Google+ Estórias Do Mundo: setembro 2010

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Fantasias Patéticas II

Obviamente, como são fantasias, nada neste post realmente aconteceu, ok? Avisados?



Sexo Rotineiro


Caímos cansados na cama, minha mão sobre a barriga suada dele, e dessa vez sou eu quem me aconchego em seu braço. Ele olha para o teto e eu para o seu corpo e, de repente, percebo que já conheço cada centimetro daquela pele. A curva que sobe para seu peitoral e a que temperatura seu mamilo ficar entrumescido, que minha língua deslizando em "S" por sua nuca lhe causa arrepios e que ele tem cócegas no cotovelo. Percebo que sei que ele corta o cabelo somente uma vez por mês, e que mesmo assim está sempre lindo, que ele detesta o cheiro de Sundown, e que ele já leu todos os livros de Virgínia Woolf. Naquele instante, me dou conta que sei que ele gosta de filmes pornôs, principalmente daqueles que mostram grandes gozadas, e que ele não acredita em absolutamente nada de astrologia, mas sempre ri quando eu digo que os aquarianos são assim mesmo, indiferentes ao mundo místico, mas que combinam perfeitamente com leão. Sei que me irrito quando ele diz que eu o sufoco demais, que sou muito dramático, e quando resolve me levar para acampar no meio do nada só para estar em contato com a natureza. Que também me irrito quando ele age por teimosia, às vezes acho que só mesmo para me irritar. Percebo que tem milhares de roupas dele na minha casa, e minhas na dele, que tem livros meus que vou precisar amanhã por lá e que faz tempo que tenho duas escovas de dente. Ele também. Percebo que ele me dá sempre uma nova edição do Pequeno Príncipe, e é por causa dele que minha coleção está aumentando, e também que já viajamos tanto pelo Brasil que está dificil decidir que cidade conhecer no próximo feriado em outubro. Noto que todos os meus amigos e os dele são nossos amigos hoje. Lembro que ele não gosta que eu fume, mas fuma também de vez em quando. "De vez em quando pode", repete ele. Sei que episódio de Chaves o faz rir e que se deixa-lo ele vai assistir somente Friends, todos os dias. Percebo que eu o conheço, bem, mas não completamente, e sei que agora quando ele me sorri com essa cara safada é porque ele quer repetir o sexo de novo e que agora quer ser ativo.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A Raposa e o Gato

, em Belo Horizonte - MG, Brasil
Ao chegar em casa e deitar sozinho na minha cama, abraçando os travesseiros que eu trocara as fronhas verdes da semana passada por novas, limpas, brancas, não conseguir conter o pensamento de porquê ele não estava ali comigo. Por que sua cabeça não estava no travesseiro ao lado, na altura perfeita para que visse aqueles olhos castanhos que se apertam quando ele sorri, aquele sorriso aberto, constante, amigável, acolhedor.
Amigos em comum nos apresentaram. Apresentaram-nos em um bar em frente a faculdade, e eu o pensei hétero, mas no final da noite, entre conversas, cervejas e relatos, descobri que estava enganado. Conversamos, entre cervejas, naquela noite que começara as quatro horas da tarde de uma véspera de feriado. Falamos sobre cinema, quadrinhos, arte, política e contra-cultura, o que me deixou encantado. Chamarei-o aqui de Gato, por causa do animal mesmo, que é ao mesmo tempo arisco e carinhoso, como ele.
Achei que nunca o encontraria de novo, como as tantas pessoas que nós conhecemos durante estas noites em baladas e bares que nos rendem ótimas conversas, mas que por algum motivo simplesmente desaparecem no ar quando o carro do Sol sobe no horizonte. O Gato seria somente uma lembrança de um cara completamente perfeito que (obviamente) nunca se interessaria por mim.
Mas, no entanto, hoje, voltando do ensaio do meu coral, cruzei com ele em frente a Escola de Belas Artes, e ele colocou o braço em torno do meu ombro e me disse, caloroso: "Vamos, amigo nerd, vamos lá no Cabral beber uma cerveja comigo?". E eu inebriado por ele, pelos seus olhos que se apertavam, me deixei levar. Sentei na mesa com os amigos dele e quando o vi deixar de conversar com os amigos e dedicar-se unicamente a mim, a nossos assuntos, a nossas conversas, a nossas piadas, eu realmente me encantei um pouquinho mais. Era como se fóssemos somente nós dois lá. Somente nós dois. E eu me deixei envolver por aqueles olhos castanhos que se apertavam, por causa do sorriso que se abria.
Mas agora deitado na minha cama enquanto lembro da noite perfeita que passei ao lado de um homem absurdamente perfeito, somente agora enquanto encaro o forro de gesso do teto e os detalhes esculpidos por ordem do decorador que preparou este apartamento para um casamento desfeito, eu percebo que no início, antes dos olhos se apertarem, ele me chamou de amigo, porque eu sou sempre o amigo, somente um amigo. Uma pena! Eu realmente me encantei por aqueles olhos.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Fantasias Patéticas I

