Google+ Estórias Do Mundo: 2010

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Tarde Demais

Foxx: Exato, Bruno, você me conhece há quase 6 anos e sabe que esse discurso de que eu vou ficar sozinho, de que eu tenho é que desistir de homem, que não adianta nada tentar é novidade. Você bem sabe que eu saía e ficava com pessoas...
Bruno: Sim, e, de repente, mudou!
Foxx: Sim, porque, como você mesmo disse, "nada pode ser visto só de uma maneira por tanto tempo".Eu preciso de uma mudança na minha vida, não posso continuar dando murro em ponta de faca. Forever and ever!
Bruno: Foxx, antes você não via a vida como um mar de rosas, claro!  Mas você se permitia.Você se permitia encontrar pessoas, pessoas novas, e tinha esperanças de que alguma vez um desses encontros aleatórias poderia resultar em algumas coisa.
Foxx: Sim, é verdade! E o que eu ganhei com isso? Adiantou de alguma coisa? Não! Não adiantou de nada. Não ganhei nada com isso, somente estórias para rechear um livro de contos eróticos.
Bruno: Jura?! Pensa bem...
Foxx: Sim, juro!
Bruno: ...
Foxx: Não valeu a pena!
Bruno: Eu, definitivamente, não penso assim.
Foxx: E como você pensa? O que eu ganhei com isso? Além de experiência sexual, é claro?
Bruno: Contato com gente nova e oportunidades não construídas que deveriam te dar forças para você tentar outras vezes, já que, afinal de contas, são a prova concreta que as pessoas podem te querer.
Foxx: Não! Elas são a prova concreta que as pessoas podem querer me usar, me usar para sexo, me usar para gastar meu dinheiro, me usar para passar o tempo, mas sempre me usar. Nenhuma dessas pessoas nunca me quis, Bruno. Eles queriam qualquer um, se não fosse eu que estivesse lá, tinha sido outro, qualquer outro. Eu, só por coincidência, estava lá. Se alguma delas me quisesse, a mim, teria me procurado uma segunda vez.É por isso, que a partir do dia 1º, estou desistindo de uma vez por todas de homens. Nunca mais me darei ao trabalho de ter um relacionamento com outro homem. Está decidido! Mesmo que, no dia 2 de janeiro, o homem q eu sempre sonhei se jogue de joelhos aos meus pés, ele ouvirá um: "Não, desculpa, você chegou tarde demais".

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Cultura, Homocultura, Subcultura

Falar sobre subcultura é caminhar na corda bamba. Isto porque para alguns o conceito é rizível, para outros é o centro de explicações complexas sobre o comportamento de grupos sociais. Mas, apesar disso, todos concordam com sua definição. Uma subcultura é um tipo de cultura que se constrói sob uma cultura oficial, isto é, é uma forma de ler a realidade utilizando símbolos da cultura oficial, porém dando a eles significados próprios que só são entendidos pelo grupo no qual a subcultura foi gestada. Para alguns ela não é possível porque dentro de grupos sociais a cultura é compartilhada por todos igualmente. Um exemplo daqueles que pensam desta maneira são os marxistas clássicos. Estes não aceitam a ideia de subcultura porque dado a oposição burguesia x proletariado, e sendo a burguesia nesta situação a única produtora de cultura, revestida com o nome de ideologia. Sendo assim não existe espaço para outras subculturas e, muito menos, outras ideologias. Para este entendimento do processo social, a cultura só existe no mundo burguês e é repetida pelo proletariado, o único outro grupo social, o que garante a dominação do segundo pelo primeiro.
Os novos marxistas, para não compararmos alhos com bugalhos, do grupo renovado por E. P. Thompson, historiador inglês, já garantem que a produção cultural também é tarefa dos grupos que não estão no topo da pirâmide social. O proletariado também é capaz de produzir cultura e cultura contestadora capaz de absorver, apropriar-se, resignificar e modificar elementos da cultura burguesa ou, ultrapassando a discussão marxista, da elite dominante. Aqui, a capacidade do outro grupo reler a cultura dita oficial sobre seus próprios termos cria a possibilidade da construção de subculturas associadas a grupos sociais. E, como a sociologia e a antropologia vêm mostrando, associado a grupos cada vez menores. 
Dito isto, podemos falar em subcultura gay? Sim e não! Sim, porque é inegável a construção de uma homocultura a partir da década de 1930 na Europa e, em seguida, no Pós-Guerra americano, neste último intensamente influenciada pela contra-cultura (ler mais sobre isso aqui e aqui). Contudo temos que dizer não se pensarmos que a homocultura é um bloco único. A homocultura não é, mais, uma subcultura coesa. Afinal, se uma subcultura nasce exatamente da contestação de uma cultura hegemônica - no caso, heteronormativa - é natural que, ao tornar-se hegemônica dentro do grupo social ao qual ela se liga, haja, rapidamente, reações de contestação criando subculturas dentro da subcultura. 
É da própria contestação da hegemônia homocultural que surgem as variações da cultura gay como os Ursos (é inegável a aversão ursina ao padrão estético que se tornou hegemônico no mundo gay); os HSH ("Homens que fazem Sexo com Homens" que negam até o próprio título de homossexual ou gay); os "Sou Gay, Mas Não Sou Efeminado" (que se manifestam vivamente contra o que eles chamam de estereótipo da cultura gay); também podemos citar o grupo yupie (que criou símbolos de status associados com o poder aquisitivo, como baladas caras, moda, perfumes e jóias, integrando-se ao mercado); ou o grupo cristão (católico e evangélico que mantém suas vidas dentro de padrões que são aceitos pelos grupos religiosos que se filiam), poderíamos citar vários outros grupos, porém a ideia é que apesar destes todos, em grande parte, participarem de uma homocultura comum, eles reagem a ela construindo novas formas de ler a sociedade do qual fazem parte a partir de novos símbolos.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Freudiano

Bruno: F, quando você veio aqui, me perguntou porque você sofria com o fato de estar sozinho, afinal, palavras dela, você é um cara foda!
Foxx: Porque é horrível se sentir sozinho, Bruno, e apesar de todas as minhas qualidades, eu tenho um pavor imenso de ficar sozinho. Eu sempre estive sozinho a minha vida toda, mesmo quando estava cercado por minha família e eu sempre esperei que um dia eu pudesse encontrar alguém pra ficar um pouco do meu lado, não pra sempre, um pouco. E isso nunca aconteceu. Então, no fundo, eu sou ainda aquele mesmo menino chorando porque meu irmão não qria ser visto ao meu lado pq eu sou gay.
Bruno: E mesmo assim você não quer mais tentar.
Foxx: Não, não quero mais tentar. Porque toda vez que alguém me dá um fora, ele repete todos os xingamentos que minha familia fez a mim quando eu estava crescendo. Cada surra que meu pai deu sem eu saber o motivo, cada humilhação que meus irmãos me fizeram passar na rua em que vivemos e na escola em que estudávamos, cada vez que minha mãe me chamou de viadinho. Toda vez que um cara qualquer deixa de ligar p'ra mim ou fica com outro na minha frente, meus pais estão mais certos em terem me maltratado.
Bruno: Jura que você pensa assim?
Foxx: Sim, todos nós temos issues.
Bruno: Cadê aquele discurso contra a homofobia etc, etc, etc?
Foxx: Ele nasceu ai, Bruno, todo o meu discurso é para que ninguém passe pelo q eu passei. Porque ninguém merece se sentir tão sozinho com eu me senti em toda a minha vida, por isso que eu qria, um dia, criar alguma coisa que evitasse q meninos gays se sentissem assim, sozinhos. Lembra que eu falei de um disque-ajuda por exemplo? Se eu tivesse alguém que me abraçasse quando eu fui pequeno e dissesse que vai melhorar, se eu tivesse alguém aqui agora que me abraçasse e dissesse que tudo já acabou. No fundo, eu continuo procurando o mesmo sentimento de aceitação, em outras pessoas, que não encontrei em minha família.


quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Então, Vamos Falar Um Pouco de História... (Parte II)

É lugar-comum a associação entre homocultura e divas pop e homens malhados, mas isso também tem uma história. Como falamos anteriormente aqui, a criação da homocultura tem por base o amor livre hippie, a reestruturação familiar de cunho feminista e a contestação de gênero punk; no entanto, a partir da década de 1980, o capitalismo americano descobriu um público com o qual ele não estava acostumado. Surgiu o pink money. Outra questão foi a explosão da AIDS. Falemos de cada um separadamente. 
As feras do sistema capitalista perceberam que estavam perdendo dinheiro deixando esse grupo fora do próprio sistema. No entanto, as necessidades exigidas por este grupo não se enquadravam no sistema,  na verdade, perigosamente iam de encontro a ele, portanto era necessário homogeneiza-los. A família e o gênero são questões caras ao capitalismo para simplesmente serem desmanchadas e reconstruídas. Foi então que alguém inteligentíssimo, devo admitir, resolveu conceder a gays e lésbicas a oportunidade de participarem do sistema capitalista, ganhando alguns direitos, se integrando como cidadãos, sob a alcunha de diversidade. Para, contudo, ser cidadão no capitalismo é necessário que esse público pudesse consumir, então o mercado surge com empreendimentos GLS. Empreendimentos voltados para este público. Artistas se tornam GLS, alguns a revelia como Cher, outros abraçam a causa como Madonna; cidades se tornam GLS como São Francisco, Ibiza e o Rio; programas de tv, peças de teatro, arte; se criam produtos para serem consumidos por esta fatia do público; festas, músicas, bebidas, comidas, mesmo o sexo, durante toda a década de 1980 e 1990 se ampliam os objetos de consumo para este público emergente. A cultura - definida agora como pop - é empurrada garganta a baixo da comunidade gay nivelando-os todos como iguais, podendo então o mercado agir com mais tranquilidade.
Como o surgimento e explosão da AIDS participam disso? A AIDS cancela a tentativa de amor livre, a liberação sexual hippie, uma das bases da homocultura que a população homossexual pretendia propor, encontra um obstáculo intransponível. Mas o mercado capitalista não deixou de preparar uma saída. Em 1990, as revistas gays americanas, sobretudo a Out, lançadas recentemente, começam a propor um padrão estético masculino muito distinto da década anterior, que passou a ser conhecido como espartano. Homens musculosos, fortes, depilados e, principalmente, com aparência de saudável, se tornam agora objeto de culto e de desejo; o cinema e a moda reforçam o conceito, e um (novo) padrão de beleza é criado para uma cultura, vendendo-lhe roupas, perfumes, remédios para emagrecer, shakes de proteína para ficar mais fortes, surgem as academias de musculação, e um novo homem gay é agora exigido e também um novo modelo de amor. Este é o novo objeto a ser conquistado e agora, basta ter este homem, para que o homem gay se torne completo.
A homocultura é então domada pelo capitalismo e o gay yupie é o novo modelo a ser seguido. Yupie é a sigla para Young Urban Professional, que descreve o profissional entre 20 e 35 anos que, basicamente, trabalha com negócios, medicina ou entretenimento. O jovem promissor, que estudou, que tem uma bela carreira pela frente e vai se tornar um homem rico e poderoso com a maturidade. A homocultura, então, agora domada não precisa mais reconstruir a sociedade, apenas integrar-se a ela; não exige mais visibilidade e aceitação, contenta-se com um respeito que beira a invisibilidade; o homem gay e a mulher lésbica modelo são aquelas que não aparentam ser gay ou lésbica, são exatamente aqueles que não atrapalham a convivência na sociedade de massa exigindo a sua individualidade. O homem gay e a mulher lésbica yupie são o fruto de um sistema que vende a própria alma para manter-se ativo, e que agora espera que eles se tornem saudáveis competidores no mercado de trabalho e intensos consumidores de seus produtos.
O Brasil, no entanto, não tem, históricamente, nenhuma cultura gay de contestação. Relembrando nossa história, a homocultura chega ao país após a abertura política com o fim da Ditadura. Militar A contestação social que se irradiava entre os americanos, não fazia sentido em um país em que não havia nem direitos políticos garantidos mesmo para a população heterossexual. Quando então, a homocultura já massificada pelo capitalismo invade as nossas terras tupiniquins, ela encontra um ambiente em que as disparidades sociais e políticas da população brasileira a distorcem ainda mais. A homocultura capitalista acaba por criar uma oportunidade de elevação social com que faz com que muitos homossexuais de classes mais baixas tentem repeti-la para garantir uma posição social superior dentro do nicho homossexual. Ela se torna alavanca social. A contestação - que uma elite pensante tenta introduzir, mas é mal vista sob a alcunha de "militante" - acaba se tornando papo vazio entre um grupo social que está mais preocupado em garantir seu status como indivíduo do que como grupo, exatamente como o gênio capitalista que organizou tudo isso planejara. O pop é o ópio gay.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Desisti De Você.

, em Belo Horizonte - MG, Brasil
os parenteses indicam pensamentos que não foram verbalizados.



Anjo: Ei, vem cá, vi no seu Facebook que você desistiu. Desistiu de quê?
Foxx: (sério que você me perguntou isso? sério? respondo ou não respondo... ah, foda-se!) É! Desisti de você.
Anjo: Ahnnn? Como assim?
Foxx: Bem, você sabe que eu estava interessado em ter você mais do quê como amigo, não sabe?
Anjo: Olha, Foxx, eu gosto muito de você. Mas não desse jeito. 
Foxx: Eu sei! E não fico chateado com você por isso.
Anjo: Você é uma pessoa incrível, mas a gente não manda nessas coisas do coração.
Foxx: (ah, manda sim!) ... Não se preocupe, lindo, mas como eu dizia, durante a noite eu percebi (quando você se agarrou com o Vini) que de forma alguma você ia, um dia, querer me namorar, então... mas, normal, gosto de sair com você, as conversas com você são sempre ótimas e eu me divirto muito quando estamos juntos, por isso eu não queria que a amizade ficasse abalada.
Anjo: Eu estou surpreso!
Foxx: Com o quê?
Anjo: Ah, normalmente nessas situações, você seria grosso e me xingaria muito...
Foxx: Gente?! Mas claro que não! Você não tem a menor culpa de não corresponder aos sentimentos que eu tenho por você.
Anjo: É! Definitivamente você é alguém realmente especial. Nunca vi alguém ser tão maduro numa situação como essa. Além, é claro, da sua sinceridade. Ninguém costuma ser tão sincero assim, normalmente, as pessoas apenas fingiriam que está tudo bem...
Foxx: (nem por isso você me namoraria) Pois é, meu querido, eu sou assim e espero de verdade que possámos ser amigos.
Anjo: Espera aí... quer dizer que quando você desapareceu foi porque você ficou chateado comigo ficando com o Vini?
Foxx: (exatamente!) Mas claro que não, eu saí p'ra comprar cigarro e, no meio do caminho, uma das meninas que mora comigo me ligou, em prantos, por causa de uma briga com o namorado dela... (obrigado Pat por inventar essa desculpa para mim).
Anjo: E ela está bem agora?
Foxx: Sim, está tudo bem, como diria Churchill, between the dead and wounded, save everyone.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Então, Vamos Falar Um Pouco de História... (Parte I)

Falamos sempre de "cultura gay" por aqui e algumas pessoas insistem em negar sua existência, seja para negar sua participação nela, seja por considerá-la segregacional. Bem, se falarmos de história, ela existe e tem data de nascimento. Mas antes, deixa eu explicar o que é essa tão falada "cultura gay".
Homocultura, o termo correto, trata-se de uma cultura criada por um grupo social que tem suas afinidades, aproximações, que frequentam os mesmo ambientes e convivem com os mesmos símbolos, imagens, ideias, padrões, que conversam entre si. Homocultura é um tipo de cultura, no entanto, que se desenvolve a partir da contestação do padrão culturual vigente, isto é, heteronormativo. Em outras palavras, é uma cultura que contesta o modelo heterossexual de vida. Então, basicamente, se você namora, sendo homem, outro homem; se sendo mulher casa-se e constitui família com outra mulher, contestando assim o modelo heterossexual, você está, necessariamente, aceitando a homocultura e a corroborando. Mesmo que não aceite ou participe de todos os elementos, você faz parte deste universo de contestação.
Voltando a história, apesar das relações homoeróticas (entre o mesmo sexo) existirem "desde que o mundo é mundo" (posso, se alguém desejar, mostrar referências na Antiguidade, por exemplo), a homocultura é uma invenção do Pós-guerra. O que quero dizer é que até a década de 1960 (no Brasil, esta data tem que ser alterada para 1980), ter relações com o mesmo sexo não significava adotar uma cultura distinta da cultura "oficial", as relações homoeróticas se davam num espaço bem demarcado da cultura heterossexual. Usando exemplos brasileiros, as relações homoeróticas podiam se dar dentro de um ambiente "controlado": os meninos que fazem troca-troca, a Geni que dá para qualquer um, o Cintura-Fina que se prostituía entre mulheres, Madame Satã cantando nos cabarés da Lapa, havia um lugar demarcado e socialmente aceito para estes personagens circularem. 
Quando a homocultura surge, ela é uma manifestação, uma afirmação, um grito dizendo que ninguém mais vai se contentar com o gueto. Surge dentro dos bares gays e lésbicos americanos. E esse grito se torna tão alto, forte, poderoso, que as autoridades americanas preocupadas com "os bons costumes" iniciam uma onda de confrontos com estes públicos. Voltemos no tempo, imagine-se em um bar gay, em São Francisco, em 1950, a II Guerra acabou, a economia está estagnada, você preocupado em beijar alguém, quando a polícia invade o local e leva todos presos por vadiagem e atentado ao pudor. Demorou para haver reação a esta situação. Somente em 1969, quando a polícia de Nova Iorque invadiu o bar Stonewall Inn, que os homossexuais presentes reagiram, atacaram a polícia e saíram em marcha exigindo que seus direitos fossem respeitados. 
Stonewall foi um marco. Ele criou sobretudo a ideia de orgulho gay. A partir daquele momento os gays e lésbicas desistiram de se esconder, de tentar passar desapercebidos, decidiram que mereciam mostrar sua cara e contestar todo o sistema que estavam inseridos. 
Não é por acaso que isso acontece somente em 1969. A década de 1960 é marcada pela explosão de movimentos contestadores do status quo. O movimento hippie e seu amor livre, o feminismo e, mais tarde, a contra-cultura do movimento punk são as bases do que hoje chamamos de homocultura. Acham que uma coisa não tem nada a ver com a outra? Pois pense de novo. A promiscuidade associdada aos gays é só uma forma de denegrir o questionamento a monogamia heterossexual combatida pelo movimento hippie; a formação de famílias homoafetivas desestabiliza o conceito de família heterossexual centrado na figura do homem, combate feminista; a participação de transgêneros, travestis e drag queens questiona a imagem do que é homem e o que é mulher, questão base do movimento punk
A homocultura tem então estes três pilares: o amor livre, a reestruturação da família e redefinição dos papéis de homens e mulheres na sociedade. Agora, você deve estar perguntando: então de onde saíram as divas pop? A obcessão pelo corpo malhado? O papo vazio sobre moda, cabelo, maquiagem e decoração? Como o texto já está muito grande, essa explicação fica para a parte II.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Sorriso de Anjo

, em Belo Horizonte - MG, Brasil
Chovia fraquinho na rua, e ele esperava embaixo da marquise comigo o ônibus. "Não vou te deixar a essa hora sozinho aqui", me dizia, apesar de meus protestos, "o ônibus não vai demorar nada, você não precisa se preocupar". Mas ele insistiu e eu aceitei a gentileza. Sentamos em um degrau, ali embaixo, enquanto a água lavava o asfalto negro, ele do meu lado e me sorriu com aquele sorriso perfeito. Aquele sorriso dele que ilumina o coração, a alma, a vida de quem está perto. E sentou bem próximo, colou seu braço no meu e eu pensei: "Que se foda! Se eu levar um fora agora, eu desisto e pronto!". E enrosquei meu braço no dele.
Naquele momento, todas as conversas desde que saímos do filme do Woody Allen, no CineClub Savassi, com o primo dele, sobre o tipo físico de homem que o atraía, o que minha barriga (e só ela) me coloca de fora, pipocaram na minha mente naqueles segundos. Nos poucos segundos em que eu puxei meu braço para trás e o encaixei entre o dele e o seu tronco, os poucos segundos que demorei para deslizar até segurar sua mão e colocar meus dedos entre os dele. 
A sensação foi de alívio, no entanto, quando ele sorriu em resposta. E depois de euforia, quando após sorrir, se aproximou e me beijou. Um beijo lento, caloroso, linguas juntas, lábios que se encaixam. Depois eu me levantei, e ele veio junto, o beijo continou agora com nossos corpos colados, o abraço dele em torno do meu corpo, meu dedos cravados nas suas costas. Ele me beijou enquanto chovia na rua, agora tão intensa e fortemente quanto ele me beijava, e as vezes sorria, agora somente para mim. O meu Anjo me beijou novamente. E sorriu para mim.  

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Divirta-se, Foxx*

, em Belo Horizonte - MG, Brasil
Andaluz, clube pequeno cuja música eletrônica ecoa nos ouvidos dos frequentadores enquanto eles treinam um carão sem sentindo que intoxica o ambiente, lugar lotado em que fica difícil caminhar, ver alguém ou ser visto, onde descamisados tímidos, contantemente reprimidos pelos seguranças do local, vagueiam casais héteros moderninhos e meninos que pagam R$ 17,00 de entrada com a mesada da semana. Fim de noite, e o menino - provavelmente um dos que paga com a mesada -, que aquela altura provavelmente já me considera um devasso porque apalpo sua bunda, no meio da pista, por cima e por dentro da calça dele, enquanto trocamos alguns beijos, pergunta se eu lembro do nome dele quando pede meu telefone.
Paro e caço na memória o seu nome, e tenho certeza que nunca fora mencionado, lembro apenas que chegamos, dançamos um com o outro e nos beijamos, mas a idéia de que talvez eu tenha bebido demais e algo me escape da noite não é imediatamente descartado, mas eu tento categoricamente afastar esse raciocínio. "Desculpa", digo, "mas eu não lembro não". Ele me lança um olhar reprovador e toma meu celular e digita seu nome e número, acima do seu ombro eu vejo: M - A -Y - C - O - W. Maycow. MAYCOW! "Eu lembraria se você tivesse dito, eu lembraria!".


