Google+ Estórias Do Mundo: agosto 2010

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Crime Scene Investigation

, em Belo Horizonte - MG, Brasil
Na casa de um amigo, em seu quarto, sentado na cama dele. Ele me aponta para o outro lado, a outra parede, e diz em alto e bom som:
- Aquela mancha branca ali foi da gozada que eu dei com o fulaninho lá que te contei nessa semana.
Viro para observar a mancha e falo, quase para eu mesmo.
- Vi no C.S.I. que esperma brilha na luz negra. Se tivéssemos...
Ele ri e pula para o outro lado do quarto.
- You're so naive!!
E aparece com uma luz negra que coloca na luminária que está na cabeceira de sua cama.
- Foi super baratinho essa lâmpada. Advinha quanto paguei.
- Dez?
- Cinco reais.
É quando ele acende. Acende, e ilumina a parede fazendo a mancha brilhar.
- É! O C.S.I. estava certo...
Nesse momento nós nos calamos de súbito e olhamos para o resto da parede. Eu começo a rir e sinto meu amigo um tanto envergonhado. A parede, em vários outros pontos, brilha sob a luz negra. Tomo a luminária em minhas mãos e exponho mais uma parede.
- Aí não vai ter nada. Diz ele.
- Quem disse?!? Vê!
E na outra parede, manchas que escorrem brilham fortemente. Salto por cima da cama , puxando o fio da luminária e passo a outra parede, expondo-a a luz negra.
- Amigo... me explica como é que alcança essa altura?
- Er... é que... quando eu 'tô muito excitado espirra bem longe.
- Nota-se - e após um tempo iluminando mais a parede - assim... acho que seu quarto precisa ser repintado né?


segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Nada de Volumes, Só Linhas.

Nada de volumes, só linhas.
Prefiro cabelos lisos, curtos ou longos, prefiro a linha que se forma na testa quando o cabelo cai, prefiro a linha que se forma quando o cabelo acompanha o pescoço. Prefiro também a linha que se forma a partir do queixo, separando o rosto do pescoço. E também a linha que desce do trapézio e toca o ombro, naquele ponto em que o músculo do ombro se divide em três linhas e encontra-se com a clavícula. Gosto particularmente desta linha que desce e desenha a clavícula. Prefiro particularmente esta linha.
Nada de volumes, só linhas.
Também prefiro a linha que começa na axila e se curva para cima desenhando o peitoral. Aquela linha que se esfumaça quando a camiseta a encobre, mas o volume permanece ali presente. Contudo, não é bem o volume que me atrai, é a linha que estava lá. Prefiro também a linha que desce resta pelo abdômen até o púbis. Já aquelas duas linhas abaixo do abdômen simplesmente me entontecem.
Nada de volumes, só linhas.
Prefiro inclusive a linha acima dos glúteos, no fim da linha que demarca a coluna, aquelas duas curvas que marcam o início do músculo. Mas eu mentiria se não dissesse que muito mais me atrai a linha que faz uma curva ascendente abaixo da nádega, elevando-a. Mas as linhas que não deixo de observar são aquelas que formam em torno do joelho, acima da patela. Aonde os músculos da coxa se tornam mais aparentes, sem mencionar as lindas linhas que se formam abaixo da panturrilha quando ela se contrai.
Nada de volumes, só linhas.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Dias Felizes

, em Belo Horizonte - MG, Brasil
Eu podia observá-los e invejá-los de dentro do teatro. Uma peça de Beccket era encenada no palco, com seu tédio, suas luzes, suas falas que deviam ter mais humor, mas talvez ou o francês ou os atores italianos em cena não conseguissem fazer a platéia rir. Não obstante, os dois meninos, um loiro e um negro, sentados na fileira G, estavam alheios a tudo isso. Até mesmo a Willie. Suas mãos somente se enroscavam, ou a cabeça de um descansava no ombro do outro, na sala a meia-luz seus olhos se buscavam, carinhos simples eram trocados e quando a campainha tocou para o intervalo, todos sabiam já, ali ao redor deles, que os meninos eram namorados. Um único olhar desaprovador eu ainda consegui captar, mas isto pouco importava para aqueles dois meninos, um loiro e um negro, que só queriam naquela noite de vento frio estarem juntos, vendo Beckett, de mãos dadas, com as cabeças recostadas um no ombro do outro, (e)namorados.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

"They Shoot Single Pleople, Don't They?" *

Eu decidi ficar solteiro. E toda vez que me perguntam como anda o coração, como está minha vida amorosa, como anda minha vida sexual e eu respondo: "Desisti de homens!", um reboliço começa. A pergunta que me faço, então, é: Será possível ser solteiro e feliz?
Os clichês todos vêm a tona neste momento. "Ninguém é uma ilha", "Toda panela tem sua tampa", "Existe um chinelo velho para todo pé cansado", "A metade da laranja...", "não existe ex-viado", mas por que isso é mesmo necessário? Se a maior máxima sobre relacionamentos diz que você não deve procurar a felicidade na outra pessoa, que você deve ser feliz para poder encontrar alguém, que só quem está bem consigo mesmo consegue atrair alguém. Não é isso? Então, por que diabos, eu não posso deixar de me interessar por homens e cuidar da minha vida? Outro clichê: "Cuide do jardim que as borboletas virão". O que assusta tanto as pessoas na vida solteira que o fato de você ter decidido - sim é uma decisão - não se envolver com mais ninguém possar ser ou aterrador ou tremendamente triste?
Explico que é uma decisão porque não é que eu não consiga encontrar alguém que goste de mim. Meu ex-namorado deixou bem claro que isso é possível. No entanto, hoje, eu não me sinto nem um pouco inclinado para gastar tempo e energia conhecendo pessoas, insistindo nelas, para, no fim, o resultado ser sempre o mesmo. Eles começarem a namorar outros. Eu não desejo mais desperdiçar esta energia. Prefiro voltá-la para coisas que me dêem um maior retorno. Meus livros, meus filmes, meu trabalho, por exemplo. Tenho mais o que fazer da minha vida, for God's sake! Mas por que então as pessoas tendem a não acreditar que esta é uma decisão de fato?
"Virou lésbica agora, foi?", "Não dou quatro meses p'ra você mudar de idéia", "Que triste! Que aconteceu com você p'ra tomar essa decisão?", "Papo!", "Você?! Você não aguenta ficar sem homem". Por que incomoda tanto eu reconhecer que isso provavelmente não é para mim? Pensem bem, se fosse qualquer outra área da minha vida, todos apoiariam uma mudança radical. Se eu estivesse num emprego ruim todos diriam para larga-lo e procurar outra coisa, se eu estivesse numa cidade desagradável todos diriam para que eu mudasse de cidade, se fosse um amigo que só me faz mal todos diriam para eu desistir dele. Por que então, ao reconhecer que dedicar parte do meu tempo para conhecer outro homem é uma perda homérica de tempo, todos se manifestam contrários a minha proposta?
Estou errado em planejar isso para mim? Estou realmente cavando uma vida infeliz? Estou me acovardando? Alguém aí fora pode me responder?





*Título extraído de um dos episódios de Sex In The City.

sábado, 14 de agosto de 2010

Efeminado or Not Efeminado?

, em Belo Horizonte - MG, Brasil
Noite de quinta feira em Belo Horizonte, numa festa do curso de Engenharia em um bar chamado Misantropia. Cervejas rolavam soltas, e eu já tinha ganho uma dose de vodca de graça de uma garçonete.

- Que menina linda!

Comento com minha amiga, estudante da engenharia.

- Vai lá então...
- Nada! P'ra ouvir que ela pensou que sou gay?
- Não quer perder seu tempo?
- Nem gastar meu latim. Sou muito viadinho p'ra achar que consigo pegar uma menina.

Minha amiga me olha por um segundo, e fala:

- Olha, sinceramente, eu não acho. Por exemplo, o cara que eu estava conversando falou comigo assim: "Acho que o cara que 'tava dançando com você ficou meio puto". Eu, claro, expliquei que somos apenas amigos, que moramos juntos. Mas ele não achou que você era gay, logo de cara.

Eu retorno um olhar incrédulo para ela.

- É verdade! Você não é tão bichinha assim como você mesmo pensa. Definitivamente não é nenhuma "bicha louca", como se diz por aí. Você só não esconde quem você é, e isso é uma boa coisa, não?


* * *

No MSN, na sexta-feira.

- Então, Foxx, você gosta de geeks?
- Geeks? De pessoas geeks ou de ser geek?
- De pessoas geeks!
- Nada contra! Acho que são pessoas até interessantes...
- É que eu tenho um amigo, e andei pensando que poderia apresentar vocês dois.
- Amigo, não faça isso com ele não. Fora que dificilmente ele se interessaria por alguém como eu.
- Ó, ele não é nenhum deus. Actually está muito longe disso. Ele é urso, sabe? Bem grande e bem gordo.
- Bem... é... assim, neste caso, tem um problema. Sou obrigado a confessar que ursos/gordos não me atraem nenhum pouco. Morro de vergonha de admitir isso, acho o cúmulo da superficialidade. Mas eu não consigo me sentir atraído...
- Foxx, fica a dica: assuma as suas fraquezas por mais péssimas que possam parecer. Você será tão mais feliz com isso.
- É, eu tenho que admitir este defeito. É como eu consegui fazer com ser efeminado.
- Você não é efeminado!
- Eu não sou efeminado? Amigo, eu ouvi minha vida inteira que eu sou efeminado, e ontem uma amiga disse que não sou, e hoje você vem dizer o contrário também? O que houve com o mundo? Foi o retorno de Saturno?
- Mas você não é! Olha, Foxx, eu não acho. Você, como eu, não disfarça que é gay. E eu não acho que eu ou você somos efeminados. A gente só é expansivo, acho...



terça-feira, 10 de agosto de 2010

365 dias para 30 anos

Hoje faço 29 anos. E uma nova fase se inicia. Talvez por causa do retorno de Saturno, ou porque três décadas seja um peso considerável, ninguém passa incólume por esse ano que eu começo a viver agora. Segundo o meu mapa astral, um ano de Touro. Mas quais são as grandes mudanças da minha vida? Eu sinceramente não sei. Nunca me imaginei com 29 anos e aguardando os 30. Não fiz planos para chegar aos 30 anos. Mas podemos aqui pensar o que eu já fiz e o que deixei de fazer. Pode ser um jogo interessante.



Eu fiz sexo com mais pessoas do que posso contar, mas amei apenas uma e acho que somente uma vez fui amado de verdade. Fiz sexo em banheiros, em camas, em terrenos baldios, em móteis, com garotos de programa ou com pessoas que não sabiam nem escrever meu nome. Conheci muitas pessoas, mas pouquissimas ficaram, a maioria me achou chato, irritante, pedante ou descartável. Mas conquistei grandes amigos e poucas pessoas, mas sinceras, me dedicaram sua admiração. Com certeza fiz mais inimigos do que amigos. Ajudei aquelas pessoas no que estava ao meu alcance, contudo, as poucas vezes que precisei do apoio de pessoas, foi naquelas que eu menos esperava ajuda que a mão se estendeu mais facilmente. Já conheci pessoas que tive vergonha de apresentar para meus amigos e já outras que estar do lado delas me enchia de orgulho.
Aprendi muito, li muito, vi muita tv e li muitos quadrinhos, mas viajei pouco e vivi menos ainda. Falta muita coisa a aprender, muita coisa pra ler e muita tv para ver. Adoro seriados de tv. Continuo com uma sede de vida, do que a vida pode me oferecer, me mostrar, me desafiar. Nunca sai do país, mas não moro mais com meus pais. Saí do armário para todos os meus amigos, e por aqueles que não me aceitaram eu não derramei nenhuma lágrima, mas tenho pavor de fazer o mesmo para a minha família. Nunca tive um filho, mas plantei inúmeras árvores e escrevi quatro artigos, um livro, publiquei outro e estou editando o meu primeiro romance e escrevendo uma tese. Espartanos vai sair logo. Escrevi poesia, mas abandonei logo o ramo de poeta. Fiz curso de desenho por correspondência, e realmente aprendi.
Criei peixes e periquitos, mas nunca tive um cachorro ou um gato. Meu novo peixe se chama Barnabe, por causa de um filme da Sabrina, a Feiticeira Adolescente. Aprendi grego, inglês e espanhol, mas meu francês e italiano são ridículos. Já pesei 89kg, e também já cheguei a 60kg e tive uma barriga tanquinho, agora eu vivo de dieta e sonho em ser anoréxico, mas adoro pão. Sofro homofobia na pele todo dia que piso na rua, tenho medo de ser agredido e, quiçá, morto qualquer dia, mas tenho esperança que a lei seja aprovada logo. Já participei de reuniões budistas e frequento a Igreja católica com minha mãe, e tenho reservas sinceras contra o protestantismo evangélico que infesta o Brasil. Fiz aula de canto e de dança, também de kung fu, mas não sei dirigir até hoje.
Joguei handebol na escola, participei de coral e só passei a usar a internet em 1999. Já tive cadastro no Disponível e no Manhunt, e no Almas gêmeas. Tive e-mails no Bol, Zipmail, Yahoo, MagicLink, mas agora utilizo o Hotmail e o Gmail. Eu não falava o artigo na frente dos nomes pessoais, mas quando me mudei para Belo Horizonte adquiri esse hábito. Não falo "oxi" ou "oxente", mas adoro o meu sotaque de T's e D's surdos. Nunca me considerei bonito, apesar de realmente não ser muito difícil eu conseguir ficar com alguém, mas sempre me vejo como gordo, desinteressante ou bichinha demais, e sempre acho que todo mundo é areia demais para o meu caminhãozinho. Sou dramático, mas pé-no-chão. Não gosto de fazer convites, prefiro ser convidado. Não falo com ninguém se este não falar comigo antes. Tenho medo de incomodar, de ofender, de ferir, de magoar, de expôr.
Escolhi os nomes para meus filhos todos baseados em livros. Fernando, por causa de Senhora de José de Alencar; Alexandre, por causa de Portões de Fogo de Steven Pressfield; mas o que mora no meu coração é Heitor, por causa da Ilíada de Homero. Nunca me imaginei tendo uma filha. E sim, eu pretendo adotar esta criança. Sonho em ser professor de História Antiga numa universidade federal, por isso abandonei Natal e vim para cá fazer meu doutorado, mas também eu esperava que aqui as pessoas me achassem mais interessante do que na cidade onde eu nasci. Errei profundamente. Continuo aqui chato, irritante, pedante ou descartável, apesar de bom de cama.
Descobri recentemente que na verdade as pessoas têm vergonha de me apresentar a seus amigos. Sempre me pedem dinheiro em troca de sexo, mas eu gasto meu dinheiro com livros, bebida ou cigarro. Tenho mais roupas que meus três irmãos juntos, e sapatos também. Sou gay, mas já achei que eu era bi, o que me deixou bastante confuso. Já fiz ioga, musculação e gosto de fazer caminhadas longas. Gosto de praia e de raios e trovões, sou filho de Iemanjá e Xangô, mas Oxum luta pelo meu ori. Sou versátil, mas comecei passivo, no entanto, quando descobri o que era ser ativo nunca mais larguei o osso. Mas gosto de ser passivo, gosto sim. Não tenho mais o menor saco para pegação.
Gosto de ser útil e de ser importante para alguém. Eu sonhava com alguém que me amasse e que por isso eu me tornaria importante para ele, mas desisti deste sonho, não porque ninguém possa me amar, mas porque eu cansei de procurar. Tenho medo da solidão e adoro os mais magrinhos. Falso magro para mim é o que chamo de corpo perfeito. Depilo minhas costas, mas parei de depilar a bunda. Meu quarto só tem moveis reciclados, com excessão da mesa do computador. Meu computador foi R$ 800,00. Sou alérgico a maioria dos perfumes e o único desodorante que posso usar é Rexona Women Cotton. E eu concordo com meus amigos que acham que a Unilever quer dominar o mundo. Tenho 12 óculos escuros, e minha visão é completamente perfeita. Sou um bom cozinheiro, mas não sei fazer suco. Até hoje me enrolo na hora de colocar a camisinha.
Jogo tarot, baralho cigano, faço mapa astral e leio mão, e tenho um medo terrível do meu futuro. Sou reikiano e apaixonado por X-Men. Coleciono desde meus 12 anos e tenho todas as revistas já publicadas no Brasil. Algumas valem um bom dinheiro. Compro livros em sebos e livrarias e adoro comprar livros. Meu irmão me deu um canivete de presente, aceitei pensando que nunca teria uma oportunidade de usar, quando esta oportunidade apareceu o canivete estava guardado em casa. Tenho um poster de Rodin na parede do meu quarto e um papiro egípcio que me trouxeram do Cairo e cristais no parapeito da janela.
A raposa se tornou meu símbolo graças a meu primeiro namorado, mas hoje provavelmente ele nem se lembra mais disso. Sou facilmente esquecido pelas pessoas que passam por minha vida, pelo menos é o que eu acho. Eu no entanto lembro de todas elas. Tenho uma excelente memória que muitas vezes me faz reviver over and over again certos momentos constrangedores do meu passado. Contudo, uma dose de tequila apaga minha memória por pelo menos as últimas 4 horas. Detesto amnésia alcóolica.
Nunca me apaixonei por um amigo, mas os amo devotada e verdadeiramente. Já pensei em suicídio, mais de uma vez. E já tive chulé e chato, e tenho uma alergia que nenhum médico descobriu exatamente ao que é. Já frequentei psicólogos e acho a maior perda de tempo ever. Adoro ganhar e dar presente. Não sou chocolátra, nem bipolar. Gosto de fazer faxina e já pintei meu cabelo de borgonha e ele ficou vermelho e horrível. Sou careca e odeio isso profundamente. Sou efeminado e aprendi que tenho que odiar é quem me odeia pela forma que eu nasci. Gosto de celulares Nokia e tenho um Sony Erickson. Tive um namorado imaginário chamado Bruno. Tenho imaginação até demais, para dizer a verdade. Não sou altruísta, ajudo as pessoas porque me dá prazer ajuda-las. Já roubei chocolate no Carrefour e a carteira do meu irmão mais velho.
Já tomei Bloody Mary e Lemon Drops, também Sex On The Beach e China Village Mai Tai, e quero provar um Cosmopolitan. Leio tudo que cai na minha mão, mas odeio romances espíritas. Penduro minhas camisetas em cabides separadas por cor. Durmo com quatro travesseiros e amo meu nome russo. Nunca tive paciência para pintura, mas minha mãe sempre me comprava guaches e aquarelas. Foi minha mãe que sempre me incentivou a ler muito. Tenho dentes meio amarelados e meu cabelo, o que resta, é oleoso. Sei fazer argamassa, usar prumo, levantar parede e mexer em instalações elétricas, meu pai me ensinou. Tenho uma maleta de ferramentas. Corpos sarados atraem sim meu olhar, mas um bom papo é tão bom quanto. Acho a Júnior e a Dom revistas para quem não tem o que fazer com sua vida. Vai ler Foucault, amigo! Só tomo leite com achocolatado. Não uso colar ou anel, mas gosto de pulseiras. Sou apaixonado por fotografia. Não sou mais um menino, deixei isso para trás, agora é esperar para ver que tipo de homem eu vou ser.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Duas Versões, Um Fato ou Direito A Resposta.

