Google+ Estórias Do Mundo: agosto 2007

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

EXTRA, EXTRA, EXTRA: Under My Umbrella

Tudo ficou em silêncio. Ouvi um boa noite, ele estendeu a mão, apresentou-se, "H", e sorriu. O sorriso mais bonito que vi em tempos. Ele sentou de frente para mim, de penras abertas, apoiando o braço na perna esquerda, retirou do casaco o Malboro Light, pediu meu isqueiro e acendeu um. A chama iluminou-lhe os olhos verdes. Ele sorriu mais uma vez. Agora só pra mim. E naquele sorriso eu me envolvi e me afoguei.
Conversamos ali. Sentados, cercados de pessoas, mas para mim, éramos apenas eu e aquele sorriso. Ele contou histórias. Eu respondi perguntas. Ele começou a brincar comigo. Atirou-me o casaco e eu segurei, e ele deixou comigo, guardado, como quem confia.
No dia seguinte o sol mostrou que seria um dia prata. Brilhante, mas cinza. Dormi no numa rede no alpendre, o frio gelou-me as costas, mas acabei acordando ouvindo a voz dele, longe, ria, conversava com os amigos dele. Riba me chamou para a piscina. Topei. Sunga azul. Ele estava de bermuda azul e branca. Tomava sol do lado oposto ao que eu fiquei batendo papo, quando durante uma conversa fiz uma careta. "Faz de novo?". Olhei para ele sem compreender. "De novo. A carinha. Tão bonitinho". Fiquei vermelho. "Precisa não, você envergonhado 'tá mais fofo ainda". Riba me cutuca. Segundos antes comentávamos como H é absolutamente perfeito. Riba sorri.
Passo o dia a segui-lo com os olhos, quando a tarde nos juntamos a conversar, eu, Peter, Riba e Andarilho, ele se junta a nossa conversa e dispara: "Me apaixonei por você sabia?". Eu ri, encabulado, mas ele continua: "Como consigo um beijo seu?". O Andarilho interrompe: "É só beijar, ora". Eu sorri, paralisado, olhando nos profundos lagos verdes que eram os olhos dele. Ele apenas lançou-me outro sorriso e pegou meu copo. "Vou te trazer um pouco de vinho, quer?".
Domingo. A madrugada fria e solitária deixou uma manhã de chumbo que se tornou bronze quando o sol alcançou seu zênite. Sentamos mais íntimos. Música alta. Umbrella repete-se infinitamente. Reclamações pedindo um pouco de forró explodem para todo lado. E meus talentos como massagista são descobertos e H me intima. "Minha vez, senta aqui". E eu penso mil besteiras até entender que ele quer apenas uma massagem. Eu começo. "Ai, que coisa boa". Os meninos riem. Ele geme. "Se continuar assim, me apaixono". Todos riem e perguntam quantas vezes ele já gozou. Converso com os meninos que perguntam detalhes técnicos sobre a massagem. Comentio que além do do-in, o reiki e um pouco de reflexologia, eu sei massagem tailandesa e ele fala que quer. "Mas tem que ser no quarto, na cama". Ele ri e fala que é desculpa para eu me trancar com ele no quarto. "Vou não, tenho medo do que você vai fazer comigo". Todos riem e eu não deixo por baixo. "Faço apenas o que você quiser que eu faça". Ele olha diretamente nos meus olhos e sorri. "Vou acabar com você então". Ele levanta, me pega pela mão e me leva para o quarto. E de cueca, como a massagem tailandesa exige, eu toquei todo aquele corpo perfeito, o mais profissionalmente possível. "Quero você todo dia lá em casa". Eu ri.
Fim da tarde do domingo. O sol esfria. Conheço o ex-namorado dele. Ele pergunta o que achei. Comento que esperava mais. Ele explica que o ex tem qualidades que compensam os defeitos. Encanto-me mais com a sabedoria. Rimos. Conversamos. Até a hora de partir. Aquando ele se despede de todos, e me reserva o último lugar. Afasta-se e finge que esqueceu, eu o acompanho com o olhar, quando ele vira e sorri novamente, aquele sorriso perfeito, e corre e me abraça, e termina meu fim de semana dizendo: "Achei um novo melhor amigo". Eu sorri, agradecido.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

