Google+ Estórias Do Mundo: ESPECIALMENTE: "Beaucoup de Bruit Pour Rien"

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

ESPECIALMENTE: "Beaucoup de Bruit Pour Rien"

por Sebek*

Meus caros, uma pequena invasão aqui se faz necessária, apresento-vos o meu querido Sebek, este paulistano querido, que me apresentou o centro histórico da cidade e fingiu que tocou na cerveja no Bar da Loca meses depois. Ele tem algo para falar-lhes e tem minha benção!

[para ler esse post, o autor recomenda a audição
de Mother's Talk, do Tears for Fears]

Bom, começar uma reflexão dessa envergadura demandou, para mim, muitas elucubrações sobre o tema com amigos, e várias observações empíricas vivenciais. Confesso que, diante desse mundo que vivemos, com todas os preconceitos, o meu relacionamento com os gays efeminados - porque "a" é uma preposição de negação - sempre foi complicado, talvez por querer me autodefender do esteriótipo, resguardar o meu armário ou algo assim, mas desde uns tempos pra cá venho repensando esse assunto, tudo isso graças a uma sequencia de palestras que venho acompanhando no Café Filosófico da TV Cultura que fala sobre a masculinidade e a feminilidade.

Ouvi a psicanalista, Maria Rita Kehl, afirmar, entre outras coisas, baseada em Lacan, Jung, além de outros pensadores e na experiência empírica que, ambas as identidades são uma oposição entre si. Percebe-se, que existe uma masculinidade imanente no feminino e uma feminilidade imanente no masculino. Fiquei refletindo o que isso poderia significar e acabei percebendo que a origem do nosso preconceito contra os efeminados está calcado na forma Rousseauniana de educação que ainda não nos libertamos. Nós, indivíduos do gênero masculino, somos educados para sermos masculinos a partir da negação de tudo o que é feminino, você percebe isso se prestar um pouco de atenção na forma como foi educado pelos seus pais, esse é a forma Rousseauniana de educar, o paradigma de educação social desde o século XVIII que, agora - a partir da metade do século XX - e, por conta de grandes mulheres (elas também grandes prejudicadas por esse metodo), como Simone de Beavoir, ele começou a ser questionado.

Acontece, porém, que através dessa forma Rousseauniana, acabamos por ganhar como 'prêmio' uma sensível repulsa a tudo que é feminino em nós e nos seres do gênero masculino e, aliando isso à nossa natural busca por alguém que nos complete similarmente, propiciamos o star up desse nosso preconceito para com os efeminados, que, no caso, por alguma coisa natural que não sabemos bem o porque ainda, parecem não terem conseguido (e viva o gerúndio!) responder totalmente a esse estimulo da educação rousseauniana para a oposição ao feminino.

Apesar de tudo isso justificar a existência do preconceito, penso que por sermos vítimas direta ou indiretamente do preconceito da sociedade 'heteronormal', deveríamos repensar aquilo que nos foi imposto por educação. Não existem verdades absolutas, nem o nosso modo de pensar tem que estar estático. A flexibilidade faz bem para as outras pessoas e para nós mesmos. Tenho, particularmente, buscado esse caminho: flexibilizar, crescer, evoluir, porque afinal de contas, qualquer tipo de restrição e preconceito é um atraso de vida mesmo que debaixo de qualquer capa ou véu que se esconda, principalmente aquela velha capa do "só não me atrai sexualmente" .

O mundo já está tão repleto de hipocrisias, que, não acho válido, nós reforçarmos essa característica virulenta e putrefata da sociedade adicionando uma pior que as anteriores simplesmente abrigados debaixo daquela capa velha e esfarrapada da falta de 'atração sexual'.

