Google+ Estórias Do Mundo: outubro 2013

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Hatti: Os Filhos Estuprados




Hatti é uma civilização extremamente importante que dominou a Anatólia, na atual Turquia, durante a Idade de Bronze, por volta de 3000 a.C. A Idade do Bronze substitui a Idade da Pedra Polida ou Neolítico e se caracteriza sobretudo pelo desenvolvimento da metalurgia, sobretudo do desenvolvimento de técnicas para a fundição do bronze, esta dura até por volta de 1200 a.C, quando se inicia a Idade do Ferro. Neste período ascenderam as civilização da Mesopotâmia no vale dos Rios Tigres e Eufrates, do Egito no vale do Nilo e, ao norte, de Hatti., estas são sem dúvida as três grandes civilizações que comandaram a história humana durante seus anos iniciais.  Porém elas têm muito em comum: a capital hitita se chamava Hattusa, seus habitantes falavam uma língua proto-indo-europeia chamada Luwita, enquanto a língua suméria e egípcia são semíticas, porém como o império logo se tornou grandioso era comum que se ouvisse pessoas falando, na capital, línguas dos outros povos que habitavam o império como o lídio, o cário, sidético, licio, pisídico e palaico, além da própria língua hitita, isto é, dos habitantes originais daquela terra. Eles possuíam um alfabeto hieroglífico, mas apossaram-se também da escrita cuneiforme assíria e, no fim, adotaram a numeração romana como parte do seu arcabouço cultural. Sua história se divide em basicamente três períodos: Velho Reino, de 3000 a 1400 a.C.; o Novo Reino, de 1400 a 1175 a.C., quando o imperador de Hatti rivalizava em poder com os faraós egípcios e os reis babilônicos; e, por fim, os Novos Reinos Hititas, que existem entre 1175 a 705 a.C., em que após o império se desfazer algumas cidades-estado mantém sua independência cultural até a dominação romana.
Um dos textos mais antigos oriundos desta civilização são As Leis. Não sabe-se com precisão quando os textos foram reunidos, mas eles remontam a 1600 a.C. e refere-se ao reinado de Labarna. Além deste ser um livro que relata as leis, ele também se preocupa em registrar a vida cortesã da capital através de crônicas históricas sobre o palácio e as disputas entre os vassalos do rei. Suas leis, no entanto, se caracterizam por duas ideias básicas: compensação, a vítima ganha algo para compensar o que perdeu; e retribuição, a ofensa é punida com um castigo equivalente a ela, algo parecido com o "olho por olho, dente por dente" das leis mesopotâmicas, contudo, em Hatti, a maior parte das punições tinham a ver com compensação. Mesmo as leis que puniam o assassinato, por exemplo, permitiam uma opção de compensação: "Se ele [o herdeiro] diz: 'Deixe-o morrer', ele deve morrer; se ele diz: 'Faça ele uma compensação', ele deve fazer uma compensação". Se o assassino não pudesse compensar financeiramente a família de sua vítima, uma vida como escravo sempre era uma opção. Os casos eram julgados pelo rei, autoridade máxima, ou pela rainha, ou pelos vassalos do rei, a quem este delegava o poder para julgar em seu nome. 
Entre as leis hititas existe um grupo de leis que falam sobre comportamento sexual, são as últimas catorze de um grupo de duzentas. A pena de morte só é aplicada em dois casos: bestialidade e incesto. O sexo com ovelhas, cães e porcos é punido com a morte, por exemplo, e curiosamente relações sexuais com cavalos e mulas só exigiam uma compensação ao dono do animal, porém o que mais nos interessa aqui é a lei hitita 189. Ela afirma: "Se um homem violar a sua filha que é um crime capital. Se um homem viola seu filho, que é um crime capital". Não existe nenhuma proibição com relação a relações entre pessoas do mesmo sexo além desta citação rápida em todo o livro. E esta justaposição de relações sexuais com a própria filha e filho, diz Gordon Wenham, mostram que a última união não é proibida porque se dá entre pessoas do mesmo sexo, mas porque é incestuosa . Hoffner observa que um homem que sodomiza seu filho é culpado de hurkel (relação sexual ilícita) porque o seu parceiro é o seu filho. 
Podemos ver a importância do tabu do incesto numa carta do rei Suppiluliuma a um de seus vassalos, um dos raros momentos em que um rei interferia na vida das cidades que haviam lhe jurado lealdade:

Para Hatti é um costume importante que um irmão não tenha relações sexuais com a sua irmã ou a sua prima. Não é permitido. Quem comete tal ato é condenado à morte. Mas a sua terra é bárbara, pois o homem tem regularmente relações sexuais com sua irmã ou prima. E, de vez em quando, uma irmã de sua esposa ou a esposa de um irmão, ou até uma prima chega até você, dê-lhe algo para comer ou beber. Você pode comer, beber e ficar feliz! Mas você não deve ter vontade de ter relações sexuais com ela. Não é permitido, e as pessoas são condenadas a morte como resultado desse ato. Você não deve iniciá-la de sua própria vontade, e se alguém vos engane para tal ato, você não deve ouvir dele ou dela. Você deve fazer isso. Ele deve ser colocado sob juramento para você. 

