Google+ Estórias Do Mundo: 2009

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

PRESENTE: O Anjo, parte I

, em Belo Horizonte - MG, Brasil
Noite fria de primavera em Belo Horizonte. Já começaram as chuvas de verão que umedecem o ar da cidade e fazem a estação lembrar muito um inverno. Cheguei pontualmente ao Estúdio da Carne, onde havia combinado com o Behink, e acendi um cigarro enquanto esperava uma mesa. O lugar estava lotado, como sempre, pessoas conversavam e a música ambiente mal podia ser ouvida. Terminei o primeiro cigarro ainda sozinho e foi quando minha mesa ficou pronta e o garçom me levou até ela.
Sentei na mesa, de costas para a parede, observando o salão em que as pessoas bebiam e conversavam. E eu o vi, ele estava diante de mim. Sua mesa, escondida por uma coluna, não permitia que eu visse com quem conversava e ria. Então eu bebia minha cerveja e discretamente o admirava, afinal ele poderia estar com o namorado, mas também poderia não estar. Foi quando o Behink chegou, com o namorado e um amigo, sentaram-se ele e o namorado diante de mim, enquanto o amigo sentara a minha esquerda, e agora eu podia observá-lo com mais tranquilidade, por cima dos ombros do Bê.
Foi após isso que nossos olhares se cruzaram pela primeira vez. E ele sorriu. E ele sorriu e eu não acreditei. "Ele deve estar se divertindo com o bobinho aqui olhando para ele", pensei. Mas continuei a olhar mesmo assim, mesmo sentindo minhas bochechas ficarem vermelhas, mesmo acreditando que era impossível ele estar interessado em mim. Ele era lindo. Completamente, totalmente lindo. Um sorriso luminoso, olhos negros cobertos por um óculos cristalino, cabelo curto e magrinho. "É defintivamente meu tipo!", eu repetia. E ele continuava a me olhar e a sorrir.
Foi quando ele levantou e saiu com um Black e uma taça de vinho, se dirigindo a área de fumantes. Pedi uma caneta a garçonete e num guardanapo anotei meu telefone. Eu não planejara o que fazer ainda, entregaria-lhe o número e sairia, provavelmente. Essa era uma possibilidade! Mas pedi licença aos meninos na mesa, que agora me olhavam curiosos, e saí atrás dele. Cheguei lá e o vi, de costas, fumando. Acendi um cigarro, esperando o momento propício para abordá-lo. Foi quando ele se virou e me viu ali, com ele, e se aproximou.
Apresentações de praxe, e ele me contou seu nome de anjo, e eu meu nome de homem. "Camarada!". Conversamos pouco, na verdade, o que fazíamos, onde morávamos, se estávamos sozinhos. Ele estava com o irmão. Falamos de Natal e do Canadá, de onde ele acabara de chegar. Perguntou se eu pretendia esticar a noite e falei que ia para o The L com meus amigos ainda. "Este é o plano". Porém quando me virei, meus amgios já haviam pago a conta e agora saíam. Avisaram-me e eu falei com ele, despedindo-me, ele pediu meu telefone e eu entreguei-lhe o papel. Surpreso, eu expliquei-lhe que anotei para entregar a ele. Disse-lhe que havia saído para isso. "Então meu plano deu certo", disse ele, "porque eu saí com esta taça para você perceber que estava saindo e ficaria um tempo aqui e viesse atrpas de mim". Eu sorri, ele também, iluminando aquela noite fria. Foi quando ele me beijou. Ali na calçada do bar.
Reencontrei, então, os meus amigos e o namorado do Behink me deu os parabéns, "Alguém já saiu na frente", enquanto o Behink perguntava porque eu não o convidei para ir ao The L conosco. "Nós trocamos telefone, Bê, e ele sabe para onde estou indo", falei caminhando para o carro, "e se for me encontrar lá, já é uma prova que está interessado, não é?".

sábado, 12 de dezembro de 2009

PASSADO: Anna Karenina, capítulo 1

, em Natal - RN, Brasil
"Todas as famílias felizes são iguais. As infelizes o são cada uma à sua maneira."


Era forró que tocava no ar quando eu vi Anna a primeira vez. Na verdade não a vi, primeiro, eu vi Jonathan que estava ao lado dela. A imensa tatuagem no braço dele, que começava no antebraço e se perdia por dentro da manga da camisa justa que usava, ressaltando-lhe os músculos, chamou-me muita atenção. Eles conversavam entre cervejas e um cigarro que tamborilava entre os dedos de unhas vermelhas que ela ostentava. Ele era moreno, de profundos olhos vivos e negros, ela tinha uma pele branca, cujos seios não muito grandes perdiam-se num corpete negro. O cabelo dela estava preso e o colo todo a mostra reluzia as cores que escapavam do palco.
Eu estava próximo a eles, observava e fui notado. Eles conversaram algo e eu notei que ela dissera um veemente não para alguma proposta dele, e me lançara um olhar morto, daqueles que só pessoas que já sofreram muito têm. O olhar morto e meio cheio de desespero. Assustado, reuni-me aos meus amigos que bebiam no bar, e fiquei por lá por um tempo, quando notei o Jonathan sozinho, agora, me rondando. Ele me olhava, ao encontrar meus olhos sorria, eu sorri também, e com a coragem que somente o álcool poderia me dar, aproximei-me. Ele se apresentou com aquela voz de barítono, contou da banda de pop rock que cantava, falou mais algumas palavras, e quando me enlaçou com aqueles braços tatuados me beijou.
Foi quando uma mão se colocou entre nós, uma mão branca com unhas vermelhas se pôs entre nós. Eu olhei sem entender o que acontecera, e Anna olhava para Jonathan com fúria, apesar dos olhos mortos que ostentava, e uma tapa explodiu na cara dele, de uma mão branca e unhas vermelhas.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A dupla VIDA DE HEITOR RENARD

, em Belo Horizonte - MG, Brasil
Ele limpava o próprio gozo, derramado na barriga estreita, esculpido em horas a fio treinando no quartel, com folhas de papel higiênico branco, com afetado nojo, quando dirigiu a palavra a Heitor, dizendo: "Você seria um ótimo namorado!"
A declaração pegou Heitor livrando-se da camisinha usada. "Seria?", perguntou já vestindo a cueca boxer branca. O militar confirmou e acrescentou: "Você sabe fuder como um macho de verdade!". Envaidecido, Heitor voltou a cama que partilhavam. "Pena que eu não posso namorar um homem. Minha carreira, sabe?". E ele continuou a falar, contando da namorada que mantinha de fachada. Fachada para a família, fachada para os superiores. Contando que gostava realmente de homens, enquanto rolava sobre os pelos de Heitor, dirigindo-se ao músculo que o jovem militar já manipulava por dentro da cueca boxer branca.
Quando ele conseguiu, então, o que queria, e preparava-se para engolir, Heitor cantava baixinho Billy Brown, do Mika:

Oh Billy Brown needed to find some peace of mind
And on his journey and his travels on the way,
He met a girlie who was brave enough to say,
When they made love he shared the burden of his mind

Oh Billy Brown you are a victim of the times

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

PRESENTE: Como É Que É?

, em Belo Horizonte - MG, Brasil
D: Bom dia flor do dia...

Foxx : Tinha uma resposta q rimava, mas não lembro qual é!

D: Dormiu bem???

Foxx: Dormi, sonhei a noite toda com o B.

D: Quem é o B., gente?

Foxx: O cara mais gostoso do planeta!

D: OK! Então... foi bom pra vc??

Foxx: Ah, pena q foi só um sonho!

D: Você é muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito engraçado!

Foxx: Eu? Valha! O que foi que eu fiz?

D: Nada... só é hilário! Você só me faz rir!!! Às vezes, desnecessariamente, engraçado!

Foxx: Sabia que vinha uma crítica aí...

D: Claro... sabia que você é imaturo? Você conversa comigo num dia, dizendo que achou errado eu te dar um "fora"... No dia seguinte me chama pra sair e fica com um outro cara na minha frente e acorda dizendo que sonhou com um cara gostoso e que foi pena ser só um sonho!!!! Todas essas atitudes são super maduras mesmo...

Foxx: Primeiro, você me deu um fora, isso é um fato, não uma reclamação, porém eu não estou ofendido ou magoado, por isso eu te convidei para sair. Pra sair como amigo! Segundo, eu fiquei com um menino e nunca passou pela minha cabeça que você se importaria. Estou extremamente chocado em saber que vc se ofendeu!

D: Você encarou como um fora, eu não considerei isso... inclusive te expliquei a situação... fui muito bem claro ao dizer que, se você estivesse realmente afim, poderia continuar comigo e, em algum momento, poderia rolar algo... mas, se não estivesse afim de investir eu não achava legal você se desgastar porque eu não estava preparado, naquele momento, para algo mais sério!
Enfim.... fora ou não... o que importa é que tinhamos conversado um dia e você me chamou pra ir a um bar tomar uma cerveja. Não fiquei com ciumes de você, só achei desnecessário, mesmo porque você deu UM beijo no cara... ou seja, eu acho que você não estava tão afim de ficar com ele... senão teria enrolado um pouquinho mais... não teria dado um beijo e virado as costas e saido! E, por enquanto, não fique me contando os seus sonhos eróticos ou as pessoas que você ficou, enfim... eu acho desnecessário... não tivemos nenhuma relação, mas acho desagradável ficar conversando sobre essas coisas com uma pessoa que eu acabei de ficar...
Você pode perceber que eu falo do R como meu ex e tal, mas não fico falando que ele era gostoso, que na cama ele era o melhor homem do mundo, que ele era o mais bonito que eu já fiquei... isso é desagradável. Você ficar com uma pessoa e depois DIZER que ela não foi a melhor. Não tenho a pretensão de ser o melhor em tudo, assim como você também não foi, mas não preciso te dizer com todas as letras isso!!
Se eu decidi que não rola mais de ficarmos, pode ter certeza que foi uma decisão bem pensada e que eu não vou mudar de opinião por fatos como esses!

Foxx (gargalhando): Por que não? Ele me pediu um beijo. Nem pensei em você na hora! Eu não tava te provocando! E você realmente achava que a gente ficaria ficando até um dia que você resolvesse que gostaria de me namorar? Mesmo?!
Querido, em momento algum eu estava pensando nisso. Você decidiu que não quer mais ficar comigo, não foi? Então, é claro eu parti para outra. E, se eu te falei sobre o B., falei porque eu falaria com qualquer outro amigo. Porque, pelo menos para mim, você não é o cara que eu fiquei uma vez. Você é um amigo que por acaso a gente ficou!

D: Não estou desprezando sua amizade e digo que adorei as partes boas da nossa saida, mas é que eu não consigo conceber ficar com uma pessoa no dia e, no seguinte, ser um amigo que pede opinião sobre o "gatinho" da mesa do lado!!! Isso demanda um tempinho!

Foxx: Vamos falar a verdade, não é, querido? O fato é que nós ficamos há quase um mes! E sua raiva é que você me deu um fora e queria que eu tivesse ficado correndo atrás de você e, surpreendeu-se quando isto não aconteceu, não foi?? Desculpe! Você só tem a chance de me dar uma fora uma ÚNICA vez!

