Google+ Estórias Do Mundo: maio 2008

sexta-feira, 30 de maio de 2008

PASSADO: O Príncipe Arthur e a Raposa





Era uma vez, na floresta branca, uma raposa chamada Foxx caminhava distraída, pensando nas dores que a afligiam, foi quando ao longe ela ouviu gemidos e se aproximou curiosa, como são todas as raposas, e, de longe, escondida em meio a espinhos, a raposa viu um belo príncipe de olhos cor de pedra e cabelos cor de mel. Ele estava caído e ferido, tinha as roupas rasgadas pelos espinhos daquela floresta e seus pés inchados mostravam marcas de moridas de serpente e que ele estava há muitos dias perdido, procurando uma saída de seu tormento, mas não encontrava.
A raposa se apiedou do príncipe e quis ajudar-lhe. Avançou, saindo de seu esconderijo, mas quando ficou as vistas dele, lembrou-se que último príncipe que encontrara nesta situação, após ver-se curado pelo zelo constante do animal, tentara transformar-lhe em mais um dos seus trófeus de caça, lembrando disso a raposa parou. Mas o príncipe já tinha-lhe visto e com uma voz doce, implorou: "Ajuda-me". A raposa farejou o ar, e não notou perigo, mas na vez anterior também não havia pressentido nada, até ver-se atada numa coleria e com uma faca preparada para curtir-lhe a pele. "Não", respondeu Foxx, "tentarás matar-me". O príncipe com nome de rei, Arthur, jurou que não, mas a raposa virou-lhe as costas e sumiu.
Porém a raposa sentiu-se mal em abandoná-lo e, por isso, a noite, retornou. Certificando-se que ele dormia, deixou-lhe água e comida, e cuidou-lhes dos ferimentos, com cuidado para que ele não acordasse, e tão pouco o deixou lá sozinho, todas as noites, escondida, ela ficava a velar-lhe o sono, protegendo-o de feras e bestas que tentassem maltrata-lo enquanto jazia lá, desprotegido. Durante várias noites isso se repetiu. E todos os dias o príncipe acordava e via seus ferimentos com ungüento e a comida e a água diante dele, e ele se perguntara se havia sido a raposa quem trazia-lhe estas coisas, pois não vira mais ninguém por lá, mas ao mesmo tempo ele duvidava, como podia ser ela, se ela o havia dado as costas?
E na floresta, como a raposa sabia, mas o príncipe não, haviam outras feras. Uma serpente de olhos claros rondava o local, a mesma serpente que havia mordido os pés do príncipe o impossibilitando de andar. Numa bela tarde, ela, sibilando, o encontrou já mais forte e quase recuperado, e o saldou. "Oissss, belosss prinsssscepessss". O príncipe Arthur se alegrou em finalmente ouvir uma voz e ao deparar-se com aquele olhos da cor do céu o encarando, ele, inocente, perguntou se fora ela quem cuidara dele. Inteligente, notando a chance de dar o seu verdadeiro bote, a serpente respondeu: "Sssssim. E tambem fui eusss quem mordi-te. Pessssço perdão! Masss assssusssstasssse-me quando pissssasssse em meu ninho. Fiquei preocupada contigo e resssssolvi procurar-te". Ele agradeceu. E, a partir daquele dia, sempre a tarde, a serpente passou a encontrar-se com Arthur, deixando-o sempre que o sol se punha dizendo que ía porcurar os remédios para o ferimento e a comida e água para o príncipe.
No entanto, um dia, quando a serpente já achava que Arthur estava forte e saudável, o suficente para tornar-se seu manjar mais caro, ela se enrolou sobre ele. Arthur achando que era um abraço, uma demonstração de afeição que ele também já sentia pela serpente, permitiu que ela se enroscasse sobre ele. Ela logo começou a comprimir-lhe. "Serpente", dizia o príncipe, "teus carinhos me ferem". E serpente sorriu: "Massss todo amorrrr não feressss?". Ela apertava-lhe mais, e o ar já escapava dos pulmões do jovem de olhos cor de ardósia quando a raposa já estava para chegar, quando esta chegou e viu o príncipe enroscado no abraço mortal daquela serpente, ela saltou do esconderijo em que sempre esperava o príncipe adormecer e com mandíbulas poderosas agarrou a serpente e jogou-lhe longe: "Afasta-te animal infernal! Aqui não terás pasto!". Logo o príncipe entendeu que fora enganado e agradeceu sua verdadeira benfeitora, oferecendo afagos que a raposa não sentia desde o outro príncipe que tornara-se em seu captor.
Contudo, Foxx aprendeu a desconfiar. Apesar daquele dia em diante desejar, intensamente, a presença e os carinhos do príncipe, mantinha sempre entre os dois uma distância que ela considerava segura. O príncipe entendia o medo da raposa e não tentou forçar-lhe nada, esperou que ela aprendesse que ele era confiável. Mas um dia, o príncipe ficou curado, e feliz, convidou a raposa a ir a seu reino e conhecer seu castelo, mas a raposa ficou com medo, apavorada, porque o príncipe anterior a tentara mutilar também em seu castelo, ela fugiu e ainda para mais longe. O príncipe, triste, mas entendendo o Foxx retornou para sua casa, porém, nunca mais esqueceu a raposa.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