O hurkel é uma categoria interessante porque caso seu ator não seja extirpado da sociedade, através de um ritual ou mesmo assassinato, toda a sociedade hitita corria risco, por isso mesmo o rei estava proibido de fazer sexo antes de um ritual importante ou alguém que estivesse impuro era impedido de entrar nos santuários. Banhos, bodes expiatórios, banimentos, tudo isso eram formas de livrar-se de alguém que estava tão contaminado assim que poderia trazer o mal a todos que estavam ao seu redor, no entanto evitava-se a morte, sobretudo porque quando alguém cometia um hurkel e era morto seu corpo continuava contaminado e aquele que tocasse o corpo do morto para dar-lhe um destino adequado também seria novamente contaminado.




sexta-feira, 25 de outubro de 2013

A Curiosidade Matou o Gato

, em Natal - RN, Brasil


Era um domingo e eu estava assistindo televisão com o computador no meu colo. Via uma programa qualquer no Discovery Channel quando ele me chamou para conversar no bate-papo do Facebook. "Tô aqui bêbado e você sabe o que me acontece quando estou bêbado, não é?", eu ri e confirmei que sabia. "Pois é, 'tô com muito tesão aqui!". Eu não me contive. "Então vem aqui em casa que a gente mata esse tesão rapidinho". Ele respondeu rindo até que: "Você fala sério?". Eu confirmei. Sempre tive tesão nele de qualquer forma. Em abril, nós tivemos uma tentativa, um encontro, saímos juntos para uma cerveja, mas no fim ele escolheu que eu servia apenas para ser seu amigo. Mas nada muda o fato que ele é muito gostoso. Ele tem um rosto másculo e um corpo de falso magro. Sem camisa, o peitoral e o abdômen musculoso é que aparecem, a bunda também é linda, pequena e macia, mas ele é apenas ativo. "Olha, eu só não vou agora porque estou na praia. Em Pitangui. Senão eu ia mesmo até ai". Eu disse que era uma pena. "Mas não se preocupe", ele completou, "amanhã você vai fazer alguma coisa a noite? Eu posso te fazer uma visita depois do trabalho!". Marcamos. E as 19h da segunda-feira ele me ligava: "Tô saindo do trabalho agora, me explica de novo como chego na sua casa?". 
Ele não demorou nada para chegar. E assim que eu fechei a porta atrás dele, ele se aproximou com uma cara de safado e me beijou com intensidade. E, enquanto nos beijávamos, eu tirava-lhe a roupa, e logo ele estava sem camisa, e eu lambia-lhe os mamilos fazendo-o gemer. Foi quando me ajoelhei diante dele e baixei-lhe a cueca boxer. Chupei-o com ele de pé na sala, mas ele logo me puxou para cima, beijou-me novamente apertando minha bunda e me puxou pela mão para o quarto. "Quero comer você!". Ele deitou-se na cama e me fez sentar sobre o pau que entrou fácil, enquanto isso me olhava mordendo o lábio inferior com uma cara de tesão imensa. Baixei então para beijá-lo, já ele apertava minhas nádegas e socava dentro de mim com força. Ouvia-se apenas o quadril dele batendo em mim e os seus gemidos. Ele então mudou de posição. Colocou-me de quatro e se posicionou atrás, enfiava com força e me puxava pelos ombros de encontro a ele. No entanto, não demorou muito para deitar-se sobre mim, sentia sua pele tocando as minhas costas, enroscando seus dedos entre os meus e beijando-me enquanto fodia com pressa. Muita pressa e muita força. Eu empinava a bunda, forçando meu quadril ainda mais para trás. Ele gemia no meu ouvido, arfando, até explodir em gozo, dentro da camisinha, poucos minutos depois de eu também ter gozado. "Uau! Foi muito bom!". E perguntou onde poderia fumar um cigarro. "Eu estava tão tenso, agora passou". Eu ri. E enquanto ele fumava o cigarro, insistindo em jogar as cinzas no chão, apesar do cinzeiro estar ao seu lado, eu notei que era apenas curiosidade, e a curiosidade matou o gato.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Cinco Reais