Certamente, não é fácil vencer essa mistura perniciosa (educação rousseauniana + atração pelo que é mais másculo) que são o botão ativador do preconceito contra os efeminados, mas é, talvez, uma responsabilidade, quiçá um dever, para nós gays, que somos vitimas e tanto tentamos vencer o preconceito da sociedade heteronormal para com os homossexuais. Não estaríamos nós, reproduzindo o preconceito dos héteros contra os homossexuais, sob uma nova ótica? Qual respeito teria a causa gay se formos hipócritas de lutar tanto pra sermos aceitos pela sociedade e, ao mesmo tempo, segmentarmos os efeminados num gueto? Não acabamos, indiretamente, justificando o direito dos fundamentalistas religiosos defenderem seu ponto de vista de exterminar a homossexualidade da face da terra agindo assim?

Não sou efeminado, mas, a bem da verdade aprendi, depois de me apaixonar perdidamente por um efeminado lindo, inteligente,'moço pra casar' que ninguém manda no coração, nem mesmo a atração sexual. Um dos meus melhores amigos gays é efeminado e foi quando perdi a vergonha de andar com ele que aprendi a ser mais homem, exatamente porque aprendi a ser mais eu, mais seguro de mim mesmo, mais aberto às possibilidades e menos fincado nos meus preconceitos. Penso que dei um passo para ser um homem completo e não, apenas, um protótipo de macho, que, no fundo, é apenas um viés de se autoenxergar como animal (e irracional, diga-se), em oposição à essência que nos faz tão grandiosos: o fato de sermos seres humanos racionais.

O preconceito começa na nossa decisão de continuar a sua manutenção e não lutarmos, o mínimo que seja, conosco mesmo, para vencê-lo. Penso, que o preconceito em qualquer escala começa e termina quando eu quero, dependendo da minha força de vontade de empreender uma batalha contra ele. Por isso, arrisco-me a dizer, que o preconceito contra os efeminados, é culpa particular minha, sua, de cada um de nós. Durma-se com esse barulho!

15 comentários:

  1. Isso, culpados pelo próprio preconceito. É só olhar pra dentro. Veja, veja.

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  2. Sou totalmente contra todas as formas de preconceito pois entendo que todos nós temos direito à felicidade, seja ela como for.

    Mas não nego, intimamente, os excessos me deixam um pouco contrariado.
    Olha, justamente porque os homens ditos "femininos" estão sempre mais em evidência é que eles deveriam saber se portar como representantes! A vulgaridade que se vê nas ruas é tanta que chega a constranger até os outros homossexuais...

    Nada contra o sujeito ter voz fina, ser frágil e etc. Mas dignidade acho essêncial...

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  3. Eu não sabia que o certo era efeminado, perdão.

    Mas isso, de ser efeminado ou nao... sempre achei babaquice. Td mundo faz as mesmas coisas entre 4 paredes.

    -

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  4. Olá!

    Belo texto, mas acredito que "não ser atraído sexualmente" por alguém não seja preconceito, de forma alguma. Do mesmo modo que algumas pessoas não são atraídas "sexualmente" porque são gordas, magras, mais velhas, mais novas, sem conteúdo, porque fumam, outras pessoas podem não sentir-se atraídas pelos efeminados. Acho normal, assim como acho normal alguém se apaixonar por eles, afinal, tem gosto para tudo! E que bom!

    Já quanto as nossas amizades, não escolhemos fisicamente, escolhemos inconscientemente pela afinidade. Tenho amigos efeminados também, os quais adoro de paixão. Também já beijei alguns nas baladas que foram ótimos, apesar de eu não ser tão "atraído sexualmente" por eles.

    No entanto, existe ainda um certo preconceito contra eles, que não é apenas no meio homossexual, está impregnado no meio heterossexual também, enfim, como você disse, na sociedade. O jeito é lutar nós mesmos, preconceito não é fácil de se retirar das pessoas, sabemos disso na pele...

    Abraço.