*O título é uma homenagem ao querido Jarbas Ribeiro.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Considerações Acerca da Escritura

Outro dia, um comentário no Twitter rendeu uma boa discussão quando resolvi respondê-lo. Em resumo, o @rafz dizia:

"Vocês não se cansam desse linguajar "gay" que vocês usam só pra parecer iguais a todo mundo? Sou contra isso, sou contra. Ora, quando vc quer "direitos iguais", não adianta se mostrar diferente, principalmente na linguagem. Se quero me impor como igual (é essa a intenção, não é?), não vejo porquê me portar como diferente. Não vejo sentido nisso, não vejo. Nem sentido nem graça, sério! O fato é que não consigo conceber essa alteração na língua como algo positivo. Em tese, a questão é: sou um ser humano, como qualquer outro. O que eu faço na cama, diz respeito a mim e a quem está na cama comigo, no caso, outro homem. O que me incomoda é: gente que coloca o fato de ser gay como sua principal característica, só isso!"

 Achei importante trazer isso para o blog porque blogayroz como o Arsênico e o S.A.M que utilizam uma linguagem um tanto mais "gay", com expressões como c'azamiga, miazamiga, gentchy, rycah, phynna, amiguës, beeshans, felizmentchy, fikdik, entre outras, já receberam criticas dado a linguagem que utilizam, então me agarro aqui ao meu livrinho de capaz azul, do literato e linguista francês Roland Barthes, O Grau Zero da Escritura e teço meus comentários.
Explica o francês que a função da escritura não é mais apenas comunicar ou exprimir, mas é impor um além da linguagem que é, ao mesmo tempo, a História e o partido que nela se toma; em outras palavras, desde o século XIX com o Romantismo e a invenção da Literatura como a conhecemos hoje, escrever não é simplesmente comunicar-se e exprimir suas idéias em forma de simbolos gráficos, escrever é assumir para si o rótulo de escritor e como tal é tomar partido dentro de uma série de manifestações políticas no qual estamos inseridos como seres dotados de historicidade, isto é, que vivem dentro de uma sociedade localizada no tempo e no espaço. 
A escritura, a forma com que o escritor torna a linguagem um objeto paupável, é o processo exato em que ele se liga a sociedade e exatamente por isso, se torna incapaz de não ser historicamente condicionada. Diz Barthes que a língua em si (o português, o francês, o italiano, por exemplo) não é o lugar para o engajamento social e político, ela é uma habilidade compartilhada por um grupo humano qualquer, um horizonte que instala ao longe uma certa familiaridade. Contudo, sob o que ele chama de estilo, é que a linguagem é apropriada pelo escritor e a partir dele, o estilo, que se pode manifestar suas escolhas, suas intenções, a própria ordenação de sua forma de pensar. 
Sendo assim, quando o escritor assume o estilo ele se torna um scripteur, situado a meio caminho do militante e do escritor, herdando do primeiro a imagem do homem engajado e do segundo a idéia de que toda obra escrita é um ato, e portanto, pode ser encarado como ato político também. Esta escritura militante e intelectual torna o signo, a palavra, a grafia, o suficiente para o engajamento.  Em palavras do próprio Barthes: "Alcançar uma fala fechada pelo impulso de todos aqueles que não a falam é alardear o próprio movimento de uma escolha, quando não sustentar tal escolha; a escritura torna-se, no caso, uma espécie de assinatura que a pessoa coloca embaixo de uma proclamação coletiva (que, por sinal, não foi redigida por ela). Assim, adotar uma escritura - diríamos melhor -, assumir uma escritura é fazer economia de todas as premissas da escolha, é manifestar como adquiridas as razões de tal escolha" (BARTHES, R. 1953, p. 131). A forma da escritura, das palavras, do estilo, se torna um objeto autônomo pronto a significar uma propriedade coletiva, mas principalmente uma identidade que precisa ser defendida.
Além de Barthes, precisamos acrescentar que esta linguagem, além da ultização de termos no feminino, e bordões que se propagam pela internet, como alok, é mara, entre outros, são partes constitutivas de uma identidade formulada dentro da contra-cultura gay. Contestar a norma culta, contestar as normas heteronormativas, apropriar-se da cultura pop, faz parte do berço punk de onde a cultura gay nasceu e ela não se afastou disso desde a década de 1970, apesar da contestação yupie iniciada na década de 1990.
Se hoje há crítica aos blogs citados acima, e mesmo a comentário do @rafz no meu twitter, isso denota que a cultura gay foi sim partida entre os escritores scripteur, contestadores no melhor sentido punk, e os novos yupies que preferem conviver com a cultura heteronormativa e apenas adaptá-la as suas necessidades, sem grandes contestações ou mudanças. No fim, como disse Barthes, o estilo da escritura é onde cabe a demonstração de escolhas. Escolha então o seu lado, afinal ambos são posicionamentos políticos importantes, e vamos a luta!

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Minha Vida É Uma Comédia *

, em Belo Horizonte - MG, Brasil
- Pois é, tenho mil coisas p'ra contar. Esse fim de semana foi agitado. 
- Não é, menino? Pois conte-me do Anjo lá (personagem daqui e daqui). O que aconteceu?
- Então, a pessoa me chama no MSN e convida p'ra gente ir correr. Ele sempre corre na praça da Liberdade. Eu respondi na hora um, desanimado, "pode ser", aí ele rebateu: "Poder ser aí na Lagoa da Pampulha!". E eu me assustei. Logo ele que sempre disse que sair da Savassi, onde ele mora, p'ra vir aqui p'ra Pampulha é uma viagem imensa. Que é longe demais! Aí, de repente, do nada, o menino me convida p'ra caminhar aqui?
- É verdade! Se ele sempre colocou esse obstáculo...
- Eu pensei imediatamente: esse Anjo quer coisa...
- Aí você aceitou?
- Mas é claro que sim! Quando Deus resolve me oferecer um dos seus anjos... the cutest guy de Belo Horizonte... ever... querendo passar a tarde comigo... eu também não sou idiota né?
- Não, não é!
- Você continua dando em cima dele pelo MSN?
- Sempre que ele está on-line. Desde que terminei com o Príncipe. Mas ele me ignora totalmente. Aí, de repente, ele me resolve aparecer aqui, vir aqui...
- E como foi?
- Bem, nós caminhamos, corremos, pela orla, depois ele foi lá p'ra casa...
- ELE FOI P'RA SUA CASA?!
- Sim, foi. Aí ficamos conversando. Ele com aquele sorriso que ilumina o ambiente. E só conversamos.
- Comassim só conversaram? Não aconteceu nada?
- Nada!... Quer dizer... teve um momento que ele sorriu, aí ficou em silêncio e me olhou nos olhos, foi um momento "me beija", eu acho.
- Você acha?
- É! Eu acho. Não tenho como saber se foi coisa da minha cabeça...
- Bem, parece que ele estava esperando você fazer alguma coisa.
- É, parece, mas eu fiquei com medo de avançar e ele dizer um: "Que é isso, cara? Tem nada a ver. A gente é amigo!". Pior que também teve um outro momento... (isso aqui 'tá parecendo a Rachel e o Ross e o seu famoso eye contact, né?)... continuando: eu fui deixá-lo na ponto de ônibus, e teve uma hora... bem... como vou explicar... ele fez um movimento querendo enxergar alguma coisa atrás de mim, e a boca dele passou a centímetros da minha, passou a centímetros da minha orelha, eu fiquei arrepiado até chegar em casa de novo. Mas eu preferi ficar na minha... pelo menos lá na hora.
- Na hora?
- É! Quando ele entrou no MSN de novo, isso no mesmo dia, já quase meia-noite, eu falei: "Nossa, você tem um sorriso muito bonito, sabia? Toda vez que você sorria me dava vontade de te beijar".
- E ele?
- Respondeu: "Obrigado". Só e somente... 
- Gente, esse menino é realmente estranho. Primeiro a estória lá do Estúdio, agora isso...
- Não é? Mas aí continuando o fim de semana... o Lex me liga, meia-noite: "Vamos porque vamos para o Estação"...
- Estação 2000?
- É! Eu sei que não é o melhor lugar p'ra ir no sábado. Mas eu nem pensei, o Lex quer conhecer o Andaluz que ele não conhece. Teria sido bem melhor... mas... eu me diverti com a menina fingindo que tava cantando. Sério! A menina tava dublando Beyoncé. E fingindo que era a voz dela.
- hauahauahauahuahaua.
- Pois então, lá, um menino pediu para o amigo dele chegar em mim. 
- Uia!
- Pois é, e como meu modos operandi agora inclui só ficar com pessoas que chegarem em mim, então fui conversar com o menino.
- E como ele era?
- Bonitinho, magro, uma barba bonita, só estava muito mal vestido.
- Mal vestido?
- Sim! Camisa listrada, calça xadrez cheia de zipers. Muito estranho! 
- hauahauhauahauahauahua. Nada que um banho de loja não resolva. 
- Com certeza! 
- Mas beijava bem, gostosinho, acabou que ele foi dormir comigo...
- Acabou seu celibato então? Zerou a contagem de 8 meses sem sexo?
- Deixa eu terminar a estória, caríssimo!
- ...
- Estavamos lá, eu comendo ele de frango assado, scratch his belly for inside, quando eu olho p'ra baixo... e vejo, simplesmente, a barriga dele banhada em sangue.
- QUÊ?!
- Pois é, o freio do pau dele rompeu. Amigo, era tanto sangue, mas tanto sangue, mas tanto sangue. 
- ...
- Mas muito sangue mesmo!!! Sujou toda minha roupa de cama!
- hauahuahauahauhaua... Você levou ele para um hospital, né?
- Calma, dramático. Foi um ferimento pequeno no freio, mas você imagina a quantidade de sangue que é bombeada para um pênis excitado né? Um ferimento pequeno vira um chafariz. Aí paramos, dei um banho nele, vimos o ferimento, um pouquinho de remédio para cicatrizar e nada de tocar no pau dele mais, nem deixá-lo excitado. Aí dormimos. E mandei ele não pegar no pau por umas semanas...
- Eu 'tô chocado!
- E nada de acabar com meus 8 meses sem sexo.
- ...
- Pois é...
- Foxx, amiguinho, eu não sabia, definitivamente, que você era assim tão fã da saga Crespúsculo.
- ¬ ¬'
- hauahuahauahauhauahau. Uma última piada para não perder a oportunidade: a música de vocês vai ter que ser keep bleeding, keep bleeding... 
- Eu não vou te apresentar a ele tão cedo, viu? Já tá sabendo né?
- hauhauahauahua.