, em Natal - RN, Brasil



Ele estava ali no meu quarto, pelado, com seu corpo perfeito, musculoso e depilado, sorrindo para mim com aquele sorriso dele que demonstra toda certeza de que eu estou entregue. Mike é meu vizinho desde sempre. Eu que o vi crescer já que temos uma diferença de idade de alguns anos. Vi se tornar este homem maravilhoso que estava de pé na minha frente, oferecendo o membro duro para que eu chupasse. Ele havia me passado seu telefone alguns dias atrás, quando pediu cinco reais emprestado ao cruzar comigo na rua, disse para que eu o ligasse qualquer dia que ele me faria uma visita. Eu o liguei naquele sábado a tarde, não tinha nada para fazer mesmo, e ele atendeu o telefone animado. Disse que tomaria um banho e estaria na minha casa em meia hora. Dito e feito. Ele chegou com aquele sorriso dele de sempre. Aquele sorriso que ele sempre me dá na rua. Aquele sorriso de quem pensa que com certeza vai me comer. E agora ele estava lá. No meu quarto, de pé do lado da cama, completamente pelado. 
Eu então levantei e o beijei. Nosso primeiro beijo havia sido ainda na sala, quando fechei a porta atrás dele. Ele deixou claro o que veio fazer ali. Logo tirou a camisa, exibindo o peitoral forte e contraindo os músculos do abdômen. Comentei que ele tinha um corpo lindo e ele se envaideceu, falou que estava fraquinho ainda, que ia treinar mais para ficar maior. Fui eu que tirei-lhe a bermuda surfwear que ele usava. Também fui eu mesmo que tirei a minha roupa quando sentei na cama. Também era eu que apertava as nádegas dele entre meus dedos, enquanto engolia seu pênis grosso e ele segurava minha cabeça, olhei para cima enquanto eu jogava minha barba contra seu quadril e ele tinha a cabeça jogada para trás.
Quando eu o puxei para cama, e ele deitou-se por cima de mim. Beijava-me e minhas unhas arranhavam-lhe as costas, ele então levantou-se sobre seus braços fortes, contraindo os músculos, principalmente seu tríceps e sorriu para mim. Aquele sorriso de sempre, dono de uma segurança exemplar. E deitou-se do meu lado, colocando as mãos sobre a cabeça, contraia novamente seu peitoral e o abdômen, e disse-me: "Pode aproveitar!". Eu não entendi muito bem o que ele queria dizer com aquilo, mas o pau em riste era um convite para cavalgá-lo. Com a camisinha a mão, sentei naquele pênis rijo, ele me olhava com cara de prazer, mas concentrava-se também em manter o abdômen travado, sobretudo quando minhas mãos roçavam-lhe a barriga. Sentado sobre seu quadril, rebolando, contudo, foi que notei que, naquele momento, mais importante do que eu ali, era ele estar bonito. Ele, mesmo, naquele instante não estava fazendo nada além de posar e manter-se bonito enquanto eu o cavalgava. "Pode aproveitar!" ressovava nos meus ouvidos e o suor escorria pelos nossos corpos. Peguei então meu pênis duro e me masturbei. Aproveitava-o dentro de mim e a visão magnífica daquele corpo até que gozei sobre sua pele branca.
Levantei rápido e trouxe-lhe papel higiênico. Ele limpava a barriga quando cobrou. "E aí como ficamos?". Eu não entendi e ele correu para se explicar. "Eu normalmente cobro trezentos reais, mas como você é conhecido, você pode me dar o quanto quiser". E sorriu. "O quanto você acha que valeu!". Eu ri. "Mesmo?", falei. Ele confirmou e eu abri o guarda roupa e tirei uma nota de 5 reais lá de dentro. Coloquei no criado-mudo e saí do quarto. Ele veio atrás. "Só isso?". Eu confirmei. "Se você tivesse feito um pouco mais do que apenas ser bonito lá dentro, meu caro. Se não tivesse me feito ficar entediado no meio do sexo. Talvez valesse mais..."

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Simples Especialistas

, em Natal - RN, Brasil


Todo homossexual se acha um especialista em homofobia e se vocês perguntarem a qualquer um significado desta palavra, a resposta virá imediatamente (tentem!): "é o preconceito/ódio que os heterossexuais têm pelos homossexuais". Em ciência, sobretudo nas ciências humanas, para uma definição ser válida, todavia, ela tem que cobrir todos os aspectos do problema. Aí surge nosso primeiro problema: existem homossexuais homofóbicos também (e estes costumam ser os mais difíceis de falar sobre o assunto), não é um problema que existe somente dentro do grupo heterossexual. Se estes existem, então a definição não pode dizer que é um preconceito oriundo do grupo que é a maioria, heterossexual, em relação ao grupo minoritário. Concordam? Outro problema: a homofobia é uma questão de ódio pelos gays? É uma simples questão de lógica,  a + b = c, se afirmamos que existem homossexuais homofóbicos, esta pessoa seria alguém que odeia outros homossexuais e, portanto, também odeia a si próprio sendo então sempre uma pessoa que está dentro do armário, que sofre por não se aceitar, certo? Errado! Quando um homossexual não se aceita, esta situação é chamada de de conflito egodistônico pela psicologia e é causada pela homofobia, é resultado dela, não sua geradora. Esta pessoa é muito mais uma vítima do que qualquer outra coisa. Afinal é o fato dele viver em um ambiente que não aceita os gays que impede que ele se aceite plenamente. Trocando em miúdos, ele é fruto do seu meio.
Outra resposta comum é que a homofobia é uma agressão que uma pessoa, pensa-se sempre primeiro em um heterossexual, faz a outra pessoa que julga ser homossexual. Nesta explicação deveras comum a homofobia é uma ação. Ela só existe quando alguém é agredido, quando alguém sofre um ferimento. Alguns, poucos, ampliam dizendo que se a agressão for apenas verbal também existe homofobia, mas para a maior parte das pessoas para sofrer esta espécie de preconceito é necessário que se derrame sangue. Há uma linha invisível que separa o olhar ameaçador, os xingamentos na rua, a perseguição na calçada do primeiro chute que derruba um garoto que volta de uma boate no chão. Até o agressor tocar a vítima, este estava apenas expressando seu direito sagrado de liberdade de pensamento. Afinal, ninguém tem o direito de dizer o que ele deve pensar ou o que não pode fazer. Deus nos livre da censura! Aqui, a confusão se dá sobretudo por causa da definição de crime com motivação homofóbica, sobretudo o principal crime que se pretende punir legalmente com as leis anti-homofobia que é a agressão física e a construção da motivação homofóbica para assassinatos. Como o tema Homofobia tem sido explorado sobretudo neste aspecto jurídico, para muitos, criou-se a ilusão de que ele só existe também neste formato jurídico, e um crime só existe após ser praticado, e o crime que se quer punir não é a homofobia e sim a "agressão por motivos homofóbicos".
Outro problema da definição que os homossexuais especializados em homofobia têm nos dado é que os heterossexuais (pasmem!) também sofrem esta espécie de discriminação. E muito além dos casos que foram relatados pela imprensa como o pai que teve a orelha arrancada porque estava abraçado ao filho, ou dos irmãos que um foi assassinado porque voltavam abraçados de uma festa, meio bêbados. Heterossexuais sofrem homofobia quando um menino ganha uma bola e uma menina uma boneca, quando um bebê é obrigado a usar azul e outro rosa, quando uma menina tem a orelha furada e um garoto não pode chorar. É isso que os gays, em sua maioria, não sabem: a verdadeira definição de homofobia diz que ela acontece quando definimos um modelo para ser homem e um modelo para ser mulher, e todas aquelas pessoas que desviam deste padrão são, furiosamente, atacadas. É por isso que o pai e os irmãos foram atacados, por exemplo, homens não abraçam outros homens.
Segundo uma sociedade homofóbica, e que se entenda este adjetivo a partir de agora como: "uma sociedade que impõe uma forma de comportamento para homens e mulheres", um homem precisa ser másculo, forte, insensível, sem habilidades artísticas, pouco detalhista, bom motorista, hábil em atividades físicas como esportes, agressivo, sem vaidade, entre outras coisas, e, principalmente, o oposto disto é o que faz uma mulher. Qualquer um que se arrisque a caminhar no meio destas situações opostas é visto como desviante, desviado, viado. Um ataque homofóbico não acontece porque os heterossexuais odeiam os gays, acontece porque para algumas pessoas ser homem significa seguir um padrão exato de características, os homens que não seguem estas características precisam então serem violentamente reeducados para "virar homem", é isso que está por trás de ataques com lâmpadas fluorescentes nas ruas de São Paulo, dos estupros corretivos nas quadras de Brasília ou dos assassinatos de travestis nas pequenas cidades da Bahia. Existem pessoas no mundo que acreditam que existe um modelo correto de homem e outro modelo correto de mulher.
Então quando afirmamos que também existem homossexuais homofóbicos é porque também entre este grupo que é o mais perseguido pela homofobia existem pessoas que aprovam esta teoria que existe um padrão para ser homem e um padrão para ser mulher, e que inclusive modelam o seu desejo pelo mesmo gênero seguindo este padrão que é arbitrário, totalmente construído e, poderíamos inclusive dizer, artificial. Vejamos um exemplo: nos sites de relacionamento (Manhunt, Disponível, Grindr, Scruff) é comum encontrar a expressão "não curto efeminados" nos perfis. Esta afirmação por si pode não dizer nada, ela passa inocentemente por uma descrição de um gosto pessoal, contudo, geralmente, as pessoas que tentam explicar porque não gostam de efeminados costumam afirmar que "se quisessem mulheres, eles seriam heterossexuais". Só que esta pessoa efeminada é um homem, ele tem pênis, tem um gene Y herdado de seu pai, poderíamos inclusive supor que esta pessoa se encaixasse em todos os outros aspectos que citei sobre o que é ser um homem menos o aspecto da masculinidade, porém a ausência deste aspecto torna a pessoa incapaz de despertar interesse. Por que isso se dá?
A homofobia não aparece quando um homossexual não se excita por um homem efeminado, ela aparece quando este define o que é ser homem. Os homossexuais retornam para o modelo imposto pela sociedade heteronormativa e projetam seu desejo para aquele manequim construído com pedaços de pessoas para representar o tal ser masculino ideal. Todos, no fundo, procuram um príncipe, e este não foi criado dentro da própria cultura gay, este homem ideal ainda é o reflexo doentio do pai machista que os criou, o Homem com H maiúsculo. O combate a homofobia, portanto, não pode ser considerado como a luta pela aceitação de gays e lésbicas, nem tampouco apenas conseguir direitos, é a batalha pela diversidade. Combater a homofobia é lutar pela destruição destes dois modelos de comportamento (Homem e Mulher) e, com isso, aceitar que os seres humanos não podem ser classificados dentro desta gama dualista quanto suas identidades e seus gêneros. Masculino e feminino não podem ser definidos de forma tão simplista como Homem e Mulher.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Fenícia: Os Sacerdotes de Astarté