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  5. perfeito, não cabe discussões, por mais que queiramos negar somos preconceituosos como todos ... não tem jeito ... alguma forma desta nefasta doença sempre se apresentará dentro de nós ... resta-nos reconhecer isto e lutar para extirpá-la de nós ...

    bjux

    ;-)

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  6. Concordo com o Guy:
    "Isso, culpados pelo próprio preconceito. É só olhar pra dentro. Veja, veja."


    Meu amigo, a felicidade que se refiro é sobre ela viver em mim, e por recordar dela, as vezes me faz sentir assim pelos momentos que tenho sentido, e por cada descrição escrita de forma um pouco mais avulsa, me faz senti feliz.

    Beijao GRANDE,
    Obrigado pelas visitas!

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  7. Oh, simplesmente inspirador. Muito mais respeitoso e consciente do que algumas coisas que a gente lê por ai...

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  8. Ontem mesmo conversávamos sobre isso mas sem tanta propriedade! Concluímos que pra eliminar preconceito basta sermos expostos. Daí percebemos que somos todos humanos, todos com defeitos e lindas qualidades, não importa o trejeito, religião, cor e tudo mais. Perfeito esse texto!!

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  9. Off-topic: morreu sim. Aquele do BBB é do dia 10 de fevereiro...

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  10. O texto é muito bom. Meu amigo Sebek arrasou. Mas discordo totalmente que a luta em prol da causa gay seja descaracterizada por esse preconceito contra efeminados. O preconceito, como aqui já disseram, é um mal que atinge a todos os homens. Da mesma forma que muitos de nós têm preconceitos com efeminados, também temos com travestis, transexuais, bissexuais e até com HSH's. Assim, portanto, há preconceito contra o negro, o pobre, o ex-presidiário, o deficiente, etc. Temos que lutar é para que essa praga, por completo, seja extinta. E essa é uma bandeira que deve ser levantada por todos, não apenas os gays.

    Outra coisa muito comum é acatarmos a idéia de que todo o gay e promíscuo e fútil e, assim, querer fugir a todo o custo desse estereótipo, como que quem assim o fosse também deva estar relegado a um gueto. Ora, se para alguns de nós é interessante comentar o caso da Madonna com o Jesus Luz, é demasiado importante ir de VIP ao show da Beyoncé, usar o último modelo da Calvin Klein e falar sobre sexo a todo instante, é o mesmo que representa para os héteros falar sobre futebol, cerveja e mulheres. Enquanto ficarmos catando sarna pra se coçar, achando que 'temos defeito' com tudo, não adiantará levantar qualquer bandeira. É engraçado, inclusive, que as pessoas achem ruim haver preconceito contra efeminados e, ao mesmo tempo, concordam, quase que em unanimidade, que 'passar cheque' é assinar o 'óbito no mundo gay' e, obrigatoriamente, deve ser algo totalmente fora de cogitação. Mesmo que aconteça por acaso - afinal de contas, não conheço ninguém que cague ouro ou extrato de lavanda.

    Seu blog é mara, Foxx, parabéns!
    Xero.

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  11. O texto apenas confirmou minha tese de que preconceito é ensinado e portanto aprendido.

    Portanto há esperança, tudo começa pela educação.
    Bju
    Jay

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  12. Primeiro de tudo parabéns pela escrita maravilhosa.
    Depois quem se interessou Maria Rita Kehl tem um livro interessantissimo que chamado "O tempo e o Cão" que fala sobre a depressão como uma doença social.
    Depois fico feliz que vc tenha vendico este preconceito, espero que a cada dia todos nós vençamos preconceitos antigos.
    Quando aos afeminados, concordo com você, no que diz respeito as origens deste preconceito que existe mesmo entre os homossexuais.
    Certa vez, pensando sobre isso, fiquei me perguntando se não seria por causa de um medo de enfrentar a sociedade que muitos homossexuais apresentam.
    Adorei!
    Estarei aqui mais vezes!

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  13. Obrigado por Blog intiresny

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway