Paula
Aquele menino de cabelos cacheados nasceu em um bairro pobre da periferia de Natal. Região perigosa àquela época, mais perigosa hoje em dia. Nossa Senhora de Nazaré. Margeado por um lado pela fartura de Lagoa Nova, um bairro de bons, com ruas asfaltadas e casas de muros altos, e, por outro, pela pobreza do Bom Pastor, onde a linha férrea cruzava por cima de um riacho poluído pelo esgoto que descia das casas pelo meio-fio das ruas. Era um bairro de imensos terrenos baldios onde nasciam mamonas e meninos corriam descalços em ruas de barro vermelho. Hoje vilas ocuparam os terrenos, a prefeitura instalou esgoto e espalhou o sólido calçamento. O riacho não existe mais. Antes os meninos faziam guerras de estilingue e faziam lanternas para quando faltasse luz, hoje eles se matam com armas de fogo e assaltam pessoas quando a luz se afasta em ruas escuras. Neste bairro ele cresceu e se formou. Cresceu um menino quase menina com seus cabelos de cachos pequenos que balançavam quando ele corria pelas ruas. E como Pombinha, cabia a ele, um único destino. Um destino marginal.
Foi neste bairro que o destino de Paulo o permitiu crescer. Cresceu ofendido pelos meninos que o destino dele o forçou a conviver preso naquele bairro que crescia tal como ele mesmo, que de menino se transformava aos poucos em homem, ou mulher? Ele sofria com essa dúvida, devia ser homem, tinha corpo de homem, mas queria ser mulher, nascera para ser mulher, tinha certeza, apesar do corpo. Mas, este mesmo destino que fizera nascer menino, ali, naquele bairro pobre da periferia de Natal, o surpreendeu um dia, quando um outro, tão diferente, tão marginal quanto ele, ao qual ele não gostava muito de envolver-se porque com medo e asco de sua própria imagem refletida no outro, preferia evita-lo. Não obstante, estavam expostos ao mesmo tratamento, de suas famílias, de seus vizinhos, daqueles outros meninos que corriam descalços no mesmo barro vermelho que eles. Este, de nome bíblico, Isaac, apareceu um dia na casa da mãe com um namorado, e toda vizinhança comentou e foi olhar. Paulo, também surpreso, foi olhar e, inflou-se de coragem e também resolveu se mostrar, e amigo do Isaac ele se tornou. Apoiado por Isaac, Paulo assumiu o seu destino e tornou-se Paula.
E os cabelos cresceram, as roupas mudaram, e ele se tornou manicure, através de remédios os seios passaram a crescer. Adotou o nome por causa de um personagem de novela que ele admirava. E ele passou a não atender mais por ele, somente ela. Agora tornara-se definitivamente Paula e passara a marcar encontros com homens através da lan house do bairro. Gastava seu dinheiro de manicure com roupas curtas e horas na internet. Sempre ia encontrar com eles na esquina de uma avenida, e enquanto ela esperava e, às vezes, algum conhecido passava, cumprimentava-o com um aceno quando não mandava um beijo. Um destes homens deve tê-lo matado numa noite de setembro. Talvez um conhecido mesmo, talvez um desconhecido da internet. E Paula foi encontrada estirada, pobre Paula, no chão, com o vestido roto e os cabelos vermelhos, mas não era tintura, era mesmo sangue, que escorrera de seu corpo para o chão, e alcançara seu cabelo. E ninguém nunca soube quem tinha matado Paula, porque não precisa, "era só um traveco de nada".
Estórias como essas são muito frequentes mesmo amigo!
ResponderExcluirAbração ae!
é triste mas... coisas assim ainda acontecem!
ResponderExcluirTriste fim da Paula.
ResponderExcluirBom retrato da realidade
abraço
OI FOXXI
ResponderExcluirQUE EMOCIONANTE, PARECE AQUELAS ESTÓRIAS DE CORDEIS DO NORDESTE, ONDE O DRAMA DA POBREZA E DO SOFRIMENTO OBRIGA A PESSOA A TENTAR DE TUDO PARA MUDAR DE VIDA E SER FELIZ, NO CASO DE PAULA, FOI O DRAMA DE NÃO TER UMA IDENTIDADE FORMADA,OU ATE RECEIO DO QUE ESSA IDENTIDADE PODERIA CAUSAR, QUEM MATOU PAULA?
SIMPLES
O PRECONCEITO ... NÃO CONCORDO QUANDO DISSE O TEXTO:
"era só um traveco de nada".
ERA UM SER H-U-M-A-N-O...
ISSO JÁ DIZ TUDO
EMBORA QUEM A TENHA MATADO NÃO TENHA NADA DE HUMANO.
BEIJOS
KINHO
PS. ADOREI O POST UM DOS SEUS MELHORES!!!
Aplausos de pé ... esta é a nossa realidade ... e o pior ... grande parcela de culpa cabe aos próprios gays q não se conscientizam e não se mobilizam para uma luta autêntica ... enfim ...
ResponderExcluirbjux amgo ...
;-)
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Faço minhas as palavras de quase todos aqui. O que me assusta é essa triste conclusão: "ela era um traveco de nada". Não te doeu o coração ao concluir o seu post dessa forma?
ResponderExcluirEnfim, em meu blog os meninos Jay e Alê responderam tudo, tudo... papo aberto.
Abraço bom findi
horrivel isso e o pior é saber que infelizmente a paula naum foi a única!!!
ResponderExcluirfazer o que, né?!a verdade é amarga, mas ainda é dela que a gente precisa pra viver.!
ResponderExcluirTantas "Paulas" ,tantas histórias com esse fim trágico.
ResponderExcluirO descaso foi bem colocado na sua última frase: E ninguém nunca soube quem tinha matado Paula, porque não precisa, "era só um traveco de nada".
Revoltante!
Fox,acho que tu também é velho por não gostar de ir ao beach... rsrsrsrrssrsrrr
Olá! Td bem?
ResponderExcluirÉ realmente triste e revoltante saber que estórias como esta acontecem na realidade e ninguém faz nada porque "era só um traveco de nada", não se conta mais a vida das pessoas...
Abraço,
Apolo
infelizmente este é o nosso mundo... q ainda vai demorar muito para ser de amor e paz.
ResponderExcluir:(
mais uma vez vc vem contando minha vida aqui, né?
ResponderExcluirauiehoaeiuhaeoiuhaeoi
brincadeira
adorei (:
Somos todos animais xD
ResponderExcluirEquipados todos com a mesma avassaladora arma: a razão.
É triste perceber que o que deveria nos diferenciar, nos iguala a animais. Matando um ao outro por preconceito [Preconceito entre animais 'irracionais' existe? Eu ainda me pergunto], por 2 reais, por um relógio...
Os travestis são obviamente, o alvo mais grave do preconceito e da violencia.
É preciso muita educação pra mudar o mundo...Muita razão pra mudar os homens.
=**
"era só um travecode nada", essa frase realmente causa incomodo porque nos faz perceber a dura realidadedo preconceito.
ResponderExcluirBelíssimo texto
bjs
Um soco no estômago... Como o Paulo observou, uma grande parcela de culpa é de nós mesmos, gays, que sofremos preconceitos, e ficamos nos segregando entre nós. Qual é a necessidade disso?
ResponderExcluirGrandioso post!
Abs!
Mande um beijo.
ResponderExcluirÉ isso acontece com frequencia. Maldade e hipocrisia.
ResponderExcluirSim eu sei que a chance de fazer pode sim resultar em DST, mas o foda é que eu geralmente recebo, não tinha me ligado que recebendo também há chances né.
Abração!
Que crueldade...
ResponderExcluirHistória emocionante... =/ Sério...
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