, em Natal - RN, Brasil



Astarté ou Ashtoreth é uma deusa lunar fenícia, representada às vezes com chifres de vaca, símbolo comum da lua na Antiguidade, era protetora dos mortos que ascendiam ao céu para conviver com ela em forma de espíritos de luz que eram visíveis aos homens na forma das estrelas. Ela  é mencionada quinze vezes na Bíblia: três vezes relacionada a Moloch, na Escritura muitas vezes chamado de Melcom (em 1Reis 11:5, "Salomão prestou culto a Astarte, deusa dos sidônios, e a Melcom, o abominável ídolo dos amonitas", e 33, "Abandonaram-me, prostraram-se diante de Astarte, deusa dos sidônios, diante de Camos, deus de Moab, e diante de Melcom, deus dos amonitas" e 2Reis 23:13, "O rei profanou igualmente os lugares altos situados defronte Jerusalém, à direita do monte da Perdição. Salomão, rei de Israel, tinha os levantado em honra de Astarte, ídolo abominável dos sidônios, de Camos, ídolo abominável dos moabitas, e de Melcom, ídolo abominável dos amonitas"); seis vezes é apresentada apenas como o nome de uma cidade (Deut 1:4, Jos 9:10, 12:4, 13:12, 13:31 e 1Cron 6:71), o que significa que eram, provavelmente, cidades que honravam a deusa fenícia; nas referências que aparecem em Juízes 2:13 e 10:06 ("Os filhos de Israel fizeram de novo o mal aos olhos do Senhor servindo os baal e as astarot"), além do primeiro livro de Samuel 7:3-4 ("E Samuel falou a todo o povo de Israel, dizendo: 'Se voltardes de todo o vosso coração para o senhor, tirando do meio de vós os deuses estranhos e as Astarot, se vos apegardes de todo o vosso coração ao Senhor e só a ele servirdes, então ele vos livrará das mãos dos filisteus'. Os israelitas afastaram os Baals e as Astarot e serviram só ao Senhor"), 12:10, a palavra Astarot é utilizada no plural para representar todas as deusas, já que os hebreus não conheciam palavra para expressar a potência feminina de uma divindade, eles a consideravam o grande modelo de deusa a ser negado por seu monoteísmo machista. No entanto, como vemos, em nenhum momento referências ao seu culto, além de que eram realizados em lugares altos ( a citação do Segundo Livro de Reis), é expressa no texto bíblico.
São novamente escritores gregos e romanos que nos dão acesso a história desta deusa. Um escritor cristão do século IV d.C., Eusébio de Cesaréia, é um dos que relata que cidades fenícias como Aphaca e Baalbeck, no atual Líbano, mantinham seus templos funcionando, onde ocorria prostituição sagrada (sobretudo feminina, de mulheres que se mantinham na porta do templo de Astarté esperando que um homem pagasse por sexo por elas como oferenda a deusa), e que era um desafio para a nova igreja cristã combater esta prática pagã. John Barclay Burns afirma, no entanto, que a prática mais comum, que não é difícil encontrar documentos fiscais, é quando as cidades taxam os serviços dos gallis, homens santos, que participavam dos festivais em honra da lua nova; estes que eram sustentados exclusivamente pelo templo , cobravam a cidade sua participação no ritual da deusa, apesar deste registros fiscais não deixarem claro qual a participação exata destes homens santos no ritual, o livros como o escrito por Eusébio de Cesareia e Luciano de Samósata nos dão acesso ao que exatamente estes galli eram responsáveis e, porque era tão importante para a cidade garantir que eles recebessem sua parte devida.
Vejamos a descrição de Luciano de Samósata, o qual viveu entre de 125 e 190 aC., circulando entre os círculos intelectuais da Síria e Atenas. Ele escreveu De Dea Syria (A deusa síria) no qual narra suas observações particulares sobre o culto da deusa Astarte. Apesar de ser um cômico, e escrever textos filosóficos sofistas, este texto é escrito da mesma forma que Heródoto escreveu sua Histórias, o que nos faz antever qual o objetivo de Luciano em produzir este texto: escrever história. Luciano descreve grandes ídolos faliformes, sacerdotes travestidos castrados, prostituição ritual das próprias fieis da deusa e sacrifício infantil ocasional. Afirmam Strong e Garstang que esta é uma descrição historicamente valida, apoiada em escritores antigos, documentos e arqueologia. 
Por exemplo, Luciano narra assim a forma que os homens se tornavam gallis:

49 . O maior dos festivais que celebram é que se realiza na abertura da primavera, alguns chamam isso de Pira, outros a Lâmpada. Nesta ocasião, o sacrifício é realizado desta maneira. Corta-se árvores altas e as coloca-se na assembleia, então eles trazem cabras e ovelhas e gado e os penduram vivos nas árvores, eles acrescentam a estes pássaros e os decoram com ouro e prata. Depois de tudo terminado, eles carregam os deuses ao redor das árvores e atearam fogo, em um momento, tudo está em chamas. A este rito solene participam grandes multidões da Síria e de todas as regiões ao redor. Cada um traz o seu próprio deus e as estátuas que cada um tem os seus próprios deuses.

50 . Em certos dias com uma multidão no templo, e Galli em grandes números, sagrados como eles são, realizam as cerimônias dos homens, em que pegam os homens, amarram-lhe os braços e viram as costas para ser amarrados. Muitos espectadores sobram suas flautas ao mesmo tempo muitas batem tambores, outros cantam canções divinas e sagradas. Todo esse desempenho tem lugar fora do templo, e os envolvidos na cerimônia não entram no templo.