Este post aqui me deu problemas esta semana.

É um texto escrito para exorcizar um passado e fechar um capítulo de minha vida, só que de repente, e não mais do que de repente, provavelmente via twitter, o citado no texto finalmente leu o que eu escrevi sobre ele e, reconhecendo-se lá, não gostou nada do que eu disse sobre ele. E tudo começou.
Primeiro, ele escreveu no meu Facebook um recado (dia 29 de julho), que para dizer pouco, soou um tanto agressivo. Mas normal nesta situação. No entanto, seu intuito, no Facebook foi, nas palavras dele:

"Infelizmente nao tenho blog, pra expor voce ao mesmo ridiculo que voce me expos... O facebook acho que vai dar pra alguem ver...".

Infelizmente, apesar da declarada vontade de expôr esta discussão ao público, ele mesmo desistiu de mantê-la no ar, seria porque eu não me abstive de uma resposta? Pois bem, então aqui vai a resposta já que no segundo ato desta comédia, um e-mail que recebi dia 30 de julho ele deixou bem claro que não quer ouvir a explicação ao dizer:

"Provavelmente nao lerei sua resposta, mesmo sendo curioso nato... Entao nem se de o trabalho, voltarei a ignorar voce como sempre e espero o mesmo!".

Concentrar-me-ei no e-mail porque o texto do Facebook não existe mais. Apesar que lá eu avisei-lhe que o meu texto exprimia minha visão sobre o fim de nossa amizade. Afinal ele desapareceu sem me dar explicações para o que acontecera. Talvez por causa disso ele resolveu mandar o e-mail dando sua versão dos fatos e explicou que simplesmente deixou de falar comigo quando... melhor deixar ele falar:

"Se voce nao se lembra... Eu virei minha cara pra voce e nao tive mais vontade nenhuma de falar com voce, no carnaval mesmo... Mas foi quando eu te joguei espuma que um muleque espirrou em mim e voce virou o braço na minha cara, voce me bateu, mesmo que nao tenha sido a intenção... Mas pra mim foi o basta...".

