Google+ Estórias Do Mundo: agosto 2009

domingo, 30 de agosto de 2009

A urgente VIDA DE HEITOR RENARD





Quando Heitor virou Augusto de bruços e admirou aquela escultura deitada em sua cama, procurou o escorpião ao lado do mármore, seus olhos percorreram sua pele branca e suas espátulas magras, sua espinha descia num vinco suave até encontrar uma elevação abrupta. Nádegas macias e volumosas, rijas, definiam-lhe o fim das costas, macias, tão macias que as mãos de Heitor precisaram toca-las, fazendo Augusto empinar-se imediatamente, os parcos pêlos, quase loiros, deslizaram por entre os dedos daquelas mãos desejosas que procuravam a flor que Rimbaud tantas vezes descreveu. Heitor sentou-se então sobre as coxas do jovem que se entregava a ele ofegante, deitou-se sobre o corpo do outro, fazendo os pêlos do seu peito tocarem a pele de mármore daquele corpo que aguardava passivo suas ações. Foi quando Augusto tremeu com a língua de Heitor descendo por suas costas, que ele empinou-se ainda mais, arfante, e Heitor soube o que o jovem queria, sua língua então se enroscou naqueles poucos pêlos e Augusto apertou o travesseiro gemendo alto, foi quando o outro com nome de imperador pediu-lhe que o possuísse. "Por favor, agora!".

terça-feira, 25 de agosto de 2009

PASSADO: "Dei Uma Surra no Ladrão, Ora"

Eu descia a ladeira que separava a parada de ônibus da minha casa, em Natal, chegava do trabalho, com várias pastas de provas de meus alunos sob o braço, quando o meu celular recém-comprado tocou. Brilhava no visor o nome Dim. Atendi e continuei andando enquanto conversava. Dim me falava sobre novidades e bobagens. Atravessei uma das travessas e observei uma figura sinistra se aproximando, mas a ignorei, com certeza não seria nada, mas eu estava enganado e descobri isso quando ouvi: "Passa o celular". Eu olhei para trás com calma. A figura sinistra, um jovem moreno de cabelo encaracolado e olhos sem brilho, pressionava uma faca contra minha barriga e repetia: "O celular!". Eu analisei-o de cima a baixo e disse ao Dim no telefone: "Hei, eu estou sendo assaltado. Falo com você já, já, viu?". Desliguei o aparelho e coloquei-o no meu bolso. Ele me olhou sem entender e repetiu: "Eu falei p'ra você me passar a porra do celular!". Naquele instante todos os conselhos de nunca reagir a assaltos pipocavam na minha mente, toquei o celular ainda uma ultima vez quando foi mais forte que eu: "Não!", surpreendendo o ladrão, que então pressiona a faca com mais intensidade na minha barriga quase me ferindo, quando falo: "Olha, eu moro logo ali, você não vai me assaltar quase na calçada da minha casa". O ladrão, então, surpreendido, hesitou por alguns segundos, e era um pouco de exagero, mas não mentira, faltavam alguns quarteirões. Foi quando ele recuperou a vontade e decidiu reforçar sua ameaça, mas antes, num movimento rápido, derrubei a faca jogando as pastas sobre a arma, ele deu um passo para trás e eu o segui, caindo com meus punhos cerrados no rosto dele. Ele tentou se defender e eu ouvi atrás de mim uma senhora gritar: "O que está acontecendo na porta da minha casa?", o ladrão estava no chão, tentando proteger-se quando gritei que ele pretendia assaltar-me. Dois homens grandes e musculosos colocaram-se ao meu lado e a senhora disse: "Ninguém vai assaltar você aqui não, meu filho". O ladrão olhou-me assustado e surpreso, levanou-se rapidamente e olhando os dois "seguranças" que surgiram ao meu lado correu o mais rápido que pôde, agradeci e dirigi-me novamente a minha casa, foi quando o celular tocou de novo: o Dim, em conferência com o Fê. "Que houve?", perguntavam assustados, "Dei uma surra no ladrão, ora".