* Diálogo semi-ficcional. Ele não aconteceu exatamente com estas palavras, na verdade, foram três conversas que foram reunidas em uma.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Quando A Diversidade Toma No Cú

Estava eu zapeando pelos blogs da vida, comentando aqui, lendo acolá, quando entro no blog do Paulo, Enquanto Isso, Num Cantinho Escuro da Minha Mente e vejo um convite para participar de um vídeo brasileiro para a campanha It Gets Better. Este post aqui. Achei a idéia incrivel e aí entro lá, disposto a participar, foda-se se meus pais não sabem de mim! Vou ajudar alguém. Aí começo a ler a proposta da agência Grïngo. E começo a me assustar. Aqui está a proposta no site, mas reproduzo-a abaixo, com toda as referências necessárias.

"Muitos gays crescem imaginando que a vida tem que ser vivida de uma única maneira, formatada pelas concepções sociais. Essas convenções nos fazem sentir diferentes do resto do mundo à nossa volta, e algumas pessoas lidaram com o processo de “sair do armário” de forma mais dura do que outros.
A mensagem que esta campanha americana de “It Gets Better” quer passar é muito relevante, pois existem centenas de adolescentes que se matam todos os anos porque sentem que o que estão passando é além do que eles têm capacidade de resolver sozinhos e acham que nunca existirá uma luz no fim do túnel. E essa luz existe, e a gente sabe que a verdade é que it really gets better, much better!
No Brasil, eu acho que o problema mais abrangente (não o mais importante) é a caricaturização do personagem “gay” para as massas. Então sei que nossos “gays” são visíveis, mas são uma representação muito pouco real do que existe no mundo. Os personagens mais visíveis são os suspeitos de sempre: os ultra-femininos, garotos de programa musculosos, cabelereiros futriqueiros, costureiros divas -- enfim, uma renca estereotipada que passa muito longe de modelos de comportamento para um jovem que está formando seu caráter e tentando desesperadamente participar, pertencer, se identificar com um grupo.
O que queremos fazer é um vídeo apenas com gays brasileiros considerados “normais” -- ou seja, fora do estereótipo televisivo. São vocês estes personagens: artistas, biólogos, arquitetos, dentistas, desempregados. Queremos lógicamente também contar com os cabelereiros, go-go boys e costureiros da vida, que se comportam de maneira normal. Vale a pena objetivar a palavra “normal”.
Normal” é ser você mesmo, ter idéias, saber onde você se encontra na sua vida, ter consciência do que passou e ter uma relação com a vida que é otimista, entusiasmada, feliz ou triste, mas real."

 Agora, os meus comentários.
1) Sim, muitos gays crescem imaginando que a vida só pode ser de uma maneira. A maneira hétero.  Se homem, que você tem que sair com meninas, gostar de meninas, viver com meninas, se apaixonar por meninas, transar com meninas, ter filhos e família com meninas. Se mulher, tudo isso só que com homens. Além disso, homens tem que se comportar de forma másculo, corajosa, viril, sem sentimentos, racional. Já somente mulheres podem se femininas, medrosas, delicadas, sentimentais, emocionais. Essas são as concepções sociais a que nós estamos expostos, mas acho que a agência Grïngos não entende disso, chama, em palavras de especialistas, Sexismo.

2) É o mesmo Sexismo que caracteriza o personagem gay como sempre aquele próximo as mulheres, é este mesmo sexismo que constrói o estereótipo do efeminado. Contudo, para combater o estereótipo do efeminado, nós não mostramos que os gays não são efeminados, nós deveríamos é mostrar que o efeminado continua sendo homem. Ser gay pode ser ser efeminado sim, isso, ao contrário do que o texto da agência diz, é sim uma verdade, existem gays efeminados, mas o fato deste homem gay ser efeminado não o descaracteriza como homem, em momento algum, de forma alguma. 

3) Eu quero saber é porque diabos uma pessoa ultra-efeminada, um gogo boy ou garoto de programa, um cabeleireiro ou costureiro não podem ser bons modelos de comportamento para um jovem com o caráter em formação? Nenhuma dessas características citadas acima fazem parte do caráter das pessoas, garotos de programa e costureiros divas podem ser pessoas honestas e verdadeiras, homens ultra-efeminados e cabelereireiros podem ser pessoas pacíficas e que ajudam o próximo. Para mim, esses são conceitos de caráter que podem servir de exemplo para os jovens, não o seu emprego, não sua característica física. Porque ser efeminado, para mim, não é mais do que uma característica física.

4) O que é normal? Quem definiu e institucionalizou a agência Grïngos para selecionar se seus 20 convidados para o vídeo são ou não normais? Normal é aquele que segue a norma hétero? Quer dizer então que os gays só tem o direito de esperar que o futuro seja melhor se eles, todos, seguirem a mesma norma hétero? Se todos comportarem-se iguais, do mesmo modo, exatamente? Que espécie de mundo mais preto e branco é esse que a agência Grïngos quer? Eu voto contra e clamo a todos que critiquem o projeto da agência como eu mesmo fiz. Clamo todos para que lembrem que a bandeira gay tem várias cores, e eu só quero viver em um mundo se ele for diverso e colorido.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Mas, Apesar Disso, Não Obstante...

, em Belo Horizonte - MG, Brasil
Minha colega de apartamento, ao telefone com a prima, em um sábado a tarde:
- Pois eu gostei muito do Vila Verde, o espaço, o público, pessoas interessantes.
Eu a acompanhara na noite anterior àquele bar que misturava um clima um tanto rock'n roll com alguma coisa de new hippie, em Nova Lima, município ao lado de Belo Horizonte. Frequentado pela fina nata da juventude belohorizontina, que vive na verdade naquele município de imensos condomínios cercados de seguranças, e que se interessa em poder manufaturar um cigarro de maconha tranquilamente na mesa do bar, enquanto conversam sobre seus carros importados, e depois ir até o jardim, a beira de um riacho artificial, acendê-lo.  Protegidos.
- Ah, sim, gostei do B. e do P., também. São caras legais... é, eu fiquei conversando com o B mesmo... - e neste momento, em que eu escutava a conversa de dentro do meu quarto - ah, ouve essa Foxx: eu 'tava conversando com o B. e ele, você tinha ido pegar cerveja, ele falou assim: "Ah, que bom que vocês vieram, porque senão eu ia sobrar com aqueles dois lá" - se referindo a prima de minha colega de apartamento e ao P. - "porque você é uma pessoa legal e ele..." - agora falando sobre mim - "bem, eu sei que ele é né?, mas ele parece mesmo assim ser um cara bem legal". 
- Mas?! - grito eu do quarto - Mas, apesar disso, não obstante, eu pareço ser alguém legal? Quem é gay não pode ser legal não, porra?!

sábado, 20 de novembro de 2010

Perdido Na Tradução

, em Belo Horizonte - MG, Brasil
Estou eu na academia, é horário do almoço, horário mais barato, academia mais vazia, o que é importantíssimo para o treino que faço agora. Estou sempre ocupando duas máquinas ao mesmo tempo. Definitivamente estes professores acham que a academia nos pertence.Termino os meus quinze minutos de aquecimento na esteira e, antes de me dedicar a abdominais na bola, resolvo passar no banheiro do vestiário. Próximo a entrada, treina um homem que deve ter quase trinta anos, apesar de alguns vestígios de espinhas que ainda tem no rosto, ele tem uma tatuagem de uma carpa que cobre todo seu ombro direito, tem um corpo magro que está começando a ficar definido, ao passar por ele o comprimento com um aceno de cabeça e entro.
No banheiro, no entanto, ao me trancar no reservado percebo o que eu fiz. O aceno de cabeça e logo após entrar no vestiário poderia facilmente ser interpretado como um convite. "Acompanhe-me". Pensei comigo enquanto abria a porta que isso era loucura da minha cabeça, mas não, não era. Ao abrir a porta ele estava lá, fingia usar o mictório e eu fingi não vê-lo, passei direto para a pia e lavei a mão, mas quando virei para puxar uma toalha de papel, ele virou-se para mim. Com o short abaixado, o pênis começando a ficar duro (e pelo tamanho acredito que ficaria bem grande). 
Eu, sem ar por um momento, vi minha vida passar diante dos meus olhos. Nos dias em que eu fantasiei isso acontecendo em todas as academias que eu já frequentei, nas vezes que vi isso acontecendo com outras pessoas e desejei que isso acontecesse comigo, e quando simplesmente acontece eu olho para aquela situação e, sinceramente, sinto asco. Fingi que nada estava acontecendo e enxuguei a mão no papel toalha, joguei-o no lixo e saí do banheiro, voltando aos abdôminais que me esperavam. Ele? Ele me olhou durante aquela hora e meia que estive ali sem entender absolutamente nada do que tinha acontecido. Tudo por causa de uma má interpretação de um sinal meu. Algo que se perdeu na tradução.


quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Reflexões Alcoólicas

, em Belo Horizonte - MG, Brasil
Rajeik: Então você acha que ver dois gays ou duas lésbicas influencia o comportamento de duas crianças?
Foxx: Oi?
Théo: Nem eu entendi essa. 
Foxx: É, começa a contar a estória do começo ora.
Rajeik: Tá! É que a namorada de uma amiga minha é professora e na escola dela duas meninas foram pegas se beijando no banheiro da escola.
Théo: Humm...
Rajeik: E eles foram investigar e descobriram que uma das meninas tem duas mães.
Foxx: Duas mães?
Rajeik: É! São lésbicas. 
Foxx: E sua pergunta é se ter pais homossexuais vai tornar as crianças homossexuais?
Rajeik: Eu gostaria de saber se elas podem ser influenciadas...
Foxx: Olha, dado minha experiência com crianças, eu não acho que elas possam ser influenciadas, neste caso. Contudo, o fato de ter pais homossexuais torna um relacionamento gay/lésbico mais comum para essas crianças. 
Rajeik: Comum?
Foxx: É! Pense bem, se vc tem um pai e uma mãe em casa, você acaba por considerar que aquele modelo de relacionamento amoroso é o comum. Quando você tem dois pais ou duas mães, você fará o mesmo. E como você esta acostumado a ver dois homens ou duas mulheres se beijando, por exemplo, você considerará normal fazer isso também.
Théo: Ai, se no caso das meninas da escola, se uma delas sentiu a vontade de beijar outra menina, e achava isso normal porque em casa ela foi educada a considerar este desejo algo normal...
Foxx: ... o que a impediria de realizar esse desejo se ela já o considera normal? Um casal gay influencia sim a criança. Eles criam crianças que não têm problemas em relação a própria sexualidade.
Rajeik: Faz sentido!

