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terça-feira, 13 de março de 2012

Índia: O Terceiro Gênero

, em Natal - RN, Brasil


O Manusmriti fala sobre as origens biológicas do terceiro gênero, isto é, um gênero colocado entre os dois utilizados por nós, o masculino e o feminino. No capítulo III, verso 49: "uma criança masculina é produzida quando existe uma quantidade maior de semente masculina, uma criança feminina é produzida quando existe uma prevalência da semente feminina; se ambos são iguais, uma criança do terceiro sexo [napumsaka] ou duas crianças gêmeas são produzidas; se os dois são fracos ou deficientes em quantidade, a concepção não se dá". Abaixo vou listar os tipos mais comuns de terceiro gênero encontradas no Hinduísmo. Ele são estimados em, mais ou menos, meio milhão de eunucos crossdressing, associados a vários templos e deidades hindus. Apesar deles serem chamados de eunucos, no entanto, a maioria dessas pessoas (91%) não praticam a castração.


Os Aravani ou Ali
Este é o grupo mais numeroso de terceiro gênero (estimado em 150 mil pessoas). Eles vivem basicamente no sudeste da Índia e são o grupo mais típico. São formados tanto por homens que se tranformaram em mulheres como por mulheres que se transformam em homens. Tem uma importância grande no festival de Koovagam, celebrado entre abril e maio, em homenagem ao deus Aravan, e não praticam a castração.

Os Hijira
Estes são o grupo mais bem conhecido de terceiro gênero da Índia, e estima-se que sejam por volta de 50 mil. Vivem basicamente no nordeste do país, e são o único grupo que pratica a castração, um costume introduzido após a invasão muçulmana no século XX. Inclusive a castração masculina não é recomendada nos Vedas e não aprece em nenhuma outra prática hindu.  Existe uma crença de que os hijiras da Índia seriam hermafroditas (intersex) e que, neste caso, entrariam no comunidade ao nascer ou numa tenra infância, contudo as entrevistas feitas por Serena Nanda em Neihter Man Or Woman: The hijiras of India demonstraram que estes entravam no grupo voluntariamente e sempre após a adolescência.Sinha, em 1967, falando dos hijiras do norte do país, de Lucknow, afirmou que a entrada no grupo costumeiramente acontecia por causa da satisfação dos desejos homossexuais daquelas pessoas. Nanda também afirma: "Não existe a menor dúvida que no fim alguns hijiras - talvez a maioria - são prostitutos homossexuais". Eles são especialmente protegidos pela Bahuchara-devi, deusa que protege os transexuais.

Os Jogappa
O grupo menos conhecido de terceiro gênero da Índia que habitam o sul do país (Karnataka e Andhra Pradesh) e intimamente associado a prostituição. Contudo eles também são grandes dançarinos e participam do culto no templo como devadasis, isto é, servos da deusa, que no caso é Yellamma-devi, deusa extremamente popular em Durga. O  grupo inclui tanto homens que se travestem de mulher como mulheres que se travestem de homens e também não praticam a castração.

Os Sakhi-Behki
Este grupo, que vem se reduzindo ultimamente, era muito comum na região de Bengala, Orissa e Uttar Pradesh. Estas pessoas não são necessariamente transgênero ou homossexuais, em alguns casos são, porém na maioria dos membros deste grupo se vestem como mulheres para reforçar a identidade de sakhis (namorada) de Krishna e para atingir a emoção espiritual conhecida como sakhi-bhava. Recentemente, eles passaram a ser condenados sobretudo porque alguns membros do grupo realizavam shows públicos nos quais para mostrar seu amor a Krishna um sakhi-bekhi tinha relações sexuais com um cudadharis (um homem vestido como Krishna coroado com penas de pavão). Hoje em dia, a maioria dos sakhi-bekhis se veste apenas na privacidade da sua casa, sendo mais discretos, se vestindo como Sri Radha, a consorte de Krishna, mas alguns também tem se vestido como Caitanya, uma imagem que reúne Radha e Krishna juntos e são conhecidos como gauranga-nagaris. Nenhum desses grupos, no entanto, pratica castração.