PRESENTE: Crônicas da Vida Cotidiana I

Se vocês não sabem o volante do São Paulo, Richarlyson, foi acusado pelo diretor do Palmeiras, José Cyrillo Jr., de ser gay (não vou dizer homossexual, duvido que ele tenha usado esta palavra) e no seu direito de parte ofendida entrou na justiça de São Paulo pedindo reparação por calúnia. Até aí, na minha opinião, ele estava no completo direito dele. Afinal sabemos todos que ser taxado de gay, viado, bicha, etc, é uma grave ofensa em nossa sociedade. Contudo, ao contrário do que se era de se esperar o juiz da comarca, Manoel Maximiano Junqueira Filho (gravem bem esse nome), arquivou a ação alegando tanta besteira, mas tanta besteira, que eu precisei comentar com vocês. É, o Foxx é antenado!
Primeiro ele diz que o caso é insignificante. Que este tipo de ofensa deve ser rebatida "tet-a-tet". Exato! Um juiz sugere que o jogador deveria ter ido bater boca com o diretor palmeirense. Caído na porrada. Agredido. E não gastado o tempo dele utilizando os meios legais e racionais da boa justiça, pois "trazer este episódio a justiça é dar uma dimensão exagerada a um fato insignificante, se comparado a grandeza do futebol brasileiro". Em seguida o senhor excelentíssimo juiz afirma que como os hinos dos times de futebol cantam que o jogo é um esporte viril e varonil, ele não pode ser praticado por homossexuais porque na cabeça de nosso excelentissimo nenhum homossexual pode em situação alguma ser viril (para quem não conhece a palavra quer dizer forte, saudável) ou varonil (que na acepção da palavra quer dizer 'ter um pênis'). Agora pensem vocês, nenhum homossexual então pode ser viril ou varonil?
Penso também: no hino brasileiro diz-se que o nosso belo país também é varonil, viril, se o Brasil é viril e varonil, tal qual o futebol, e o futebol não pode aceitar homossexuais, então o Brasil também não tem nenhum homossexual sobre sua terra, não é? Isso é lógica minha gente: se y é igual a x, e x é 0, então y é igual a 0. Agora me pergunto: mesmo? Tem certeza, senhor juiz?
Mas ele continua. Ele afirma que os grandes jogadores se tornam idolos de milhões, cita Pelé, Jairzinho, Gérson, Falcão, e outros e diz que nenhum outro homem "conceberia um ídolo seu homossexual". Então sou obrigado a pensar: ninguém admirou, em toda história, Oscar Wilde? Ninguém considera o escritor de De Profundis, o livro no qual ele declara o seu amor por Sir Alfred Douglas, um grande escritor? Senhor Juiz, ó senhor juiz...
Ai ele propõe, provavelmente considerando-se um grande humanitário, que se um homossexual quer jogar futebol, que jogue. "Mas forme seu time e inicie sua federaçao. Agende jogos com quem prefira pelejar contra si". O que é isso? Um time de leprosos? De doentes que não podem tocar em nada? Lembrei de uma cena do filme "Será que ele é", em que todos os alunos de uma escola se tornam gays porque um de seus professores era gay. "Ele me tocou, então eu virei gay?". Também estou imaginando o uniforme cor de rosa e I will survive como hino. Ó excelentissimo juiz...
Depois nosso grande juiz tem a audácia de comparar isso com os negros, dizendo que não há nada de parecido entre uma coisa e outra, talvez porque ele ingore completamente o motivo do Fluminense ser chamado de pó-de-arroz, e que o Vasco foi o primeiro time brasileiro a aceitar entre suas fileiras jogadores negros. Mas hoje, o preconceito não existe mais, porque os negros podem perfeitamente jogar futebol, pois fizeram muito pela história do Brasil. Isso mesmo, jogar futebol é o prêmio dos negros pelos anos de escravidão. Por isso o Brasil tem uma democracia racial, como dizia Gilberto Freyre, porque os brancos tem o dinheiro e os negros o futebol, todos saem ganhando. "Também o negro, se homossexual, deve evitar participar de equipes futebolísticas de heteros". Sem comentários.
Por fim nosso carissimo juiz não consegue entender a aceitação de homossexuais no futebol brasileiro "porque prejudicam a uniformidade de pensamento da equipe, o entrosamento, o equilibrio, o ideal". Então deixe-me ver se eu entendi bem: se algum dos jogadores for de esquerda todos terão que ser? se for evangélico, judeu ou cardecista todos terão que ser? se for argentino todos terão que ser? Senão vai atrabalhar o entrosamento? o ideal? Além disso, o torcedor (dos quais nenhum, em possibilidade alguma, pode ser homossexual) que leva seu filho ao estádio (o qual também nunca, em hipótese alguma, será homossexual) se sentiria desconfortável por saber detalhes tão íntimos da vida de um jogador, o mesmo aconteceria com a comissão técnica, os dirigentes de clubes e os outros colegas de equipe, porque a única pessoa que suporta uma bichinha é outra bichinha. Não é isso, meu caro juiz? Pois como ele conclue magnificamente "cada um na sua área, cada macaco em seu galho, cada galo em seu terreiro, cada rei em seu baralho". E ainda reclamam do sistema judiciário brasileiro.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