51 . Durante estes dias, eles são feitos Galli. Como o Galli cantam e celebram suas orgias, o frenesi cai em muitos deles e muitos dos que tinham vindo como meros espectadores depois são tomados pela deusa e cometem o grande ato. Vou narrar o que eles fazem. Qualquer jovem que foi resolvido no âmbito desta ação, retira suas vestes, e com um forte rajada,  grita no meio da multidão, e pega uma espada de uma série de espadas que suponho ter sido mantidas prontas desde muitos anos para este propósito. Ele levanta-se e castra-se e, em seguida, corre pela cidade, tendo em suas mãos o que ele cortou. Ele lança-o em qualquer casa à vontade, e desta casa recebe as vestes e ornamentos das mulheres. Assim eles agem durante suas cerimônias de castração.

52 . O Galli, quando mortos, não são enterrados como os outros homens, mas quando morre um Galli seus companheiros o levam para fora, para os subúrbios, e constroem sobre o esquife em que o tinham levado até cobri-lo com pedras, e após isto retornam para casa. Eles esperam, em seguida, por sete dias, após o qual eles podem entrar no templo. Eles não devem entrar antes disso, seriam culpados de blasfêmia.

Pela descrição de Luciano, por fim, podemos dizer que o papel dos Galli, se não é a prostituição, são eles que controlam o ritual masculino em relação a deusa Astarté e que este envolve orgias entre os próprios galli, que são castrados e vestem-se como mulheres, e os homens, fiéis da deusa, que participam das festas organizadas pelos homens santos. Também vemos que os galli são possuídos pela deusa durante o festival e se tornam sacerdotes no momento em que abdicam de seus pênis através da castração. Estes sacerdotes eunucos, portanto, são o único meio de contato entre a deusa e os homens que não podiam nem entrar no templo, e é por isso então que eles são custeados pela cidade, para garantir as boas vontades de Astarté não somente para as mulheres fenícias, mas para seus homens também. Como a deusa além de ser responsável pela fecundidade e da maternidade, também era responsável pela vitória na guerra e a fortuna, ter a deusa ao seu lado era imprescindível para qualquer homem fenício diante qualquer desafio em sua vida, principalmente quando se destacavam em suas navegações por mares nunca antes singrados afinal sabe-se que os fenícios navegaram por todo Mediterrâneo, alcançando do Mar do Norte a Costa do Marfim no Atlântico e também pelo Índico, comerciando com os hindus. 



sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Work, Bitch!

, em Natal - RN, Brasil



Nesta semana Britney Spears lançou sua nova música, nada de surpreendente eu posso dizer-lhes. Os mesmos samplers que já ouvimos em diversas outras músicas pop, a mesma Britney com seu vocal sexualizado entupido de efeitos eletrônicos e sem saber dançar nada que envolva uma coordenação motora que exigisse mover braços, pernas e respirar ao mesmo tempo. Para dizer a verdade uma única coisa me surpreendeu: o obviedade como a dublê da Britney aparece nas poucas cenas que ela está dançando, o truque mais velho do mundo de fazer o cabelo da dublê cobrir-lhe o rosto para que ninguém notasse que é outra pessoa foi como observar um episódio da Turma do Didi numa cena em que o dublê do Didi aparece.
Contudo eu, infelizmente, reparei na letra. A letra diz isso:

You wanna hot body
You wanna Bugatti
You wanna Maseratti
You better work bitch

You wanna Lamborghini
Sip martinis
Look hot in a bikini
You better work bitch

You wanna live fancy
Live in a big a mansion
Party in France
You better work bitch
You better work bitch
You better work bitch
You better work bitch