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Motivo Para Chorar

Só um motivo me arranca lágrimas facilmente hoje em dia. Eu sei que é bobabem, que é até ridículo, mas, como diz um amigo meu, precisamos reconhecer nossas fraquezas e esta é uma: eu sempre choro porque estou solteiro, e como eu chorei hoje. 
Eu, definitivamente, não consigo entender o que se processa. Eu me considero um homem bonito, uma pessoa inteligente, uma companhia agradável, mas por algum motivo que me escapa a compreensão ninguém considera que este homem bonito, inteligente e agradável esteja a altura de se tornar seu namorado. Não que eu não seja paquerado na rua, boates e bares os quais frequento, sou, contudo estas paqueras e flertes todos só tem como objetivo me levar para cama e só. Ou, o que é mais nojento, pedir dinheiro em troca do sexo ou mesmo propor um salário para me namorar.
Que fique totalmente claro - abrindo aqui um parêntese - que eu não tenho nada contra fazer sexo por sexo, é bom, é relaxante, é agradável, contudo isso não funciona mais para mim. Eu fiz muito sexo com semi-desconhecidos, muito!, para dizer a verdade, o meu último ex-namorado foi o único homem com quem eu fiz sexo mais de duas vezes, e esta vida se esgotou para mim. Cansou!
Eu quero namorar, quero ter intimidade com alguém, quero poder acordar do lado desta pessoa e frequentar sua casa, seus amigos, sua vida. Compartilhar com ela alegrias, noites divertidas, filmes românticos e domingos tediosos, eu quero isso, não um sexo com alguém que pode ter mentido seu nome para mim. Mas, apesar do meu desejo, apesar de minhas orações, apesar da velinha que eu soprei no meu último aniversário, por algum motivo inconcebível para mim, além do meu entendimento, ninguém, nenhum humano, é capaz de nutrir o mesmo desejo por mim. Infelizmente! E infelizmente, por causa disso, continuarei com minhas lágrimas, até que um dia elas sequem, até que um dia isso não doa mais, até que um dia eu me acostume. Quem sabe um dia...

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Entrevista No Justo e Digno!

Então, meus caros, aproveitem o feriado lendo a entrevista que dei ao fofo Serginho do Justo e Digno! É só clicar aqui. Sim, tem fotos lá também!


sábado, 13 de novembro de 2010

Alguém Me Explica Por Quê?

, em Belo Horizonte - MG, Brasil
Era madrugada quando meus amigos me deixaram em um ponto, no centro de Belo Horizonte, para que eu pudesse pegar um ônibus para casa. Sentei no banco de metal e eu esperava qualquer um que se encaminhasse para a Antônio Carlos. Uma senhora gorda já estava sentada e conversava com um homem em pé sobre um assunto qualquer. Eu me perdia em pensamentos olhando para o relógio do Itaú a distância quando senti, finalmente, uma presença ao meu lado. Ele sentou, me olhou nos olhos, e sorriu. Trazia uma mochila preta e uma camiseta justa que marcava o peitoral. Sentou e sua coxa tocou a minha, eu me afasei um pouco mas ele insistiu e eu o olhei novamente, ele me respondeu  com os olhos e sorriu. Eu, atrevido, desci a mão até sua coxa e com apenas um dedo acompanhei a costura lateral da calça jeans e ele sorriu, se levantando e fazendo com a cabeça que eu o seguisse. Ele se encaminou para um ponto mais distante da senhora gorda e do homem em pé e falou: 
- Você tem dinheiro aí?
- Como? Respondi.
- Dinheiro, a gente fica se você me conseguir uns cinquenta reais e pagar o motel.
Eu o olhei novamente e ele mantinha o mesmo sorriso nos lábios enquanto falava. 
- Claro, tenho sim, vai indo que eu te sigo.
Ele se encaminhou para um hotelzinho de portas de vidro, não muito distante dali, eu voltei a parada de ônibus e entrei no 1207 que passou naquele instante. Dentro, sentado numa cadeira desconfortável, não pude deixar de me perguntar: 
- Por quê? Alguém me explica por quê?

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Abordagem Direta

, em Belo Horizonte - MG, Brasil
Eu saí do supermercado e caminhei por um quarteirão. No caminho contrário vinha um belo menino que não devia ter mais de dezesseis anos. Ele me encarou e eu encarei em resposta, enquanto estava ao  celular. Olhei para trás e ele olhava também, repeti o gesto mais uma vez, já no fim do quarteirão e ele estava voltando e caminhando em minha direção. Parei na esquina e continuei tentando completar a ligação, afinal no mínimo era mais uma estória a contar. É quando ele se aproxima e diretamente pergunta:
- Quanto você me pagaria para que eu deixasse você me chupar?
Eu o olhei de cima a baixo, repetindo para mim mesmo, mentalmente, "eu pagar para eu te chupar?", e perguntei:
- Quantos anos você tem mesmo?
- Dezoito! Respondeu ele.
- Agora tenta de novo.
Ele pensou por um segundo: - Dezessete?
- Dezesseis? Completei e virei as costas, continuando meu caminho para casa, pensando no que a mãe dele deveria pensar que ele estava fazendo aquele momento na rua.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Na Companhia de Fobos

, em Belo Horizonte - MG, Brasil
Eu saí de lá correndo. Pernas pesavam tentando me levar colina acima e para longe daquele circo. Circo, teatro, bacanal. Dionísio sorria com certeza, com pena, com graça, debochava. E eu corria, corria até meus pulmões explodirem e minhas têmporas latejarem. Eu estava sufocando quando encostei na parede de uma casa e olhei para os fantasmas dos quais eu fugia. Ainda dava para ouvir os atores, ainda dava para imaginar toda a platéia. Homens se beijando, mulheres se pegando, casais quase se comendo. No palco, na platéia, no jardim, em todos os lugares, ao meu redor. Mas não foi Dionísio, nem Apolo, nem mesmo Hefaístion, foi Fobos, o terror, que me visitou, sentou do meu lado e beijou meus lábios. Eu não podia ficar ali e corri, apavorado. Medo do quê? Fobia do quê? Daquela pegação desenfreada, do bacanal que se formava, da morte dos meus sonhos românticos que provavelmente se daria se eu ficasse ali por mais algum minuto. Não posso, não permitir que minha vida simplesmente termine assim. Que minha única experiência amorosa se resuma a sexo com desconhecidos, beijos sem importância e masturbação a meia luz. O Amor, ó Eros, ele tem que ser mais do que isso! Então eu corri, apavorado, sem ar. Sentei no chão com medo de cair. Mas eu ainda estava perto demais e corri, corri mais, acima e além, e lembrei que um amigo morava perto. Eu não podia voltar para casa naquele estado. Tremendo, ofegante, apavorado. Pedi abrigo, santuário, e ouvidos e consolo. Sentei no chão da casa dele tentando recompor-me do pavor que Fobos manchou minha alma. Eu agora tenho medo, um medo absoluto e certeiro que o único amor que me possa ser dedicado seja o de Messalina e Sardanapalo.

domingo, 31 de outubro de 2010

Lençóis

, em Belo Horizonte - MG, Brasil
Sinceramente não sei como chegamos naquele ponto tão rápido. Há 30 minutos eu estava sozinho e agora me vejo de encontro a uma parede dura, empurrando-o contra ela enquanto nos beijávamos com uma certa sofreguidão. Ele puxava meu corpo contra o dele, e eu sentia os músculos negros contra minha pele branca, sentia também seu quadril roçando no meu, deixando-me muito excitado. Foi quando eu agarrei suas nádegas, grandes e firmes, apertei e já descia meus dedos por entre elas, procurando-lhe o cu. Ele, no entanto, tirou minha mão de lá e com um sorriso, beijou meu pescoço e virou-me de costas para ele.
Fiquei apertado entre aquele corpo musculoso e a parede dura, enquanto ele enfiava delicadamente os dedos por dentro de minha cueca e a conduzia até meus pés. Foi quando ele resolveu acompanhar minha coluna com sua lingua, áspera e úmida, até enfia-la entre as minhas nádegas. Apoiado na parede, empinei meu quadril para ele, e um raio me atingiu a mente. Eu estava com André, o homem mais bonito com quem eu já estive alguma vez na vida. Ele era tão bonito que ficar com ele era quase algo errado. O pensamento durou apenas um segundo e foi rapidamente sepultado por uma dose de cinismo. A quem queremos enganar? Todos adoram pessoas bonitas, eu particularmente, graças a Régulos, sou um verdadeiro esteta, apenas controlo isso com doses cavalares de superego. Então, me deixei levar e pedi, sem vergonha, que ele me penetrasse. Foi aí que ele novamente se ergueu, feliz dava para perceber, e mordeu, levemente, o lóbulo de minha orelha, encaixando com cuidado aquele pau túgido, grande e grosso, entre minhas carnes, para em seguida, começar a mover-se suave e cadencialmente, com habilidade de quem conhecia a lida. André me tinha ali, de pé, contra uma parede. Foi ali que ele me fez gozar, absolutamente sem me tocar.
No entanto, ao gozar, não pude mais ficar com ele. Acordei , sozinho em minha cama, e percebi que tudo não passava de um sonho, um sonho com alguém do meu passado, real, mas com o qual nunca tive nada mais do que um beijo e agora me restavam apenas os lençois de minha cama, agora sujos, para colocar para lavar assim que o dia amanhecesse e a lembrança dos últimos seis meses sem nenhum sexo.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Samba do Approach

, em Belo Horizonte - MG, Brasil
Sexta-feira a noite, de uma noite quente, em Belo Horizonte. Caminho em direção ao ensaio do coral que eu faço parte dentro da Universidade, quando passo diante do prédio da Escola de Belas Artes. Na direção contrária vem ele. Apesar da noite quente, ele veste um moletom vermelho, cara de menino jovem, com no máximo dezenove anos, ele me olha e eu, não que corresponda, mas já que ele está olhando, dou corda para ver no que vai dar. É por isso que depois que ele passa eu olho para trás e o vejo olhando também, é por isso que olho para trás de novo e o vejo voltando para falar comigo, é por isso então que diminuo o passo, até finjo arrumar alguma coisa na barra da minha calça, pensando: "Vamos ver no que isso vai dar", afinal meu horóscopo havia prometido conhecer pessoas novas naquela sexta-feira.
É quase diante da porta do prédio da Belas Artes que ele me alcança e como uma arma de fogo, atira: 
- 'Tá afim de quê?
Sem nenhum comentário antes, sem perguntar meu nome, somente essa abordagem de bate-papo do Uol. Eu, então, com ar de quem esperava por isso, respondi:
- Péssimo approach.
Por um segundo ele pareceu não entender, até que perguntou novamente:
- Então você não 'tá afim de nada não?
- Não! - respondi - Com você, para fazer sexo em um banheiro, não estou não!
Ele girou nos calcanhares como se nada tivesse acontecido, quem não notasse uma leve vermelhidão em sua face provavelmente acreditaria nisso, e foi embora, enquanto eu continuei indo para o meu ensaio rindo alto e sozinho, naquela sexta-feira quente de Belo Horizonte.