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

PASSADO: Homofobia(s) I

, em Natal - RN, Brasil

Paula



Aquele menino de cabelos cacheados nasceu em um bairro pobre da periferia de Natal. Região perigosa àquela época, mais perigosa hoje em dia. Nossa Senhora de Nazaré. Margeado por um lado pela fartura de Lagoa Nova, um bairro de bons, com ruas asfaltadas e casas de muros altos, e, por outro, pela pobreza do Bom Pastor, onde a linha férrea cruzava por cima de um riacho poluído pelo esgoto que descia das casas pelo meio-fio das ruas. Era um bairro de imensos terrenos baldios onde nasciam mamonas e meninos corriam descalços em ruas de barro vermelho. Hoje vilas ocuparam os terrenos, a prefeitura instalou esgoto e espalhou o sólido calçamento. O riacho não existe mais. Antes os meninos faziam guerras de estilingue e faziam lanternas para quando faltasse luz, hoje eles se matam com armas de fogo e assaltam pessoas quando a luz se afasta em ruas escuras. Neste bairro ele cresceu e se formou. Cresceu um menino quase menina com seus cabelos de cachos pequenos que balançavam quando ele corria pelas ruas. E como Pombinha, cabia a ele, um único destino. Um destino marginal.
Foi neste bairro que o destino de Paulo o permitiu crescer. Cresceu ofendido pelos meninos que o destino dele o forçou a conviver preso naquele bairro que crescia tal como ele mesmo, que de menino se transformava aos poucos em homem, ou mulher? Ele sofria com essa dúvida, devia ser homem, tinha corpo de homem, mas queria ser mulher, nascera para ser mulher, tinha certeza, apesar do corpo. Mas, este mesmo destino que fizera nascer menino, ali, naquele bairro pobre da periferia de Natal, o surpreendeu um dia, quando um outro, tão diferente, tão marginal quanto ele, ao qual ele não gostava muito de envolver-se porque com medo e asco de sua própria imagem refletida no outro, preferia evita-lo. Não obstante, estavam expostos ao mesmo tratamento, de suas famílias, de seus vizinhos, daqueles outros meninos que corriam descalços no mesmo barro vermelho que eles. Este, de nome bíblico, Isaac, apareceu um dia na casa da mãe com um namorado, e toda vizinhança comentou e foi olhar. Paulo, também surpreso, foi olhar e, inflou-se de coragem e também resolveu se mostrar, e amigo do Isaac ele se tornou. Apoiado por Isaac, Paulo assumiu o seu destino e tornou-se Paula.
E os cabelos cresceram, as roupas mudaram, e ele se tornou manicure, através de remédios os seios passaram a crescer. Adotou o nome por causa de um personagem de novela que ele admirava. E ele passou a não atender mais por ele, somente ela. Agora tornara-se definitivamente Paula e passara a marcar encontros com homens através da lan house do bairro. Gastava seu dinheiro de manicure com roupas curtas e horas na internet. Sempre ia encontrar com eles na esquina de uma avenida, e enquanto ela esperava e, às vezes, algum conhecido passava, cumprimentava-o com um aceno quando não mandava um beijo. Um destes homens deve tê-lo matado numa noite de setembro. Talvez um conhecido mesmo, talvez um desconhecido da internet. E Paula foi encontrada estirada, pobre Paula, no chão, com o vestido roto e os cabelos vermelhos, mas não era tintura, era mesmo sangue, que escorrera de seu corpo para o chão, e alcançara seu cabelo. E ninguém nunca soube quem tinha matado Paula, porque não precisa, "era só um traveco de nada".

terça-feira, 17 de novembro de 2009

A grandiosa VIDA DE HEITOR RENARD

, em Belo Horizonte - MG, Brasil
Magno olhou para Heitor com aqueles profundos olhos azuis, na frente do prédio em que o herói grego morava, e disse, como quem não quer nada, que iria querer vê-lo de novo. "Claro", pensou Heitor, "depois que eu te fiz gozar duas vezes seguidas". Contudo, em silêncio o beijou. Beijou aquela mesma boca suave que procurava a do herói troiano enquanto ele cravava as unhas e o pênis duro dentro de suas nádegas suculentas. Magno o envolveu em um abraço apertado, após o beijo molhado, e repetia que queria encontra-lo de novo, e de novo, que foi muito bom tê-lo naquele dia. Heitor sorriu e Magno apertou suas coxas e o puxou novamente para outro beijo, enquanto delizava a mão para a nadega branca e lisa, por dentro da bermuda de alfaiataria preta. Elogiou-o novamente. Heitor falou então que quando desejasse poderia procura-lo, pois ele tinha seus telefones e sabia onde ele morava. "Moro no 402". Magno confirmou e disse que viria sim, que Heitor não escaparia dele, e a mão de Heitor apertou seu pênis mais uma vez por cima da calça jeans e ele sorriu. "Você é muito gostoso!", repetiu mais uma vez. Era hora já de deixar o carro e Magno pediu mais um beijo, dado, Heitor abriu a porta e dirigiu-se a portaria do condomínio, e quando abriu a porta e Magno ligou o carro, os dois já sabiam que nunca mais se veriam de novo.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

PRESENTE: FDP

, em Belo Horizonte - MG, Brasil
- Ah, Brunno... lembrei de uma coisa. Disse eu deitando no sofá.
- Oi? Falou Brunno, meu colega de apartamento, sem nem virar-me o rosto em minha direção.
- Quando você pretender, novamente, me humilhar na frente dos seus amigos, por favor, pense duas vezes, certo?
Ele passou um segundo sem respirar, notei, seu corpo se encolheu na cadeira, como acontece toda vez que ele percebe que cometeu um erro, somente então ele juntou forças para balbuciar alguma coisa.
- O-o quê? Eu te humilhei?
- Sim! Na sua festa, lembra? Na frente dos seus amigos?
Ele permanecia em silêncio. E se encolhia na cadeira, ainda de costas para mim.
- Quando o Rafa falou que os amigos dele achavam que nós dois namoramos e você disse para ele bater na madeira três vezes?
- Ah, eu falei só p'ra você! Tentou ele argumentar.
- Só p'ra mim? Eu estava na sala, você dentro do seu quarto, acha mesmo que só eu ouvi. Sinceramente, fiquei ofendido e magoado! Por favor, que algo deste tipo não se repita.
Ficamos em silêncio, novamente. Foi quando ele tomou a palavra.
- Olha, se eu soubesse que tinha te magoado, eu teria pedido desculpas.
- Pois é, pois foi isso que você fez. Não se fala isso na frente de todas as pessoas. De pessoas que eu não conheço. Que não me conhecem!
Tentando tomar o controle da conversa, Brunno fala:
- Mas eu falei somente para você.
- Mas todo mundo ouviu.
- Também você saiu espalhando, não foi?
O tom era de acusação, ele tentava me acusar, mas mantinha-se ainda de costas para mim.
- Então quer dizer que contaram a você que eu não tinha gostado da brincadeira e você, mesmo sabendo disso, não se dignou até agora a pedir desculpas?
Ele silenciou novamente, ele sabia que só havia um caminho naquele instante, pedir desculpas. Porém o Brunno não pede desculpas, a ninguém, por motivo algum. Ele não aprendeu a fazer isso em nenhuma fase do seu desenvolvimento. O silêncio se instalou entre nós, novamente.
- Pois bem, Brunno, eu só quero que você perceba uma coisa! - sentenciei - Quando você falou estes absurdos para mim, coisa que não se fala de um amigo, eu poderia ter respondido na frente do seu namorado que você ficou com o Vinicius, lá em casa e durante o ENUDS, porque eu vi! Eu poderia ter soltado isso, mas você sabe porque eu não fiz?
Ele continuava neste momento se encolhendo dentro da cadeira, e mantinha-se de costas para mim. Eu então fiz uma pausa dramática longa, esperava uma resposta que não veio e aproveitava para curtir como ele parecia pequeno naquele momento.
- Eu não fiz, Brunno, porque eu era seu amigo. Preste atenção no tempo verbal, era. Da próxima vez eu não terei esse pudor, então, tome mais cuidado da próxima vez, ok, garoto? Mais cuidado!

domingo, 8 de novembro de 2009

PASSADO: A Face

Este texto foi escrito para mim por um ex, o Txi. Um ex-ficante. Nós tentamos um namoro em junho de 2006, porém não o considero como um ex-namorado. Apesar de ter sido ótimo termos ficado juntos, mas, convenhamos, um mês não é um namoro. Tudo se encerrou, disse ele, porque teríamos nos tornado mais amigos do que namorados. Na minha opinião foi porque ele realmente estava apaixonado por um colega que lutava karatê com ele na seleção do Estado, o Júlio. Hoje, três anos depois, talvez traumatizado pela impossibilidade do amigo hétero apaixonar-se por ele, podemos encontra-lo dentro de alguma igreja, sufocando seu desejo.


A Face


Eu o observo... Tão atentamente, que minha mente voa pela arquitetura de seu rosto.
Vejo a perfeição e as curvas delineadoras desta jóia reluzente.
Os olhos de um oriental, que expressam a sabedoria milenar de idas vidas...
Duas pedras de ébano jazem naqueles olhos expressivos, que parecem clamar por meus afagos.
E então vejo a delicadeza de seu nariz que desce suavemente , assim como uma duna, cuja areia a cobre como um véu.
Perco-me nestes lábios... Que me seduzem, me envolvem e me levam à distâncias cósmicas de prazer, numa trama intrínseca de amor e paixão, em puro fervor...
E a barba que cresce feito grama verde num belo jardim, do queixo másculo até ao principio de suas orelhas pequenas.
Ele então me beija, dando-me a prova de que aquela fantasia pertencia só a mim.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

A perigosa VIDA DE HEITOR RENARD

, em Belo Horizonte - MG, Brasil
As coisas pegavam fogo naquela cama. Jardel tinha aquela pegada de homem. Aquela com força, mas com carinho, aquela que te submete, que você se torna dele. Heitor estava entregue. Aos beijos, as mãos, ao corpo daquele homem experiente. Jardel sabia estimulá-lo, tocá-lo, sugá-lo, sorvê-lo. Heitor de fato estava entregue. E já o desejava. "Coloca a camisinha vai? Me come!", disse o herói. Jardel esperava por isso, e começou a provoca-lo. "A camisinha!", cobrava Heitor. O outro ria e respondia que estava só brincando, não ia fazer nada. Heitor sabia que aquilo era mentira, mas a boca do outro no seu corpo, os dedos que o vasculhavam e o pau em riste tentando penetrá-lo sem nenhuma proteção. Jardel notava que o herói estava entregue. Tróia estava vencida! Foi quando ele avançou, Heitor no entanto fugiu dizendo "Sem camisinha, não!", o outro o puxou rápido e derrubou-o na cama. "Eu sei que você quer". Heitor respirou fundo e calmamente falou: "Quero! Quero muito dar para você agora!". O outro sorriu contente. "Mas somente de camisinha". Jardel tentou argumentar, ainda deitado por cima dele, tentava penetrá-lo, foi quando Heitor escapou e o outro segurou forte pelo braço, intimamente assustado, Heitor fingiu que nada estava acontecendo. "Se você não vai usar camisinha, veste tua roupa e vai embora!". Jardel argumentou que estava limpo, que não haveria problema. "Se veste vai, e vai embora!". Jardel o olhava sem entender. "Eu falei sério!", ele começou a se vestir ainda sem acreditar. "Nunca me expulsaram de um lugar assim". Heitor já estava completamente vestido neste instante. "Sempre há uma primeira vez, meu caro, sempre há uma primeira vez".

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

PRESENTE: Trechos Paulistas

, em São Paulo, Brasil

Bar d'Aloca, noite, garoando pela primeira vez que estou em São Paulo. Um vento frio nos cobre, e cervejas estão nas mesas. Sebek está comigo.
- Por isso você reclama que é difícil encontrar um namorado, menino. Comento.
Sebek me olha curioso, interrompendo a respiração naquele momento.
- Claro, você acha que é fácil alguém manter essa conversação que estamos tendo aqui?!
- Como assim?
- Estávamos até agora discutindo a história da Polônia. Dinastias polonesas e russas. A vida de Maria I em Portugal. Também os contos de Caio Fernando Abreu. Acha que é fácil encontrar alguém que possa conversar com você sobre isso?
- Bem...
- Acho melhor você se contentar com os burrinhos, amigo, com os burrinhos.


* * * * *


Bar d'Aloca também. Gus chegou lá um pouco atrasado. Lindamente vestido. De terno, saído do estágio em que trabalha.
- Ah, vou largar o curso de direito. Não combina comigo.
- Ah, amigo, mas você 'tá tão bonito nessa roupa. U-A-U! P'ra mim combina...
E rimos todos juntos. Conversamos um pouco e, logo, eu e o Sebek reconhecemos que ele era bem diferente do que aparentava no blog. O menino baladeiro do blog se mostrou um fofo romântico.
- É! Muita gente faz uma idéia errada da gente pelo que escrevemos no blog. Formam uma imagem. Nós nos tornamos uma personagem.
- Como o Heitor do meu blog. Comento.
- Ah, eu adoro o Heitor. Que homem é aquele?! Sou fã!
E rimos todos juntos.


* * * * *


Manhã de sexta-feira quando o meu celular toca no hotel. BinhoSampa brilha no visor. Eu atendo e ele me avisa que está indo buscar-me.
- Preciso comprar algumas coisas, vamos comigo?
Eu concordo! E chegando ao hall, sorrindo, ele avisa o destino.
- Conhece a 25 de Março?
Diante de minha negativa.
- Tem que conhecer! - e ri - Depois, almoçamos no Mercado Municipal. Combinado?
Novamente, concordo. E partimos, e após algumas horas de trânsito, chegamos e ele animado me explica o funcionamento da rua.
- Quando a polícia chega eles reúnem tudo e correm.
E, pouco tempo depois, uma briga estoura em meio aos camelôs fazendo com que as pessoas corram para o lado oposto, enquanto policiais correm em direção ao conflito. A confusão é genralizada. Pessoas se escondem dentro de lojas que fecham suas portas temendo assaltos ou balas perdidas.
- É acho que deu, né?


* * * * *


Noite de sexta. Encontramos, eu e o Binho, o Marcos na Av. Paulista. Binho sugere um bar, o Volt, onde a decoração com luzes neon iluminaram nossa conversa a três, enquanto eu trocava mensagens com o Louis e o LicoSP.
- Pois hoje estávamos, eu e o Foxx, conversando sobre a situação política do Brasil. - dizia o Binho - Eu afirmava que o último marco histórico de nossa história recente foi a eleição de Collor.
- O que eu concordo plenamente - reforço -, Collor foi uma bela lição aos brasileiros que esperavam eleger um príncipe e recomeçar uma monarquia e aprenderam, a duras penas, que o sistema republicano é diferente.
- Realmente - fala o Marcos - é realmente um marco. Ele abriu a economia do país.
- Sim, muita gente saiu mal do processo... começa a falar o Binho.
- É, ele abriu a economia brasileira muito rápido para o mercado estrangeiro. Interrompe Marcos.
- Pois é! - continua Binho - Mas sem a abertura que ele proporcionou à economia brasileira nós estaríamos muitos anos atrasados. Collor abriu as portas do Brasil à globalização.
- E em momento algum eu discordei disso, Binho? Comento.
- Mas bem que você é muito mais a favor do Lula.
- Eu sou de esquerda, ora. Reafirmo.
- E existe esquerda no Brasil hoje, Foxx? Pergunta o Marcos.
- Acredito que sim.
- Bem, eu acho - interrompe o Binho - que não.
- É - concorda o Marcos - temos uma esquerda que quando está no poder se comporta como direita.
- Bem, eu acho que vocês esperam uma esquerda necessariamente ligada o comunismo/socialismo. Para mim a esquerda é muito mais próxima à esquerda da Revolução Francesa.


* * * * *


Ainda sexta, estou no Sonique quando meu celular toca. Afasto-me da mesa para atender o telefone.
- Oi!
- Foxx?
- É! Sou eu!
- Olha para trás!
Eu me viro, e encontro o LicoSP. Um abraço e sentamos. Uma mesa de canto. Ele me apresenta o namorado. Estamos todos encantados pela Sonique.
- Eu queria conhecer, você me deu a desculpa perfeita. Fala o Lico.
Pedimos bebidas.
- Pior é que não posso beber. Eu moro um tanto longe e sempre tem policiais no caminho, não posso levar outra multa senão perco a carta.
- É! Isso é mal! E rimos.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

PASSADO: Martins

, em Martins, RN, Brasil

Eu estava na faculdade ainda. Tinhamos aula de museologia e arqueologia, e, com isso, estavámos já acostumados a visitar cidades do interior do Estado para visitar museus, arquivos e, sobretudo, sítios arqueológicos. Foi assim que conheci boa parte das cidades do interior do Rio Grande do Norte. E uma delas foi Martins. A visita foi a um sítio arqueológico: a Casa de Pedra. Esta localiza-se num pequeno vale, dentro de uma fazenda, sendo a cristalização mais antiga, no Brasil, de um afloramento marítimo de calcário, isto é, o afloramento de uma rocha que antes estava submersa quando no período Pré-Cambriano (cerca de 4,5 bilhões de anos atrás), o sertão brasileiro era um pequeno oceano. Consiste de uma caverna de 100m de comprimento, divida em recintos menores, cuja maior sala tem 216 m² e o teto está a 10 metros. Com paredes em mármore, é a segunda maior caverna do país. Esta caverna foi habitada por índios e pelas populações de caçadores-coletores, pré-históricas, anteriores a estes datando de 9,5 mil anos.


Martins, no entanto, uma cidade fundada, ainda no século XVIII, no topo de uma serra, a Serra da Conceição, chamada um dia pela alcunha de Cidade da Imperatriz, localizada mil metros acima do nível do mar, tem seu clima distinto do que se esperaria do sertão nordestino: faz frio. Um frio gostoso, acolhedor, daquele que você pode curtir com um casaco leve, um bom vinho e uma boa companhia. Apaixonei-me pela cidade, pela linda vista de pedras expostas, dos afloramentos de mármore branco e rosa, do céu repleto de estrelas que víamos do mirante, do bom vinho.


E foi exatamente no mirante, com as estrelas por testemunha, que virei para servir-me uma taça de vinho, e vi que eu era o único sozinho. Todos ali estavam acompanhados. Namorados, noivos, maridos, esposas. Meus olhos marejaram rápido e prometi a mim mesmo que um dia voltaria a Martins, acompanhado, e que teria alguém para colocar o braço em torno do meu corpo, e me abraçar naquele frio gostoso. Mas também prometi que só voltaria ali se estivesse acompanhado. Nunca retornei. Ainda lembro do frio que senti no topo daquela serra, olhando para o horizonte numa noite estrelada. Lembro de ter sonhado de olhos abertos. Lembro também que quando deitei-me abracei o travesseiro como se este pudesse me abraçar de volta e dormi encolhido. Esperando um dia diferente. Mas eu nunca retornei.


Estou indo a São Paulo, chego esta quinta feira pela manhã. Alguém quiser me ver, deixa contato.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A sorridente VIDA DE HEITOR RENARD

, em Belo Horizonte - MG, Brasil

Heitor estava sentando-o no seu colo. Tinha-lhe admirado as nádegas lindas, brancas, lisas e suculentas, as quais cravava suas mãos, todavia agora guiava seu pênis para dentro daquela musculatura macia. Quando o jovem Luiz então finalmente sentou no quadril do herói troiano, as mãos de Heitor seguraram os quadris do outro. No entanto, o herói só conseguia agora prestar atenção no abdômen perfeito que estava na altura de seus olhos. Luiz cavalgava e, enquanto isso, Heitor tocava cada músculo definido daquele ventre. Vasculhava-os com os dedos. O movimento, porém, mantinha-se cadente, e quando o herói decidiu olhar para cima, procurava o peitoral marcado, seus olhos foram atraídos por um sorriso. Luiz sorria. Sorrindo, fechava seus olhos e seu rosto se transformava com o prazer que ele sentia. Heitor não conseguiu evitar também um sorriso e, naquele instante, parou de se preocupar com o belo corpo que tinha ali em sua cama e se preocupou com o prazer que estava proporcionando aquele menino. Seus olhos se encontraram naquele momento, os olhos negros como ônix de Luiz brilhavam, e as bocas se procuraram, findo o beijo, um gemido alto: Heitor o fizera gozar, lambuzando os pêlos do próprio peito. Luiz então sorriu, cansado. "Nossa, que pau perfeito!".

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

EXTRA, EXTRA, EXTRA: Liga dos Blogayros Nordestinos

"Era luxo, mas caiu no gosto nordestino e entrou em declínio"...


Uma situação ocorreu esta tarde na Blogosfera. Estou eu, me revirando em mil, entre blogs, fotologs, twitter, msn e minha tese de doutorado, quando o S.A.M. atualizou o blog dele. E, como sempre, uma postagem do S.A.M. vale sempre você parar e lê-lo. São normalmente boas gargalhadas. O título da postagem era Vagabunda. E nela, meu querido amigo, resolveu falar de todas as outros sinônimos da palavra vagabunda: puta, vadia e rapariga. Rapariga então é descrita assim:

"Era luxo, mas caiu no gosto nordestino e entrou em declínio. Não tinha muita sonoridade mesmo, foi-se tarde."

Rapidamente, eu e o Serginho nos manifestamos. Ouvir preconceitos e ficar calado permite que eles se repitam. Um negro que é humilhado e sai em silêncio permite que aquilo se repita. Piadas homofóbicas e agressões que não são reportadas a polícia deixam os seus autores impunes. E, desculpe-me o S.A.M., ele sabe o quanto ele me é querido, porém não posso simplesmente ficar calado. Aviso que S.A.M. corrigiu o texto, e inclusive publicou uma retratação no blog e, por fim, decidiu retirar a postagem do ar. Não é a ele que viso com esta postagem, mas a chamar atenção de todos os meus leitores.
Já sofri preconceito por ser nordestino aqui em Belo Horizonte. Pessoas que tentaram me humilhar, que gracejaram do meu sotaque, que disseram que nunca se relacionariam com alguém "do Norte". As respostas foram imediatamente dadas. Por isso, esta também precisa ser pronunciada.
São Paulo não tem um preconceito disfarçado em relação aos nordestinos e seus descendentes que vivem na cidade. É um preconceito claro e emitido em voz alta em qualquer lugar da cidade. Ironicamente, São Paulo é a cidade brasileira com mais nordestinos. Mesmo comparando com Recife, Fortaleza ou Salvador. É a maior cidade do Nordeste. Porém, os paulistas consideram os nordestinos como a base da pirâmide social da cidade. São os porteiros. Pessoas que estão ali para servir, e que devem ser ignoradas. "Na metade do tempo eu sou um estereótipo para eles caçoarem, na outra metade eu sou invisível". A associação imediata que faço é a que os americanos fazem dos latinos, ou o a que os portugueses fazem com os brasileiros. Quantos cartazes dizendo que os nordestinos são o motivo do Brasil não ser um país de Primeiro Mundo eu vi em paredes de São Paulo! Quantos idênticos devem ser assinados pelo White Power em Idaho visando os latinos!
Preconceito é um monstro pequeno, que se instala dentro de nós como um simbionte, alimentado-se da nossa raiva e ignorância, isso não é novidade para a maioria das pessoas que leem este blog, sua maioria gays, porém, além destes, temos os negros e nordestinos. Muitas vezes somos criados em um ambiente em que igualar nordestinos e negros como pessoas inferiores é comum, como também somos criados em um ambiente em que ser gay é considerado pecado ou antinatural. O preconceito passa para nós por osmose. Contudo, pensar sobre isso, reeducar-se, corrigir-se, reconstruir os seus próprios conceitos, é o que transforma cada um de nós em pessoas melhores.