Não é surpreendente para mim ver que Britney vende o discurso do american way of life, o discurso máximo do capitalismo do século XX, de que basta você trabalhar bastante, fazer por merecer, que é possível conseguir tudo aquilo que você deseja, ela cita carros caros (Bugatti, Maseratti, Lamborghini), ela cita um estilo de vida caro (sip martinis, fancy big mansions, party in France), e a surpresa não existe porque este discurso está infiltrado em todos os aspectos de nossa sociedade ocidental. Britney foi contaminada por ele, você talvez também tenha sido e se engane achando que só precisa trabalhar mais e mais, "work out, bitch", que um dia você vai poder comer queijo brie e tomar champange num apartamento com vista para a Torre Eiffel.. Ai você pode estar pensando: lá vem o Foxx dizendo que o mundo está errado de novo, mas todo mundo sabe que é assim mesmo que se consegue algo, trabalhando muito.  
Sim, trabalhar muito pode trazer muitas coisas, mas não basta somente isso. Imagine a situação: uma menina nasce no bairro do Bom Pastor em Natal, cresce brincando aos pés da linha férrea, molhando os pés no esgoto ao céu aberto, ela terá as mesmas oportunidades para trabalhar como estilista na indústria da moda que uma garota que nasceu e se criou na ilha de Manhathan? Ao meu ver não! O trabalho, lutar por aquilo que vc deseja, é sem dúvida um elemento importantíssimo para "vencer na vida", todos aqui responderiam afirmativamente se eu perguntasse se é preciso trabalhar muito para vencer na vida, não é? Mas a resposta se manteria positiva se fizermos a pergunta de outra maneira: todo mundo que trabalha muito com certeza vence na vida? Britney vende uma filosofia do século passado que não via que os problemas sociais interferem na felicidade das pessoas, em poucas palavras: Britney é uma liberal. Ah, e eu eu nem mencionei que o clipe vende o perfume que leva o nome da cantora e um dos sons mais caros do mercado, não é?
A praga do Liberalismo surgiu no século XVI para competir com as políticas econômicas mercantilistas em que o Estado interferia diretamente na economia para atender os desejos de um monarca, era a cura esperada para o poder totalitário das monarquias nacionais. Mas hoje,  rebatizado de neo-liberalismo, ele defende que o Estado também não pode interferir na economia, porque ela se regula sozinha, e ao se auto regular ela com certeza vai levar em consideração que existem pessoas mais pobres e outras mais ricas e, naturalmente (deve ser pela vontade de Deus), a economia equilibraria a situação permitindo que os mais pobres ficassem cada vez mais ricos.
Mas, além disso, uma coisa mais me preocupou no que essa música vende, duas frases exatamente: "you wanna a hot body" e "Look hot in a bikini". Não obstante vender um Liberalismo político quando o Estado de Bem Estar Social já se provou o melhor modelo (veja a Inglaterra de Blair, não a cagada de Tatcher), numa época em que reconhecemos o bullying como uma agressão, em que outras cantoras como Christina Aguilera (Beautiful), Katy Perry (Fireworks) e Lady Gaga (Born this way) gravam hinos defendendo que beleza é algo diverso, que, roubando a frase da Gaga, Deus não comete erros, a Srta. Spears resolve afirmar que a culpa de alguém não ter um hot body é de sua falta de insistência. Que quem work out alcança os padrões de estética imposto por ela ou pela Anna Wintour (que por caso foi quem inventou que um vão entre as coxas das mulheres é algo bonito e fez com que a Marie Claire chame o corpo de refugiada da Somália da Izabel Goulart de perfeito). 
Olha, na minha opinião (que de humilde não tem nada, nós sabemos), quem é que define o que é look hot in a bikini não é  o fato de alguém ter suado pencas numa academia, mas os olhos do outro. Existem pessoas que não acham homens musculosos bonitos, que preferem uma barriga ou alguém magrinho, existem homens que preferem mulheres gordas e outros que preferem bundas enormes. Acho que vocês entenderam os exemplos, mas o que quero dizer é que existem milhões de padrões físicos para o que alguém pode considerar hot (lembrem que os dentes separados da Madonna e da Georgia Jagger são considerados charmosos por uns, enquanto japonesas arrancam os próprios dentes saudáveis para implantar próteses para manter o sorriso infantil com dentes proporcionalmente maiores, como o sorriso da Xuxa), em um mundo diverso, que é o que estamos aprendendo, finalmente, que é o planeta em que habitamos, padrões de beleza não podem ser impostos por alguém como uma meta para encontrar a felicidade e ninguém deve se render a um padrão imposto por uma revista, uma modelo em uma passarela ou na música de uma péssima cantora pop, afinal, não adianta, a beleza sempre estará nos olhos de quem vê. 

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Projeto Verão

, em Natal - RN, Brasil

Sim, sim, este é o meu corpo atual.