Obviamente, como são fantasias, nada neste post realmente aconteceu, ok? Avisados?


Encontros Casuais

Estávamos juntos na casa de um amigo em comum, um jantar de aniversário, eu sentado do lado dele, mãos entrelaçadas, olhares íntimos, beijos rápidos. Quando ela sentou em nossa frente, de cabelos longos e olhos brilhantes e curiosos, falou, sem pensar muito:
- Vocês dois parecem tão apaixonados!
Nós sorrimos, apresentações foram feitas e ela, curiosa como era, perguntou:
- Como vocês se conheceram?
E eu deixei, com um sorriso, enquanto acendia um cigarro, que ele mesmo contasse.
- Ah, foi bem casual mesmo. Eu estava no lugar certo, na hora certa - e sorriu para mim - eu fui a Americanas, sabe? Com um amigo e ele estava lá, comprando coisas para ir ao cinema, não é? - perguntou ele para mim, o que ascenti com a cabeça - Ele ia ao cinema sozinho. Eu o olhei, ele até notou que eu estava olhando, e eu fiquei louco de vontade de falar com ele, não sei o que aconteceu, não é que tenha sido amor a primeira vista, mas eu senti uma vontade imensurável de conhecê-lo melhor. Coincidentemente, eu fui para a fila do caixa e ele apareceu atrás de mim, e eu não podia perder a oportunidade e puxei assunto, uma idiotice qualquer sobre a capa de uma revista, e ele foi bem monossilábico.
- Ora, eu sou tímido! Interrompo.
- Agora eu sei disso, na hora, eu pensei que estava era te incomodando. Achei que seu namorado poderia estar p'ra chegar e você tinha medo dele te ver conversando com um estranho qualquer.
Ruborizo com as declarações, mas me concentro no cigarro para ninguém perceber.
- Pois bem, eu, apesar de tudo parecer contrário, insisti. Ele contou que ia ao cinema, e eu me ofereci para ir junto. Pior que eu tinha marcado com uns amigos, só quando eu entrei no cinema que mandei uma mensagem para eles dizendo que tinha conhecido alguém maravilhoso totalmente ao acaso e que eles me desculpassem.
- Ah, isso causou revolta em alguns, eu soube depois. Comento, após baforar o cigarro.
- Pois então vimos o filme e eu tentei segurar a mão dele no cinema, com o coração saltando, e ele deixou. - ele então me sorri apaixonado - Depois fomos tomar um chopp num bar perto da casa dele que ele sabia que estava aberto, e aí começamos a nos conhecer, fomos ficando e, algum tempo depois, namorando. Faz um ano desde então.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

PROMOÇÃO DE ANIVERSÁRIO: Estórias do Meu Mundo



Caros amigos blogayros, então, estes aqui são os concorrentes do nosso concurso. Textos lindos foram postados, coisas lindas foram escritas, e agora cabe a vocês escolherem o vencedor. Leiam os textos, conheçam os blogs que não conheciam ainda, e votem na enquete que está ai ao lado, em outubro, dia 4, revelarei em um vídeo, o primeiro vídeo em que vou aparecer aqui no blog, o nome do grande vencedor. Agradeço a todos os que participaram, e agradeço a todos que vão votar.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

"Que Porra Foi Isso Que Aconteceu?"

, em Belo Horizonte - MG, Brasil
Era uma tarde de fim de inverno, começava a esquentar, mas ainda estava tudo muito seco. O relógio acabara de anunciar as 14h e eu havia terminado meus abdominais e me dirigia para o supino. Arrumei os pesos, 50kg, e sentei. Foi quando eu o vi sentado no bíceps robô, ele me olhava e eu sorri, ele então sorriu com um leve aceno de cabeça em resposta. Eu deitei e comecei minhas séries, eu contava concentrado quando, por acaso, olhei novamente em sua direção e ele, novamente, tinha os olhos pousados sobre mim. "Estranho", pensei, "muito estranho". Terminei todas as repetições, toda a série naquele aparelho, com ele, discretamente olhando para mim sob as ralas sobrancelhas.
Ele passou para outro aparelho ali próximo, eu me ergui e fui buscar halteres para fazer o mini-agachamento, parei em frente ao espelho e, como quem não quer nada, fiquei reparando no que ele fazia. E, surpreendentemente, de vez em quando, ele descansavar entre uma série e outra olhando para mim. Ele era negro, apesar da pele ter um tom mais indígena do que negro, mais baixo que eu, corpo definido e rasgado, e um encantador furinho no queixo.
Terminei meu exercícios e fui deixar os halteres, ele então apareceu ao meu lado e, de repente, enquanto Edith Piaf cantava Milord no meu mp3, ele falou com uma voz firme: "Esses halteres vermelhos pesam quanto? Você sabe dizer?", eu olhei para ele e para os alteres, e para o pedaço de papel grudado junto aos halteres dizendo 10kg. Respondi o óbvio e pensei: "Esse aí quer coisa, só pode". E resolvi brincar junto. Olhei minha ficha e vi que se eu fizesse os meus exercícios de triceps naquele momento, ficaríamos muito perto e talvez ele recomeçasse a conversa. Dito e feito.
"Hoje você 'tá treinando só peito?". Eu sorri, tirando o fone do meu ouvido, Piaff poderia aguardar um pouco. "Ah, não, eu só malho uma coisa, sempre: abdômen! Todos os exercícios tem apenas como finalidade fazer essa gordurinha daqui go away". Ele riu e comentou sobre os exercícios dele, que tinha recentemente entrado na academia, e eu percebi que ele não estava usando os halteres que tinha me perguntado para absolutamente nada. Ele fazia naquele momento a rosca martelo, enquanto eu levantava meus 35kg com a barra W. Eu então perguntei o nome dele, e disse o meu também. "Foxx?! Que nome diferente! Não é sempre que encontramos um aqui". Sim, ele sabia quem era o personagem histórico ao qual meu pai resolveu homenagear me dando meu nome e eu não consegui evitar: "Ah, só por saber quem foi ele você já ganhou um ponto comigo". Ele sorriu.
Uma situação se colocou naquele momento, meus exercícios da parte superior do corpo tinham acabado, faltavam apenas exercícios para as pernas, cujas máquinas ficavam do outro lado do salão da academia, bem distante dos que ele estava usando. Então, tive que me despedir. "Vou ali usar o leg press", ele apenas ascentiu. E eu fui, esperei alguma reação dele, contudo enquanto eu estava lá, do outro lado, não o vi me procurar novamente. Terminei os exercícios que faltavam e cruzei o salão novamente para subir as escadas para fazer a parte aeróbica final do meu treino, 20 minutos de elíptico e bicicleta. Ele, no entanto, não notou minha passagem, mas após eu subir para o mezzanino onde ficam as esteiras, bicicletas e elípticos, eu o vi passar como se procurasse alguém, até notar-me lá em cima, e me encontrar já sorrindo para ele, enquanto ele só me cumprimentou de uma forma um tanto envergonhada.
Foi somente quando eu estava fazendo meus últimos alongamentos para ir para casa que o reencontrei. Ele fazia abdôminais lá perto e quando eu cheguei ele fez alguns comentários sobre que já estava na hora de "brincar de ir para casa", com os quais concordei trocando outras amenidades, terminei meu alongamento, ele também os dele e ele disse: "Então já vou, Foxx, a gente se vê! Valeu!", e virou-se para o outro lado, indo para o vestiário e me deixando lá. Girei então nos meus calcanhares e me dirigi para casa, pensando: "Que porra foi isso que aconteceu?"



Caríssimos, alguém mais vai participar do concurso de aniversário?
As regras estão aqui do lado, ok?
Vamos lá, dia 21/09 é o prazo final para as publicações.

domingo, 12 de setembro de 2010

Pânico!

, em Belo Horizonte - MG, Brasil






O inverno se afastava de Belo Horizonte naquele dia que passamos entre mojitos, sentados ao lado da água gelada da piscina da casa do Bê. A noite chegara cedo e pesada. No entanto, continuava quente como fora o dia. Estávamos numa pool party, que começara logo após o almoço e se estendeu noite a dentro, invadindo a Velvet, boate descoladinha da capital mineira, de música normalmente ruim e pessoas intragáveis, mas que de uns dias para cá tem feito festas especiais aos domingos. Bê diz que por ser no domingo a noite só pessoas selecionadas tem a oportunidade de estar lá, mas este domingo era o domingo de um feriado prolongado, o que fez a Velvet, lotar das mesmas pessoas intragáveis de sempre, apesar da impressionante música boa que explodia nas caixas de som daquele porão apertado.
Mas estávamos entre amigos, ou melhor eu estava entre os amigos do Bê, chegamos em dois carros, e em uma parada estratégica em um posto de gasolina, onde quase todos compraram cigarros, inclusive para mim já que haviam consumido o meu Carlton durante a pool party, o Bê contou-me que um dos meninos, com nome de evangelista havia ficado interessado em mim. Ao falar isso, meu cérebro entrou em parafuso, mas eu tentei ignorar aquela sensação de sufocamento que me subia pela garganta, e entramos na boate, descendo sua escada em curva e abrindo as portas e somos recebidos pelos mesmos olhares congelantes de sempre. No entanto, assim, acompanhado e protegido, é fácil desviar destes olhares que os menininhos que aprenderam a "fazer carão" na Mary In Hell e estão estagiando para conseguir vaga na Josefine lançam para você.
Na Velvet você comumente é rejeitado, como diria Stanford Blatch, por pessoas que você sequer chegou a notar naquela luz turva e fumaça insistente. Nestas horas, é que é necessário respirar fundo e responder com a "egípcia" que você aprendeu com sua amiga travesti. Simples, se eles treinam o seu "carão" ao longo dos seus, no máximo, 21 anos; aos meus 29, imagine quanta habilidade em "fazer a egípcia" eu não desenvolvi. Você olha nos olhos dele por exatos 3 segundos, somente isso, e o ignora o resto da noite. Eles se irritam, mas eu prefiro sorrir.
Foi brincando de "quebrar carão" que eu esqueci da proposta, digamos assim, feita por meu amigo em segundos na janela do carro. "Acho que rola". Lembro o que provavelmente desencadeou essa idéia. Nós comendo churrasco alemão, o evangelista sujo de mostarda que eu limpei e que terminou em um selinho. O Bê viu e perguntou se estávamos ficando. Ele, em outro carro, deve ter insistido na idéia. Foi quando meu amigo novamente se aproximou e perguntou se rolava ou não. Eu, sem entender o tumulto que estava acontecendo dentro de mim, que pavor de dizer não, que pavor maior ainda de dizer sim. Sem me reconhecer, respondi apenas que eu não ia tomar nenhuma atitude. Meu amigo sorriu e entendeu.
Sorriu e entendeu que quem devia tomar alguma atitude era o evangelista e assim o informou. E assim ele o fez. Chegou, e na falta de expressão melhor, me catou e tentou me beijar. Mas a única coisa que eu senti foi pânico, eu precisava sair dali, sair daquele lugar, sair de perto dele, fugir a todo custo. Foram quatro meses sem beijar ninguém. Após o fim do namoro, a primeira pessoa que quis me beijar. Pânico! Como se Pã tocasse sua syrinx entre as colunas daquele porão. Eu então sai, deixando-o no salão, sem provavelmente entender o que estava acontecendo, quer dizer, com certeza sem entender o que estava acontecendo e sai para a área de fumantes onde enchi meus pulmões de nicotina tentando, desesperadamente, me acalmar e colocar alguma ordem em meus pensamentos, o que, aviso, foi totalmente impossível. Mesmo durante toda aquela noite, mesmo durante o dia seguinte. Crises de pânico definitivamente são novidade para mim.




PS: Ah, não se esqueçam de participar da promoção de aniversário. O link para as regras estão ai do lado.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

PROMOÇÃO DE ANIVERSÁRIO

Sim, dia 21 de setembro este dignissimo blog completa seus cinco anos de existência. Cinco anos atrás o blog começou a tomar forma inspirado no lindo e vermelho-sangue Sunshine, e muita gente passou por aqui todos esses anos, pessoas que deram contribuições maravilhosas a minha vida por meio de alguns minutos que gastaram lendo meus textos e comentando. Amigos que abandonaram seus blogs por seus diversos motivos, os que me ensinaram muito, os que eu admirei profundamente, deixo aqui um saudoso abraço em todos. Também quero lembrar dos amigos que somente perdi contato, que por um motivo ou outro sumiram daqui, eu agradeço cada momento que eles perderam lendo minhas "mal traçadas linhas". Agradeço também, mais e sobretudo, aos que neste cinco anos permanecem lendo o meu blog e acompanharam às grandes mudanças que minha vida tem sido levada, nem todas tão agradáveis como eu desejaria. Agradeço sobretudo as lágrimas que vocês ajudaram a secar. Muito obrigado. E quero também agradecer a todos aqueles que recentemente apareceram por aqui, agradeço a todos por renovarem a vida deste blog e continuarem achando que eu tenho algo que vale a pena ser dito. Muito obrigado a todos.



Agora a promoção. Até dia 21, cada blogayro que resolver participar (por favor avisem logo abaixo) deve postar no seu blog um texto que vocês publicariam aqui no Estórias do Mundo, um texto que vocês considerem como a cara do meu pequeno blog. Como parte da promoção o post deve conter o título "ESTÓRIAS DO MEU MUNDO:" para que possamos uniformiza-los. Dia 21 listarei aqui no blog todos os participantes e começará a votação do público e do juri formado por blogayros e ex-blogayros, com peso 1 e 2, respectivamente. Como prêmio temos dois: primeiro o vencedor terá o texto publicado aqui e, segundo, vai receber em casa, autografado, recém saído do prelo, meu livro Espartanos.
Então, quem topa participar?

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Seria Bem Mais Fácil

Seria tão mais fácil, não seria? Todos os problemas escorreriam entre os dedos como se fossem areia, como a areia de uma ampulheta. Ah, se eles só passassem por mim, claro, causariam dor e até me cegariam muitas vezes, mas eram apenas areia e passariam. Pó. Mas não, eu fico atolado, preso nessa lama que dificulta meus movimentos, seria tão mais fácil se eu me libertasse daqui, de onde estou, deste corpo, desta carne, desta matéria. Ela me prende. Seria tão mais fácil se eu fosse livre, se não tivesse correntes que me prendem ao passado, traumas, mágoas e corações partidos, se não tivesse grilhões que me seguram ao presente, deveres, responsabilidades e tarefas, seria tão mais fácil! Seria indolor e insípido, provavelmente insípido, porque tudo que é indolor e insípido parece ser tão mais fácil? Como mover o ar em nossa volta. Fácil. Como quando uma corrente de ar bate a porta. Fácil! Seria tão mais fácil se assim o fosse. Se os sonhos evaporassem, se os desejos, aqueles mesmo que quando não realizados se tornam dor, simplesmente desaparecessem, escoassem, como areia entre os dedos, como areia na ampulheta, como sangue em um ferimento aberto a navalha. Seria tão mais fácil com uma navalha. Uma navalha contra a pele, contra o pulso, contra o pescoço, seria tão mais fácil. Se tudo terminasse, se por fim se concluísse, se morresse. Seria completamente e absurdamente mais fácil se eu morresse.