domingo, 24 de outubro de 2010

Get Better

Quando adolescente, eu tinha medo de sair de casa. Tinha medo de ouvir aonde eu passava: "viadinho", "bichinha". Eu já ouvia isso na escola, ouvia entre meus vizinhos, ouvia em casa dos meus pais e irmãos, então eu preferia ficar em frente a tv. A tv não me dizia que eu estava errado, que eu era alguém que ia queimar no inferno, que eu era criminoso. Na verdade ela dizia, mas não dizia para mim, era para qualquer outro personagem efeminado que aparecia na tela, um costureiro, um cabeleireiro, alguém num programa de humor, eram eles e eu podia fingir que nada daquilo era comigo. Eu podia.
Mas um dia eu cresci, e eu vi que eu não podia mais me esconder atrás da tela daquele aparelho e evitar viver a minha vida. Eu não podia simplesmente ignorar que aquele mal estava sendo feito, a mim, a outros, fiz faculdade, cresci, beijei vários e muitos e fiz sexo com outro tanto, e vivi plena e feliz a sexualidade que os outros acham que é errada. Mas não é! É a minha e nada que eu faça em minha vida é errado porque é minha vida, meus caminhos e minhas escolhas, e cada caminho que eu tome será sempre o correto porque eu aprendei com ele, pelos erros e pelos acertos. Não cabe a ninguém, absolutamente ninguém, nem meu pai ou minha mãe, nem o padre ou a Bíblia, nem o próprio Deus dizer como eu devo viver a minha vida. 
Crescido, me tornei professor, e sim eu vi acontecer de novo e de novo tudo aquilo que eu vi acontecer comigo. Mas não, não fiquei parado, não fiquei quieto, nem fiquei em silêncio. Defendi alunas minhas que foram vistas aos beijos no banheiro da escola, denunciei um pai que espancava o filho dizendo q ele era "viadinho", falei em alto e bom som que condenar um menino que havia se suicidado ao descobrir que era soro positivo aos quinze anos era, para dizer o mínimo, antiético da parte de profissionais que deveriam estar lá para ensinar. Também ajudei meninos que estavam em momentos de transformação, assumindo sua identidade sexual, deixando de ser meninos para se tornarem meninas. Às vezes o que eles precisam é apenas de um bom modelo a seguir. Também xinguei a Globo Minas em alto e bom som (via e-mail) quando eles criticaram crianças dizendo que meninos brincam com brincadeiras de meninos, e continuo repetindo aqui: cadê a porra de sua responsabilidade social, Rede Globo?, hoje, estou terminando e me formando no curso que a Universidade Federal de Minas Gerais oferece de Educação Sem Homofobia. Aqui o site.
Mas porque disso tudo? Porque todos os meninos têm o direito de sonhar que um dia serão felizes, amados, que poderão amar e ser amados em retorno. Todos os meninos têm esse direito. Têm o direito de sonhar. E principalmente porque ser gay não é só se interessar por homens, é ter atitude política, atitude de protesto e de descontrução de todas essas formas heteronormativas que balizam nossa sociedade. Bichas, uni-vos! E sim, isso vai melhorar, tudo vai melhorar, se cada um fizer a sua parte.


quarta-feira, 20 de outubro de 2010

ESPECIAL RIO DE JANEIRO: Verdade ou Mentira?

, em Niterói - RJ, Brasil
"Eu vou fazer você tomar gosto pela pegação de novo", foi como o Gui terminou a noite, profético, após cervejas e cigarros no São Dom Dom, em Niterói, junto a mim, Bruno e uma amiga dele, e meu priminho Lobo. Tudo aconteceu em uma noite de quarta, que reservei para encontrar alguns blogayros que moram todos em Niterói, onde eu estava hospedado. Após fecharmos um bar, o Tombadilho, e infelizmente o Lobo precisar ir embora, irmos então para outro, no qual ficamos até a amiga de meu anfitrião precisar também ir embora. Neste último, surgiu, entre os inúmeros assuntos em pauta na mesa, a pegação que acontece na ponte para a ilha da Boa Viagem, próxima a região em que estávamos. Os dois, Gui e Bruno, extremamente curiosos para saber como funcionava aquela espécie de pegação, o qual não conheciam e inclusive, no caso do Bruno, ele acreditava que era pura lenda urbana que algo acontecesse por ali.
Fomos! Contudo ao chegar lá não haviam muitas pessoas. Três jovens que conversavam sentados em uma mureta caiada de branco, nós três e mais um cara mais velho, por volta de seus 45 anos, que ficava rondando. Deixei os meninos observando o movimento e me afastei, sentando em outra mureta, fumando um cigarro do Bruno, eles no entanto devem ter acreditado que eu estava interessado no cara mais velho que circulava próximo a mim. "Então? Não vai lá falar com ele?". Neguei veementemente! Eles começaram a me questionar, perguntar motivos consistentes para que eu não ficasse com ele, coisa que de fato eu não tenho. "A gente vai falar com ele p'ra você então...". E saíram, juntos, para falar com o cara, enquanto eu tentava dizer não. 
Contaram-me isso depois. Chegaram no tal cara, que disse se chamar Hugo, e perguntaram o que ele estava procurando por ali - abordagem típica - e ele disse que procurava dois meninos novinhos e bonitinhos como eles dois (devo admitir que ele tem bom gosto). Continuando a conversa, Bruno perguntou se ele tinha isqueiro, ele logo falou que não tinha, falou também que não gostava de quem fumava e para livrar-se dele Bruno já afirmou que fumava muito. "Quase acendi três cigarros ali na frente dele". Pouco depois, eu que observava de longe, vi que ele se levantou de onde estava para olhar para mim e ver se estava interessado. E, obviamente, ele não estava. Na verdade ele ficara interessado no Gui, o único não fumante, que por causa do tal ter mais ou menos o triplo da idade dele, preferiu continuar empurrando o cara para cima de mim, enquanto o cara continuava por ali.
O clímax da "pontinha", contanto, foi quando ele chamou o Gui e perguntou quem de nós três queria ir numa parte mais escura checar um barulho que ele tinha ouvido. "Ô desculpinha mais esfarrapada!", contudo nenhum dos meninos tinha a menor coragem de ir com ele e a mim faltava interesse, porém, como o Gui estava determinado a me fazer beijar naquela noite, ele propôs que fossemos os três, o que obviamente assustou o tal cara. Era óbvio o desconforto dele, apesar que ele se mantinha sempre próximo ao Gui. Foi quando ele, do nada, sacou um laser, daqueles de apresentação de Powerpoint em sala de aula, e saímos de lá ouvindo as palavras do Bruno ecoar: "De que Cine Ideal você roubou esse laser?". 
Na volta, o Gui me deu um sermão. Perguntou porque eu não fiz nada, "Você quem tem que se interessar pela pessoa, não esperar que ela se interesse por você", me perguntou motivos concretos e reais para eu evitar ficar com pessoas, o qual ele mal me deixou responder, e, por fim, lançou na minha cara, como um tapa forte e certeiro: "Olha, se você quer acreditar que ninguém nunca está interessado em você, você tem todo esse direito. Eu sinceramente acredito que você não merece passar por isso, mas respeito sua decisão".
Pois é: como conclusão, sim, é verdade que rola pegação na Ponte da Boa Viagem em Niterói. Mas é verdade as palavras que ouvi do Gui também? Basta eu passar a achar que as pessoas são capazes de se interessar por mim que elas milagrosamente começarão a aparecer diante de mim ou eu voltarei a minha situação anterior de continuar "correndo atrás" de pessoas que no fim nunca se mostram minimamente interessadas? Qual, neste caso, é a verdade?


domingo, 17 de outubro de 2010

ESPECIAL RIO DE JANEIRO: Dia Internacional do Bambolê

, em Niterói - RJ, Brasil
Era uma tarde de segunda-feira em que o sol insistia em manter-se escondido atrás de nuvens. O plano inicial entre eu e o Bruno era encontrar alguns blogayros na Lapa e beber algumas cervejas por lá, mas quando tentei confirmar com estes sua presença, um a um, começaram a desistir do programa leve. Com isso, resolvemos procurar algo diferente para fazer, e como não tínhamos nenhuma idéia, Bruno propôs entrarmos no bate-papo do UOL com o nick "Quero Sair. Ajudem!" e pesquisar opiniões sobre lugares para se ir naquela véspera de feriado.
Conversamos com algumas pessoas e as dicas sempre se voltavam para a Noite Preta, com a Preta Gil, que aconteceria no Espaço Ação Cidadania, que faz parte do projeto de revitalização da zona portuária do Rio de Janeiro. Contudo, o preço salgado nos desanimou. Foi quando começamos a conversar com um dos presentes na sala com nick "Moreno Nit", este nos propôs sentar em algum bar aqui em Niterói mesmo, sentarmos os três para conversar. Porque ele não freqüentava o meio gay. Bruno me olhou assustado, mas eu o encorajei a dar mais corda a conversa, e ele o adicionou ao MSN. Conversamos os três, através do MSN do Bruno, por quase toda tarde quando meu anfitrião tomou coragem de encontrar nosso novo amigo. O "Moreno Nit" se revelou um cara inteligente, de papo agradável e excelente senso de humor, apesar de ainda manter-se no armário e dar muita importância a "ser discreto". Marcamos às 20h, quando ele passou por aqui em seu carro para nos pegar.  
Acabamos parando em um restaurante japonês na Cantareira mesmo e também no Vestibular do Chopp, onde eu notei o Bruno cada vez mais interessado no cara da internet. Ele era um mulato de belo corpo e jeito de malandro carioca, o típico malandro carioca pegador e jogador de futebol de areia - se é que me entendem. Notei que logo mãos se entrelaçaram por baixo da mesa, carinhos nas pernas eram trocados, além de olhares cúmplices. Não foi surpreendente ouvi-lo perguntar, após irem ao carro trocar alguns beijos com mais segurança, se eu me incomodaria de esticar a noite na casa do "Moreno Nit". E como tenho a política de nunca atrapalhar chances de meus amigos se divertirem, aceitei sem pestanejar o convite. Eles iriam dormir juntos, eu ficaria no quarto de hóspedes, vendo tv, tomando algumas cervejas que ele tinha em casa e fumando o quanto quisesse. Foi quando Bruno completou: "Quando fomos no carro, ele inclusive ligou para um amigo dele p'ra ficar com você. Disse que o cara era bonito e tudo, mas parece que ele já estava com um cara". Eu sorri, dizendo que não era necessário. "Eu estou acostumado a sobrar mesmo". 


domingo, 10 de outubro de 2010

ESPECIAL RIO DE JANEIRO: Catarse no Cine Ideal

, em Rio de Janeiro - RJ, Brasil
Foi dentro daquela boate na Rua da Carioca com cheiro de cerveja, vinho barato, suor e vômito pelo ar que me dei conta que eu não queria pertencer a lista de alguém, no entanto, o sabor de um passado que já não me pertence mais envenenou meus lábios. Lembrei com muita clareza dos meus vinte-e-um anos, das competições com amigos, das caçadas por beijos, por nomes em listas, por contabilidades de fim de festa, coisas que sinceramente me divertiam, mas que hoje são absurdamente vazias, vazias de significado, de força, de atrativo, de vida. E minha sede é toda de vida. 
Eu não conseguiria mais. O que adiantaria? O que adiantaria beijar novamente tantas bocas, que não tem nome, nem estória, que não participarão de minha vida, que não me conhecerão em nada, que no fim não existem? Porque, ao fim, eu retorno para casa sozinho, seja no Rio, seja em Belo Horizonte, seja em Natal. Bem que pensei, pensei no ônibus enquanto viajava para terras fluminenses, de apenas aproveitar e seguir o conselho do Sunshine num dos comentários anteriores aqui do blog. Disse-me ele, desejando boa viagem, "Lembre-se.. poucos ou quase ninguém te conheçe por ai, e onde somos anônimos, quem faz nossas estórias somos nós! Seja ousado, Safado e discarado!". Eu poderia mesmo beijar qualquer boca, qualquer um, somente aproveitar a noite, afinal eu estou de férias no Rio, não encontraria um namorado aqui, não é? Namoros a distância estão completamente fora de cogitação em minha vida de agora em diante. Mas eu simplesmente não consigo mais me comportar dessa forma. 
Sinto que é dar um passo para trás, é trair quem eu sou, o que sinto, o que acredito, não posso fazer isso, não posso fazer isso comigo mesmo! Não sou mais aquela pessoa, não que haja algo de errado em ser aquela pessoa que eu já fui, não vou cuspir no prato que já comi, contudo acho que tenho que olhar para frente e procurar as estórias que ainda não estão na minha coleção, e o que hoje falta na minha vida é uma bela estória de amor, o capítulo sobre noitadas, beijos e pegação definitivamente se encerrou. 