Isto é verdade, aconteceu. Ele jogou espuma em mim e eu, num reflexo, bati nele. Um acidente. Não diferente da vez que ele mesmo bateu em mim quando eu tinha acabado de furar minha orelha com um piercing, o que me causou uma inflamação. Mas também foi um acidente. Só que, no e-mail, ele deixa claro que não foi isso que o fez parar de falar comigo, isto foi a gota d'água. Segundo a versão dele:

"nunca competi com você... Eu apenas nunca tive tesão nenhum por você e foi por isso que me afastei, pois não aguentava mais você em cima de mim..."

E aí eu sinceramente me assustei. E ele continuou por todo e-mail.

"Posso contar as vezes em que você deu em cima de mim e eu disse não".

E mais.

"Uma pessoa desagradavel como voce, que sempre ficava dando em cima de mim e sabia que eu nao queria nada...".

Comecei então a questionar, sobretudo, como duas pessoas que estão do lado uma da outra enxergam os mesmos fatos de forma absurdamente distinta. Eu sempre o considerei um grande amigo, e talvez tenha sido expansivo demais, mas nunca, absolutamente nunca, eu senti alguma coisa por ele além de amizade. Mas, e seja daí que ele tenha tirado essa idéia estapafúrdia, é que eu gostava de sair com ele. Meu primeiro amigo gay. Nós estávamos sempre juntos, inclusive, as outras pessoas se acostumaram a nos ver sempre juntos. Mas, não obstante, as visões sobre o fato serem distintas, o fato continua o mesmo: continua sendo um motivo fútil para encerrar uma amizade.
Ele, novamente, decidiu que não queria deixar tudo em pratos limpos, talvez porque já fazem seis anos que não nos falamos, mas a decisão é dele.

"Nao vou falar as outras coisas que me irritavam, e eu como AMIGO aceitava!!
".

A bondade dele, como notamos, com os amigos permite que ele esqueça os outros defeitos meus que não permitiram que nossa amizade perdurasse. Desculpem, a ironia me escapou.
Ele continua ao referir-se

"A versão piscodélica do que foi nossa amizade..."

que eu escrevi no primeiro texto de 2008. Segundo ele,

"se voce acha que eu tinha inveja de voce... Eu penso que eh o contrario..."

porque eu...

"sempre falava mal dos outros, com relação a dinheiro... Sempre gostava de chamar atenção, mesmo nao tendo nada de interessante pra mostrar... Para mim nao iria fazer falta [minha amizade], como nunca fez!!"

porque

"uma das coisas que eu tenho como 'filosofia' de vida é nao fazer questao de amizade, em relação a ter pessoas que nao me trazem coisas boas...".

E sinceramente me assusta que eu tenha considerado uma pessoa assim um amigo tão próximo. E sou obrigado ainda mais a me questionar quem mais dos chamados "meus amigos" não pensam na verdade da mesma forma de mim. Quem mais me vê como essa pessoa desprezível que ele descreve ai? Quem me lê aqui ou me conhece pessoalmente e repete as perguntas que ele repete para mim?

"Quem você pensa que é!? Quais atrativos você acha que tem que tem esse poder todo!?"

A dúvida sim se instalou no meu coração. E o medo. Afinal ele deixa claro que ao "nos separarmos" os nossos amigos em comum escolheram ele.

"Que preferia a mim do que você, acho que deu pra perceber".

Sei exatamente qual foi a intenção dele de puxar para dentro de nossa conversa nossos amigos em comum. Ele realmente faz questão de enfatizar isso.

"Então continuo com minha consciencia limpida e feliz com meus amigos que te conhecem e sabem que essa historia do blog soa...".

De que eles apoiam a versão dele da estória. Bem, eu tenho a minha versão e não vou mudá-la., porque felizmente ele também confirmou o que eu penso dele, e, pelo jeito, não mudou em nada sua forma de tratar os amigos.

"Me poupe!! Até por que cobiçar paquerinha de festa pra mim, e meus amigos, nunca foi problema... Até dividir um cara uma vez eu dividi, ai sim era meu amigo...".

Bem, eu só tenho uma coisa final a dizer. Também aprendi há muito a não fazer questão por amizade. De manter ao meu lado pessoas que somam, como exatamente este meu ex-amigo costuma dizer. E admito que aprendi muito com ele e que gostei muito dele, felizmente não da forma que ele achava que eu gostava. É realmente fascinante como o mesmo fato pode ter versões absolutamente distintas.