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

PRESENTE: Enlouquecedor

Noite fria de domingo, primeira noite de inverno, apesar desta noite estar mais agradável que o dia frio que a precedeu. Uma noite de poucas estrelas, mas também poucas nuvens, uma noite escura, podemos dizer assim. Saímos, eu e o Anselmo encontrar o Arcanjo Misterioso e dar-lhe as boas vindas a Belo Horizonte, encontramo-nos no Shopping Cidade e descemos para o Villa Paraty, um charmoso bar de decoração rústica e sempre, mas sempre mesmo, lotado, com um público que gosta de ouvir música ao vivo e de pagar caro para isso. Porém, temos uma grata surpresa quando chegamos, não haverá música ao vivo naquela noite, então o caro couvert é agora convertido em consumação mínima, e eu prefiro consumir do que pagar o salário de um músico no lugar da casa que o contratou.
Entramos por um corredor longo, de chão de pedra, para onde dão as janelas do antigo casarão transformado em bar, as mesas lá dentro estão todas lotadas, pessoas conversam animadas, cigarros deixam o ar turvo, juntamente com a meia-luz propositalmente usada. Saímos então no antigo quintal da casa, ocupado também por mesas em madeira e sentamos numa delas, no que compõe a área externa do bar, cercados por árvores, alguns gatos nos observando dos telhados, uma namoradeira numa janela, eu e o Arcanjo envolvidos na fumaça mentolada de nossos Carlton, mais ao fundo uma imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, o garçom passando com cervejas e pratos de petiscos e nós conversando quando o Anselmo animado por um dj que começou a tocar na parte interna do casarão, convidou-nos a ir para o interior.
Voltamos então, pelo mesmo corredor, e nos deparamos com muitas pessoas dançando ao som de Circus. "There's only two types of people in the world: the ones that entertain, and the ones that observe". Não havia mesas no local para sentar, mas alguns balcões, com bancos, onde podemos ficar apoiados, restos de antigas paredes que dividiam a parte interna da casa. Colocamos nossos copos e a garrafa de cerveja lá, a música terminava, "I'm like a firecracker, I make it hot", para outra começar. É quando observo um menino de corpo escultural dançando logo adiante. Usava uma regata vermelha justa, apesar do frio que fazia, e diante de outro, que parecia seu namorado, sentado, ele erguia mostrando a barriga definida. "You always think the worst, I just wanna flirt", Pussycat Dolls explodiam nas caixas de som, música antiga mas ótima e eu também começo a dançar, e começo a perceber que também estou chamando atenção. O menino de regata vermelha começa a dançar olhando para mim. "This beat is heavy, so heavy, you gonna feel it". O Anselmo então se aproxima e comenta no meu ouvido: "E aí? Vai pegar?", tentando me fazer de desentendido, pergunto de quem ele está falando, e ele rindo, responde: "O de vermelho aí!". Assustado pergunto se está tão óbvio. "'Tá muito óbvio que ele 'tá dando em cima de você, mas você 'tá mantendo a pose". "I just can't take your tears, I hate this part right here". "Vamos só dar corda e ver ele se enforcar?", e rimos juntos.
A música continuava boa. "Are you ready for it?". O Arcanjo dançava, até o Anselmo arriscava umas reboladas, quando precisei ir ao banheiro. Fui tranquilo, quando já lavava as mãos, o menino de vermelho apareceu atrás de mim, no espelho. "Você é muito gostosinho sabia?". Eu sorri e sorrindo ainda respondi: "Seu namorado concorda com você?". Ele riu com um ar de cafajeste e não demorou para responder: "Não é meu namorado, é só um amigo. A gente pode beijar os amigos, não pode?". Eu sorri e lembrei que estamos em Minas, se fosse em Natal ele estaria falando uma verdade, mas não aqui em terras mineiras, todavia eu tinha dito que daria corda para vê-lo se enforcar, então: "É verdade, podemos sim!". Limpei meu rosto com o papel toalha, e ele ficou olhando nos meus olhos pelo espelho, foi quando chegou no meu ouvido e falou: "Vou esperar uma atitude sua". E saiu, me deixando naquele pequeno hall, sozinho.
Resolvi então voltar para a música que dali ouvia baixinho, "If I were a boy, I would turn off my phone, tell everyone it's broken so they'd think that I was sleeping alone", quando o reencontrei no mesmo corredor de pedra, encostado na parede. Sorria maliciosamente, me esperava, e quando tentei passar, sorrindo como um bobo, ele colocou o braço musculoso impedindo minha passagem. "Acho que sou eu que vou ter que tomar uma atitude, não é?", e jogou o corpo dele sobre o meu, prendendo-me contra a parede e me beijando. Puxou-me e acariciava-me as costas. Fraco, deixei-me ficar, e deixei minha mão percorrer aquele corpo rijo e definido, o peitoral forte e sua bunda macia, que ele deixou que eu apertasse a vontade. E foi ele quem parou de me beijar, sorrindo com ar vitorioso, voltando logo após para junto do seu somente amigo.
Voltei também para junto dos meus, e o somente amigo, que não era bobo, juntou dois mais dois, e enquanto eu dançava despreocupado Single Ladies, o menino de vermelho explicava para o seu amigo porque demorara tanto no banheiro. Sentia-me tópico da conversa. Olhares me eram direcionados. Pelos dois, pelos amigos dos dois. Mas eu e o Arcanjo somente dançavamos, e Anselmo ria. E a noite se tornava cada vez mais fria e, diferentemente, divertida. Mais cigarros mentolados, mais cervejas, também ajudavam.
Mais com mais cervejas era certo que momentos depois eu teria que retornar ao banheiro. Quando aconteceu, em questão de segundos, percebi que havia sido seguido, e ele, com um sorriso safado, ajeitando o boné branco Adidas que usava, estava atrás de mim. Pediu meu telefone, num tom calmo, o qual eu dei, e deu-me um beijo rápido, saindo em seguida, quando voltei a pista que percebi o que de fato acontecera. Anselmo contou-me que foi eu me dirigir ao banheiro que ele seguiu-me imediatamente, por isso agora, o somente amigo dele me metralhava pelo olhar. Sorri para ele, como se não soubesse o motivo, ele manteve-se sério. Voltei então a dançar, e pouco tempo depois ouvi ele então chamar o menino de vermelho para ir embora. "Vamos tomar o caminho da roça?".
Dirigiram-se todos aos caixas, não sem antes o menino, a distância, se despedir de mim. Ele somente acenou. Achando que ele já tinha ido, fui novamente ao banheiro, porém o encontrei quase à porta, ele então entrou comigo, e dentro do reservado, me beijava com desejo. "Você é muito gostoso!", dizia. Eu o beijava mais em resposta. "Você apronta, não é rapaz?", disse-lhe em determinada altura. Ele parou e me olhou nos olhos. "Vi você e seu amigo brigando". Ele sorriu novamente. "É que ele queria me levar em casa, e eu não quero ir agora p'ra casa, não trabalho amanhã". Eu fingi que acreditei e o beijei novamente. Ouvimos sua amiga gritar lá de fora: "Ricardo!", ele me beijou mais uma vez e disse que tinha que ir. Voltei então para meus amigos, passando por ele pelo corredor. Eles esperavam ainda alguém pagar algo, parecia. Foi quando ele veio até a porta, eu podia ver seu somente amigo na primeira janela que dava ao corredor, me chamou até ele, e eu apontei para o somente amigo, ele então pediu que me aproximasse e me beijou mais uma vez. "Você é louco!", exclamei, ele sorriu, um novo sorriso de cafajeste, "É você que me enlouquece".

terça-feira, 11 de agosto de 2009

A problemática VIDA DE HEITOR RENARD

Heitor chegou da casa de Fernando, um apartamento pequeno no edifício JK, pela manhã. Eles tomaram café juntos, depois que o anfitrião ainda pediu novamente que o herói da Ilíada de Homero o possuísse mais uma vez, após três vezes na noite anterior, uma noite longa de sexo, de sexo ruim. Mas como Heitor queria manter a honra de homem que ele sentia, manteve-se rijo e em pé, apesar de seu companheiro não saber nada do que estava fazendo. Mais uma vez, honrando o nome de herói que carregava, ele se colocou lá, virilmente disposto. No entanto, Heitor pensava com os pêlos do seu peito, enquanto o outro sentava sobre seu membro: "Até para ser passivo é necessário saber ser passivo, não é?". E Fernando não sabia, o que o permitia divagar, enquanto o outro cavalgava-o animado, disparando elogios, gritando que Heitor era um "macho de verdade". "Você devia ser hétero, rapaz, nem dar a bunda sabe?". O rapaz então, em gemidos, sem tocar no próprio pau, gozou lambuzando o peito e o queixo de Heitor, olhou-o então satisfeito, e o herói adiantou-se: "Também gozei". Fernando sorriu e exclamou que adorava quando as pessoas gozavam juntos. "Claro, foi exatamente isso que aconteceu". Heitor então saiu rapido de dentro do outro, e antes que ele o seguisse no banheiro jogou a camisinha vazia no lixo e ligou o chuveiro quente para tomar um banho. Ouviu Fernando gritar que estava preparando o café da manhã e se aliviou de não ter mais que ser obrigado a fingir outro orgasmo.
Foi lembrando que tivera que fazer isto que Heitor abriu a porta do próprio apartamento e dirigiu-se ao computador. Ligou-o e imediatamente excluiu o contato de Fernando do seu MSN. Excluiu e bloqueou. Sentia-se livre agora e mais leve de não ter mais que sofrer uma noite de sexo tão ruim, já encontrara com homens que não sabiam ser ativos, que achavam que bastava enfiar que estava pronto, mas este era o pior passivo que tinha encontrado. Não sabia o que era, mas era sim a pior bunda que tivera o desprazer de experimentar. Dizia para si mesmo: "Acontece!" e tentava rir disso quando um e-mail chega para ele. Do próprio Fernando: "Por que você me bloqueou? Abri minha casa para você e é assim que você me agradece?". Chocado, o herói resolveu ignorar o e-mail. Melhor não responder. Melhor não dizer nada. Então, horas depois, novo e-mail chega com uma única frase, que Heitor lê boquiaberto: "Sabe de uma coisa: eu tenho namorado, sabe?, não preciso de você".

terça-feira, 4 de agosto de 2009

PASSADO: Meu Último Dia Em Natal

Inspirado pelo Casado(i)s

Eu queria ser bonito como o modelo daquele outdoor, ah, como queria. Cadê o Andarilho? 25 centavos um picolé de chiclete. Que menina linda, mas tão mal vestida! O cara me encarou ou olhou para meus óculos aviador? Ventava a pouco, mas agora já não venta, faz calor. Adoro vento meus cabelos, é como cafuné. Outro 63. Meu irmão disse que o Carrefour está para falir. Moedas. Um novo olhar nos meus óculos, mas de um cara que precisa urgente de uma pedicure. 77, Parque dos Coqueiros. O cara da pedicure pegou o 63. Lembro de você: tava com um gatinho no Feitiço naquela fatídica quinta. Andarilho, where are you? Picolé delivery. Curso de inglês. Meu braço está fino. Estou de havaiana verde. Para quê diabos eu aceitei ir nesse aniversário, me diga? Quem sabe eu conheço alguém não é? Idiota! Esperançoso! Você não é como o Andarilho ou o Gu que vai para algum lugar e escolhe se vai ficar com alguém, você só fica com alguém por pura sorte. Exagerado! Dramático! Tem quente que quer ficar com você, não do tipo que você gostaria, mas tem. Se 2009 não for diferente deixo de ser cristão. Brahma? Ateu? Skol? Buda? Volei? Preciso voltar a academia. Veia cava, aorta, coração. "Meu coração não sei porquê bate feliz quando te vê". Pitangui, já são 11:15 h, e estou indo para a granja do dito aniversariante. Vodca! Esses óculos estão marcando meu nariz. Com óculos o verbo tem que estar no plural? Agora um menino está olhando que minha bolsa é da Playboy. Um Maitai e dois China Village, por favor! Foi o saldo de ontem a noite, sozinho, no Gringo's, após o desencontro e antes do encontro com Alan e Wallace. Gu chegou. Andarilho ligou dizendo que está atrasado. "Jura?". Fico então conversando com o Gu.