23 comentários:

  1. Genteeeeeeeeeee... sabiadissonão! Cool! E tá certo: nada de cueca preta e short branco. Hugz!

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  2. Meu lindo, uma observação: o seu blog voltou a não atualizar no meu blogroll! A outra: me fala se estou errado... me parece que sempre existe alguma ligação entre a sexualidade homo, trans, e congêneres com a religião hinduista. É isso? A aceitação social é sempre via religião?

    Beijão.

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    1. sim, isso mesmo, a relação se dá sempre por meio da religião.

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  3. Muito interessante, seu blog sempre trazendo informações e conhecimento :)

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  4. isto tudo me intriga ... como eu me encaixaria na cultura indiana ... rs

    nem preciso dar os parabéns né? amo receber estas informações!

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    1. ora, Bratz, na sociedade indiana vc q escolhe.

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  5. Outro post excelente! Você já pensou ou já está escrevendo algum livro sobre esse assunto? A riqueza dos detalhes, a clareza da exposição... isso não pode ficar restrito ao âmbito desse blog, pelo menos eu penso assim.

    Colando na sua resposta ao Cesinha, eu pergunto: e na sociedade em geral, você sabe como se dá a aceitação ou rejeição desses gêneros?

    Beijão.

    PS: como foi observado pelo Cesinha, no meu blogroll também não aparece atualizado.

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    1. oi Lucas...
      eu penso q um dia dá pra publicar
      mas agora é ainda muito incipiente minha pesquisa
      mas que bom que vc gosta
      como vc vê aqui, os comentários são poucos nesta coluna.

      a aceitação dos grupos transexuais já foi melhor na sociedade indiana, as relações desde o século XIX com a cultura inglesa, só degradou a relação desses grupos com a sociedade indiana.

      estranho essa estória do blogroll

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  6. Os Hijiras são os mais temidos e respeitados por causa da fama do poder de amaldiçoar, né não?
    Pensei que eles fossem os únicos remanescentes da cultura indiana.

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    1. pra dizer a verdade, Junior, eu tb pensei até ir ler mais sobre o assunto pra escrever aqui.

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  7. Gracias pelo esclarecimento D'Artagnesco! Hugz, amigo!

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  8. Sou Muito religioso... Eu seria super aceito.. hahaha

    Não quero prometer.. mais acho que vai rolar surpresa pra você bem em breve!

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  9. Que loucura!
    Quer dizer, quando há um significado religioso, ou transcedental, como queiram, então... pode!?

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  10. Raposinho, estou do outro lado do mundo (agora em Manila), mas ontem eestava em Singapura. E fui até o bairro indiano procurar umas coisas e dentro do templo deles vi varias figuras estranhas, homens bastante afeminados, maquiados e com roupas inusitadas, mas quase em transe, catárticos (talvez pelo excesso de fumaça dos incensos, sei lá). Aí hoje vejo seu post, entendi o porquê. bjs rapaz.

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    1. tá vendo! esse blog é mta cultura. hauahauahau

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  11. Ai, Foxx! Nesses assuntos vc é meu muso inspirador... Escuto falar história da homossexualidade, me lembro das suas postagens tão bem escritas... Vc tá matando a pau!

    Sobre o que vc descreveu, achei muito bacana! ao mesmo tempo que é histórico, tem uma referência sobre o panorama atual... Bacana!

    Abraços!!

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  12. Excelente. Estou escrevendo minha dissertação de mestrado sobre a intersexualidade e essas informações me foram úteis. gostaria de ter acesso à fonte bibliográfica. poderia me indicar? gostaria de dedicar algumas paginas ao tema.... tambem estou buscando essas referencias na tailandia e bangladesh. agradeço se puder ajudar. parabens

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  13. vi agora que vc parece ser de Natal. estarei na semana que vem, no Seminario desfazendo o genero na UFRN. irei apresentar um trabalho... vc é do meio academico? abraços. filipe

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    1. Oi, Felipe, sou historiador sim, vc vai estar aqui em Natal, vamos nos encontrar. Vai ser um prazer discutir sua tese com vc.

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway