Google+ Estórias Do Mundo: julho 2015

domingo, 19 de julho de 2015

Música Popular Brasileira

, em Natal - RN, Brasil
Eu e meu irmão caçula sentados na frente da TV na casa dos meus pais.
Ele com o controle na mão muda para o TVZ e está passando uma música sertaneja chamada Moon Álcool, de Thiago Matheus. Intrigado, ele pára para ouvir.
Foxx: Que djabo é isso?
Caçula: ...
Na TV: "Eu tava na balada bebendo água mineral, mas meus amigos não acharam normal. Eles já botaram vodka para eu tomar e a partir daí eu quis zoar"...
Foxx: Sério?
Caçula: ...
Na TV: "DJ pôs Billy Jean e o povo ficou perplexo quando eu dancei igual o Michael Jackson, quando eu vi já tava dançando e gritando 'au', e o povo em volta dançando igual"
Foxx: Gente, mas porque isso? Sério? Que letra é essa?
Na TV: "Andando para trás, com o copo pro alto, tá todo mundo dançando o Moon Álcool".
Foxx: Qualquer música ruim americana tem uma letra melhor que essa? Porque aqui é isso?
Caçula: Mas existem músicas americanas tão ruins quanto esta.
Foxx: Claro que tem, obviamente que tem, mas porque tem sido cada vez mais comum este tipo de letra.
Caçula: Bem, 'tá na moda né? A onda da vez agora é fazer músicas celebrando as baladas porque é para tocar na balada. Para que esses cowboys urbanos que ouvem música sertaneja dentro de boates se divirtam.
Foxx: De fato, outra moda é dizer que não sofreu por amor também né?
Caçula: Verdade.
Foxx: São muitas músicas dizendo que foi ele que perdeu, foi ela que sofreu, e o fulano agora está bem e se divertindo. É o extremo oposto da Bossa Nova, em que a moda era sofrer por amor. Poeta de verdade era aquele que tinha um sofrimento amoroso para contar, já hoje quem sofre por amor é um otário.  



sábado, 4 de julho de 2015

Choque de Bandeiras: Carta Aberta a Ana

Todo mundo viu que após a aprovação do casamento gay nos EUA um mar de bandeiras do arco-íris invadiu o Facebook não foi? Aproveitando o movimento, os transexuais decidiram mostrar a cara e divulgaram sua bandeira também. Reações obviamente se fizeram ouvir. E a mais chocante, na minha opinião, foi da página Conspiração dos Unicórnios Satânicos Pela Ditadura Comunista, Gay e Feminazi. O texto era assinado por ~Ana~ (e eu nunca vou entender o que significa til antes das palavras).
Ana termina o texto afirmando-se feminista radical, e critica a explicação de que transexuais se sentem mulheres como um "delírio queer". Começo o texto pelo fim porque esta é a informação mais importante do texto todo. Explica quem ela é e de onde ela fala. Feministas, principalmente as ditas radicais, nunca apoiaram os movimento gay. Podem todas se coçar de raiva agora, mas esta é a verdade. Historicamente, o movimento feminista nunca esteve preocupado com as questões gays e, principalmente, muito menos com as questões queer. Queer não é simplesmente "viado" em inglês. Queer é uma escola de pensamento que questiona as relações de gênero. E é ai que a Ana peca. Ela acha que entende o pensamento queer e se apropria de conceitos dele, sem saber, e os mastiga dentro de um machismo torto que ela ainda não conseguiu se libertar. Vejamos.
Ana afirma, com todas as letras, que ser mulher é ter uma vagina. Ela abre seu texto assim. Mas no terceiro parágrafo do seu texto ela afirma que ser mulher é ser submetida desde o nascimento a rituais violentos e limitadores. Ela diz que gênero não existe naturalmente, mas uma mulher se torna mulher ao ter uma vagina. Ana está confusa sobre o que é ser mulher porque ela está exposta ao que ela chama de feminismo radical e as propostas da teoria queer que ela não domina. Decida-se, Ana, ser mulher é natural? Então ela está relacionada a sua vagina, apenas a ela, então todo seu argumento seguinte sobre o controle do patriarcado não pode ser mais usado, e seu apelo para que as mulheres parem de apoiar transexuais faz todo sentido. Eles não são e nunca deixarão de ser mulheres.
Porém, infelizmente, para o feminismo radical, a teoria queer provou claramente que o patriarcado não "submete desde o nascimento a rituais violentos e limitadores" somente mulheres. Homens também são submetidos a rituais que os violentam e os limitam do mesmo jeito que mulheres. Ai você pode argumentar que nenhum homem é assassinado por ser homem, como mulheres de fato são, mas eu lembro a você que homens gays são assassinados todos os dias porque não querem mais viver como a norma dita que eles deveriam viver. 
Você diz, e cito, "gênero é um sistema de códigos de conduta forjado pelo patriarcado e imposto às mulheres para nos controlar, domesticar, submeter e explorar", e esse é o problema do feminismo radical e a teoria queer, porque a teoria queer afirma que não é apenas as mulheres que foram expostas a isso. Homens de classes sociais inferiores, homens negros, crianças de ambos os sexos, homossexuais, travestis e transexuais também sofrem com os mesmos códigos de conduta impostos pelo homem branco e heterossexual. Isso incomodou o movimento feminista de uma forma que praticamente impossibilitou pontos de contato entre as duas teorias.
Mas, Ana, em um único ponto você estava certa, não vou negar. Também fico curioso porque transexuais repetem padrões femininos (roupas, acessórios, transformação do corpo, gestos, emulação da voz) para dizer-se mulher. Mas ao contrário de você eu sei que são símbolos. Que se apossando destes símbolos eles conseguem comunicar algo ao grupo que eles fazem parte. Eu, obviamente, iconoclasta que eu sou, preferia que eles rompessem com estes símbolos do que reforçá-los, repetindo o código deste sistema patriarcal/homofóbico/machista que vivemos, mas eu entendo que para muitos esse enfrentamento ainda não é possível. Não é possível porque eles ainda não tem esta consciência de mudança de mundo e, porque, eles ainda precisam se afirmar muito como pessoas com direitos, como cidadãos reais, em outras palavras, eles ainda estão lutando por visibilidade, para vir a se preocupar com a desconstrução de símbolos. Este papel é nosso! Dos gays, das lésbicas e das mulheres! Eu te convido, Ana, agora, para desconstruir a sua vagina.