Google+ Estórias Do Mundo: 2015

domingo, 20 de dezembro de 2015

Linda Baby

, em Natal - RN, Brazil
- Omi, cuide!
- Tô cuidando!
- Pois cuide mais depressa, aff...
- Que djabo de avexamento é esse, seu caba?
- Omi, pare de puxar cunversa e se avie logo...
- Tô me aviando!


TRADUÇÃO:
- Amigo, se apresse!
- Tô me apressando!
- Pois seja mais rápido.
- Mas porquê você está tão apressado?
- Amigo, pare de conversar e se apresse...
- Tô me apressando!

domingo, 6 de dezembro de 2015

Feijoada A Minha Moda

, em Natal - RN, Brazil
- Olha, eu gostava do Vinícius de Morais até ouvi-lo declamar uma receita de feijoada.
- Como assim, Foxx? Tem um poema do Vinícius sobre uma feijoada?
- Tem. E é o poema mais coxinha de todos os tempos!
- Coxinha?
- É. Tomei nojo dele. De Vinícius!
- Eu nunca entendi como você suportava aquele portunhol seboso dele...
- Eu perdoava... ninguém é obrigado...
- Gato, ele era diplomata! Pode não!
- Será que ele foi demitido por causa disso do Itamarati?
- É possível! Mas a feijoada?
- Então começa com ele dizendo que vai fazer uma feijoada... que ele, ele o poeta (porque Vinícius de Morais fala de si mesmo na terceira pessoa sob a alcunha de "o poeta") ao acordar já tem que encontrar o feijão catado, E que a cozinheira por respeito a "mestria" DELE na arte de fazer a feijoada já deve ter pesado, cortado e refogado tudo, todos os ingredientes, para evitar, e cito o poema, "qualquer contato mais vulgar com suas nobres mãos de aedo". O grande trabalho do poeta é juntar tudo em uma panela e vigiar o cozimento enquanto se embreaga com um uísque on the rocks.
- ...
- E agora, amigo, me diz: tem feijoada mais coxinhas que essa?

domingo, 22 de novembro de 2015

3

, em Natal - RN, Brazil
- Então deixa eu contar direito... eu tenho barba cheia e a dele é rala, certo?
- É... confere.
- Eu tenho pêlos pelo corpo e ele é liso.
- Pelo que dá para ver daqui é isso mesmo!
- Eu sou careca e ele tem um cabelo extremamente bem cuidado, vale a pena salientar.
- Sim, também confere.
- A minha voz é aguda e a dele é grave.
- Foi o que eu ouvi... tun-dum-tiss!
- Então... de quatro características ditas "estritamente masculinas", eu tenho 3 e ele 1, e eu que sou o efeminado na conversa?

domingo, 8 de novembro de 2015

Oh, Hey, What's up, dude?

, em Natal - RN, Brazil
- Olar!
- Olá meu caro Foxx... rs... você tá bem?
- Saudades de você, amigo.
- Que bom que você mandou mensagem. 'Tô com saudades de papear contigo também... você me abandonou... rs.
- Você que me abandonou só porque sou feio.
- KKKK Eu não! Eu continuo por aqui! KKKKKKK E que mania de achar que é feio, Foxx.
- Na verdade, eu me acho lindo, mas ninguém concorda. KKKK
- KKKKK Mas é assim que tem que ser... você se achar lindo... o resto que se foda.
- Ah, fi... eu me acho lindo... inclusive esta é a razão de todos os meus "problemas": eu me acho tão lindo que não entendo porque não tem uma fila de homens me desejando. Minha antiga tristeza era só orgulho ferido.
- Dava para perceber. rs.
- KKKKK
- Mas, Foxx, você 'tá certo... se ache lindo, assim as pessoas também acharão. E, você reclama, mas sempre tem um boy no pedaço, vai.
- Ah, sempre tem sexo mesmo! #NumVôMinti
- Conhece o bom e velho ditado: enquanto o certo não aparecer, você se diverte com os errados?
- Sim. Uma pérola de sabedoria.
- Então, Foxx?

domingo, 18 de outubro de 2015

Burguesia

, em Natal - RN, Brazil
Eu assistia TV na casa de um amigo, alguma coisa no The History Channel, enquanto esperávamos outros amigos para uma pequena viagem que faríamos juntos. Meu amigo estava sentado em uma poltrona a esquerda da TV, vendo da janela do prédio o movimento da avenida mais a baixo. Eu estava concentrado no As Batalhas dos Deuses que passava na tela de LCD.
- Olha, Foxx, não faz sentido.
- O quê?
- Se a pessoa quer ter o direito de andar de carro, ela deveria fazer questão que o governo investisse mais em ônibus e em metrô...
- Humm.
- Porque aí o trânsito melhoraria, as ruas ficariam livres para eles exibirem os prolongamentos fálicos de suas personalidades.
- Verdade.
- Até porque quanto menos investimento o governo federal colocasse na indústria automobilística, mais caro o carro ia se tornar...
- Ou seja, o carro seria um símbolo de status ainda mais poderoso.
- Exatamente!
- Você só esqueceu de levar em consideração uma coisa, meu caríssimo Bro', ao contrário da Europa ou dos Estados Unidos, nossa elite é burra!

domingo, 4 de outubro de 2015

Você É Linda!

, em Natal - RN, Brazil
Eu estava em uma mesa de um bar de rock, escuro e apertado, naquelas mesas minúsculas em que todos ficam obrigados a ficar respirando um hálito do outro que está na mesa. Uma banda cover tocava qualquer coisa que, sinceramente, a mim não importava. Não estava lá por eles.
Reencontrei uma amiga da faculdade, transformada, magérrima, quase não a reconheci. Na verdade, não a reconheci, ela que me reconheceu e veio até a mesa falar comigo. Foi quando ela estava sentada comigo, conversando sobre as novidades de sua vida, que uma outra amiga de faculdade apareceu no bar.
- Nossa, Misha, como você 'tá linda!
Eu interrompi com um sorriso:
- Não, gata, ela não 'tá linda, ela 'tá magra! Linda ela sempre foi.
- Preocupa não, Foxx, o grande problema das pessoas é que elas estão profundamente iludidas que o contrário de gordo é bonito/lindo, e não magro.
E tomou um gole de sua caipirinha.

domingo, 27 de setembro de 2015

Mean

, em Natal - RN, Brazil
Enquanto isso no Grindr, as 12:41, no meio de uma tarde de terça-feira:

Natal até 20/09: Volta para o Badoo, despacho de Réveillon. kkkkk

Foxx: Você deve ser uma pessoa muito infeliz por se divertir fazendo uma coisa dessas. Pobrezinho de você! Te deixo um abraço viu? Melhoras.

Natal até 20/09:  Pobre de você, beesha podre!

Foxx: Own, bichinho, espero de verdade que um dia você recupere sua auto-estima, sabe? Por que deve ser muito ruim ter que fazer isso com outras pessoas, rebaixá-las, para se sentir melhor.

Natal até 20/09: Jogarei água de chuca na tua tumba. Já escolhendo aqui a roupa porque maricona e doente desse jeito já deve estar bem perto.

Foxx: Falo sério! Espero que você encontre amor por você mesmo para que você não precise diminuir outras pessoas para se sentir bem.

Natal até 20/09: Ser você 24 horas, todo dia, já deve ser um castigo bem grande né? Que morte horrível!

Foxx: É tranquilo, para dizer a verdade, obrigado pela preocupação! Já tive momentos ruins, mas hoje me aceito como sou. Já você, tão bonito por fora, com esse vazio por dentro que te faz tentar destruir os outros. Procure ajuda, querido, de verdade. Se você morasse em Natal te indicaria alguns grupos de ajuda que poderiam te ajudar a sair desse... nem sei como deve ser... vazio?

Natal até 20/09: Eu? KKKK Procure ajuda você! Academia, clínica de estética, mas vejo que não tem salvação. Viado feio! Demônio mesmo!

Foxx: Sério? Seus argumentos são que sou velho, gordo e feio? Acha mesmo que qualquer um desses adjetivos vai ofender me ofender? Ô meu querido, incluirei você em minhas orações 'tá? Espero que você possa sair deste caminho de autodestruição.


domingo, 13 de setembro de 2015

Escolha Seu Lado

, em Natal - RN, Brasil
A amiga loira fala como se ninguém estivesse ouvindo.
- Não entendo porque toda hora se reclama da direita. Como se todo mal viesse dela.
Eu arregalo os olhos.
- Não entendo essa lógica esquerdofrênica.
Eu respiro fundo, e falo:
- Mas não é lógica da esquerda, é a verdade. 
Ela então me olha assustada.
- 'Xeu te explicar: a direita e a esquerda são invenções da época da Revolução Francesa. Os "partidos" que eram contrários a revolução e as melhoras que o povo exigia sentavam-se a direita, aqueles que apoiavam o fim dos desmandos da nobreza sentavam-se a esquerda. 
Ela me olhava surpreendida.
- Então, os partidos de direita são aqueles que não apoiam o povo e sim as parcelas mais ricas da população, que querem manter seus privilégios sobre a exploração dos mais pobres; enquanto os partidos de esquerda são, por definição, aqueles que pretendem acabar com o sistema que cria miséria.
Ela não conseguia esconder a surpresa.
- Ai existem inúmeras formas de acabar com a miséria e, portanto, inúmeros tipos de esquerda: os anarquistas, os comunistas (como o PSTU e PSOL), os socialistas (como o PT e o PSB), o estado de bem estar social (que não acho que haja nenhum partido brasileiro que defenda diretamente estas ideias). Como existem também inúmeras formas de defender seus privilégios como a Social Democracia (PSDB), o Liberalismo (DEM, PL, PR), o Nazismo/Facismo e a Ditadura.
Ela estava calada do meu lado.
- Isso existe e é real, agora cabe a você decidir: de que lado você está?

domingo, 30 de agosto de 2015

Gostosa

, em Natal - RN, Brasil
Estava caminhando em direção ao ponto de ônibus, ia para a igreja, mas antes tinha que recarregar meu cartão do ônibus. Usava uma bata indiana e uma calça jeans justa. Quando um primeiro motoqueiro passou e gritou:
- Gostosa!
Eu me assustei. E ainda mais quando um segundo passou, um quarteirão depois.
- Gostosa!
Publiquei então num grupo que estou junto com o Gato de Cheshire no Whatsapp:
- Dois motoqueiros acabaram de me chamar de gostosa aqui.
- Deve ter sido para te ofender, não?
- Sim, provavelmente. Para reforçar o meu lugar de bichinha e o lugar deles de macho. Mas eu sempre tenho uma dúvida: o quanto isso tem de desejo deles?
- Bem, na verdade não acho que tenha a ver com desejo. Mas para reforçar o lugar deles de macho acima do seu lugar de bichinha.
- Sim. Como todo homem que grita gostosa para uma mulher pretende somente reforçar seu lugar de macho no grupo, não para elogiá-la. Mas, tenho outra dúvida, porque ele não escolheu dizer viadinho e sim gostosa?
- É mais humilhante. Misoginia na veia! Você é menos que um homem que quer dar para outro homem, você é mulher mesmo!
- Então gostosa é inferior a viadinho?
- Para um homem, certamente sim.

sábado, 15 de agosto de 2015

Dia dos pais

Ariano: Hei, feliz dia dos pais!
Foxx: Sem presente não tem dia dos pais nenhum
Ariano: Que presente cê quer? Não vai me dizer que é o aspirador de pó que você tava querendo?
Foxx: Sim. Isso mesmo!
Ariano: Mas aspirador não é presente de pai...
Foxx: Querido, eu quero, da licença? Olhe sua homofobia! E só por isso quero um rosa da Barbie.
Ariano: Daddy, seje menas gay!

domingo, 2 de agosto de 2015

Conflito Cultural

, em Natal - RN, Brasil
Foxx: Eu fiz paçoca de carne. Quer um pouco?
Amigo Mineiro: Adoro paçoca!
Pega uma colherada cheia.
Amigo Mineiro: O que é isso? É salgado! E tem carne! E não tem amendoim!
Foxx: Que parte de paçoca de carne você não entendeu?

domingo, 19 de julho de 2015

Música Popular Brasileira

, em Natal - RN, Brasil
Eu e meu irmão caçula sentados na frente da TV na casa dos meus pais.
Ele com o controle na mão muda para o TVZ e está passando uma música sertaneja chamada Moon Álcool, de Thiago Matheus. Intrigado, ele pára para ouvir.
Foxx: Que djabo é isso?
Caçula: ...
Na TV: "Eu tava na balada bebendo água mineral, mas meus amigos não acharam normal. Eles já botaram vodka para eu tomar e a partir daí eu quis zoar"...
Foxx: Sério?
Caçula: ...
Na TV: "DJ pôs Billy Jean e o povo ficou perplexo quando eu dancei igual o Michael Jackson, quando eu vi já tava dançando e gritando 'au', e o povo em volta dançando igual"
Foxx: Gente, mas porque isso? Sério? Que letra é essa?
Na TV: "Andando para trás, com o copo pro alto, tá todo mundo dançando o Moon Álcool".
Foxx: Qualquer música ruim americana tem uma letra melhor que essa? Porque aqui é isso?
Caçula: Mas existem músicas americanas tão ruins quanto esta.
Foxx: Claro que tem, obviamente que tem, mas porque tem sido cada vez mais comum este tipo de letra.
Caçula: Bem, 'tá na moda né? A onda da vez agora é fazer músicas celebrando as baladas porque é para tocar na balada. Para que esses cowboys urbanos que ouvem música sertaneja dentro de boates se divirtam.
Foxx: De fato, outra moda é dizer que não sofreu por amor também né?
Caçula: Verdade.
Foxx: São muitas músicas dizendo que foi ele que perdeu, foi ela que sofreu, e o fulano agora está bem e se divertindo. É o extremo oposto da Bossa Nova, em que a moda era sofrer por amor. Poeta de verdade era aquele que tinha um sofrimento amoroso para contar, já hoje quem sofre por amor é um otário.  



sábado, 4 de julho de 2015

Choque de Bandeiras: Carta Aberta a Ana

Todo mundo viu que após a aprovação do casamento gay nos EUA um mar de bandeiras do arco-íris invadiu o Facebook não foi? Aproveitando o movimento, os transexuais decidiram mostrar a cara e divulgaram sua bandeira também. Reações obviamente se fizeram ouvir. E a mais chocante, na minha opinião, foi da página Conspiração dos Unicórnios Satânicos Pela Ditadura Comunista, Gay e Feminazi. O texto era assinado por ~Ana~ (e eu nunca vou entender o que significa til antes das palavras).
Ana termina o texto afirmando-se feminista radical, e critica a explicação de que transexuais se sentem mulheres como um "delírio queer". Começo o texto pelo fim porque esta é a informação mais importante do texto todo. Explica quem ela é e de onde ela fala. Feministas, principalmente as ditas radicais, nunca apoiaram os movimento gay. Podem todas se coçar de raiva agora, mas esta é a verdade. Historicamente, o movimento feminista nunca esteve preocupado com as questões gays e, principalmente, muito menos com as questões queer. Queer não é simplesmente "viado" em inglês. Queer é uma escola de pensamento que questiona as relações de gênero. E é ai que a Ana peca. Ela acha que entende o pensamento queer e se apropria de conceitos dele, sem saber, e os mastiga dentro de um machismo torto que ela ainda não conseguiu se libertar. Vejamos.
Ana afirma, com todas as letras, que ser mulher é ter uma vagina. Ela abre seu texto assim. Mas no terceiro parágrafo do seu texto ela afirma que ser mulher é ser submetida desde o nascimento a rituais violentos e limitadores. Ela diz que gênero não existe naturalmente, mas uma mulher se torna mulher ao ter uma vagina. Ana está confusa sobre o que é ser mulher porque ela está exposta ao que ela chama de feminismo radical e as propostas da teoria queer que ela não domina. Decida-se, Ana, ser mulher é natural? Então ela está relacionada a sua vagina, apenas a ela, então todo seu argumento seguinte sobre o controle do patriarcado não pode ser mais usado, e seu apelo para que as mulheres parem de apoiar transexuais faz todo sentido. Eles não são e nunca deixarão de ser mulheres.
Porém, infelizmente, para o feminismo radical, a teoria queer provou claramente que o patriarcado não "submete desde o nascimento a rituais violentos e limitadores" somente mulheres. Homens também são submetidos a rituais que os violentam e os limitam do mesmo jeito que mulheres. Ai você pode argumentar que nenhum homem é assassinado por ser homem, como mulheres de fato são, mas eu lembro a você que homens gays são assassinados todos os dias porque não querem mais viver como a norma dita que eles deveriam viver. 
Você diz, e cito, "gênero é um sistema de códigos de conduta forjado pelo patriarcado e imposto às mulheres para nos controlar, domesticar, submeter e explorar", e esse é o problema do feminismo radical e a teoria queer, porque a teoria queer afirma que não é apenas as mulheres que foram expostas a isso. Homens de classes sociais inferiores, homens negros, crianças de ambos os sexos, homossexuais, travestis e transexuais também sofrem com os mesmos códigos de conduta impostos pelo homem branco e heterossexual. Isso incomodou o movimento feminista de uma forma que praticamente impossibilitou pontos de contato entre as duas teorias.
Mas, Ana, em um único ponto você estava certa, não vou negar. Também fico curioso porque transexuais repetem padrões femininos (roupas, acessórios, transformação do corpo, gestos, emulação da voz) para dizer-se mulher. Mas ao contrário de você eu sei que são símbolos. Que se apossando destes símbolos eles conseguem comunicar algo ao grupo que eles fazem parte. Eu, obviamente, iconoclasta que eu sou, preferia que eles rompessem com estes símbolos do que reforçá-los, repetindo o código deste sistema patriarcal/homofóbico/machista que vivemos, mas eu entendo que para muitos esse enfrentamento ainda não é possível. Não é possível porque eles ainda não tem esta consciência de mudança de mundo e, porque, eles ainda precisam se afirmar muito como pessoas com direitos, como cidadãos reais, em outras palavras, eles ainda estão lutando por visibilidade, para vir a se preocupar com a desconstrução de símbolos. Este papel é nosso! Dos gays, das lésbicas e das mulheres! Eu te convido, Ana, agora, para desconstruir a sua vagina.

domingo, 21 de junho de 2015

Uma Nova Maturidade?

FOXX: Ei, acho que não quero mais namorar viu?
BE:  Por que você fala isso?
FOXX: Bem, não está mais me incomodando tanto. Fico em casa com o Nilo, meu gato, vendo Netflix toda noite e pronto. E, quando aparece, faço sexo com alguém que nunca vejo de novo.
BE: Mas porque você acha que não quer namorar?
FOXX: Bem, eu conheci um cara, pela internet, amigo de amigos, me adicionou no Facebook e começamos a conversar. Saímos uma vez e ele me pediu em namoro e eu não quis.
BE: E por que não quis? E, se você disser que não bateu química, que você não sentiu nada por ele e tal, eu entendo. Namorar só para ter um namorado não é uma boa ideia.
FOXX: Eu, sinceramente, pensei: p'ra quê? Tenho tanta coisa para fazer, trabalho, igreja, tenho tempo para namorar não.
BE: Simplesmente porque não quer ter um namorado ou porque ele não acendeu aquela faísca?
FOXX: Por isso eu disse que acho que não quero mais namorar, eu não sei responder esta pergunta. 
BE: Bem, se for a segunda opção eu entendo e endorso. Afinal, às vezes saímos com alguém e é legal, mas não dá aquele frio na barriga e isso dá para sentir de cara. 
FOXX: De fato, não acendeu faísca. Ele tem um corpo lindo, mas burrinho e o sexo não foi bom. 
FOXX: Não sei. E essa é a diferença: antes eu diria sim até para quem não me interessava de fato, com medo de perder a única oportunidade em minha vida. Agora parece que não importa se eu terei outra oportunidade ou não. 
BE: Sinal de amadurecimento então. Acho super positivo.
FOXX: Acho que deixou de ser um objetivo na minha vida, isso sim.

domingo, 7 de junho de 2015

A Nova Paternidade

, em Natal - RN, Brasil
Tem uma coisa que tem me aquecido o coração nesses últimos tempos: pais e seus filhos. Mas não pais no sentido de pai e mãe, pais, somente o pai. Lembro da minha infância, em que o único contato que eu tinha com meu pai era quando ele puxava um cinto para me dar uma surra. Não lembro de nenhuma vez sair com ele de mãos dadas, ou ir ao colo dele, ou dele brincar comigo de qualquer coisa que fosse. Meu pai não estava lá. Mas eu entendo, nenhum trauma foi construído por causa disso. Na geração do meu pai, não havia o costume de pais cuidarem dos filhos, esta tarefa era exclusiva das mães, tias, avós, as mulheres da família. 
Graças ao bom Deus o mundo mudou! Homens adultos podem ter seus filhos aos braços, beijá-los, acarinhá-los, brincar com eles, dizer que os amam. Em uma geração, os filhos de homens como meu pai decidiram que não tratariam seus próprios filhos, os seus meninos e meninas, da mesma forma como foram tratados. Vocês imaginam qual será o resultado destas crianças que cresceram com tanto amor? Sinceramente, meu coração se enche de esperança. Acho que teremos um futuro lindo nas mãos destas crianças criadas com tanto amor. Um mundo melhor se anuncia!  



Uma nova fase começa agora no blog, com postagens quinzenais. A falta de assunto na minha vida não sustenta mais um blog semanal, infelizmente. Peço desculpa também aos outros queridos blogayros porque não tenho podido lê-los. O tempo está curto! 

domingo, 24 de maio de 2015

Roteiro Nº 01

, em Natal - RN, Brasil
Michelângelo, das Tartarugas Ninjas, estava sentado em uma mesa, usando um sobretudo e um grande chapéu, comendo uma bela pizza novaiorquina, quando do outro lado do restaurante um rapaz o observa. O ninja percebe-o, mas tenta fingir que não é para ele que os olhares são lançados, mas logo o rapaz do outro lado da mesa levanta-se e caminha em direção a ele.
- Você faz parte das Tartarugas Ninjas, não é?
- Não... - disfarça Michelângelo.
- Eu sei que é. Sou um grande fã de vocês. Posso sentar?
Michelângelo concorda, para evitar chamar mais atenção.
- Vocês são tão gostosas!
- O que?!
- É! Sempre tive uma coisa por tartarugas e vocês... são gostosas! Será que poderíamos beber um café qualquer dia? 
- Ei, cara, com todo respeito, mas eu não curto...
- Ah, desculpe... mil perdões... eu não sabia, mas será que algumas das suas irmãs não se interessaria por um café?
- Irmãs? Cara, não sei qual o seu problema, mas nós somos homens... não tenho peito, tá vendo?
- Er... vocês são répteis, não tem porque ter peito...
- Mas...
- E não tem o abdômen côncavo dos machos...
- Nós somos fêmeas?
- Eu entendo a confusão. Como a maioria das pessoas não sabe diferenciar o sexo das tartarugas, pressuporam que vocês eram machos porque lutavam e eram fortes. Vocês então acreditaram no que contaram a vocês, no esterótipo masculino que vocês se encaixavam. Típico de uma sociedade cis-hetero normativa.
- Eu sou fêmea?!

domingo, 17 de maio de 2015

Querela Religiosa

, em Natal - RN, Brasil
- Então você é sacerdote e gay? E pode isso?
- Claro que pode. Por que não poderia?
- Porque ser gay é pecado.
- P'ra quem? Na minha igreja não é, e na própria igreja católica também não.
- Como assim?! Não é pecado ser gay na igreja católica?
- Não, nunca foi. O pecado católico no qual os gays estão inclusos chama-se sodomia e isso inclui qualquer sexo sem fins reprodutivos. Sexo entre dois homens é tão pecado quanto sexo entre um homem e uma mulher com camisinha. Por isso, a igreja, sugere que caso você ser gay, você seja celibatário. E, neste caso, sendo celibatário, você pode ser gay e ser até papa!
- Então você é celibatário?
- Não. Eu não sou católico.
- Então o que prega a sua igreja?
- Um dia, alguns anos atrás, quando eu estava em meditação, tive a honra de encontrar um dos meus mestres espirituais, e eu perguntei a ela (sim, era uma mulher) se era errado eu ser gay, ela sorriu me disse com toda paciência do mundo: "você só tem uma vida, precisa vivê-la como ela é". Eu tive a oportunidade de nascer gay nesta vida porque somente vivendo como um homem gay e passando por tudo o que passamos que eu aprenderia o que precisava para me aproximar de Deus em pureza e perfeição...
- Quanta baboseira! A Bíblia diz...
- Espere um momento: eu te relato uma genuína experiência mística, um profundo momento de contato com as divindade que eu tive, e você diz que é "baboseira"? Que falta de respeito com minha fé e minha religiosidade é essa? Ai, se prepara, mesmo assim, para citar a Bíblia, a experiência mística de outra pessoa, e espera que eu respeite sua verdade do mesmo jeito? É isso?
- ...
- Só para complementar, antes de você continuar com seu argumento de autoridade, já que você interrompeu o que eu estava falando... acredito, e minha igreja defende o mesmo, que não viver a vida conforme foi planejado antes de você encarnar é que é o verdadeiro pecado. Fugir, no caso, de ser gay, não viver isto como se deve, completamente, amando, fazendo sexo, casando, com tudo que você tiver direito e vontade, isto sim te levaria a algum "inferno" porque você não estaria seguindo a vontade de Deus. 

domingo, 10 de maio de 2015

Elegia Para Um Príncipe Encantado

, em Natal - RN, Brasil
Eu conheci teus cabelos de trigo num baile de carnaval
Nossos corpos se atraiam como imã naquelas ruas de paralelepípedo
Me apaixonei pelos teus olhos vedes na casa de um amigo
Gozei com você num colchão no chão
Sonhei com teu amor em minha cama agarrando o travesseiro
Você segurou minha mão naquela peça rodrigueana
Me beijou esperando teu ônibus e eu voltei sonhando
Disse-me que se morássemos perto namoraríamos
Estourou de ciúmes mesmo longe
Mas amou outros, também amei
Mas agora você nos deixou, você me deixou, deixou todos nós
Tua doença te levou
E eu fiquei para trás, triste,
Sem nunca mais poder esperar dar 4 horas.



Adeus, Dan, eu te amei profundamente.

domingo, 3 de maio de 2015

Inesquecível

, em Natal - RN, Brasil
Nunca esquecerei você até conhecer outro.
Nunca esquecerei seu sorriso até me encantar por outro.
Nunca esquecerei teus olhos até enxergar outros.
Nunca esquecerei tua boca até beijar outro.
Nunca esquecerei teu corpo até abraçar outro.
Nunca esquecerei teu sexo até comer outro.
Nunca esquecerei como te amei até amar outro.
Nunca esquecerei você até conhecer outro.

domingo, 26 de abril de 2015

Não Faça Isto No Primeiro Encontro (Comigo)

, em Natal - RN, Brasil
Enquanto isso, dentro da minha cabeça.

Eu pensei em escrever este texto como um conselho para todos, mas imediatamente eu pensei "quem sou eu para este papel?". Aconselhar alguém sobre como proceder em primeiros encontros? Como se eu estivesse na posição de grande conhecedor da matéria. Como se eu possuísse inúmeras experiências positivas e maravilhosas que resultaram em segundos encontros. Mas, por outro lado, quem teve mais primeiros encontros do que eu por aqui? Desafio qualquer um. Eles não deram certo, em sua maioria, é verdade!, mas por causa disso eu não extraí nenhuma experiência? Foi então que tive esta brilhante ideia: falar do que fizeram comigo (ou o que eu fiz) que nem eu suportei, logo eu que tenho uma notória paciência e dou mil chances para todo cara. Em outras palavras, aquilo que nem eu que aceito tudo, topei.

1) Sobre atrasos.

Atrasar para qualquer coisa não é legal, mas ninguém está livre de cometer esta gafe num primeiro encontro. E, se acontecer, peça milhares de desculpas. Simplesmente estar presente, ter finalmente chegado, não é o bastante para que sua companhia o perdoe. Você não é especial deste jeito!
Eu conto um causo neste momento? Conto! Era uma vez, no reino distante de Bambuluá, eu saí com um garoto, 21 anos, inteligente, não muito bonito, papo politizado e militante, era um cara interessante, cara de estudante de ciências sociais fã de Che Guevara. Era nosso primeiro encontro e ele chegou 1 hora atrasado (eu disse que aguento muita coisa, não disse?). Ele chegou no exato momento que eu havia me levantado para ir embora, e eu decidi me sentar para conversar com ele mesmo assim. Eu esperava um pedido de desculpas, uma história envolvendo abdução ou sequestro relâmpago, mas depois de um pedido de desculpas vazio, porque ele não se importava em nada de ter me feito esperar sessenta minutos (na cabela dele devia ser alguma convenção burguesa usar relógios, vai ver), mas queria sair dali para me comer na minha casa. Eu, obviamente, disse-lhe um sonoro não. 
Então, seja quinze minutos ou meia hora (e neste caso ligue para falar com a pessoa já adiantando seu pedido) ao chegar peça grandiosas desculpas. Ninguém é tão especial que sua simples presença fará o outro esquecer o tempo que ficou ali te esperando e de sua falta de consideração com ela neste tempo. Se for atrasar uma hora, nem vá, desmarque!, e ninguém espere mais que trinta minutos (só idiotas desesperados fazem isso) e só espere este tempo se houver uma ligação explicando o que aconteceu, se foi apenas uma mensagem depois de 15 minutos de atraso, vá embora!

2) Sobre celulares.

De fato, é chato estar com alguém em uma mesa que dá mais atenção às mensagens que recebe no celular do que a você. E é errado, ora! Estabeleça uma prioridade relacionada a proximidade física das pessoas que você fala, quem está conversando com você mais perto tem sempre prioridade em relação a quem está a quilômetros de distância (não, isso não é uma dica para o Grindr). É cortez, polido, chique. Combinado isso?
Mas, ao mesmo tempo, é seu primeiro encontro com o rapaz lindo, fofo, gostoso e inteligente que você conheceu sabe-se lá como. Você não sabe ainda nada sobre a família, os amigos ou o trabalho dele para se irritar se durante a conversa/jantar/copos de cerveja ele sacar o celular porque o Whatsapp chamou ou mesmo responder uma mensagem. E se for algo importante? 
Meu causo? Uma vez, no reino encantado de Bambuluá, eu e ele sentamos na mesa juntos e assim que sentei recebi uma mensagem no Whatsapp, eu, num reflexo, saco o celular para ver quem era e se era algo importante. Ele segurou meu braço e pediu, de forma enérgica, mas fingindo doçura que eu desligasse o telefone. Eu só pensei ali: "Gente do céu, quem é você para pedir que eu desligue meu celular?". Ele tentou explicar-se, dizendo que era chato e que considerava uma falta de educação, mas era tarde demais porque eu só ouvia a ordem que ele me deu. 
Eu obedeci, mas aquilo colocou um filtro sobre todo o nosso encontro. Ele era autoritário. E as ações, as histórias, o chocolate que ele me deu (e cobrou três vezes que eu comesse enquanto estávamos na mesa) só eram lidos sob este viés. Este é o risco de cometer um erro durante este primeiro contato, porque a primeira impressão é a que fica, ela coloca uma lente sobre você que limita a forma e aquilo que outro verá.


Só digo uma coisa, se nem eu que topo tudo porque sempre acho que talvez a próxima pessoa vá gostar de mim suporto isso, imagina os caras que você sai que tem outras opções. 


domingo, 19 de abril de 2015

Uma Lição

, em Natal - RN, Brasil
Ela era uma senhora gorda, de sorriso aberto e extremamente simpática. Era professora e tinha cara, falava com facilidade, e eu apostaria que lecionava português. Ela entrou na loja numa tarde nublada acompanhada de um garoto magrelo, calado e sempre olhando por baixo de suas sobrancelhas, algumas pessoas poderiam desconfiar daquele menino que não olhava diretamente para ninguém, as pessoas desconfiam de quem não olha nos seus olhos por muito tempo porque todos se acham grandes especialistas na alma humana, mas quem disse que alguém não pode mentir para você olhando nos seus olhos nunca foi traído por um namorado. Ele, o garoto, não o namorado, usava uma regata e uma bermuda surfwear e sandálias de dedo. Era um menino bonito, inclusive, tinha olhos claros e traços másculos, mais precisava encher seus ossos com um pouquinho de carne. Era um adolescente, com corpo de adolescente, que um dia se tornaria um belo homem.
Ela, a professora, comprava-lhe coisas: camisetas, calças jeans, bermudas e cuecas. Inicialmente, imaginei-os mãe e filho, porém um olhar mais cuidadoso logo destruiria esta teoria. Eles não eram em nada parecidos. As bochechas gorduchas dela não tinham nada a ver com as maçãs ossudas dele. Ela continuava mostrando roupas a ele, que ele escolhia sem levantar os olhos. Aceitava tudo com um constrangimento de quem veio comprar um presente para si mesmo. Ela então explicou: "Ele é meu aluno, sabe?". Eu fiquei atento a estória enquanto mostrava-lhe calças tamanho 38.  "Um bom aluno, um grande menino! Ele tira sempre as melhores notas!". Eu o fitei neste instante, e ele sorria orgulhoso dos elogios. Orgulhava-se de ser um bom aluno. De tirar boas notas. Seus olhos claros brilhavam superando a pobreza de toda a vida que ele levava. Se eu não disse antes, acreditem, era um menino muito pobre. Com certeza morava no pé dos morros de areia que cercam Natal, em algum barraco com vários irmãos e talvez não tivesse mais nenhum outro motivo para sentir orgulho além de ser um bom aluno. A professora repetia: "Meu melhor aluno!".
Ele experimentava duas calças jeans no provador quando ela contando o dinheiro que tinha na carteira, faltava 20 reais para que ela comprasse tudo o que pretendia, independente da calça que o garoto de não mais de 15 anos escolhesse, desabafou: "É um menino tão bom! Mas não tem nada! Nada!". Eu pensei que ela estaria com olhos marejados, mas não estava. "Ele tem a mesma roupa para ir a escola todos os dias, mas mesmo assim nunca falta e estuda mais do que os outros! Eu precisava fazer alguma coisa!". E parou de contar o dinheiro quando o menino saiu com uma das calças. "Onde tem um caixa eletrônico?", me perguntou e eu indiquei a farmácia do outro lado da rua. "Empacote tudo aqui que eu volto já com o resto do dinheiro!".

domingo, 12 de abril de 2015

Analfabetismo

, em Natal - RN, Brasil
Cheguei a conclusão que nosso único problema, o único mesmo, a causa de todos os nossos males sejam eles sociais, políticos, religiosos e sexuais, absolutamente tudo!, é o analfabetismo histórico. Duvidam de mim? Vejamos alguns exemplos: o racismo. Se pretende resolver este problema a partir da exposição de uma igualdade baseada na Biologia/Genética, mesmo que isto não seja verdade. É visível que não somos iguais. Brancos, negros, índios, indus, orientais, árabes, judeus tem características físicas/genéticas que os diferenciam uns dos outros. Isto é um fato! Seja a quantidade de melanina, seja a suscetibilidade a algumas doenças. Somos sim diferentes! É preciso, na verdade, parar de jogar para debaixo do tapete esta realidade e começar a aceitar que a diversidade humana começa em nossos corpos. No lugar de ensinarmos que somos todos um, precisamos ensinar que todos somos diferentes, mas nem por isso merecemos ser tratados com desrespeito. O racismo se resolve facilmente quando reconhecemos que apesar de todas as diferenças nós, humanos, compartilhamos uma História em comum. Nós, brasileiros, americanos, europeus, africanos, asiáticos dividimos este planeta desde o começo do tempo. Porém se o conhecimento histórico fosse acessível a todos saberíamos que, neste mundo de meu Deus, nós fomos explorados igualmente explorados independente de nosso código genético. O problema definitivamente não está na inferioridade de alguns corpos, como os defensores da eugenia, de tempos em tempos repetem.
Outro exemplo? Eu poderia citar o papel ridículo da classe média brasileira pedindo o retorno da Ditadura Militar ou comparando o governo petista com um governo socialista. A falta de conhecimentos sobre o nossos governos ditadoriais ou sobre o que é socialismo me fazem quase chorar. De verdade! Posso também citar como os americanos elegem inimigos mortais a cada mandato presidencial. Inimigos que eram antes aliados, devo dizer. Clínton elegeu o Iraque; Bush, o Afeganistão; Obama, Irã e agora a Venezuela. Os americanos esquecem que seus presidentes só tem reais poderes em caso de guerra, que qualquer governador pode promulgar leis em sua federação, e portanto sem um inimigo (mesmo que imaginário) ele perde toda a utilidade. Se o conhecimento histórico fosse disseminado poderiam os americanos questionar o porquê de seu antigo aliado hoje é um inimigo. Hussein, os aiatolás afegãos, os fundamentalistas iranianos e até mesmo a economia venezuelana exclusivamente baseada em vender petróleo para os EUA e consumir seus produtos foram resultado  de influência direta dos americanos.
Exemplos não se acabam. O fundamentalismo islâmico e evangélico é resultado direto também do analfabetismo histórico. Dos fiéis pelo mundo que não conhecem a verdadeira História do Alcorão e da Bíblia. Que não leem seus livros sagrados a partir do contexto histórico que os formulou. Que acreditam que porque este conhecimento fora revelado por Deus os homens que os escreveram estavam imunes ao tempo que viveram. O analfabetismo neste caso está relacionado ao desconhecimento de um dos conceitos-chave da História: historicidade. Nenhum homem é imune a seu tempo. Nem mesmo profetas, nem mesmo o messias. Ninguém pode existir neste planeta sem viver sobre as suas regras e uma delas é o tempo. Homens que vivem dentro de um mesmo tempo, educados dentro de uma mesma sociedade, socializados dentro dos mesmos conceitos, só conseguem pensar seu mundo dentro de um certo limite. Conceitos como ateísmo, amor romântico, infância, escravidão, saúde, natureza, entre outros, não são imutáveis. Eles dependem do tempo em que existiram para serem definidos e pressupor que nossos conceitos de hoje são os mesmos de autores que escreveram entre 2 mil e 1500 anos atrás é o maior crime que alguém que já teve uma aula de História pode ter: anacronismo.
O analfabetismo histórico, portanto, leva diretamente a este pecado. Leva a acreditar que o mundo sempre foi do jeito que ele é hoje. Faz todos acreditarem que as relações entre homens e mulheres são naturais. É daí que se origina o machismo, "os homens sempre dominaram as mulheres", que se origina a homofobia, "os homens de verdade sempre foram assim", que se origina as críticas ao casamento homoafetivo, "o casamento sempre foi entre homens e mulheres". Sem o estudo da História, com seriedade, como elemento de transformação social, nós estamos fadados a acreditar que o mundo nunca foi diferente do que é hoje, tanto para o bem, como para o mal. Sem esta consciência, repetiremos os mesmos erros incessantemente e não reconheceríamos sequer que aquilo é um erro porque não saberíamos que o diferente é possível. Sem aulas de História, sem aulas que ampliem a consciência de crianças e adultos para além da experiência imediata que nossos sentidos são capazes de fornecer não nos tornaremos nunca seres humanos melhores.

domingo, 5 de abril de 2015

Eclipse

, em Natal - RN, Brasil
A maior diferença entre alguém que só quer sexo com você e outra pessoa disposta a te amar é a quantidade de energia e esforço colocada numa relação. Sexo, quem deseja somente sexo, segue a lei do menor esforço. É por isso que aplicativos para celular como o Grindr ou o Hornet fazem tanto sucesso. Você abre um perfil, troca meia dúzia de palavras e tem um cara na sua cama. É tipo delivery  de pizza. Muitos devem sentir falta do refrigerante que acompanha.
Do outro lado, alguém que pretende que um relacionamento seja mais do que um único encontro dedicado ao gozo, primeiro esforça-se para conhecer o outro (o que já é difícil por si), depois esforça-se para fazer parte da vida do outro (o que é bastante complicado porque envolve conciliar agendas profissionais e conquistar os amigos do outro)e, talvez o mais difícil, tem que abrir-se para o outro e este gesto, apesar de simples, envolve abrir mão de toda a sua segurança, suas redes de proteção, deixar-se possivelmente ferir ao baixar seus escudos e lançar fora a armadura, desnuando o peito. É difícil com certeza, e se você acha que direi mais satisfatório está enganado/a.
Apesar de eu considerar pessoalmente que as relações que vão além do sexo são mais enriquecedoras, esta opinião é puramente pessoal (não estou criticando quem acha o contrário) porque eu já explorei demais as relações de puro sexo. Para minha pessoa, no atual estado de minha evolução espiritual, o sexo pelo sexo não me ensina mais nada. Já concluí essa cadeira. Mas para um jovem adolescente ou um adulto que foi muito reprimido, meu conselho é: Aproveite! Faça muito sexo! Com todos os cara que você desejar!, mas não feche a porta para o amor quando você o encontrar. Já aos que procuram relacionamentos longos, duráveis e estáveis, eu não tenho nenhum conselho a dar, não sou sábio o suficiente para isso. Eu ainda estou nas turmas para iniciantes sobre o assunto, a única informação que eu tenho sobre isso é que quando alguém quer mesmo ficar com você ela não mede esforços, mas esta era a informação que iniciou este texto, minha única pérola que espero não ter atirado aos porcos.

domingo, 29 de março de 2015

"Entre Peles"

, em Natal - RN, Brasil
- Desculpa, não deu p'ra ir na exposição. 
Falou meu amigo que eu havia convidado uma semana antes para ir a uma exposição no bar Mahalila, o novo ponto de encontro underground da cidade, no dia seguinte através do Whatsapp. Se é que Natal tem um lugar underground, até porque este termo é fora de moda, agora se fala "alternativo".
- Tudo bem, mas você perdeu. Foi lindo!
- Como foi?
- Era uma exposição de fotografias misturado com poesias. Poesia visual, é o que eles chamam. Depois teve um sarau. E era um público de meninos lindos e inteligentes. Eles estavam por todo lado. Mas como fui sozinho, fiquei por pouco tempo. Cheguei umas 18h e as 20h eu já estava em casa, de banho tomado e vestindo pijamas. Fiquei com vergonha de ser a única pessoa desacompanhada lá.
Ele respondeu seis minutos depois.
- Ai, amigo, que coisa! Não tem nada de embaraçoso estar sozinho.
Eu respondi:
- Ah, p'ra mim tem sim! Eu queria conversar sobre a exposição e não havia com quem. Poemas lindos, fotos maravilhosas, e eu não tinha com quem falar. E eu também não ia sentar numa mesa, sozinho, e pedir uma cerveja que é alcoolismo demais na vida da pessoa.
- Não concordo com você. Interrompeu meu amigo.
- Bem, eu fiquei encostado numa parede tentando sorrir para não parecer deprimente, fingindo ser cool e que não preciso de ninguém para me divertir. Que sou aquela pessoa moderna que vai a qualquer lugar sozinho porque não precisa da companhia de outras pessoas. Aí eu lembrei quando era mais novo, tinha 21 anos, e eu ia para balada sozinho porque não tinha amigos gays e eu sentia a mesa coisa, tentava não parecer deprimente, mas com um hora e meia eu já queria estar em casa, foi reviver aquele tempo.
Ele discordou.
- No caso de ir a balada sozinho, até concordo, também passei por isso, mas da exposição não. Você apenas não conseguiu aproveitar um bom momento por estar sozinho. E isso eu não acho lógico. Você foi para ver a exposição e não aproveitou porque se sentiu envergonhado por estar sozinho. É um sentimento horrível, Foxx, não apreciar sua própria companhia.
Eu fiquei bastante confuso neste momento e tentei contra-argumentar.
- Eu convivo comigo mesmo, amigo. Eu moro só, trabalho sozinho e, portanto, quando eu saio meu objetivo é tirar férias de mim mesmo. Férias dos meus pensamentos. Acho que ninguém entende isso porque todo mundo convive com outras pessoas, e eu só me relaciono via Whatsapp.
Ele respondeu:
- Justamente por esse motivo você devia aprender a se aproveitar mais ao invés de não gostar de estar sozinho.
- Acho que você não entendeu. Eu vivo muito bem com meus livros, meu quadrinhos, meus filmes, meus programas de tv, minhas plantas e meu gato. Vivo sim. Mas eu não quero viver somente comigo. Principalmente quando eu saio de casa. Até porque é chato quando todas as discussões terminam com você concordando consigo mesmo.




domingo, 22 de março de 2015

"Eu Vejo Pessoas Bonitas"

Às vezes eu me sinto o Haley Joel Osment em o Sexto Sentido.

- Eu vejo pessoas bonitas!
- Com que frequência?
- O tempo todo!

Todo mundo que eu vejo tem algo bonito. Simplesmente não sei como alguém pode olhar para outra pessoa e dizer que não há nada ali agradável ao seu olhar. Seja um suave brilho nos olhos, a bonita definição dos ombros, a bela proporção das pernas, a deliciosa curva da bunda, a macia força das coxas, a fofa simetria das orelhas. Como alguém pode olhar para outra pessoa e não encontrar ali nada de bonito?
Não que eu seja cego para os defeitos. Eu posso vê-los também e ser bastante detalhista. Eu sou capaz de reconhecer que aqueles olhos são muito juntos, que os ombros são largos demais, as pernas de fulano poderiam ser pelo menos cinco centímetros maiores, que um outro não passou na fila para receber bunda quando Deus fez-lhe o corpo, que alguém tem uma perna dividida canela-joelho-canel. E nem vamos falar com essa mania das pessoas de usarem barba de mendigo, aparem isso, por favor!, e não é raspar, é aparar de vez em quando, e uma dica é que se quando você come algo suja sua barba, ela está grande demais. E sandália com meia: não, não, não!!!
Culpo minhas habilidades com desenho por isso. "O desenho não é a forma, é maneira de ver a forma", já dizia Degas. Desenhar te deixa consciente de duas coisas: o que é um corpo perfeito e o que faz uma pessoa bonita. Perfeição é uma coisa na verdade simples de obter, mesmo ela não existindo no mundo real, basta seguir a chamada Proporção Áurea ou Número de Ouro, uma regra que foi popularizada pelo Renascimento. 7,5:2 é a chave para um corpo humano perfeito, Juntando a isto a simetria e teremos a perfeição divina.
Porém, apesar do Número de Ouro ser a chave da perfeição, ele não é a chave da beleza. Por um motivo muito simples: o belo não se encontra na perfeição. Ironicamente, apesar da indústria de cosméticos dizer-nos o contrário, é o defeito que torna alguém bonito, porque a beleza se encontra naquilo que é único e são nossos defeitos, nossas experiencias cravadas em cicatrizes, rugas e cabelos brancos, nossos olhos ligeiramente assimétricos, orelhas de tamanhos diferentes, narizes grandes demais, uma boca um pouco torta para esquerda, que tornam nosso rosto lindo e inimitável. Um ombro mais estreito, pernas mais longas, um abdômen mais largo, um quadril mais amplo, uma altura menor tornam cada um de nós especial, um indivíduo sem comparação na face da Terra e, portanto, um indivíduo lindo.
Por isso, eu olho em minha volta, aonde eu estiver, e posso encontrar alguém bonito. Porque minha definição de beleza não encontra eco na perfeição. Aqueles perfeitos no máximo arrancam de mim uma admiração técnica, como se eu observasse um desenho perfeitamente executado, mas que falta emoção. Haverá um elogio sim, mas em seguida darei de ombros e farei um beicinho de desdém. E por quê? Porque sinceramente acho muito mais bonito um menino de orelhas grandes, peito definido e braços magrinhos que sorriu para mim iluminando todo o ponto de ônibus onde ele estava esperando o dele e eu passei dentro do meu. Ele não era perfeito, mas tenham certeza, fazia tempo que eu não via um menino tão lindo nesta cidade.

domingo, 15 de março de 2015

Paixão Nacional

Então neste domingo inúmeros brasileiros saíram às ruas dizendo que protestariam contra a corrupção e a má gerência da Petrobrás, mas na verdade somente falaram contra o governo Dilma Rousseff e o quarto mandato do Partido dos Trabalhadores, apesar das afirmações contrárias de muitos que defendiam as manifestações em redes sociais. Eu, sinceramente, não entendi a lógica que impulsionava eleitores de direita de tomar o passeio público e os de esquerda de permanecerem em suas casas, a única explicação para mim é enxergá-los como times de futebol.
Não fazia sentido alguém que fez campanha e votou em Aécio Neves nas eleições de outubro se enrolar agora em uma bandeira brasileira e pintar-se como os Caras Pintadas patrocinados pela Globo nos anos Collor para criticar o governo petista. A sra. Rousseff adotou as propostas defendidas pelo candidato tucano e eles, agora, protestavam contra o projeto que votaram seis meses atrás. Outros, todavia, diziam que não era contra o novo plano econômico petista e sim contra a corrupção exposta no caso Petrobrás. Se isto é verdade, porque nenhuma crítica ao Partido Progressista (PP), cujos deputados e senadores estão quase todos envolvidos no escândalo, foi vista? Por que nenhuma crítica ao PMDB também envolvido? Por que nenhuma citação ao envolvimento de Aécio Neves e Antônio Anastasia? Por que somente o PT que aparece com, se não me engano, com apenas dois dos seus parlamentares é criticado e por que também a figura da senhora presidenta, como ela gosta de ser chamada, não obstante ela não ter sido citada de forma alguma, é associada ao processo?
Ao mesmo tempo, a presidente não é criticada por seus correligionários de forma alguma. Dilma, no entanto, os traiu. Como ela vendeu os votos LGBT em troca de garantir a governabilidade no mandato passado, agora ela abandou as promessas feitas aos trabalhadores durante sua campanha em outubro e vende seus direitos a quem possa pagar melhor (isto é uma metáfora, que fique claro, não estou acusando a presidente de corrupção, apenas de traição). Nenhum petista levantou-se contra Dilma sentindo-se traído (como eu me senti no mandato passado, e não faço agora porque apensar de ter votado nela eu sabia que ela se comportaria do mesmo jeito independente do que estava prometendo). Nenhum membro do partido da presidente fez a legítima crítica que precisa ser feita às novas regras trabalhistas e ao pacote econômico, aos cortes nas universidades públicas e a falta de diálogo com a classe média que tem criado o sentimento anti-petista tão grande que vemos pelas cidades mais populosas do país.
Como torcedores de times de futebol, os petistas traídos continuam apoiando Dilma e os tucanos beneficiados pelos novos programas do governo continuam detestando o governo. Os sentimentos dos dois grupos independem dos fatos. São apenas torcedores de times de futebol que exultam somente as belas jogadas de seus próprios times e xingam, sem pensar duas vezes, toda vez que o adversário toma a bola. Se é assim, eu faço uma proposta que resolverá para sempre o problema político brasileiro: por que não colocamos na direção da nação o presidente do clube que vencer o campeonato brasileiro de futebol? Afinal o Tribunal Superior Desportivo julga tudo em menos de três dias; a CBF mantém um controle efetivo sobre qualquer denúncia, nunca saberíamos de nada; e, por fim, poderíamos torcer contra sem nenhum peso na consciência quando nosso time não vencesse, porque uma vez torcida adversária sempre torcida adversária.

domingo, 8 de março de 2015

Gosto Não Se Discute?

Sempre que ouvimos ou lemos o mantra sagrado do machismo entre o meio gay, "não sou e nem curto afeminados", o argumento de que cada um tem o direito de direcionar seu desejo ao que melhor lhe convém sempre aparece. Contudo, eu me questiono: temos mesmo este direito? E, não pergunto se temos em teoria, mas se na prática somos realmente capazes de exercer tal direito ou somos, simplesmente, incapazes de tal feito.
É inegável que vivemos em um mundo machista e, portanto misógino e homofóbico. Todo adulto é um ser que foi criado em um ambiente que foi inundado de mais ou menos situações de preconceito que formaram seu caráter, sua forma de enxergar o mundo, seus medos e traumas e, apesar das pessoas fingirem que não aconteceu, também seus gostos. É durante sua formação como homem ou mulher adulto que um indivíduo aprende a gostar de legumes, ter medo de mariposas, votar no PSDB ou defender minorias, isso todos concordam, porém quando nos voltamos a formação do desejo amoroso/sexual esquecemos que ele também é moldado da mesma forma, e acreditamos piamente que ele advém de alguma ligação de almas inefável e impossível de ser analisada racionalmente (a maldita química).
Estamos acostumados a ter relacionamentos e amores impensados. Sobre os quais não dedicamos nenhum momento de reflexão e depois ficamos surpresos por não sabermos controlar uma paixão ou sofrer demais ao fim do relacionamento. Se alguém não sabe os mecanismos do seu próprio desejo como espera poder controlá-lo ao fim de um namoro? E um dos elementos que não questionamos é de onde vem a aversão aos efeminados.
Cada um precisa perguntar de onde vem sua própria aversão, mas alguns lugares comuns podem ser facilmente encontrados: 1) tem aquele cara profundamente no armário que teme ser visto com homens gays efeminados (ele também foge dos assumidos em geral) porque pode ser arrancado das sombras em que ele se esconde por associação (me diga com quem andas e te direi quem és); 2) tem aquele homem que vê o efeminado de si no outro, o que ele reprime poderosamente por medo de ser tratado diferente, a visão da liberdade daquele ser o ofende profundamente e, como reflexo, ele desenvolve a ofensa em forma de ojeriza; 3) tem aquele que criado sobre a sombra de um ideal de homem que não existe, educado para se tornar este exemplo de masculinidade e virilidade, experiência no qual ele próprio falhou por ser impossível, direcionou, inconscientemente, seu desejo para este personagem fictício e, agora, como quem procura entre pessoas reais um super-herói de quadrinhos, ele rejeita aqueles que não cabem no seu sonho de homem que ele deseja ser e incapaz disso o procura em outros. 
Estes são alguns exemplos entre tantos outros. Mas, a pergunta que não quer calar, alguém pode desfazer estas programações? Na minha opinião a resposta é sim. Todos podemos e devemos desconstruir as programações que recebemos durante a nossa formação, basta para isso questionar nossos próprios desejos. Perguntar por que sinto isto, por que desejo aquilo, seja um objeto material, seja uma pessoa, nos garante que o desejo que está brotando em nós é nosso e não que foi plantado por outra pessoa ou mesmo pela máquina capitalista, isto é, o cinema, TV, a publicidade em geral, a moda. Entender que todos nós somos suscetíveis a este sistema que empurra-nos goela abaixo desejos é o primeiro passo para ser livre dele. O primeiro passo para ter a verdadeira liberdade, para gostar daquilo que gosto e não do que me foi ensinado a gostar, é questionar de onde os desejos vêm. Aviso que em um nível avançado você será capaz inclusive de escolher quando e a quem amar, mas tudo começa com o primeiro passo: tornar-se consciente de onde começa você e onde termina o mundo a sua volta (as fronteiras não são tão óbvias quanto parecem).

domingo, 1 de março de 2015

Meu Problema

, em Natal - RN, Brasil
Era uma tarde de quinta-feira, o carnaval acabara de passar, primeiro dia da Quaresma católica, e eu o esperava para almoçar na praça de alimentação de um shopping. Eu não ia trabalhar naquele dia, e aquele menino me convidara para um cinema, eu aceitei. Sempre faço isso, encontro desconhecidos que me convidam para sair. Eu cheguei antes e ele se atrasou, mas eu não vi problema nisso (e talvez aí esteja todo o meu problema, me acompanhem...). Ele chegou pela minha direita e eu o reconheci de imediato. Ele usava um cabelo mal cortado que fazia parecer que ele era careca, mas não era; óculos grandes demais para seu rosto com lentes que escurecem quando expostas a luz, também vestia-se estranho, uma camiseta azul marinho, uma calça social marrom clara e um tênis de corrida. Ele vestia-se mal e apresentava-se de forma, no mínimo, desleixada. Novamente, apesar de notar um problema (de fato eu notei), eu falei para mim mesmo que devia ignorar e ir em frente. (eu sempre penso: eu devo tratá-lo como gostaria de ser tratado, não é? Então não posso julgar alguém por sua aparência). Eu almocei um Subway, eu estava desejando, ele pegou um quase nada de comida em um restaurante à peso, arroz-de-leite, salmão e uma batata, deixou metade do peixe no prato e boa parte da batata, aquela comida ia para o lixo (eu me senti profundamente incomodado, mas achei melhor não dizer nada, achei que devia dar a ele uma chance, como gostaria que ele desse uma a mim, e sim, eu julgo pessoas porque jogam comida fora em um mundo em que tanta gente passa fome). Subimos para o cinema, "Temos que ir para não atrasar", ele falou.
Compramos ingressos para O Jogo da Imitação, sobre a vida do matemático e inventor dos computadores, Alan Turing. Ótimo filme por sinal. Sentamos, obviamente, lado a lado e ele pegou na minha mão e puxou-me para um beijo. As luzes nem haviam apagado ainda, os poucos espectadores entravam na sala, e nós eramos dois adolescentes se beijando na sala (sim, me incomodou bastante, mas, apesar de tudo, eu pensei, porquê não?). Foi um beijo cheio de dentes. Ele abria a boca demais, quase engolindo a minha, seus dentes chegavam a raspar na minha barba, acho que ele quase cortou minha bochecha. Eu sussurrei-lhe: "Calma!", ele riu, mas não mudou em nada seu comportamento. Parece que aumentou o fogo, na verdade.
Ele quis pegar em lugares demais ali no cinema quando as luzes apagaram. Eu tirei sua mão. Repeti com paciência: "Calma!". Ele voltou com o beijo afobado que demonstrava toda sua inexperiência (era sem sombra de dúvida um beijo de alguém que não costumava beijar outros homens, mas ele tinha 23 anos, o que eu achei estranho). Tentou novamente tocar-me em lugares bem ao sul. As pessoas ao nosso redor, não eram muitas na sala devido ao horário, mas bastante perto de nós, não o intimidavam em nada, mas eu não sou mais um adolescente que tem que aproveitar estas oportunidades na vida. Eu não queria aquela exibição em uma sala de cinema. Se ele quisesse vir a minha casa, tudo bem, mas não ali. Pedi-lhe novamente: "Calma!". Ele desistiu.
E acho que ali ele viu um problema. Senti-lhe ofendido. Eu não estava no mesmo clima dele, óbvio, de beijos destreinados e tesão adolescente, queria ver o filme do lado de alguém legal apenas, e ele era bem legal. Inteligente, com um sorriso lindo e um corpo gostosinho por debaixo daquela roupa brega (Deus me perdoe, mas era sim!). Mas ao contrário de mim que estava aberto a passar por cima de todos os problemas que eu encontrasse na minha frente (e foram muitos), o primeiro que eu impus a ele, ele desistiu. A prova foi que ele não respondeu nenhuma das mensagens que eu enviei para ele nos dias após o cinema. Mas ele está certo. Quem cometeu um erro fui eu, quem é o problema sou eu. E meu problema é passar por cima do que me incomoda nas pessoas que eu conheço na esperança de, com o tempo, encontrar nelas as qualidades que eu sei que elas possuem, infelizmente nenhuma pessoa está disposta a fazer o mesmo por mim.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

O Ovo ou a Galinha

, em Natal - RN, Brasil


Estou sentado na sala dos meus pais. Minha mãe acabou de fazer uma pequena cirurgia e precisa de ajuda com o ferimento e com as tarefas diárias que ela não pode fazer enquanto recupera-se. A televisão está ligada na Sony, meus pais tem a Claro TV que meu irmão assina para eles, mas eles só assistem dois canais, a Canção Nova, minha mãe, e o SportTV, meu pai. Somente quando eu chego por lá que outros canais são visitados e que eles assistem animados, minha mãe gosta da programação da GNT, por exemplo, com aqueles programas de culinária para jovens yuppies, e meu pai gosta do Discovery e The History, mas gosta especialmente de programas sobre decoração e arquitetura do Discovery Home and Health. Mas ambos me criticam quando eu assisto minhas séries, dizem eles ser uma perda de tempo, mas ver a terrível programação infantil do canal católico ou um jogo de futebol que já sabemos o resultado de um time desconhecido parece ser bem importante. Eu respondo: "Assisto TV para me divertir, não para aprender".
Voltemos a Sony. Neste verão, o tema da campanha para reforçar a marca do canal é sensualidade, e em uma de suas chamadas um conjunto de cenas de beijos aparece, entre eles um de o Diário de Bridget Jones e outra de American Pie, ao qual quero me deter. 









São duas coisas que quero me deter, na verdade. As cenas são claramente bem diferentes, e é interessante ver isso, sobretudo na sequência com o Seann William Scott e o Jason Biggs, em que duas meninas se beijam antes, e também na que atua Reneé Zellweger, que o beijo entre duas mulheres pode e deve ser encarado com naturalidade. O Diário de Bridget Jones é voltado para um público feminino que aprende com ele a se comportar na situação em que uma outra mulher tenta beijar você, Bridget reage com calma e tranquilidade. Ela demonstra se sentir lisonjeada, mas que infelizmente ela não sente a mesma atração. Ela pede desculpas, como pediria a um homem que também estivesse interessada nela e o sentimento não fosse recíproco. Na outra ponta, em um filme voltado para garotos adolescentes heterossexuais cujo tema principal é perder a sua virgindade, o beijo entre dois homens é motivo de nojo, e só acontece por causa da possibilidade de participar da fantasia repetida exaustivamente do sexo com lésbicas. O que é ensinado é tenha nojo. Nojo de fazer, nojo de ver, porque aqueles que assistem em cena estão constrangidos, e o motivo para as meninas pedirem o beijo é apenas para humilhá-los também. O que se aprende é que aqueles que beijam homens devem ser humilhados e assisti-los se beijar é constrangedor ou motivo de piada.
De onde vem isso?, é a primeira pergunta, em seguida questionamos: existe uma diferença de preconceito para com lésbicas e para com gays? Na verdade não, mas existe sim uma diferença de lugar social. Os especialistas no assunto costumam explicar que lésbicas, como mulheres que são, foram colocadas pela indústria pornográfica como objetos de desejo. Orgias, menage à trois, fantasias de haréns que colocam o homem, garanhão, exercendo seu poder sobre um sem-número de mulheres ao mesmo tempo e sendo viril o bastante para dar conta de todas elas são temas frequentes dos filmes adultos. É daí que surgiu o prazer visual que homens heterossexuais aprenderam a sentir ao ver duas mulheres fazendo sexo. Eles sentem que serão convidados a qualquer momento para participar daquela situação e trazer seu poder sobre aquelas duas mulheres dando-lhes o falo que faltava aquela relação. A fantasia é de óbvia subjugação das duas, de controlar seu corpo e seu prazer porque somente o homem pode ter prazer através do seu pênis. Já do lado masculino, não preciso explicar de onde vem o nojo, o constrangimento, a humilhação não é?
Ah, mas isso não causa resultado? Ai entra o outro tema da minha postagem. Minha mãe estava sentada em frente a televisão quando a Sony exibiu sua chamada. Eu já tinha visto várias vezes antes, despertando em mim somente o questionamento de porque a relação entre o beijo feminino e masculino são distintas (obrigado Sony, btw), mas ela não havia percebido, foi quando ela reparou dois homens se beijando. A reação foi imediata.
- Que pouca vergonha é essa dentro da minha casa?!?
Eu me assustei. Ela estava alterada.
- Desligue a TV! Mude de canal! Eu não quero nada disso dentro da minha casa!
Eu estava paralisado. De susto.
- Mude de canal imediatamente.
Eu não fiz nada, foi tudo muito rápido, e eu somente entendi o que estava acontecendo minutos depois. Ela bufava. Eu não discuti, mas também não mudei de canal, deixei lá onde estava, e ela, sei lá, esperava uma discussão comigo que não veio. Mas levantei, vi que era hora de dar-lhe o remédio, dei, e disse que precisava ir em casa tomar um banho.
Deixei-a sozinha em casa, mas vejam: ela não viu as mulheres se beijando. Não causou nenhuma reação nela, e minha mãe não assiste, acho eu, filmes pornôs, o que significa que este estrago causado pela indústria de filmes adultos já é tão profundo que alcançou a minha mãe tornando-a insensível ao beijo feminino, mas ainda capaz de demonstrar tanta revolta com um beijo entre homens (se vocês estão preocupados comigo, não fiquem, eu nunca namoro, lembram? Não tem chance dela me ver beijando alguém em hipótese alguma), porém também existe uma outra opção: que essa permissividade com as lésbicas seja anterior à pornografia, que ela já tenha passado para o erotismo heterossexual como um todo porque já existia antes, mas de onde? Historicamente, inclusive, a homossexualidade feminina tem sido bem mais perseguida que a masculina, forçada sobretudo a uma invisibilidade social com o silenciamento de suas protagonistas, o que não aconteceu com os homens que se dedicaram ao amor que não pode ser nomeado, como dizia Oscar Wilde, afinal ele não podia ser nomeado, mas não impediu que o próprio Wilde escrevesse a maior carta de amor da história. É uma questão de o ovo ou a galinha, quem veio primeiro: a permissividade com as lésbicas ou a pornografia?

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Realidades Paralelas


Como eu queria que fosse:

- Oi, Foxx. Bom dia!
- Bom dia, meu lindo, dormiu bem?
- Muito bem. Adorei te ver ontem...
- Eu também.
- Espero poder te ver mais vezes.
- Com todo o prazer.
- Então, próximo sábado você está livre?



Como poderia ser:

- Oi, Foxx, desculpa, prometa que não vai me odiar, mas eu não tive saída. Tive que encontrá-los.
- Tudo bem, lindo, sem problemas! Dormiu bem?
- Dormi sim. Mas, voltando ao assunto, deixe-me compensar você, vamos jantar hoje?
- Claro, com todo o prazer!



Como foi:

- Oi, Foxx, desculpa, prometa que não vai me odiar, mas eu não tive saída. Tive que encontrá-los.
- Tudo bem, mas o senhor fica me devendo hein? Dormiu bem?
- Honestamente, estou bem cansado, vou dormir o resto do domingo todo.
- Ok. Bom descanso então.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Os Mestres Egípcios

, em Natal - RN, Brasil
Para mudar um pouquinho, e porque também não tenho nada o que escrever mesmo, mostro meus outros talentos. Os desenhos são todos meus, feitos com base nas ilustrações egípcias que decoram as paredes das pirâmides. E como aprender alguma coisa não faz mal a ninguém: é bom que vocês saibam que os egípcios não tinham deuses antropozoomórficos, isto é, com corpo parte animal, parte humana, estas imagens são palavras, na verdade. Um homem com cabeça de falcão é a palavra Hórus, uma mulher com cabeça de gato preto é a palavra Bastet, um homem verde (a cor da morte) é a palavra Osíris. Nenhum egípcio acreditava que Hator andava por ai com chifres de vaca na cabeça e o sol brilhando acima dela ou que Rá tinha um sol com uma serpente em cima de sua cabeça. Numa linguagem pictográfica é assim que se representava os nomes próprios, que se identificava um indivíduo único. A leoa unida a figura de Sekmet revela sua ferocidade, o chacal unido a Anúbis revela a sua ligação com os corpos em decomposição (já que o animal se alimenta de carniça). Agora, a pergunta que não quer calar é: quem foi o historiador idiota e preconceituoso que viu isso e imaginou deuses com cabeça de animais?


Sekmet, a poderosa, deusa da vingança.

Bastet, deusa da alegria, música e dança.

Hathor, deusa do amor e do nascimento.

Thot, deus da lua e da escrita.

Ptah, deus da sabedoria, ciência e arte.

Ra, deus criador do mundo, o sol ao meio dia.

Anúbis, deus que guia os mortos.

                                                               Osíris, deus dos mortos.

Nut e Geb, deusa do céu e deus da terra.

Ísis, deusa da vida e da fertilidade.

Hórus, deus do sol e da luz.

Seth, deus da magia, protetor contra o mal.

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Júpiter Em Leão

, em Natal - RN, Brazil
Por algum motivo, Júpiter em Leão provavelmente, não é raro algum homem me adicionar no Facebook. Adicionam cheios de segundas intenções obviamente. Bonitos homens que chegam com conversas mansas, perguntando sobre minha vida, minhas preferências e minhas ideias. Por acaso, são realmente homens interessantes. Não todos, mas a maioria. Em um mês, por exemplo, teve um de nome francês, corpo de jogador de capoeira, cabelos com dreads e que havia viajado boa parte do mundo e me contava estórias da Nova Zelândia, Bélgica e Filipinas; teve um bancário, de roupa alinhada, sorriso perfeito e barba por fazer, amigo de um amigo, que perguntou tudo sobre mim ao nosso conhecido em comum e o fez ficar torcendo para que eu finalmente desencalhasse; teve um estagiário de direito, magrinho e com um sorriso lindo, imberbe, cujas roupas sociais ficavam grandes demais para ele, menos na mala; e o modelo, lindo!, de cabelo perfeito, sorriso perfeito, rosto perfeito, corpo perfeito, e que ao me encontrar me perguntou: "você me achou mais feio pessoalmente não foi?", e eu fui obrigado a dizer-lhe que, pelo contrário, ele era extremamente mais bonito pessoalmente que nas fotos que eu havia visto.
Sim, eu encontrei com todos eles. Sempre em uma quarta-feira. Meu único dia livre a noite. O primeiro me levou a um bar. Disse que achava que ele ia beber cerveja sozinho, mas que eu estava bebendo e ele já estava ficando tontinho. Conversamos sobre biologia, evolucionismo e criacionismo, sobre tipos de vozes masculinas. E eu sabia que ele não estava interessado por mim no instante que a conversa chegou a este determinado ponto:
- Os fonoaudiólogos dizem que se você não está satisfeito com sua tessitura vocal, (eu dizia) isto é, se você acha a sua voz fina ou grossa demais, é possível mudar. A minha já foi muito mais aguda do que agora, por exemplo.
- E você acha que a sua já está bom? Perguntou o garoto de nome francês.
E eu respondi: - Não, é aguda demais, eu sei, mas não me interessa mudar. Eu aprendi que eu tenho um dom, que nem todo homem pode alcançar as notas que eu consigo, comprometer esta habilidade porque eu não encaixo no fetiche dos viados desta cidade não está nos meus planos.
Ele mudou o assunto para a Dilma e o Aécio, e eu soube ali que não haveria um segundo encontro, apesar de bêbado ele ter mencionado que seria legal me ver cantar.
O bancário, numa outra quarta-feira, me convidou para tomar um açaí. Ele era lindo, não tão lindo quanto o francês, mas eu o encontrei numa lanchonete e comemos falando sobre o mundo gay natalense, sobre meus grupos de corais, sobre os amigos dele e nosso amigo em comum, ele pagou a conta no final com uma cara de culpado. Eu li nos olhos dele o seguinte quando ele pagou a conta: "Eu fiz ele vir até o outro lado da cidade para nada porque nem beijá-lo eu vou, vou pelo menos pagar a conta". E, o que eu achei bem honrado, ele mal esperou nos separarmos para mandar uma mensagem, via Whatsapp, dizendo: "Olha, eu nem sei bem como te dizer isso, mas você é um cara legal e não quero te dar falsas expectativas, mas não rolou química". Eu respondi com um tumbs up e um "de boa". E toquei minha vida.
Com o estagiário eu comi, também numa quarta, um sanduíche em uma lanchonete de rua.  Detesto praças de alimentação de shoppings, só vale a pena se o calor estiver infernal. Conversamos sobre o trabalho dele, ele perguntou sobre o que eu havia estudado, seus olhos brilharam quando eu falei que era doutor, ele perguntou sobre minha dissertação, minha tese e da experiência em Belo Horizonte (eu menti dizendo que tinha adorado tudo e que tinha sido um grande sucesso, para quê falar sobre meus fracassos, não é?). Ao sairmos para ir embora, ele parecia excitado sob a calça, o que confirmou depois pelo Whatsapp, vindo até minha casa dias depois para nos conhecermos ainda melhor, if you know what I mean. Chegou meio bêbado porque havia saído de uma festa com amigos e estava animado. Seu corpo branco e apertado era quente e macio. Mas, apesar de eu ter mantido contato, algumas semanas depois, quando eu enviei uma mensagem novamente o convidando para ele voltar aqui, ele respondeu: "Podemos ver isto sim, algum dia". Ok, né? Nunca mais voltou.
O modelo chegou atrasado quase uma hora quando marcamos. Ele mora longe, é verdade, e pediu mil desculpas dizendo que houve um acidente, implorou para que eu o desculpasse, e porque não né?, era quarta-feira e eu estava em casa sem fazer nada mesmo. Ele veio até perto da minha casa, na verdade, caminhamos juntos e ele falou sobre estudos, sobre planos para o futuro, fez perguntas indiscretas sobre minha situação financeira e quis conhecer minha casa. Eu não resisti. E ele explodiu sobre meu peito duas vezes sem se tocar. Foi lindo de ver. Ele era lindo de ver. Voltou outra vez, não ficou 1 hora comigo, e eu percebi que apesar de toda aquela beleza, ele, estranhamente, tinha muita vergonha do seu corpo, sempre pedindo que eu desligasse as luzes quando ele pretendia se despir. 



domingo, 25 de janeiro de 2015

Spice Your Life

, em Natal - RN, Brazil
Sabemos que o processo homossexual de assumir-se, o famoso sair do armário, pode ser bastante doloroso e traumático para várias pessoas, tanto homens quanto mulheres, seja o processo inicial de aceitar a si mesmo como diferente para a progressão (que se torna inevitável) de assumir-se para amigos, familiares e colegas de trabalho (normalmente nesta ordem). Inevitável porque após assumir-se para si, de forma plenamente satisfatória (sim, porque existem níveis de aceitação de si mesmo) tornar-se normalmente irritante continuar tentando se esquivar dos outros, em determinado momento qualquer um se cansa (o que muda neste processo é somente o tamanho da paciência de cada um). No entanto, para lidar com este processo, com os problemas que esta situação leva cada um a enfrentar, sobretudo o preconceito, os homens gays costumam ter cinco tipos de reações mais comuns. São normalmente processos bastante inconscientes de defesa que eles controem em torno de si para se proteger do mundo que eles consideram, no mínimo, perigoso porque os odeia. Cinco reações são as mais comuns e, coincidência ou não, podemos representá-las pelas cinco Spice Girls.
Se vocês não se lembram, as Spice Girls era um grupo de música pop inglesa, formado por cinco garotas que ffez muito no sucesso no fim da década de 1990. O grupo era formado por Emma Bunton, Geri Halliwell, Melanie B (Brown), Melanie C (Chisholm) e Victoria Adams (depois Beckham). Elas eram também conhecidas por seus apelidos: Emma era a Baby Spice; Geri, Ginger Spice; Mel B, Scary Spice; Mel C, Sporty Spice; e Victoria, Posh Spice. 

1) Baby Spice.

Emma era a mais jovem das Spices. Já muitos homens gays para reagir ao preconceito se comportam de forma infantil. Reagem aos problemas que lidar com sua própria aceitação causaram paralisando a vida deles numa eterna juventude. Irresponsáveis e imaturos, promíscuos também, dedicam suas vidas a noitadas intermináveis, drogas inúteis e bebedeiras homéricas. Não constroem nada, nem projetam nada para o futuro, tudo porque se viram tão privados de todas essas vivências em sua adolescência ou juventude - bloqueados porque temiam serem descobertos - que, tardiamente, precisam viver tudo isso com imenso afã. 

2) Ginger Spice.

Geri era a Spice sexy, e inúmeros homens gays reagem ao preconceito que minou sua autoestima superinflando-a. Eles pensam que todos os querem, que todos os desejam. Eles se consideram os homens mais lindos, mais gostosos, mais bonitos e mais interessantes de todos os lugares que estão. Irresistíveis, todos os homens, sejam eles gays ou heterossexuais, tem que desejá-lo. É uma reação clara de alguém que se sentiu tão inferior que ele se sente forçado a empurrar-se para o outro extremo, quanto mais ele sentir-se superior, quanto mais homens ele ter em sua lista, mas ele terá vencido sua própria história de vida.

3) Scary Spice.

Acredito este ser o tipo mais comum. Mel B, a negra, era a assustadora do grupo e aqui são os homens gays que saem armados todo dia de casa. Eles foram em suas histórias de vida tão agredidos que agora eles estão sempre prontos para uma briga, para um barraco, para o ataque. Também de gestos grandiosos, nada discretos, espalhafatosos, teatrais, eles montaram personagens que são difíceis de conviver porque é difícil assistir uma peça 24 horas por dia. Eles querem, com isso, exatamente afastar as pessoas antes que eles os machuquem. O objetivo aqui é assustar para longe da verdadeira e frágil pessoa que está embaixo da armadura. Tão feridos que foram, tanta luta pelo que já passaram, eles aprenderam a esperar somente o ataque e por isso atacam primeiro, seja em suas roupas, em seus gestos, em suas ações. Eles recusam-se, terminantemente, a ser novamente vítimas.

4) Sporty Spice.

Mel C deveria representar as meninas mais masculinas entre os personagens da banda, entre os gays esta se refere aqueles que mantém fixação com seus corpos. E sei que muita gente vai pensar nas barbies (os garotos malhados que dedicam horas nas academias para esculpir seus corpos), mas eu também incluo neste grupo os ursos (os gordinhos peludos) e os efeminados. Atacados em sua consciência de grupo, renegados por amigos, estes homens procuram um modelo físico que lhes garanta aceitação externa que eles não conseguiram antes ou que achavam não merecer. Desvalorizados, como eles se percebem, acreditam que a aceitação está em achar um modelo cujo qual eles possam reproduzir e, sendo igual aos outros, ele poderão finalmente ser aceitos por algum grupo e finalmente fazer alguns amigos.

5) Posh Spice. 

Victoria, que se tornou esposa de David Beckham, deveria representar as garotas fúteis preocupadas com suas roupas e representa também um grupo extremamente fragilizado em sua autoestima: aqueles que reagiram achando que basta cobrir-se de roupas caras, frequentar os lugares mais caros e mais badalados, conhecer as pessoas dos círculos mais ricos que ele seria recoberto com uma sensação de valor que sua história de vida negou-lhe. Protegidos pelo dinheiro, sobretudo, eles não seriam mais incomodados por aqueles que os faziam se sentir inferiores.


Não estou com isso cavando justificativas para aqueles que tem estes comportamentos, apenas reconhecendo que estes comportamentos são explicados por causa das trajetórias de enfrentamento que ser gay exige. Também, de forma alguma, pretendo dizer que todos os gays passaram por algum destes tipos. Absolutamente. Muitos superam os crimes que foram-lhes cometidos mais rápido, alguns, graças a Deus, nem tem problemas com aceitação de todos os lados, mas eu estou errado em ver estes tipos circulando por ai? Eu com certeza encontrei vários destes tipos pela minha vida, também admito que aqui em Natal, durante muito tempo, eu acreditei que a vibe Posh Spice era a única forma de sobreviver a cidade que eu vivo, mas graças a Deus, o amadurecimento me provou o contrário. E com vocês?

domingo, 18 de janeiro de 2015

Praga de Mãe

, em Natal - RN, Brazil

Na loja, minha mãe atende o telefone. É uma das irmãs dela. Uma das inúmeras tias que eu tenho e que nunca vejo porque meu pai fez questão de nos criar apartados do lado materno da família. Elas conversam sobre os filhos que estão se casando, sobre os netos que vem chegando. Minha mãe só tem netos tortos, isto é, os netos dela são dos filhos do primeiro casamento do meu pai. Ela ainda aguarda ter um neto dos seus próprios filhos.
- Não, ele não 'tá casado não.
Eu presto atenção a partir daqui na conversa.
- Ele 'tá sim aqui comigo. Agora está me ajudando aqui na loja.
Eu percebo que o assunto agora sou eu. E minha mãe não faz questão de esconder.
- Ah, o Foxx é que não vai casar mesmo. Este não casa nunca. 

domingo, 11 de janeiro de 2015

Rotineiramente

, em Natal - RN, Brazil
Noite de segunda-feira, passei o dia no trabalho, na loja da minha mãe, arrumando cabides, limpando o chão por onde os clientes caminhavam, cheguei em casa às 20h e direto ao banho atravessei a casa. Tomei um banho rápido para tirar o suor e a poeira daquela loja que grudam como óleo, fiz um lanche de biscoito e iogurte grego e sentei diante do meu altar. Diante de Buda, Saint Germain e mestre Kuthumi, de Rá, Zeus, Apolo e Têmis, do arcanjo Miguel e Jesus Cristo, e também Palas Athena, Aéolo, Zé de Alagoas e Menininha, sobre uma almofada azul e fiz minhas orações.
Do lado de fora uma cachorra latia alto. Da casa ao lado, na vila em que moro, Vila Paiva, eu ouvia uma televisão ligada no que eu pensava ser alguma novela. Outros vizinhos brigavam, eu não reconhecia as palavras, mas somente um burburinho agressivo chegava até mim. Um liquidificador tocava sua música em algum lugar e meu gato, o Seth, estava ali deitado ao meu lado, alheio a tudo. 
As velas tremulavam a minha frente e eu tentava concentrar-me no fogo para visualizar a luz divina preenchendo meu corpo. Fiz meu ritual diário, que sempre faço a hora em que eu nasci, 23:30h, mais cedo porque o sono já me consumia. Terminei-o apenas para me jogar na cama e encerrar o dia aplicando reiki em mim e enviando para aqueles que já me pediram. Adormeci rápido e em exatas 12 horas eu já estava novamente de pé.
Era terça-feira, dia de trabalho, cheguei cedo a loja, para arrumar as bermudas nos cabides das araras, limpar o chão por onde os clientes caminham e...

domingo, 4 de janeiro de 2015

Sacro Ofício

Sou sacerdote. Dia 6 de dezembro, eu fiz meus votos:

"Salvar todos os homens
Renunciar aos maus desejos
Aprender todos os ensinamentos
Alcançar a perfeita iluminação".

Para quem não sabe, desde 2012, quando retornei a Natal, eu frequento uma igreja universalista, o Templo Universal Despertar. O templo me ajudou bastante num momento em que eu voltava para esta cidade para morrer, considerando que junto com meus sonhos destruídos, minha vida havia se extinguido, eu retornei para Natal para me fechar em uma espécie de túmulo. A convite de um conhecido, porque o grupo tinha um coro e eu queria continuar cantando, eu visitei o grupo pela primeira vez em uma sexta-feira em fevereiro e, ao me identificar com a filosofia de integração religiosa, patrocinada pela Fraternidade Branca, em que todas as religiões tem uma parcela da verdade e cabe a nós reunir esta verdade sobre Deus, eu passei a frequentar quatro vezes por semana a igreja durante todo aquele ano. Segunda, quarta, quinta e sexta. Esta foi minha rotina durante os últimos anos. Segundas, aulas espirituais; quarta, ensaio do coral; quinta, primeiramente desenvolvimento mediúnico, depois o ambulatório de terapias alternativas atuando como terapeuta reikiano; e sexta, no trabalho de desagregação da casa. E, durante, este ano de 2014, acrescentaríamos a esta rotina noturna também o noviciado de nossa igreja que consumiu vários fins de semana com aulas e ritos de inúmeras religiões. Dia 6 de dezembro, sob a lua de Sagitário, diante da vitória divina, eu finalmente pude fazer os votos, aprovado no curso. Sou agora um sacerdote. Ainda haverá muitas aulas a fazer, me torno um reverendo somente com três anos de muito estudo, mas agora encontrei um novo propósito em minha vida, é um novo recomeço, e sou um novo homem.