PRESENTE: Templo de Narciso

Supino horizontal, 26kg. "Exercício produz endorfina": quem acredita nisso? Dorsal voadora, 38kg. Por que me deixei influenciar por esta sociedade? Quem eu quero agradar: a mim? Ou a estes porcos esteteas que nunca passarão da capa do livro? Triceps na pulley, 15kg. Sabia que nem sempre o magro era considerado bonito? Sabia que ainda hoje no Havaí gordura significa riqueza? Biceps na barra W, 18kg. Ficar magro para agradar os outros: isso não é normal! Não é! Bem, pelo menos, já perdi 13kg, agora só falta definir. Cadeira flexora, 50kg. Mas que as pessoas deviam gostar de mim pelo que sou e não pelo que aparento, ah, isso deviam. Cadeira extensora, 60kg. Porcos estetas! Porcos estetas!! Cadeira abdutora, 60kg. Mas que os olhares já mudaram, ah, mudaram. Legpress, 90kg. E esses homens se desejando secretamente, quem aguenta?
Pausa. Água. Banheiro. Abro a porta distraidamente, quando, rápido, um professor sai de dentro de um dos reservados. Fecha a própria bermuda e se dirige para lavar as mãos. Abro a porta de outro reservado e quando demoro alguns segundos admirando o professor (1,90, provavelmente, forte, peitoral robusto e braços de Golias, apesar das pernas de Davi), um menino moreno, magro, definido como eu quero ficar, deixa o mesmo reservado em que estava o professor, limpando a boca e senta no banco, fingindo amarrar o sapato quando me vê. Meus olhos encontram o do professor, que apenas sorri, safadamente.
Deixo o banheiro. Secretamente? Qual o próximo exercício mesmo?

segunda-feira, 5 de maio de 2008

PASSADO: Realismo/Naturalismo

Na falta total de inspiração para um texto sobre meu passado, então que venha um texto do meu passado. Mais um texto antigo para vocês, este não tanto, escrito em 2006, mas não sei precisar bem a data. Espero que gostem!


Será que sou um babaca que se leva a sério?
Lendo Hell acabei sendo intrigado por esta questão. Estava eu em um ônibus fedido, indo trabalhar, escondido atrás dos meus óculos Chili Beans de hastes douradas e lentes azul-marinho. com minhas roupas que me fantasiam de menino moderno e antenado. Acabei olhando em volta. Vi a bela paisagem das Quintas, salpicada de muita pobreza. Do meu lado direito, no fundo do ônibus, sentava-se uma mãe solteira de não mais de dezoito anos. Ela erguia sua perna para apoiar o filho que dormia no bafo quente da tarde. A perna estava decorada com um ramalhete de rosas e machas que eu suporia serem de bexiga se o vírus não tivesse sido extinto há décadas. A minha esquerda, a trilha sonara era providenciada. Meninos competiam para dizer quem tinha os melhores toque monofônicos no celular. Ainda cantavam acompanhando aquele som tedioso. E eu, lia. Atrás de óculos estilo Ray Ban.
Senti-me ridículo, não nego. Estava cercado de tanta pobreza e me senti mal pela fantasia de riqueza que eu suava. Quem sou eu, meus senhores para destoar deste mundo que fui criado? Eu tenho esse direito? Ou estou fingindo? Criando uma personagem que nunca serei? Adianta refinar-me ou é falta de honestidade? Será que Lolita Pille daria gargalhadas com ar de pena?