PS: Também tenho meus preconceitos: não sei lidar com pessoas com deficiência física, não sei agir quando estou perto delas; também não consigo me interessar por alguém que esteja gordinho, e não, isso não é como dizem em sites como o Disponível e Manhunt, porque "eu não curto". Mentira! É preconceito! Estou trabalhando os dois. Um dia consigo!

terça-feira, 20 de outubro de 2009

PRESENTE: Meu Admirador Secreto

, em Belo Horizonte - MG, Brasil
Por um instante eu achei que isto fosse possível. Por exatos três dias. Eu achei que alguém podia realmente me admirar. E pode, aqui no blog, virtualmente, eu sou admirável, porque meu corpo é bonito, tenho pau grande, uma bunda gostosa, pernas musculosas. Tudo isso. A raposa tem uma bela pelagem. Mas vocês devem estar curiosos, deixem-me contar toda estória...

Em um sábado, o Pequeno Diabo disse-me que um dos seus contatos, um mineiro, lia meu blog e me admirava. Fiquei chocado! Claro! Chocado com a possibilidade de alguem realmente admirar. Admirar este pobre mortal que vos fala. Curioso, idiotamente curioso, eu quiz conhecê-lo. Saber quem era aquela pessoa que conseguia ver, como eu próprio me vejo, algo de especial em mim. Quem seria essa pessoa tão diferente das outras. Adicionei-o no MSN.
Conversamos e, realmente, aquele admirador existia. Era uma pessoa real, com história, viva. Ele acompanhava este blog a sete meses, conhecia a mim, ao Heitor, e tinha teorias sobre quem sou. "Alguém procurando desesperadamente alguém para amar". Ele me lia com clareza e me classificou como "amargamente doce".
Estabeleceu-se um conflito: ele me elogiava e eu dizia que se fosse assim não estaria sozinho. Quis então encontrá-lo, para saber se esta admiração era a mim ou ao blog, e ele exitou. E exitação é outro nome para medo. Medo do quê? Bem, imagino, que medo de destruir a imagem que ele criara de mim. De não a reconher na pessoa diante dele. Ou o contrário: poderia encontrar exatamente a mesma pessoa. Mas isso de fato era um problema? Talvez fosse!
Fato: dois dias depois ele fez o convite para conhecermo-nos. Um encontro rápido entre uma reunião de trabalho e a aula na faculdade dele. Porém, esta raposa é um kitsune japonês e ela tem outra forma que quando se desdobra de fronte a outro torna-se um não sei o quê repugnante. É uma maldição, talvez! Um feitiço! E, não diferente, tudo novamente aconteceu, e ele com pena de mim só soube dizer: "Olha, você é alguém especial, eu só ficaria com você se fosse para ter algo sério. Como não quero nada sério com ninguém, no momento, acho melhor nem ficar com você". O nome disso era pena. E não vejo diferença nas palavras de nojo que Arthur me deixou como lembrança.
Essa é minha verdade inexorável: esta raposa não encontrará o seu pequeno príncipe. Alguém que a cative, alguém que saiba que o essencial é invísível aos olhos, alguém que lhe dê a cor do trigo, continuará caçando galinhas todas iguais, e sendo caçada por homens todos iguais. Sozinha. Porque todas as raposas são assim. Solitárias.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

PASSADO: Josie e Nosso Passado

Esta reportagem, trazida a mim numa conversa no Twitter, sobre a menina Josie Romero, fez-me pensar. Josie tem oito anos e, apesar da pouca idade, reconhece-se não como menino, mas como menina. Josie nasceu Joey e, conta sua mãe, que sempre agiu como menina. A pergunta que faço então, e acredito que todos devem fazer, é: Não é muito cedo para tomar esta decisão?
Eu acredito que não. Lembro de eu mesmo. Aos oito anos de idade, eu sabia que eu não era um menino como os outros. Eu agia diferente dos meus irmãos. As brincadeiras que me interessavam. Os outros meninos e homens adultos que atraiam minha atenção. Lembro de uma propaganda da Monange, acho q era, em que um homem trocava um selinho com uma menina que não deveria ter mais que minha idade, isso me excitava sobremaneira. Eu era uma criança. Não precisei experimentar os meus primeiros corpos para descobrir o que eu já sabia, que eu não era como os outros. Não precisei dos primeiros carinhos de Fábio, das brincadeiras posteriores de Tony, ou os amores escondidos com André ou Marlon. Não foram necessários.
Penso agora, também, naqueles que são como os outros. Os meninos que sempre foram héteros. Que tinham os comportamentos característicos e que, influenciados pelos pais e/ou sociedade, aprendem desde cedo a correr atrás de meninas. Eles, como pude observar no papel de professor que sou, e apesar de não gostar da palavra, eles naturalmente agem assim. Há naturalidade no comportamento daquelas crianças, meninos e meninas. Afinal, ao contrário do que nossa sociedade cristã prega, crianças também são seres com sexualidade. Ela não surge do nada após a puberdade. Com isso, com essa sexualidade, isto é, comportamento sexual existente, os meninos e meninas heterossexuais não precisam crescer para decidir, não precisam completar dezoito anos, vinte-e-um, trinta-e-cinco, para serem maduros o suficiente para decidir se realmente se interessam por mulheres ou homens não.
Por que então este questionamento sobre a transsexualidade? A transsexualidade é considerada pelo Organização Mundial de Saúde uma síndrome. O transsexual é um indivíduo que não é homossexual. Ele apenas não consegue sentir algum pertencimento quanto ao seu sexo anatômico, sendo que tal desordem pode ser causada por condições genéticas ou problemas hormonais pré-natais. Sendo assim, ao nascer e reconhecer-se num corpo que não é o seu, mesmo aos oito anos de idade, por que por em dúvida os sentimentos de Josie? Se nós mesmos nunca tivemos dúvidas do que somos. Josie só teve a sorte de ter pais que a aceitaram do jeito que ela é. Mais cedo do que nós mesmos conseguimos nos aceitar.

sábado, 10 de outubro de 2009

A cínica VIDA DE HEITOR RENARD

Coloque o vídeo para tocar antes de ler:





Quando ele perguntou aquilo, segundos após o cérebro do jovem de nome troiano processar o significado daquelas palavras, Heitor lembrou do adolescente que fora um dia. Daquele mesmo que já sonhara em encontrar o amor na estrada da sua vida. O mesmo que nutria a esperança de poder doar-se a alguém. A esperança que diante de suas quase três décadas de vida, quase duas de busca, se esvaiu como areia entre os dedos. O mesmo adolescente que sabia sonhar.
Mas Heitor também se lembrou de tudo o que o fizera desistir de amar e não adotar a religião que canta Madonna, muito pelo contrário, o herói adotou um substituto para o amor que ele sabia não estar apto para obter. Heitor trocou qualquer coisa pelo amor que ele sabia impossível, sem pensar duas vezes, cansado daquele jogo bobo, cansado de só poder ter amor se o comprasse, nunca tendo o que realmente queria, sempre precisando correr atrás de mais, de lutar, de vencer uma luta invencível, se vendo sempre sozinho em meio a multidões.
Ele agora aprendeu a permitir que aqueles que somente desejam uma noite de sexo se aproximem, ele prefere sair para os lugares caros, gastando seu dinheiro com bebidas e coisas sem importância, experimentando drogas, brincando em rodas-gigantes, desafiando o perigo e brincando com fogo. Tudo por um sorriso na escuridão e o beijo de um belo estranho, e talvez seu sexo, mas nunca o seu coração.
Portanto, pensando assim, Heitor então só podia dar uma resposta aquela pergunta:
- Antes de eu ir aí preciso te dizer uma coisa: eu tenho namorado! Tudo bem?
- Sim, claro que sim! Por mim não tem problema nenhum!

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

PRESENTE: Solteiro, Sozinho ou Solitário?

É! Sempre falam que é melhor estar sozinho do que mal acompanhado, não é? Quem inventou esta frase nunca se sentiu realmente sozinho. Tem também um funk que fala solteiro sim, sozinho nunca, pois é, uma outra imagem da palavra sozinho. E tem uma terceira gradação: solitário. Vamos explicar então o que é cada um:

solteiro
adj.1. Que não casou.
Estar solteiro é um estado, um adjetivo, uma característica de sua vida naquele instante que pode alterar-se num olhar que te atravessa o coração, ou numa trombada de carros na esquina. Para muitos, estar solteiro é o grande ponto de suas vidas. Momento de festas, pegações, farras e muito sexo, descompromissado, sem sentido, com qualquer um. Porque não? Se você está solteiro, o mundo é um playground, divirta-se! E para todos é divertido! É aquilo que se quer... vamos sair, vamos comemorar nossa solteirice!

sozinho
adj.
1. Absolutamente só. 2. Único; abandonado.
Mas, aí, tem a outra coisa: estar sozinho. Também um adjetivo. Teoricamente adjetivos são estados. São características e, como tais, mutáveis. Alguém que está sozinho é alguém que não encontrou seu pares, que não encontrou alguém, que não encontrou sua cara metade, mas um dia há de encontrar. É a característica da maioria das pessoas do mundo. Mesmo as que se acham somente solteiras, a maioria, mesmo com sexo desenfreado, com vida cercada de pessoas, se encontra sozinha. Abandonada. Algumas porque não encontraram uma companhia que se encaixe em suma unicidade, porque nós somos seres únicos e, portanto, sozinhos, porém algumas vezes nossa unicidade torna-nos aptos a conhecer alguém única como nós. Ser gay tem como príncipio ser sozinho, até que encontremos alguém que também sozinhos por serem únicos, nos descubram, e aí nos tornamos completos.

completo(s)
adj.
1. A que não falta nada.
4.
Que não admite mais, cheio.

solitário
substantivo masculino2. Aquele que vive na solidão; anacoreta.
Este, no entanto, não é um adjetivo, um estado, é um substantivo, é um ser. E um ser é aquele que é. Dizem que eu confundo solteirice com solidão. Não. Não confundo. Eu sei perfeitamente a diferença de um para o outro. Ser solteiro é estar momentaneamente sem alguém. Ser solitário é saber que você nunca estará com alguém. É ter uma certeza intrísseca. Desculpem-me, meus caros, por avisar-lhes disto, mas muitos de nós já temos esta certeza. Seremos sempre solitários. E não quer dizer que estaremos sozinhos e abandonados, mas que apesar das companhias, do sexo, dos beijos em boates por aí, dos amigos que façamos pelo mundo, continuaremos em solidão. E não é porque somos tão especiais que um Deus onipresente reserva-nos algo. É porque, e essa é uma verdade inexorável a aceitar, é porque alguns de nós só teremos um copo de uísque e alguns cigarros para acalentar nossas noites. Todavia, seremos felizes, porque, realmente, a felicidade não está em outros, ou melhor dizendo, fora de nós, ela existe quando desistimos de procurar aquilo que não nos convém.

felicidade
substantivo feminino1. Concurso de circunstâncias que causam ventura.
2.
Estado da pessoa feliz. 3. Sorte. 4. Ventura, dita. 5. Bom êxito.a felicidade eterna: a bem-aventurança.



Sabe de uma coisa, eu sou solitário sim, completamente sozinho. Mas também sou gostoso, é por isso que as fotos ilustram este post, a gente então tem duas opções: ficar chorando porque está sozinho ou ligar o foda-se. De vez em quando, a carência bate, e acabo chorando, admito, mas, na maior parte do tempo, eu ligo o foda-se!


foda-se
verbo transitivo e pronominal
2. Cal. Deixar ou ficar em mau estado, destruído ou prejudicado.


* Definições retiradas do Dicionário Priberam da Língua Portuguesa

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

PASSADO: Diálogos Inesquecíveis II

Eu tinha doze anos, quando, de calças curtas, saí a noite de casa, na rua mesmo cinco meninos me cercaram, daqueles que sempre estavam ali e participavam das mesmas brincadeiras que eu. Foi quando, Fábio, com seus olhos verdes faiscantes virou-se e disse:
- Sabe ontem quando você entrou em casa chorando?
Gaguejando, respondi:
- Se-sei sim! Entrei porque vocês estavam me chamando de viado.
- E você contou a sua mãe, não foi?
- Foi, ora!
Os meninos ao redor bufavam! Os olhos verdes de Fábio pareciam se tornar vermelhos.
- Eu quero saber se quem dá a bunda é ou não é viado?
Eu permaneci em silêncio. Ele então continuou a falar.
- Ó, é melhor que da próxima vez sua mãe não me venha encher o saco dizendo que você não é viado, porque da próxima vez eu conto tudo para ela, 'tá ouvindo? Ela veio me perguntar se eu já tinha comido sua bunda p'ra chamar você de viado, eu fiquei calado, mas da próxima vez eu conto tudo. Estamos entendidos?
Tremendo, eu apenas meneei a cabeça afirmativamente. Eles se afastaram e eu voltei para dentro de casa, dessa vez sem chorar e sem fazer alarde. Na verdade, nunca mais chorei na frente dos meus pais de novo.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A fácil VIDA DE HEITOR RENARD

No MSN

Gustavo: Hei, como vai?! Vai sair hoje p'ra algum lugar novo?
Heitor: Não sei, não tenho nada planejado.
Gustavo: Ah! Se quiser posso ir aí te fazer companhia...
Heitor: Ah, seria ótimo, ia até te ligar hoje p'ra ver se você queria aparecer.
Gustavo: Ah! Mas, na verdade, não posso... já tenho compromisso para hoje, mas adoraria te ver de novo e passar um tempo com você!
Heitor: Claro, quando você quiser, também seria otimo te ver de novo, gostei muito de te conhecer.
Gustavo: Sério?! Semana que vem estou aí entao...
Heitor: Ora, porque não, além do ótimo papo, você é um delícia, ô delícia!
Gustavo: Um minuto, vou beber água...
Heitor: Deu uma vontade agora...
Gustavo: De beber agua?!
Heitor: Não, de você sentado, rebolando, no meu colo, tão bom...
Gustavo: Hum... eu que o diga...
Heitor: Gostou?
Gustavo: Sim... mas pára porque não quero ficar só na vontade... queria estar ai deitado contigo, na tua cama, conversando! Droga, tarde demais, agora você me deixou com vontade... e como deixou com vontade! Queria estar aí agora sentado no seu colo, com você dentro de mim e eu beijando sua boca...
Heitor: Mas você também poderia beijar/sugar outra parte que me deixaria muito feliz.
Gustavo: Não tenho muito prática, como você deve ter notado... mas posso aprimorar... se você quiser me ensinar, porque quanto ao sexo, você é muito bom... o ruim é que gozo muito fácil contigo!
Heitor: E isso é ruim?
Gustavo: Não! Absolutamente, mas queria aproveitar mais... Ah, Heitor, você sabe como fazer... ah sabe...
Heitor: Hummm, então é simples, vamos mudar mais de posições, isso retarda mais...
Gustavo: Beleza! Gosto de sentir seu corpo... sua pele é bem gostosa e seus pêlos, puta que pariu, que tesão que eu 'tô só de lembrar.
Heitor: Fico feliz em saber, mas sinceramente eu adorei te fazer gozar daquele jeito, me encheu de tesão te ver gozando tanto.
Gustavo: Com você isso é facil! Gozar daquele jeito!
Heitor: Assim você me excita, muito tesão saber que você 'tá gozando por minha causa, Gus.
Gustavo: ... mas que tipo de posiçao você propõe?
Heitor: Bem, vamos tentar todas as conhecidas e criar novas, que tal?
Gustavo: 'Tá bom! Mas acredito que com você vou sempre gozar rapido.
Heitor: Vamos testar? E se você gozar muito rápido a gente recomeça, e você goza várias e várias vezes então.
Gustavo: 'Tá! Combinado então! Droga, queria estar aí com você agora! Conversar com você pela net não é boa coisa!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

PASSADO: Diálogos Inesquecíveis I

Minha mãe escreve algo em um caderno e eu confiro coisas no caixa da loja dela. Quando, sem mais nem porquês, ela fala:
- Muitas vezes eu tive que impedir seu pai de bater em você...
Levanto os olhos sem entender o que ela pretende com aquilo e balbucio:
- Mas por quê?
- Porque chegavam falando que você parecia viadinho lá em casa e ele não gostava de ouvir as pessoas dizendo isto.
- E por que ele não brigava com as pessoas que diziam isso? Por que ele pretendia brigar comigo? Bater em mim?
- Era exatamente o que eu dizia a ele.
- Mas ele ia me bater assim, do nada, sem eu ter feito nada errado? Só porque alguém disse que eu parecia ser viado?
- Sim! Imagina só se você fosse...
E me olhou dos pés a cabeça, por cima dos seus óculos de armação de tartaruga, com um olhar frio, calculando.
- É... imagina só!

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

PRESENTE: Eu Devia...

Eu devia fechar as janelas e as cortinas deste quarto. Devia trancar a porta e desligar o computador. Devia fechar este blog e cancelar minha conta do MSN. Devia parar de sair a boates, tentar fazer amigos, arranjar sexo gratuito no Disponível ou Manhunt, parar de sonhar que um dia algum cara vai olhar pra mim e sorrir, sorrir porque viu em mim uma beleza que ninguém mais alcançou. Eu devia parar com tudo isso. Devia parar de sonhar.
Devia finalmente me conformar que eu não nasci para amigos eternos ou amores românticos, devia conseguir aceitar que eu nasci para a lama e caos, para puteiros e bordeis próximos a rodoviária de cidade grandes, que eu nasci para um viadinho e quanto mais luto para fugir do gueto a qual pertenço mais fico distante de uma suposta felicidade que eu poderia ter. Eu devia desistir de tudo. Devia!
Devia largar o doutorado e o sonho de ser professor universitário, meu lugar é como manicure num salãozinho, usando um short jeans justo e sandálias havaianas, juntando os parcos reais e entregando para um macho, que me bate e gasta o dinheiro com putas num bar próximo, mas eu acredito piamente que ele me ama. É esse o destino que está escrito em minha mão e eu teimo em renegar. E devia aceitá-lo, porque enquanto corro atrás daquilo que eu acho que eu mereço, um Deus irado fecha-me as portas e me empurra de volta, ele deve pensar: "Quem és tu, ratinho, que pensa que pode fugir do meu labirinto?".
Eu devia desistir e cortar os pulsos, pelo menos os pulsos desta figura que criei sobre mim, de bonito, de vencedor, de pegador, de homem feliz e realizado, desculpem-me todos os meninos que lêem meu blog e acreditam que alguém pode ser gay, feliz, realizado e vencer na vida, eu não consigo mais, e clamo, por favor, piedade!

terça-feira, 22 de setembro de 2009

A insana VIDA DE HEITOR RENARD




Pegaram um táxi saindo do Shopping DelRey, onde haviam comido uma pizza e visto um filme, Heitor e Igor então indicaram que o motorista seguisse para o Estúdio da Carne, Heitor passou as instruções ao motorista com calma e quando voltou-se para o jovem de nome russo e olhos claros como os habitantes de terras siberianas, este sorriu. Sorriu e aproximou-se pedindo um beijo. Heitor se incomodou. "O motorista". Igor não. "Não estamos pagando? Podemos fazer o que quisermos aqui!". Heitor não acreditou no que ouvira e outro continuava a tentar beijá-lo. Heitor negou-se. O garoto de olhos claros, com não mais de 21 anos, então segurou a mão do outro e tentou colocar sobre seu membro que fazia volume na calça. Heitor evitou a tempo, mas a mão do outro foi mais rápida e apertou as coxas duras do herói troiano. "Delícia de pernas!", feliz com o elogio, o troiano relaxou, e outro aproveitou e rápido encaixou sua mão e já apertava a bunda do outro por cima da cueca. "Hei, aqui não, calma, porra!". O outro cruzou os braços e se afundou neles, visivelmente chateado. "É que você não entende", começou a falar, "você é mais velho, mas eu sou jovem e o fogo é grande". Heitor se enfureceu. "Como é que é? Aguentar um tarado eu até consigo, mas aguentar você me chamando de velho é demais! Pára o carro!", o motorista olhou pelo retrovisor. "Isso mesmo! Pára que eu fico aqui mesmo!". Heitor levantou-se e abriu a porta saindo pelo lado da rua mesmo, chegou ao canteiro e acenou para outro táxi. Entrou, irritado, batendo a porta atrás de si. "Liberdade, por favor!", e o táxi zarpou.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

PASSADO: Sol, Piscina e Beijos

O sol deixa o céu laranja enquanto se esconde atrás das montanhas do horizonte que nomeou a capital de Minas Gerais, eu e Lê estamos sentados em espreguiçadeiras enquanto algumas pessoas dão braçadas na piscina olímpica do Centro Esportivo Universitário da UFMG.
- Meu primeiro beijo foi com minha prima - comenta Lê, sorrindo - A gente tava treinando no banheiro lá de casa, p'ra aprender a beijar melhor.
- Nunca tive nada com primos, comento.
- E seu primeiro beijo?
- Ih, estória longa! - falo emendando um sorriso - Eu beijei dois meninos na adolescência, o André e o Marlon. Mas André foi apenas um selinho. O primeiro beijo de verdade eu devo ao Marlon. Mas os meninos da minha rua, os que participavam daquele clubinho que te contei, sabe?
- Eu queria era ter um clubinho desse também.
Risos.
- Bem os meninos do clubinho se pegavam, se comiam, trocavam, mas não se beijavam. Porque beijar era coisa de viado.
Mais risos.
- Então o Marlon me beijava, mas meio contrariado.
Muito mais risos.
- Coincidência ou não, meu primeiro beijo, aonde o cara queria mesmo me beijar só aconteceu aos 21 anos. Com um mineiro, chamado Marcelo, que eu conheci lá no pagode em Natal.
- E com meninas?
- Foi aos 17, a prima de uma vizinha. A qual não me recordo o nome, porque será?
Risos. E o sol continua a brilhar, enquanto mais pessoas dão braçadas.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

PRESENTE: Surreal

Após esperar Pombinha e a namorada na porta do Gis por quase uma hora, finalmente entramos. Primeira vez das meninas na boate quer dizer que temos que mostrar o lugar a elas. Do hall com o imponente candelabro de cristais, deparamo-nos com as escadas: para o curto lance descendente, encontramos a pista em que o dj tocava o tribal comum aquele lugar, meninos dançam ao som de um pout-porri de Michael Jackson; o bar, a direita, anexo a área vip, está apinhado de pessoas pedindo cervejas, caipirinhas e energéticos, ainda é cedo para as primeiras doses de tequila; ao fundo, ladeado por um manequim vestido como Halle Barry em Mulher-Gato, está o palco onde dois go-go boys cariocas apresentam o seu show; no centro, um queijo, com um pole, onde poucas meninas brincam, e um aspirante a drag queen faz um show melhor do que qualquer uma delas. O lance ascendete leva para um pequeno bar, algumas mesas, separadas de uma segunda pista por alguns degraus, lá, onde a música ao vivo da própria dona do lugar e convidados animam um público majoritariamente feminino. À esquerda da pista uma pequena área vip, ao fundo um novo bar, banheiros, e um lounge com imensos painés com fotos de divas, atrás de nós uma sala com sinucas e painés com belas fotos de meninas trocando beijos.
Aquela parte está bem mais lotada que a anterior, ainda é cedo. Paramos naqueles degraus, então, para observar e ouvir a música. Quando, de repente, sinto uma mão tocando minha cabeça. Eu havia recentemente a raspado, com raiva de meus cabelos desobedientes, resolvi mantê-los à maquina 0.5, decisão tomada e executada, ouvi o dono da mão dizer. "Olha só, que macio!". Pombinha e eu nos entreolhamos. "É sim, uma delícia de pegar, vê só". Antes que eu pudesse me virar, para saber quem fazia aquilo, ou melhor, o que de fato estava acontecendo, mais mãos tocam minha cabeça e novas vozes masculinas repetem o que o primeiro diz e completam: "Achei que não tinha mais cabelo, mas tem, uma delícia de ficar passando a mão". Novo olhar entre eu e Pombinha, tento me virar, mas o primeiro agora desliza a mão pelo meu peito e fala: "E o peitoral dele também é uma delícia". Só consigo pensar em uma coisa, e o filtro entre mente e fala parece que não estava muito ativo neste instante: "Que porra é isso acontecendo aqui?", os três que me bolinam então riem, uma mão desce agora até minha barba. "É! Até a barba dele é gostosa!", dessa vez consigo vê-lo e ele sorri para mim, sorri e se afasta e os dois amigos o seguem. "Que porra foi isso aqui?", volto-me as meninas que somente riem. "Surreal, surreal!".

terça-feira, 8 de setembro de 2009

EXTRA, EXTRA, EXTRA: Heitor e/ou Foxx?

Ser duas pessoas causa problemas. Ter duas identidades causa tumultos. Porque tem horas que você deveria agir como uma, mas age como outra, tem horas que devia ser uma, mas acaba sendo outra. É o que há comigo, entre o Heitor Renard e o Foxx. Contemos o caso em detalhes. Que fique claro, o Heitor Renard que protagoniza a série A ... VIDA DE HEITOR RENARD sou eu. Heitor é aquilo que eu não gosto de ser, mas sou obrigado a ser pelas circunstâncias que vivo. Heitor é o garanhão que leva facilmente qualquer um para cama, levanta-se, veste sua roupa e vai embora. Não olha para trás, e enquanto desce a escada apaga o número do fulaninho da agenda. É o que repete orgulhosamente que "figurinha repetida não completa album". Heitor é a minha vingança com todos os homens que fizeram o mesmo comigo. Que me usaram e me jogaram fora. Através dele faço o mesmo a outros.
O Foxx, a raposa que esconde meu nome verdadeiro, é o extremo oposto. O Foxx é o menino que espera a ligação, que se magoa todas às vezes que é desprezado e usado, é a vítima que o Heitor cria. Minha promessa aqui, então, desde abril, é que a partir daquela data sufocaria o Foxx e deixaria Heitor Renard lidar com minha vida sentimental e sexual. O Foxx continuaria lidando com o meu doutorado e com meus amigos, coisas que ele sabe fazer; Heitor trataria daquilo que o Foxx não sabe lidar, ou melhor, aquilo que quando o Foxx assume sempre faz com que eu sofra.
Simples? Não né? Por isso algumas confusões às vezes acontecem. Sempre quando o Foxx resolve se meter nos assuntos que ele não conhece. Temos dois casos recentes, dois homens maravilhosos que o Heitor apresentou a todos nós, mas o Foxx resolveu cuidar deles. O primeiro, com nome de artista mineiro barroco, que chegou-se a mim elogiando meu sorriso, pagando uma bebida num bar indie, e salvando uma noite em que o carão reinava. Artista plástico e dono de uma exportadora, ele me deu uma carona até em casa, e falamos de arte, musicais da Broadway, cinema realista alemão, taxas de conversão de dollar, e não fizemos sexo, porque o Foxx gritava dentro de minha cabeça: "Se você fizer sexo, ele nunca mais vai querer te ver de novo", e ele foi para casa dizendo que tava subindo pelas paredes, que eu o deixei louco de tesão, e eu o fiz prometer que me ligaria no dia seguinte. Ele sumiu. Não ligou, eu liguei, ele atendeu desconfiado e prometeu ligar-me em seguida porque estava "um tanto ocupado naquele momento". Eu desliguei o telefone e apaguei o número dele da agenda do celular. Nunca mais o vi.
Terça feira última, antes do feriado de independência, o Foxx agiu de novo. Heitor nos apresentou um novo príncipe. Bonito, publicitário, dançarino de dança de salão nas horas vagas, dono de uma loja de roupas num dos shoppings mais badalados da cidade, o Foxx o encontrou na Pampulha, um programa de domingo para famílias, caminhar pela orla e conversar sentados nos bancos ou na grama. O Heitor o encontraria aqui em casa, não daria tempo para conhecê-lo, somente o jogaria na cama e pronto, para quê conhecer as belíssimas qualidades de alguém que provavelmente sumiria? Porém o Foxx conheceu e se encantou e o primeiro beijo deles soou como um conto de fadas naquele gramado. A lua alta no céu, banhando de prata a lagoa, os olhos deles se encontraram, o menino cujo nome significa moreno sorriu um sorriso de marfim e o Foxx se inclinou para beija-lo. Foi um beijo simples, delicado, que outros se seguiram. O moreno sussurou ao Foxx que ele era um tesão, apertou suas pernas, repetindo o elogio, e foi quando a raposinha que protege minha real identidade decidiu que não iria fazer sexo com ele. Heitor gritou "não", dentro de minha cabeça! Dizia "aproveita que esse cara vai sumir depois". "Que chance você terá com ele de novo?" Mas o Foxx acreditava, o papo estava bom, já era 20h e eles haviam se conhecido as 16:30, só saíriam de lá uma hora depois, e ele tinha dito: "não tenho nada que possa ser melhor a fazer do que ficar com você aqui". O Foxx acreditava piamente que ele gostaria de um segundo encontro, no terceiro o sexo poderia acontecer. Perfeito. Ele, no entanto, não prometera ligar quando se despediram. O Foxx esperou um dia, ligou na quinta feira convidando-o para uma festa na universidade, ele disse que já tinha compromisso, e se despediram; no sábado, nova ligação mas desta vez não atendida, que é retornada minutos depois. "Quem é que 'tá falando?", o Foxx admite que era ele. O moreno atendeu desconfiado e prometeu ligar-me em seguida porque estava "um tanto ocupado naquele momento". Desta vez foi o Heitor que desligou o telefone e apagou o número dele da agenda do celular. Ele havia apagado o telefone do celular dele, por isso não sabia quem havia telefonado. Nunca mais o vi.
Por isso que digo, cada um tratando de seus respectivos assuntos. Trabalho, vida acadêmica, família e amigos, deixa que o Foxx cuida. E muito bem. Vida amorosa e sexual são o departamento do senhor Heitor Renard. Voltando agora com mais certeza de que ele é o único que pode me proteger desse mundo lá fora.

domingo, 30 de agosto de 2009

A urgente VIDA DE HEITOR RENARD





Quando Heitor virou Augusto de bruços e admirou aquela escultura deitada em sua cama, procurou o escorpião ao lado do mármore, seus olhos percorreram sua pele branca e suas espátulas magras, sua espinha descia num vinco suave até encontrar uma elevação abrupta. Nádegas macias e volumosas, rijas, definiam-lhe o fim das costas, macias, tão macias que as mãos de Heitor precisaram toca-las, fazendo Augusto empinar-se imediatamente, os parcos pêlos, quase loiros, deslizaram por entre os dedos daquelas mãos desejosas que procuravam a flor que Rimbaud tantas vezes descreveu. Heitor sentou-se então sobre as coxas do jovem que se entregava a ele ofegante, deitou-se sobre o corpo do outro, fazendo os pêlos do seu peito tocarem a pele de mármore daquele corpo que aguardava passivo suas ações. Foi quando Augusto tremeu com a língua de Heitor descendo por suas costas, que ele empinou-se ainda mais, arfante, e Heitor soube o que o jovem queria, sua língua então se enroscou naqueles poucos pêlos e Augusto apertou o travesseiro gemendo alto, foi quando o outro com nome de imperador pediu-lhe que o possuísse. "Por favor, agora!".

terça-feira, 25 de agosto de 2009

PASSADO: "Dei Uma Surra no Ladrão, Ora"

Eu descia a ladeira que separava a parada de ônibus da minha casa, em Natal, chegava do trabalho, com várias pastas de provas de meus alunos sob o braço, quando o meu celular recém-comprado tocou. Brilhava no visor o nome Dim. Atendi e continuei andando enquanto conversava. Dim me falava sobre novidades e bobagens. Atravessei uma das travessas e observei uma figura sinistra se aproximando, mas a ignorei, com certeza não seria nada, mas eu estava enganado e descobri isso quando ouvi: "Passa o celular". Eu olhei para trás com calma. A figura sinistra, um jovem moreno de cabelo encaracolado e olhos sem brilho, pressionava uma faca contra minha barriga e repetia: "O celular!". Eu analisei-o de cima a baixo e disse ao Dim no telefone: "Hei, eu estou sendo assaltado. Falo com você já, já, viu?". Desliguei o aparelho e coloquei-o no meu bolso. Ele me olhou sem entender e repetiu: "Eu falei p'ra você me passar a porra do celular!". Naquele instante todos os conselhos de nunca reagir a assaltos pipocavam na minha mente, toquei o celular ainda uma ultima vez quando foi mais forte que eu: "Não!", surpreendendo o ladrão, que então pressiona a faca com mais intensidade na minha barriga quase me ferindo, quando falo: "Olha, eu moro logo ali, você não vai me assaltar quase na calçada da minha casa". O ladrão, então, surpreendido, hesitou por alguns segundos, e era um pouco de exagero, mas não mentira, faltavam alguns quarteirões. Foi quando ele recuperou a vontade e decidiu reforçar sua ameaça, mas antes, num movimento rápido, derrubei a faca jogando as pastas sobre a arma, ele deu um passo para trás e eu o segui, caindo com meus punhos cerrados no rosto dele. Ele tentou se defender e eu ouvi atrás de mim uma senhora gritar: "O que está acontecendo na porta da minha casa?", o ladrão estava no chão, tentando proteger-se quando gritei que ele pretendia assaltar-me. Dois homens grandes e musculosos colocaram-se ao meu lado e a senhora disse: "Ninguém vai assaltar você aqui não, meu filho". O ladrão olhou-me assustado e surpreso, levanou-se rapidamente e olhando os dois "seguranças" que surgiram ao meu lado correu o mais rápido que pôde, agradeci e dirigi-me novamente a minha casa, foi quando o celular tocou de novo: o Dim, em conferência com o Fê. "Que houve?", perguntavam assustados, "Dei uma surra no ladrão, ora".

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

PRESENTE: Enlouquecedor

Noite fria de domingo, primeira noite de inverno, apesar desta noite estar mais agradável que o dia frio que a precedeu. Uma noite de poucas estrelas, mas também poucas nuvens, uma noite escura, podemos dizer assim. Saímos, eu e o Anselmo encontrar o Arcanjo Misterioso e dar-lhe as boas vindas a Belo Horizonte, encontramo-nos no Shopping Cidade e descemos para o Villa Paraty, um charmoso bar de decoração rústica e sempre, mas sempre mesmo, lotado, com um público que gosta de ouvir música ao vivo e de pagar caro para isso. Porém, temos uma grata surpresa quando chegamos, não haverá música ao vivo naquela noite, então o caro couvert é agora convertido em consumação mínima, e eu prefiro consumir do que pagar o salário de um músico no lugar da casa que o contratou.
Entramos por um corredor longo, de chão de pedra, para onde dão as janelas do antigo casarão transformado em bar, as mesas lá dentro estão todas lotadas, pessoas conversam animadas, cigarros deixam o ar turvo, juntamente com a meia-luz propositalmente usada. Saímos então no antigo quintal da casa, ocupado também por mesas em madeira e sentamos numa delas, no que compõe a área externa do bar, cercados por árvores, alguns gatos nos observando dos telhados, uma namoradeira numa janela, eu e o Arcanjo envolvidos na fumaça mentolada de nossos Carlton, mais ao fundo uma imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, o garçom passando com cervejas e pratos de petiscos e nós conversando quando o Anselmo animado por um dj que começou a tocar na parte interna do casarão, convidou-nos a ir para o interior.
Voltamos então, pelo mesmo corredor, e nos deparamos com muitas pessoas dançando ao som de Circus. "There's only two types of people in the world: the ones that entertain, and the ones that observe". Não havia mesas no local para sentar, mas alguns balcões, com bancos, onde podemos ficar apoiados, restos de antigas paredes que dividiam a parte interna da casa. Colocamos nossos copos e a garrafa de cerveja lá, a música terminava, "I'm like a firecracker, I make it hot", para outra começar. É quando observo um menino de corpo escultural dançando logo adiante. Usava uma regata vermelha justa, apesar do frio que fazia, e diante de outro, que parecia seu namorado, sentado, ele erguia mostrando a barriga definida. "You always think the worst, I just wanna flirt", Pussycat Dolls explodiam nas caixas de som, música antiga mas ótima e eu também começo a dançar, e começo a perceber que também estou chamando atenção. O menino de regata vermelha começa a dançar olhando para mim. "This beat is heavy, so heavy, you gonna feel it". O Anselmo então se aproxima e comenta no meu ouvido: "E aí? Vai pegar?", tentando me fazer de desentendido, pergunto de quem ele está falando, e ele rindo, responde: "O de vermelho aí!". Assustado pergunto se está tão óbvio. "'Tá muito óbvio que ele 'tá dando em cima de você, mas você 'tá mantendo a pose". "I just can't take your tears, I hate this part right here". "Vamos só dar corda e ver ele se enforcar?", e rimos juntos.
A música continuava boa. "Are you ready for it?". O Arcanjo dançava, até o Anselmo arriscava umas reboladas, quando precisei ir ao banheiro. Fui tranquilo, quando já lavava as mãos, o menino de vermelho apareceu atrás de mim, no espelho. "Você é muito gostosinho sabia?". Eu sorri e sorrindo ainda respondi: "Seu namorado concorda com você?". Ele riu com um ar de cafajeste e não demorou para responder: "Não é meu namorado, é só um amigo. A gente pode beijar os amigos, não pode?". Eu sorri e lembrei que estamos em Minas, se fosse em Natal ele estaria falando uma verdade, mas não aqui em terras mineiras, todavia eu tinha dito que daria corda para vê-lo se enforcar, então: "É verdade, podemos sim!". Limpei meu rosto com o papel toalha, e ele ficou olhando nos meus olhos pelo espelho, foi quando chegou no meu ouvido e falou: "Vou esperar uma atitude sua". E saiu, me deixando naquele pequeno hall, sozinho.
Resolvi então voltar para a música que dali ouvia baixinho, "If I were a boy, I would turn off my phone, tell everyone it's broken so they'd think that I was sleeping alone", quando o reencontrei no mesmo corredor de pedra, encostado na parede. Sorria maliciosamente, me esperava, e quando tentei passar, sorrindo como um bobo, ele colocou o braço musculoso impedindo minha passagem. "Acho que sou eu que vou ter que tomar uma atitude, não é?", e jogou o corpo dele sobre o meu, prendendo-me contra a parede e me beijando. Puxou-me e acariciava-me as costas. Fraco, deixei-me ficar, e deixei minha mão percorrer aquele corpo rijo e definido, o peitoral forte e sua bunda macia, que ele deixou que eu apertasse a vontade. E foi ele quem parou de me beijar, sorrindo com ar vitorioso, voltando logo após para junto do seu somente amigo.
Voltei também para junto dos meus, e o somente amigo, que não era bobo, juntou dois mais dois, e enquanto eu dançava despreocupado Single Ladies, o menino de vermelho explicava para o seu amigo porque demorara tanto no banheiro. Sentia-me tópico da conversa. Olhares me eram direcionados. Pelos dois, pelos amigos dos dois. Mas eu e o Arcanjo somente dançavamos, e Anselmo ria. E a noite se tornava cada vez mais fria e, diferentemente, divertida. Mais cigarros mentolados, mais cervejas, também ajudavam.
Mais com mais cervejas era certo que momentos depois eu teria que retornar ao banheiro. Quando aconteceu, em questão de segundos, percebi que havia sido seguido, e ele, com um sorriso safado, ajeitando o boné branco Adidas que usava, estava atrás de mim. Pediu meu telefone, num tom calmo, o qual eu dei, e deu-me um beijo rápido, saindo em seguida, quando voltei a pista que percebi o que de fato acontecera. Anselmo contou-me que foi eu me dirigir ao banheiro que ele seguiu-me imediatamente, por isso agora, o somente amigo dele me metralhava pelo olhar. Sorri para ele, como se não soubesse o motivo, ele manteve-se sério. Voltei então a dançar, e pouco tempo depois ouvi ele então chamar o menino de vermelho para ir embora. "Vamos tomar o caminho da roça?".
Dirigiram-se todos aos caixas, não sem antes o menino, a distância, se despedir de mim. Ele somente acenou. Achando que ele já tinha ido, fui novamente ao banheiro, porém o encontrei quase à porta, ele então entrou comigo, e dentro do reservado, me beijava com desejo. "Você é muito gostoso!", dizia. Eu o beijava mais em resposta. "Você apronta, não é rapaz?", disse-lhe em determinada altura. Ele parou e me olhou nos olhos. "Vi você e seu amigo brigando". Ele sorriu novamente. "É que ele queria me levar em casa, e eu não quero ir agora p'ra casa, não trabalho amanhã". Eu fingi que acreditei e o beijei novamente. Ouvimos sua amiga gritar lá de fora: "Ricardo!", ele me beijou mais uma vez e disse que tinha que ir. Voltei então para meus amigos, passando por ele pelo corredor. Eles esperavam ainda alguém pagar algo, parecia. Foi quando ele veio até a porta, eu podia ver seu somente amigo na primeira janela que dava ao corredor, me chamou até ele, e eu apontei para o somente amigo, ele então pediu que me aproximasse e me beijou mais uma vez. "Você é louco!", exclamei, ele sorriu, um novo sorriso de cafajeste, "É você que me enlouquece".

terça-feira, 11 de agosto de 2009

A problemática VIDA DE HEITOR RENARD

Heitor chegou da casa de Fernando, um apartamento pequeno no edifício JK, pela manhã. Eles tomaram café juntos, depois que o anfitrião ainda pediu novamente que o herói da Ilíada de Homero o possuísse mais uma vez, após três vezes na noite anterior, uma noite longa de sexo, de sexo ruim. Mas como Heitor queria manter a honra de homem que ele sentia, manteve-se rijo e em pé, apesar de seu companheiro não saber nada do que estava fazendo. Mais uma vez, honrando o nome de herói que carregava, ele se colocou lá, virilmente disposto. No entanto, Heitor pensava com os pêlos do seu peito, enquanto o outro sentava sobre seu membro: "Até para ser passivo é necessário saber ser passivo, não é?". E Fernando não sabia, o que o permitia divagar, enquanto o outro cavalgava-o animado, disparando elogios, gritando que Heitor era um "macho de verdade". "Você devia ser hétero, rapaz, nem dar a bunda sabe?". O rapaz então, em gemidos, sem tocar no próprio pau, gozou lambuzando o peito e o queixo de Heitor, olhou-o então satisfeito, e o herói adiantou-se: "Também gozei". Fernando sorriu e exclamou que adorava quando as pessoas gozavam juntos. "Claro, foi exatamente isso que aconteceu". Heitor então saiu rapido de dentro do outro, e antes que ele o seguisse no banheiro jogou a camisinha vazia no lixo e ligou o chuveiro quente para tomar um banho. Ouviu Fernando gritar que estava preparando o café da manhã e se aliviou de não ter mais que ser obrigado a fingir outro orgasmo.
Foi lembrando que tivera que fazer isto que Heitor abriu a porta do próprio apartamento e dirigiu-se ao computador. Ligou-o e imediatamente excluiu o contato de Fernando do seu MSN. Excluiu e bloqueou. Sentia-se livre agora e mais leve de não ter mais que sofrer uma noite de sexo tão ruim, já encontrara com homens que não sabiam ser ativos, que achavam que bastava enfiar que estava pronto, mas este era o pior passivo que tinha encontrado. Não sabia o que era, mas era sim a pior bunda que tivera o desprazer de experimentar. Dizia para si mesmo: "Acontece!" e tentava rir disso quando um e-mail chega para ele. Do próprio Fernando: "Por que você me bloqueou? Abri minha casa para você e é assim que você me agradece?". Chocado, o herói resolveu ignorar o e-mail. Melhor não responder. Melhor não dizer nada. Então, horas depois, novo e-mail chega com uma única frase, que Heitor lê boquiaberto: "Sabe de uma coisa: eu tenho namorado, sabe?, não preciso de você".

terça-feira, 4 de agosto de 2009

PASSADO: Meu Último Dia Em Natal

Inspirado pelo Casado(i)s

Eu queria ser bonito como o modelo daquele outdoor, ah, como queria. Cadê o Andarilho? 25 centavos um picolé de chiclete. Que menina linda, mas tão mal vestida! O cara me encarou ou olhou para meus óculos aviador? Ventava a pouco, mas agora já não venta, faz calor. Adoro vento meus cabelos, é como cafuné. Outro 63. Meu irmão disse que o Carrefour está para falir. Moedas. Um novo olhar nos meus óculos, mas de um cara que precisa urgente de uma pedicure. 77, Parque dos Coqueiros. O cara da pedicure pegou o 63. Lembro de você: tava com um gatinho no Feitiço naquela fatídica quinta. Andarilho, where are you? Picolé delivery. Curso de inglês. Meu braço está fino. Estou de havaiana verde. Para quê diabos eu aceitei ir nesse aniversário, me diga? Quem sabe eu conheço alguém não é? Idiota! Esperançoso! Você não é como o Andarilho ou o Gu que vai para algum lugar e escolhe se vai ficar com alguém, você só fica com alguém por pura sorte. Exagerado! Dramático! Tem quente que quer ficar com você, não do tipo que você gostaria, mas tem. Se 2009 não for diferente deixo de ser cristão. Brahma? Ateu? Skol? Buda? Volei? Preciso voltar a academia. Veia cava, aorta, coração. "Meu coração não sei porquê bate feliz quando te vê". Pitangui, já são 11:15 h, e estou indo para a granja do dito aniversariante. Vodca! Esses óculos estão marcando meu nariz. Com óculos o verbo tem que estar no plural? Agora um menino está olhando que minha bolsa é da Playboy. Um Maitai e dois China Village, por favor! Foi o saldo de ontem a noite, sozinho, no Gringo's, após o desencontro e antes do encontro com Alan e Wallace. Gu chegou. Andarilho ligou dizendo que está atrasado. "Jura?". Fico então conversando com o Gu.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

PRESENTE: Tem Dias

Tem dias que tudo parece mais difícil. Tem dias que a gente acorda com vontade de gritar.
Tem dias que os joelhos fraquejam diante do peso a levantar e tudo parece um tanto impossível de realizar.
Tem dias que o sol parece não brilhar. Tem dias que as nuvens negras nos cercam, a neblina nos cobre e os buracos invisíveis nos surpreendem. tem dias que vamos cair, não há como evitar.
Tem dias que você gostaria de ficar embaixo de suas cobertas para que nada pudesse te tocar, talvez voltar aquele sonho que não tinha nada a ver com esta realidade onde monstros insistem em te cercar.
Tem dias que a gente queria ficar de fora do mundo, deixando ele correr, deixando ele passar, para talvez mais tarde tentar voltar. Tem dias que dá vontade de morrer , em outros, só queremos descansar.
Tem dias que o futuro parece um borrão de cores sombrias e virulentas que tememos entrar. Tem dias que as orações parecem não bastar. Tem dias que os medos nos controlam. Tem dias que é a falta de esperança que nos assombra. Tem dias que não dá para parar de reclamar.
Tem dias que dá para fugir, em outros, somos obrigados a ficar. Tem dias que terminam com cansaço, dores e desilusões e pensamos no porquê de continuar. Tem dias que a gente sofre mais, não dá para negar.
Tem dias que queremos ter somente um colo para deitar a cabeça e chorar.

terça-feira, 21 de julho de 2009

A divina VIDA DE HEITOR RENARD



Heitor o sugava com desejo enquanto Marcelo gemia e tentava colocar todos os seus dezoito centímetros dentro da garganta do outro. Mãos deslizavam pelo corpo perfeito que Marcelo exibia, o abdômen rasgado e as coxas definidas, os braços musculosos e o peitoral forte. Heitor aproveitava aquele corpo que nunca mais voltaria a sua cama, mas que agora estava sentado no seu peito, revirando os olhos e contendo os gemidos que teimavam em escapar por entre aqueles dentes brancos. Foi quando Marcelo, ofegante, saiu de cima do outro e buscou sua carteira, tirou de lá de dentro um preservativo e vestiu-se com habilidade, colocando-se entre as pernas de Heitor com um olhar malicioso. Heitor sorriu e Marcelo o virou de bruços, e logo Heitor sentiu a língua do outro encontrar a pele macia e branca de suas nádegas e os dentes dele puxarem os pêlos de suas coxas. Foi então que o jovem moreno tentou penetrá-lo, porém Heitor instintivamente tentou escapar, Marcelo segurou-o pela cintura e beijou-lhe a nuca pedindo calma, Heitor então tomou o controle, segurou-lhe o pênis e o guiou para dentro dele, corajosamente, ouvindo por fim Marcelo gemer agradecidamente no seu ouvido. Logo, os únicos barulhos no quarto são gemidos abafados e o quadril de Marcelo batendo nas nádegas de Heitor.


sexta-feira, 17 de julho de 2009

PASSADO: Se Eu Fosse...

Era um domingo, mais um domingo de sol em Natal, na tv, nada o que ver, vesti-me e decidi sair, sozinho, como eu sempre me senti, numa adolescência que se estendeu por tempo demais, que só terminou quando finalmente eu assumi para eu mesmo o que eu era e o que eu gostava. O destino: Natal Shopping Center, talvez uma sessão de cinema, sentar naquelas sofás macios e ver as pessoas passar, deveria me fazer bem ver pessoas, talvez ser visto, talvez conhecer alguém num conto de fadas muitas vezes sonhado. Por que não? Os filmes, as novelas, as músicas, todos falavam de encontros em locais que ninguém nunca espera, em encontros não programados, em estórias que começam do nada.
O caminho no shopping já havia sido muitas vezes traçado. Muitas vezes vivido, muitas vezes trilhado. Olhar as vitrines e parar na banca de revistas, ou descer pelas escadas rolantes, e cruzar a praça de alimentação até o cinema, depois, antes da sessão, uma parada obrigatória na Docelândia. Sempre preferi chocolate e salgadinhos, no cinema, a pipoca. Mas sempre sozinho. Naquele dia, não fora diferente. Segui entre as vitrines que distavam a Rio Center da banca de revistas, vasculhei os meus super-heróis preferidos, comprei aqueles que desejava, com uma sacola plática na mão e duas revistas lá dentro, desci as escadas e cruzei a praça de alimentação sendo observado pela foto de alguma campanha Dolce Gabanna, comprei o ingresso para algum filme desimportante e voltei-me aos doces. Lá eu estava, sozinho.
Era sozinho que eu era visto por outras pessoas sempre. Mas as outras pessoas nunca estavam sozinhas. Estavam sempre acompanhadas. Casais de namorados, ou grupos de amigos, olhando as vitrines, ou na banca de revistas, ou descendo as escadas rolantes, ou rindo na praça de alimentação, ou na fila do cinema, ou comprando doces na loja. E eu sentia inveja! Por que eu não podia também estar também acompanhado? Por que não tinha amigos ou estava namorando? A resposta para mim, naquela adolescência sem fim, era simples: eu era gay! Era por isso que não tinha amigos e era por isso que eu nunca encontraria ninguém para namorar comigo. Quantas noites, após o cinema, voltando para casa no onibus, eu chorei em silêncio na certeza que minha solidão duraria para sempre. As lágrimas caíam e eu tentava não soluçar para que ninguém percebesse. Agora repito o mesmo gesto, em Belo Horizonte, revivendo esses momentos, voltando de um shopping onde sozinho, também, fui ao cinema e agora volto para um apartamento vazio, e não consigo não me perguntar: se eu fosse hétero seria assim também?

quinta-feira, 9 de julho de 2009

PRESENTE: "How Are You Doing?"

INSTRUÇÕES PARA LEITURA DO TEXTO:
Coloque o vídeo para rodar e só aí parta para a leitura.







Noite de quinta-feira, uma noite estranhamente agradável se deitou sobre a capital mineira. Encontramo-nos no apartamento de Aurélio e saímos de lá, eu e Pombinha. Chegamos cedo a Savassi, e fomos tomar algumas cervejas no Yo-yo. Sentados em mesas verdes de plástico na calçada, música eletrônica nos samplers, hashis nas mãos e sushis como tira-gosto, fumaça mentolada em torno de nós. Ríamos e falávamos sobre o Rio de Janeiro, e sobre São Paulo, e sobre Belo Horizonte, e sobre João Pessoa e Mariana. Logo a meia-noite chegou, e tomamos a Antônio de Albuquerque de assalto, chegando às portas da Josefine.
Pouca gente, e a pista principal ainda não abriu. Uma cortina a separa do publico. As pessoas de sempre na Jô, exibindo seus Dolce Gabbana, asco! , e muitas meninas comemorando suas despedidas de solteiro. Quinta-feira é o dia de clube das mulheres! A pista abre, e seis go-go boys em trajes sumários e músculos tesos já estão posicionados e dançam com sorrisos marotos e olhares safados que trocam entre eles. Mais cervejas, agora long neck, Pombinha se atreve a passar a mão nos go-go boys e a música corre solta. É quando escuto atrás de mim: "Hi!". Viro-me e ele continua: "How are you doing?". Eu sorri, ele pensou, provavelmente, que era para ele, mas na verdade me sinto cantado pelo Joey do Friends. "I'm great! Really great!". Ele sorri. "Could you say your name?", eu respondo e pergunto o nome dele: "Eddie", e olhando em volta diz, "Would you like to talk in another place? The music is so loud here!". Concordei e fomos para o lounge, próximo ao bar, pediu ajuda para pedir tequilas e sentamos with our shots. "So, Eddie," - ele sorri - "where are you from?". Antes dele responder, um menino lindo se aproxima e começa a falar com ele, ele olha para mim pedindo ajuda e eu interrompo: "Ele não fala português". O garoto sorri, lindo como só ele, e volta-se a mim. "É que minha amiga nunca viu dois homens se beijando e eu pensei que vocês poderiam...". Entre risos, traduzi: "She wanna see two guys kissing!". Ele sorriu e olhou para a menina, tomou sua tequila, lambeu o sal e mordeu o limão, deixando-o em sua boca, tomei minha dose logo após e mordi o limão na sua boca. Beijamo-nos.
E José Cuervo sobe rápido. Quando dei-me conta, ele me empurrava para dentro de um reservado em que três meninos acabaram de cheirar seu pó. A tampa do vaso que ele senta ainda está suja. Eddie, então, desabotoa minha calça e me engole com maestria. Fazendo com que rápido eu despeje meu prazer na boca dele. "I can't! I'm too drunk!", diz ele quando tento dar-lhe algum prazer. Ele se veste e saímos rápido, quando eu escuto: "Edvaldo! 'Tava te procurando! Ond'ocê 'tava?", ele gagueja em português, "no banheiro". Eu olhei e gargalhei passando direto por ele. "Edvaldo?!?". E voltei para dançar, para expulsar o maldito mexicano que teimava em querer controlar minha cabeça. "¿Que pasa?".

terça-feira, 7 de julho de 2009

A imóvel VIDA DE HEITOR RENARD

Madrugada em Belo Horizonte. Estão os dois deitados, lado a lado, naquela cama espaçosa. Flávio, do lado esquerdo, Heitor do lado direito, um gato cinzento andava pelo chão. Usavam somente suas cuecas, Heitor com uma boxer branca e justa, o outro com uma slip pequena. Conversavam bobagens, e é quando Heitor olha para o teto destraidamente que Flávio se dirige a ele.
- Eu não devia dizer isso, mas...
Heitor dirigiu seu olhar a ele, curioso com o que o outro gostaria de lhe dizer
- ... eu não gosto quando o passivo se mexe.
Heitor o fitou com um olhar sério e o outro sentiu-se no dever de explicar.
- É que quando você se animou, sabe? Ficava rebolando...
Heitor olhava incrédulo, sem saber o que pensar.
- ...eu preferia que, da próxima vez, você não se mexesse tanto.
Heitor levantou-se, o outro achou que ele iria até o banheiro, mas Heitor pegou suas roupas, e enquanto vestia a calça, respondeu:
- Não se preocupe, não acontecerá da próxima vez...
E vestiu a camiseta.
- ... porque não haverá uma próxima vez!
Flávio levantou-se assustado, quis argumentar, perguntar algo.
- É! Você realmente não devia ter dito isso! E obrigado, eu sei o caminho da saída.