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Rio de Janeiro


Olá meus caros, este post é apenas para informar que ficarei a próxima semana, do dia das crianças, no Rio de Janeiro. Ficarei na casa do meu querido Bruno do O Que Aconteceria Comigo?, fico por lá do dia 8 até o dia 14, vou para além de reencontrar um amigo querido, conhecer alguns novos blogayros (não furem comigo de novo, ok? deixem contatos aqui no blog ou pelo e-mail le.foxx@hotmail.com, ou no twitter: @Foxx) e também fazer uma pesquisa que tenho adiado na Biblioteca Nacional, se vocês não lembram o blogayro aqui é doutorando e tem que fazer pesquisa para escrever minha digníssima tese. Enquanto isso, continuem vendo o vídeo, espero ter novas estórias para contar quando voltar, provavelmente com muito álcool envolvindo.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Fantasias Patéticas II

Obviamente, como são fantasias, nada neste post realmente aconteceu, ok? Avisados?



Sexo Rotineiro


Caímos cansados na cama, minha mão sobre a barriga suada dele, e dessa vez sou eu quem me aconchego em seu braço. Ele olha para o teto e eu para o seu corpo e, de repente, percebo que já conheço cada centimetro daquela pele. A curva que sobe para seu peitoral e a que temperatura seu mamilo ficar entrumescido, que minha língua deslizando em "S" por sua nuca lhe causa arrepios e que ele tem cócegas no cotovelo. Percebo que sei que ele corta o cabelo somente uma vez por mês, e que mesmo assim está sempre lindo, que ele detesta o cheiro de Sundown, e que ele já leu todos os livros de Virgínia Woolf. Naquele instante, me dou conta que sei que ele gosta de filmes pornôs, principalmente daqueles que mostram grandes gozadas, e que ele não acredita em absolutamente nada de astrologia, mas sempre ri quando eu digo que os aquarianos são assim mesmo, indiferentes ao mundo místico, mas que combinam perfeitamente com leão. Sei que me irrito quando ele diz que eu o sufoco demais, que sou muito dramático, e quando resolve me levar para acampar no meio do nada só para estar em contato com a natureza. Que também me irrito quando ele age por teimosia, às vezes acho que só mesmo para me irritar. Percebo que tem milhares de roupas dele na minha casa, e minhas na dele, que tem livros meus que vou precisar amanhã por lá e que faz tempo que tenho duas escovas de dente. Ele também. Percebo que ele me dá sempre uma nova edição do Pequeno Príncipe, e é por causa dele que minha coleção está aumentando, e também que já viajamos tanto pelo Brasil que está dificil decidir que cidade conhecer no próximo feriado em outubro. Noto que todos os meus amigos e os dele são nossos amigos hoje. Lembro que ele não gosta que eu fume, mas fuma também de vez em quando. "De vez em quando pode", repete ele. Sei que episódio de Chaves o faz rir e que se deixa-lo ele vai assistir somente Friends, todos os dias. Percebo que eu o conheço, bem, mas não completamente, e sei que agora quando ele me sorri com essa cara safada é porque ele quer repetir o sexo de novo e que agora quer ser ativo.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A Raposa e o Gato

, em Belo Horizonte - MG, Brasil
Ao chegar em casa e deitar sozinho na minha cama, abraçando os travesseiros que eu trocara as fronhas verdes da semana passada por novas, limpas, brancas, não conseguir conter o pensamento de porquê ele não estava ali comigo. Por que sua cabeça não estava no travesseiro ao lado, na altura perfeita para que visse aqueles olhos castanhos que se apertam quando ele sorri, aquele sorriso aberto, constante, amigável, acolhedor.
Amigos em comum nos apresentaram. Apresentaram-nos em um bar em frente a faculdade, e eu o pensei hétero, mas no final da noite, entre conversas, cervejas e relatos, descobri que estava enganado. Conversamos, entre cervejas, naquela noite que começara as quatro horas da tarde de uma véspera de feriado. Falamos sobre cinema, quadrinhos, arte, política e contra-cultura, o que me deixou encantado. Chamarei-o aqui de Gato, por causa do animal mesmo, que é ao mesmo tempo arisco e carinhoso, como ele.
Achei que nunca o encontraria de novo, como as tantas pessoas que nós conhecemos durante estas noites em baladas e bares que nos rendem ótimas conversas, mas que por algum motivo simplesmente desaparecem no ar quando o carro do Sol sobe no horizonte. O Gato seria somente uma lembrança de um cara completamente perfeito que (obviamente) nunca se interessaria por mim.
Mas, no entanto, hoje, voltando do ensaio do meu coral, cruzei com ele em frente a Escola de Belas Artes, e ele colocou o braço em torno do meu ombro e me disse, caloroso: "Vamos, amigo nerd, vamos lá no Cabral beber uma cerveja comigo?". E eu inebriado por ele, pelos seus olhos que se apertavam, me deixei levar. Sentei na mesa com os amigos dele e quando o vi deixar de conversar com os amigos e dedicar-se unicamente a mim, a nossos assuntos, a nossas conversas, a nossas piadas, eu realmente me encantei um pouquinho mais. Era como se fóssemos somente nós dois lá. Somente nós dois. E eu me deixei envolver por aqueles olhos castanhos que se apertavam, por causa do sorriso que se abria.
Mas agora deitado na minha cama enquanto lembro da noite perfeita que passei ao lado de um homem absurdamente perfeito, somente agora enquanto encaro o forro de gesso do teto e os detalhes esculpidos por ordem do decorador que preparou este apartamento para um casamento desfeito, eu percebo que no início, antes dos olhos se apertarem, ele me chamou de amigo, porque eu sou sempre o amigo, somente um amigo. Uma pena! Eu realmente me encantei por aqueles olhos.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Fantasias Patéticas I

Obviamente, como são fantasias, nada neste post realmente aconteceu, ok? Avisados?


Encontros Casuais

Estávamos juntos na casa de um amigo em comum, um jantar de aniversário, eu sentado do lado dele, mãos entrelaçadas, olhares íntimos, beijos rápidos. Quando ela sentou em nossa frente, de cabelos longos e olhos brilhantes e curiosos, falou, sem pensar muito:
- Vocês dois parecem tão apaixonados!
Nós sorrimos, apresentações foram feitas e ela, curiosa como era, perguntou:
- Como vocês se conheceram?
E eu deixei, com um sorriso, enquanto acendia um cigarro, que ele mesmo contasse.
- Ah, foi bem casual mesmo. Eu estava no lugar certo, na hora certa - e sorriu para mim - eu fui a Americanas, sabe? Com um amigo e ele estava lá, comprando coisas para ir ao cinema, não é? - perguntou ele para mim, o que ascenti com a cabeça - Ele ia ao cinema sozinho. Eu o olhei, ele até notou que eu estava olhando, e eu fiquei louco de vontade de falar com ele, não sei o que aconteceu, não é que tenha sido amor a primeira vista, mas eu senti uma vontade imensurável de conhecê-lo melhor. Coincidentemente, eu fui para a fila do caixa e ele apareceu atrás de mim, e eu não podia perder a oportunidade e puxei assunto, uma idiotice qualquer sobre a capa de uma revista, e ele foi bem monossilábico.
- Ora, eu sou tímido! Interrompo.
- Agora eu sei disso, na hora, eu pensei que estava era te incomodando. Achei que seu namorado poderia estar p'ra chegar e você tinha medo dele te ver conversando com um estranho qualquer.
Ruborizo com as declarações, mas me concentro no cigarro para ninguém perceber.
- Pois bem, eu, apesar de tudo parecer contrário, insisti. Ele contou que ia ao cinema, e eu me ofereci para ir junto. Pior que eu tinha marcado com uns amigos, só quando eu entrei no cinema que mandei uma mensagem para eles dizendo que tinha conhecido alguém maravilhoso totalmente ao acaso e que eles me desculpassem.
- Ah, isso causou revolta em alguns, eu soube depois. Comento, após baforar o cigarro.
- Pois então vimos o filme e eu tentei segurar a mão dele no cinema, com o coração saltando, e ele deixou. - ele então me sorri apaixonado - Depois fomos tomar um chopp num bar perto da casa dele que ele sabia que estava aberto, e aí começamos a nos conhecer, fomos ficando e, algum tempo depois, namorando. Faz um ano desde então.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

PROMOÇÃO DE ANIVERSÁRIO: Estórias do Meu Mundo



Caros amigos blogayros, então, estes aqui são os concorrentes do nosso concurso. Textos lindos foram postados, coisas lindas foram escritas, e agora cabe a vocês escolherem o vencedor. Leiam os textos, conheçam os blogs que não conheciam ainda, e votem na enquete que está ai ao lado, em outubro, dia 4, revelarei em um vídeo, o primeiro vídeo em que vou aparecer aqui no blog, o nome do grande vencedor. Agradeço a todos os que participaram, e agradeço a todos que vão votar.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

"Que Porra Foi Isso Que Aconteceu?"