PASSADO: Realidades Paralelas

Nas revistas em quadrinhos da Marvel e DC existe uma infinidade de universos paralelos. Segundo esta teoria de ficção científica (ou Sci-Fi, como é cult dizer), das quais nunca se deve rir porque acabam se comprovando... é amigo, desde os clássicos de Julio Verne que no século XIX inventou o submarino e o ônibus espacial, ao computador de bordo dos carros de 007 ou o teleporte de Jornada nas Estrelas, a Sci-Fi que tem melhor previsto nosso futuro tecnológico... mas voltando as realidades paralelas...
Segundo esta teoria, cada universo paralelo é muito parecido com o nosso, todavia pequenos detalhes tornariam ele único. Você nunca imaginou como seria sua vida se em determinado instante de sua vida existência você tivesse tomado um caminho diferente? Feito escolhas diferentes? Em outra realidade paralela você seria aquele que disse sim no lugar de não.
Tenho alguns momentos que considero cruciais em minha vida. Que se não tivessem acontecido me tornaria um pessoa diferente do que sou hoje. Como tenho tanta certeza? Não tenho! É intuição!! Mas alguns são óbvios.
Não ser filho dos meus pais é um desses elementos óbvios. Afinal outros pais, outra criação, outros traumas. E imagine como eu seria diferente se tivesse nascido em "berço de ouro". Mas seria uma mudança para melhor ou pior? E se eu tivesse nascido em outra cidade: em Ceará-Mirim, a cidade que meus pais nasceram? Ou em Sampa, para irmos ao outro extremo, que espécie de pessoa eu seria?
Ter saído do Impacto, meu primeiro colégio, aos 12 também foi um momento fundador (acho que podemos definir assim)e que se não tivesse acontecido eu seria outro. Não passar no exame de admissão para a Escola Técnica daqui do estado também me definiu. Voltar ao ICC aos 16, enão ir para um grande colégio, renomeado, com alunos de vários lugares da cidade, do estado, outros mundos, outras realidades, e também fazer História na faculdade e não Psicologia (que minha mãe acha bonito) também foi definidor.
Imaginem se eu não tivesse sido um menino delicado e sofrido todo o preconceito que sofri, da minha família, isolamento dos amigos, se não tivesse passado por tudo que já passei, talvez hoje tivesse vergonha de ser quem eu sou, vergonha no exato momento de minha vida que eu posso ser quem eu sou. Sofreria mais. Negaria talvez. Teria preconceitos... comigo... com os outros.
Claro que quando passei por estes momentos eu não tinha noção que eles me definiriam. Para saber isso eu preciso da insensão do tempo (coisa típica de historiador), estar distante o bastante para enxergar de fora. Por isso não reconheço os momentos que estão mudando o rumo de minha vida.
Mas a pergunta chave é: eu seria melhor, mais feliz, se tudo fosse diferente? Não sei. Não há como saber, só resta especular. A única coisa que posso dizer é que eu gosto de quem sou, como sou e onde estou. E se mudando meu passado eu me tornaria alguém diferente do que sou hoje, é melhor deixar tudo como está.

