e ovelhas e gado e os penduram vivos nas árvores, eles acrescentam a estes pássaros e os decoram com ouro e prata. Depois de tudo terminado, eles carregam os deuses ao redor das árvores e atearam fogo, em um momento, tudo está em chamas. A este rito solene participam grandes multidões da Síria e de todas as regiões ao redor. Cada um traz o seu próprio deus e as estátuas que cada um tem os seus próprios deuses.

50 . Em certos dias com uma multidão no templo, e Galli em grandes números, sagrados como eles são, realizam as cerimônias dos homens, em que pegam os homens, amarram-lhe os braços e viram as costas para ser amarrados. Muitos espectadores sobram suas flautas ao mesmo tempo muitas batem tambores, outros cantam canções divinas e sagradas. Todo esse desempenho tem lugar fora do templo, e os envolvidos na cerimônia não entram no templo.

51 . Durante estes dias, eles são feitos Galli. Como o Galli cantam e celebram suas orgias, o frenesi cai em muitos deles e muitos dos que tinham vindo como meros espectadores depois são tomados pela deusa e cometem o grande ato. Vou narrar o que eles fazem. Qualquer jovem que foi resolvido no âmbito desta ação, retira suas vestes, e com um forte rajada,  grita no meio da multidão, e pega uma espada de uma série de espadas que suponho ter sido mantidas prontas desde muitos anos para este propósito. Ele levanta-se e castra-se e, em seguida, corre pela cidade, tendo em suas mãos o que ele cortou. Ele lança-o em qualquer casa à vontade, e desta casa recebe as vestes e ornamentos das mulheres. Assim eles agem durante suas cerimônias de castração.

52 . O Galli, quando mortos, não são enterrados como os outros homens, mas quando morre um Galli seus companheiros o levam para fora, para os subúrbios, e constroem sobre o esquife em que o tinham levado até cobri-lo com pedras, e após isto retornam para casa. Eles esperam, em seguida, por sete dias, após o qual eles podem entrar no templo. Eles não devem entrar antes disso, seriam culpados de blasfêmia.

Pela descrição de Luciano, por fim, podemos dizer que o papel dos Galli, se não é a prostituição, são eles que controlam o ritual masculino em relação a deusa Astarté e que este envolve orgias entre os próprios galli, que são castrados e vestem-se como mulheres, e os homens, fiéis da deusa, que participam das festas organizadas pelos homens santos. Também vemos que os galli são possuídos pela deusa durante o festival e se tornam sacerdotes no momento em que abdicam de seus pênis através da castração. Estes sacerdotes eunucos, portanto, são o único meio de contato entre a deusa e os homens que não podiam nem entrar no templo, e é por isso então que eles são custeados pela cidade, para garantir as boas vontades de Astarté não somente para as mulheres fenícias, mas para seus homens também. Como a deusa além de ser responsável pela fecundidade e da maternidade, também era responsável pela vitória na guerra e a fortuna, ter a deusa ao seu lado era imprescindível para qualquer homem fenício diante qualquer desafio em sua vida, principalmente quando se destacavam em suas navegações por mares nunca antes singrados afinal sabe-se que os fenícios navegaram por todo Mediterrâneo, alcançando do Mar do Norte a Costa do Marfim no Atlântico e também pelo Índico, comerciando com os hindus. 



6 comentários:

  1. Eita! Ter que abdicar do próprio pênis pra agradar a deusa?? É muita fé! rsrs

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  2. Tio Foxx, tio Foxx...
    _o/ eu tenho uma dúvida!!
    é meio besta, mas vou perguntar...

    Era a Deusa Astarte ou Moloch que era considerado um ídolo 'abominável'? Fiquei meio confuso nessa parte.

    E se For Astarte por que? pelo que ocorria nestes rituais ou por algo a mais, tipo, características "físicas" que ela tinha, por se protetora dos mortos ou algo assim?

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    1. Que bom que perguntou, Ariano, fico feliz que tenha resolvido tirar sua dúvida. Bem, na Bíblia, a palavra "abominável" é utilizada sobretudo para falar de qualquer deus que não seja aquele que os israelitas/judeus fizeram o seu pacto a partir de Abrahão, sendo assim tanto Moloch quanto Astarté eram abomináveis somente porque eram outros deuses distintos daquele que os homens bíblicos cultuavam. Não havia nenhuma característica física, ou por causa do seu ritual, ou por causa de suas potestades divinas, eles eram abomináveis somente porque eram o deus dos outros, dos estrangeiros.

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  3. Não , eles eram abomináveis pq para cultia-los era necessário mutilações , orgias e sacrifícios. Moloque ou Camos era conhecido por pedir aos fiés sacrifício de bebês que eram queimados vivos! Abominável !

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    1. Em História, não se costuma usar adjetivos como abominável, Fragoso. Não cabe a nenhum historiador julgar uma civilização do passado sobretudo porque as informações que temos sobre estes sacrifícios vem de um povo que pretende desmerecer aquele ritual. Era preciso ter um fenício escrevendo de seu próprio punho que este ritual era abominável para você ver um historiador respeitável utilizando essa palavra.

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Ernest Hemmingway