, em Belo Horizonte - MG, Brasil
Era uma tarde de fim de inverno, começava a esquentar, mas ainda estava tudo muito seco. O relógio acabara de anunciar as 14h e eu havia terminado meus abdominais e me dirigia para o supino. Arrumei os pesos, 50kg, e sentei. Foi quando eu o vi sentado no bíceps robô, ele me olhava e eu sorri, ele então sorriu com um leve aceno de cabeça em resposta. Eu deitei e comecei minhas séries, eu contava concentrado quando, por acaso, olhei novamente em sua direção e ele, novamente, tinha os olhos pousados sobre mim. "Estranho", pensei, "muito estranho". Terminei todas as repetições, toda a série naquele aparelho, com ele, discretamente olhando para mim sob as ralas sobrancelhas.
Ele passou para outro aparelho ali próximo, eu me ergui e fui buscar halteres para fazer o mini-agachamento, parei em frente ao espelho e, como quem não quer nada, fiquei reparando no que ele fazia. E, surpreendentemente, de vez em quando, ele descansavar entre uma série e outra olhando para mim. Ele era negro, apesar da pele ter um tom mais indígena do que negro, mais baixo que eu, corpo definido e rasgado, e um encantador furinho no queixo.
Terminei meu exercícios e fui deixar os halteres, ele então apareceu ao meu lado e, de repente, enquanto Edith Piaf cantava Milord no meu mp3, ele falou com uma voz firme: "Esses halteres vermelhos pesam quanto? Você sabe dizer?", eu olhei para ele e para os alteres, e para o pedaço de papel grudado junto aos halteres dizendo 10kg. Respondi o óbvio e pensei: "Esse aí quer coisa, só pode". E resolvi brincar junto. Olhei minha ficha e vi que se eu fizesse os meus exercícios de triceps naquele momento, ficaríamos muito perto e talvez ele recomeçasse a conversa. Dito e feito.
"Hoje você 'tá treinando só peito?". Eu sorri, tirando o fone do meu ouvido, Piaff poderia aguardar um pouco. "Ah, não, eu só malho uma coisa, sempre: abdômen! Todos os exercícios tem apenas como finalidade fazer essa gordurinha daqui go away". Ele riu e comentou sobre os exercícios dele, que tinha recentemente entrado na academia, e eu percebi que ele não estava usando os halteres que tinha me perguntado para absolutamente nada. Ele fazia naquele momento a rosca martelo, enquanto eu levantava meus 35kg com a barra W. Eu então perguntei o nome dele, e disse o meu também. "Foxx?! Que nome diferente! Não é sempre que encontramos um aqui". Sim, ele sabia quem era o personagem histórico ao qual meu pai resolveu homenagear me dando meu nome e eu não consegui evitar: "Ah, só por saber quem foi ele você já ganhou um ponto comigo". Ele sorriu.
Uma situação se colocou naquele momento, meus exercícios da parte superior do corpo tinham acabado, faltavam apenas exercícios para as pernas, cujas máquinas ficavam do outro lado do salão da academia, bem distante dos que ele estava usando. Então, tive que me despedir. "Vou ali usar o leg press", ele apenas ascentiu. E eu fui, esperei alguma reação dele, contudo enquanto eu estava lá, do outro lado, não o vi me procurar novamente. Terminei os exercícios que faltavam e cruzei o salão novamente para subir as escadas para fazer a parte aeróbica final do meu treino, 20 minutos de elíptico e bicicleta. Ele, no entanto, não notou minha passagem, mas após eu subir para o mezzanino onde ficam as esteiras, bicicletas e elípticos, eu o vi passar como se procurasse alguém, até notar-me lá em cima, e me encontrar já sorrindo para ele, enquanto ele só me cumprimentou de uma forma um tanto envergonhada.
Foi somente quando eu estava fazendo meus últimos alongamentos para ir para casa que o reencontrei. Ele fazia abdôminais lá perto e quando eu cheguei ele fez alguns comentários sobre que já estava na hora de "brincar de ir para casa", com os quais concordei trocando outras amenidades, terminei meu alongamento, ele também os dele e ele disse: "Então já vou, Foxx, a gente se vê! Valeu!", e virou-se para o outro lado, indo para o vestiário e me deixando lá. Girei então nos meus calcanhares e me dirigi para casa, pensando: "Que porra foi isso que aconteceu?"



Caríssimos, alguém mais vai participar do concurso de aniversário?
As regras estão aqui do lado, ok?
Vamos lá, dia 21/09 é o prazo final para as publicações.

domingo, 12 de setembro de 2010

Pânico!

, em Belo Horizonte - MG, Brasil






O inverno se afastava de Belo Horizonte naquele dia que passamos entre mojitos, sentados ao lado da água gelada da piscina da casa do Bê. A noite chegara cedo e pesada. No entanto, continuava quente como fora o dia. Estávamos numa pool party, que começara logo após o almoço e se estendeu noite a dentro, invadindo a Velvet, boate descoladinha da capital mineira, de música normalmente ruim e pessoas intragáveis, mas que de uns dias para cá tem feito festas especiais aos domingos. Bê diz que por ser no domingo a noite só pessoas selecionadas tem a oportunidade de estar lá, mas este domingo era o domingo de um feriado prolongado, o que fez a Velvet, lotar das mesmas pessoas intragáveis de sempre, apesar da impressionante música boa que explodia nas caixas de som daquele porão apertado.
Mas estávamos entre amigos, ou melhor eu estava entre os amigos do Bê, chegamos em dois carros, e em uma parada estratégica em um posto de gasolina, onde quase todos compraram cigarros, inclusive para mim já que haviam consumido o meu Carlton durante a pool party, o Bê contou-me que um dos meninos, com nome de evangelista havia ficado interessado em mim. Ao falar isso, meu cérebro entrou em parafuso, mas eu tentei ignorar aquela sensação de sufocamento que me subia pela garganta, e entramos na boate, descendo sua escada em curva e abrindo as portas e somos recebidos pelos mesmos olhares congelantes de sempre. No entanto, assim, acompanhado e protegido, é fácil desviar destes olhares que os menininhos que aprenderam a "fazer carão" na Mary In Hell e estão estagiando para conseguir vaga na Josefine lançam para você.
Na Velvet você comumente é rejeitado, como diria Stanford Blatch, por pessoas que você sequer chegou a notar naquela luz turva e fumaça insistente. Nestas horas, é que é necessário respirar fundo e responder com a "egípcia" que você aprendeu com sua amiga travesti. Simples, se eles treinam o seu "carão" ao longo dos seus, no máximo, 21 anos; aos meus 29, imagine quanta habilidade em "fazer a egípcia" eu não desenvolvi. Você olha nos olhos dele por exatos 3 segundos, somente isso, e o ignora o resto da noite. Eles se irritam, mas eu prefiro sorrir.
Foi brincando de "quebrar carão" que eu esqueci da proposta, digamos assim, feita por meu amigo em segundos na janela do carro. "Acho que rola". Lembro o que provavelmente desencadeou essa idéia. Nós comendo churrasco alemão, o evangelista sujo de mostarda que eu limpei e que terminou em um selinho. O Bê viu e perguntou se estávamos ficando. Ele, em outro carro, deve ter insistido na idéia. Foi quando meu amigo novamente se aproximou e perguntou se rolava ou não. Eu, sem entender o tumulto que estava acontecendo dentro de mim, que pavor de dizer não, que pavor maior ainda de dizer sim. Sem me reconhecer, respondi apenas que eu não ia tomar nenhuma atitude. Meu amigo sorriu e entendeu.
Sorriu e entendeu que quem devia tomar alguma atitude era o evangelista e assim o informou. E assim ele o fez. Chegou, e na falta de expressão melhor, me catou e tentou me beijar. Mas a única coisa que eu senti foi pânico, eu precisava sair dali, sair daquele lugar, sair de perto dele, fugir a todo custo. Foram quatro meses sem beijar ninguém. Após o fim do namoro, a primeira pessoa que quis me beijar. Pânico! Como se Pã tocasse sua syrinx entre as colunas daquele porão. Eu então sai, deixando-o no salão, sem provavelmente entender o que estava acontecendo, quer dizer, com certeza sem entender o que estava acontecendo e sai para a área de fumantes onde enchi meus pulmões de nicotina tentando, desesperadamente, me acalmar e colocar alguma ordem em meus pensamentos, o que, aviso, foi totalmente impossível. Mesmo durante toda aquela noite, mesmo durante o dia seguinte. Crises de pânico definitivamente são novidade para mim.




PS: Ah, não se esqueçam de participar da promoção de aniversário. O link para as regras estão ai do lado.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

PROMOÇÃO DE ANIVERSÁRIO

Sim, dia 21 de setembro este dignissimo blog completa seus cinco anos de existência. Cinco anos atrás o blog começou a tomar forma inspirado no lindo e vermelho-sangue Sunshine, e muita gente passou por aqui todos esses anos, pessoas que deram contribuições maravilhosas a minha vida por meio de alguns minutos que gastaram lendo meus textos e comentando. Amigos que abandonaram seus blogs por seus diversos motivos, os que me ensinaram muito, os que eu admirei profundamente, deixo aqui um saudoso abraço em todos. Também quero lembrar dos amigos que somente perdi contato, que por um motivo ou outro sumiram daqui, eu agradeço cada momento que eles perderam lendo minhas "mal traçadas linhas". Agradeço também, mais e sobretudo, aos que neste cinco anos permanecem lendo o meu blog e acompanharam às grandes mudanças que minha vida tem sido levada, nem todas tão agradáveis como eu desejaria. Agradeço sobretudo as lágrimas que vocês ajudaram a secar. Muito obrigado. E quero também agradecer a todos aqueles que recentemente apareceram por aqui, agradeço a todos por renovarem a vida deste blog e continuarem achando que eu tenho algo que vale a pena ser dito. Muito obrigado a todos.



Agora a promoção. Até dia 21, cada blogayro que resolver participar (por favor avisem logo abaixo) deve postar no seu blog um texto que vocês publicariam aqui no Estórias do Mundo, um texto que vocês considerem como a cara do meu pequeno blog. Como parte da promoção o post deve conter o título "ESTÓRIAS DO MEU MUNDO:" para que possamos uniformiza-los. Dia 21 listarei aqui no blog todos os participantes e começará a votação do público e do juri formado por blogayros e ex-blogayros, com peso 1 e 2, respectivamente. Como prêmio temos dois: primeiro o vencedor terá o texto publicado aqui e, segundo, vai receber em casa, autografado, recém saído do prelo, meu livro Espartanos.
Então, quem topa participar?

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Seria Bem Mais Fácil

Seria tão mais fácil, não seria? Todos os problemas escorreriam entre os dedos como se fossem areia, como a areia de uma ampulheta. Ah, se eles só passassem por mim, claro, causariam dor e até me cegariam muitas vezes, mas eram apenas areia e passariam. Pó. Mas não, eu fico atolado, preso nessa lama que dificulta meus movimentos, seria tão mais fácil se eu me libertasse daqui, de onde estou, deste corpo, desta carne, desta matéria. Ela me prende. Seria tão mais fácil se eu fosse livre, se não tivesse correntes que me prendem ao passado, traumas, mágoas e corações partidos, se não tivesse grilhões que me seguram ao presente, deveres, responsabilidades e tarefas, seria tão mais fácil! Seria indolor e insípido, provavelmente insípido, porque tudo que é indolor e insípido parece ser tão mais fácil? Como mover o ar em nossa volta. Fácil. Como quando uma corrente de ar bate a porta. Fácil! Seria tão mais fácil se assim o fosse. Se os sonhos evaporassem, se os desejos, aqueles mesmo que quando não realizados se tornam dor, simplesmente desaparecessem, escoassem, como areia entre os dedos, como areia na ampulheta, como sangue em um ferimento aberto a navalha. Seria tão mais fácil com uma navalha. Uma navalha contra a pele, contra o pulso, contra o pescoço, seria tão mais fácil. Se tudo terminasse, se por fim se concluísse, se morresse. Seria completamente e absurdamente mais fácil se eu morresse.