PS: A BARRIGA NÃO ESTÁ INCLUIDA NESTE MOMENTO DE AUTO-ESTIMA. ELA SAI. E A ACADEMIA ESTÁ AÍ PARA ISSO.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

PRESENTE: FELIZ ANIVERSÁRIO


Para evitar dramas no meu aniversário, eu mesmo me homenagiei (essa palavra está certa pelo amor de Cristo?)




O Leãozinho

Caetano Veloso

Composição: Caetano Veloso

gosto muito de te ver leãozinho
caminhando sob o sol
gosto muito de você leãozinho
para desentristecer leãozinhoo
meu coração tão só
basta eu encontrar você no caminho
um filhote de leão
raio da manhã
arrastando o meu olhar como um ímã
o meu coração é o sol
pai de toda cor
quando ele lhe doura a pele ao léu
gosto de te ver ao sol leãozinho
de te ver entrar no mar
tua pele
tua luz
tua juba
gosto de ficar ao sol leãozinho
de molhar minha juba
de estar perto de você e entrar numa





sábado, 4 de agosto de 2007

PASSADO: Quase um mestre

"Ela é uma abusada que acabou de chegar da Espanha, Salamanca eu acho, e agora quer chegar aqui botando banca". Foi a primeira coisa que aquele menino de dezessete anos ouviu sobre ela. Ele entrara na faculdade no seu primeiro vestibular. Estava ali perdido. Sem saber se realmente queria ser um historiador. Um geográfo. Um psicológo. Um artista. Ele estava ali. Apenas estava. Ela seria sua nova professora. De uma disciplina extremamente esperada. A disciplina que o fizera optar por aquele curso superior. História Antiga. Segundo semestre, mais especificamente, aquele no qual ele estudaria por quase seis meses Grécia e Roma, assuntos que o encantavam desde muito tempo.
Aos doze anos aquele menino aprendera francês, após devorar todos os livros sobre mitologia das bibliotecas de suas escolas e das bibliotecas públicas de sua cidade, só restavam os livros em francês. Ele aprendeu francês. Dos doze aos dezessete aquele menino leu Platão, Aristóteles, Euripides, Sófocles. Aquele menino leu. E por causa disso escolheu. Marcou a opção História (lincenciatura e bacharelado - manhã) naquela ficha porque queria ler mais sobre isso. Estudar isso. Ela o ensinaria.
Primeiro dia de aula com ela. Cabelos cacheados e volumosos presos com uma faixa. Elegante. Ela explicava o projeto de aula que a fez assumir aquela turma apesar dela ser especialista em História Medieval. O menino, sentado no canto mais sombrio da sala, observava. Ela continuava. Aos poucos os dois se conheceram. E ela, experiente, reconheceu no menino de dezessete anos mais do que o menino achava que tinha. Reconheceu talento, habilidade, qualidade. Convidou-o para compartilhar seu conhecimento na classe. Ele falou. Impressionou.
Ela ofereceu um trabalho voluntário a ele. Ela insinuou na verdade. Mas ele ainda estava perdido. Não sabia se queria. Não sabia porque estava ali. Não sabia se queria estar ali. Ele precisou passar por outros caminhos. Outros arquivos. Outros professores. Outras poeiras. Para aprender. E querer ser historiador. Ele gostou, como leonino, de apresentar um trabalho. De falar. Ter atenção. Ser questionado. Instigado. Ele se apaixonou por ser historiador. E voltou a ela. E ela o ensinou como ser historiador. Ensinou. Deu-lhe asas. E ele voou. Não. Não voou para muito longe. Ele teve medo de voar sozinho. Tentou algumas vezes. E até se saiu bem. Mas sempre voltava ao ninho. No ninho cresceu. Cresceu muito. Suas asas tornaram-se fortes. Saudáveis. Poderosas. Conseguiu vôos longos. Longos. Tudo por causa dela. Dela.


Tudo isso para comemorar a entrega da minha dissertação. Sou quase um mestre.