Ganhei um tempo para mim, reorganização das coisas no trabalho e com isso, a partir de outubro, homeoffice, o que na prática quer dizer que eu ganhei duas horas no meu dia que eu perdia no trânsito me deslocando para o trabalho e do trabalho para meus compromissos, duas horas que foram imediatamente investidas em mim mesmo: academia. Eu sempre gostei de fazer exercícios físicos, musculação, ginástica localizada, dança, corrida e ioga sempre fizeram parte da minha vida, mas eu não tinha tempo, sinceramente não, quer dizer, existia, eu podia acordar as 6:00h da manhã e com um sorriso lindo levantar para ir a academia. Esta situação é completamente impossível de acontecer, eu acordo as 7h, mas não me peça para acordar as 6h, não vai acontecer. Como eu tenho que começar no trabalho as 9h, e agora eu não preciso me deslocar até o escritório, eu posso, das 7h as 9h ir para a academia e malhar a vontade todo o meu peso extra para fora do meu corpo. Sendo assim, contem: 82kg agora e a meta é voltar aos meus 65kg, ou seja, 17kg para expurgar do meu corpo. 
Escolhi, para isso, uma academia perto da minha casa. Fui visitá-la ainda semana passada e fui atendido por uma recepcionista que eu sempre encontro nas boates gays da cidade cercada por lipstick lesbians, o que é irônico já que a única coisa que ela não tem de butch é o cabelo curto, porém a imensa tatuagem no braço direito de uma carpa e o corpo quase quadrado a tornam uma figura que eu não gostaria de enfrentar em uma briga. Ela me sorriu educada e apresentou o ambiente, o professor que me cumprimentou extremamente simpático e disse-me os preços, o dobro da primeira academia que eu havia procurado da qual sai assustado com o professor estar usando uma papete e as máquinas apresentarem ferrugem. Voltei, na segunda-feira para começar o treinamento e encontrei um outro professor que mora perto da minha casa também. Todos ali devem ser meio que vizinhos, inclusive. Eu lembro dele desde muito menino, era um garoto magrinho e bem alto para sua idade que não cresceu depois da adolescência, contudo agora os músculos explodiram e ele fala sobre energia cinética do movimento e músculos brachioradiais e grita "arroche!" quando quer animar o aluno antes de começar o exercício.
Fico, no entanto, preocupado após anunciar esta decisão que alguém fique pensando que eu não me sinto bem comigo mesmo, com 82kg. Eu me considero um homem lindo, com 65, 73 ou 82 quilos, não importa, eu sou um homem bonito, na verdade, quando estou mais gordo, inclusive, me considero um pouco mais gostoso porque ganho mais bunda e coxas, fica bonito dentro de uma calça jeans. Mas, infelizmente, para ter 82kg eu ganho uma barriga que realmente eu odeio. E não é falta de autoestima reconhecer que tem uma parte do seu corpo que você não considera bonita, no meu caso, inclusive, a ÚNICA parte que não é bonita é minha barriga, tirando isso, eu sou totalmente lindo. Ai agora alguém deve achar por aí que eu me acho, e é verdade. Eu me acho lindo, deal with it.
Também tenho algo a acrescentar para não ser mal interpretado: não faço isso para arranjar um namorado. Por dois motivos: primeiro, eu já tive um corpo sarado, barriga tanquinho, pernas extremamente definidas,  músculos a mostra, mas isso nunca me trouxe nada mais que sexo; não na mesma quantidade que tenho agora mais gordo, era muito mais mesmo, mas sexo convenhamos nunca foi um problema para mim, não é hoje com 82, não era com 65kg, mas com certeza eu não gostaria de namorar alguém que se importasse tanto assim com os centímetros do meu abdômen. O segundo motivo é que eu vou perder peso para mim,  não que eu ache ser gordo feio nas outras pessoas, gordo não é sinônimo de feio de forma alguma, mas é algo que eu não gosto em mim. Faço isso também por meros fatores estéticos também afinal ser gordo também não é uma doença, eu só prefiro minha imagem no espelho com 65kg. Faço isso por mim, não pelos outros.
E eu me preocupo porque não seria a primeira vez que sou mal interpretado por causa de um texto aqui. E como já me acusaram de baixa autoestima aqui somente porque não sou um iludido que não reconhece os próprios defeitos e nem alguém incapaz de enxergar que o mundo não pensa como ele. Orgulho-me bastante do meu senso de realidade, dos meus pés no chão, de poder ver aquilo que realmente está em minha frente sem fantasias esdrúxulas. Vocês, no entanto, chamam isso de ser negativo, mas no fim quem está certo sou sempre eu,  não é  mesmo? 

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

A Maldição

, em Natal - RN, Brasil




- Foxx - diz minha mãe se aproximando de mim com cuidado - eu queria que você se aproximasse mais de Deus. Você conhece a Bíblia tão bem, devia fazer aquilo que Deus manda, não... 
Eu assisto ela falar aquelas palavras estupefato.
- Não devia - ela continua - viver deste jeito...
- Viver como? 
Eu pergunto.
- Deste jeito! 
E aponta para mim com um aceno que envolve todo meu corpo. Uma revolta cobre meu corpo.
- Quem você pensa que é para me julgar assim? Quem?
Ela se irrita e só quando ela me ataca de volta que noto minha petulância.
- Eu sou sua mãe ora.
Mas eu me recupero.
- Minha mãe, ok! Mas isso não te dá o direito de me julgar. De julgar que eu não estou perto de Deus. Quem é você para isso? Você não está no meu coração, você não sabe de nada sobre meu relacionamento com Deus. Quem é você para isso?
Ela dá um passo para trás e seu tom nota que ela acatou meu argumento.
- Você será infeliz...
Ela diz baixinho.
- Se continuar desse jeito...
- Desse jeito como?
A ironia me permite antecipar a resposta dela e eu continuo.
- Sendo gay? Mainha, eu sou gay! Sou, sempre fui e sempre serei.
Ela, infantilmente, tapa os ouvidos para não ouvir.
- Ei, não adianta fugir não. Eu sou seu filho, e sou gay, ou você me ama assim ou me avise que saio, definitivamente, da sua vida. 
- Você vai ser muito infeliz por causa disso.
- Você está me amaldiçoando? 
Eu ri.
- Você está me rogando uma praga?
Ela apressou-se para negar.
- Só te aviso uma coisa, minha mãe, quem está distante de Deus aqui é a senhora que ainda não aprendeu o que significa amar o próximo.
Ela foi andando, fugindo do que eu tinha a dizer.
- Ouça que é o que Deus tem a lhe dizer: eu nasci gay e sempre serei gay porque Deus me fez assim. Não adianta você reclamar, não adianta você lutar contra, eu nunca vou mudar.
Ela se trancou no quarto, fechando a porta entre nós.
- Mainha, você acha que o som não vai atravessar essa porta? Pois ouça o que você não quer ouvir: EU SOU GAY!
- Não grite na minha casa!
Ela respondeu do outro lado da porta. Eu reconheci neste momento que eu estava na casa dela, realmente. E respirei fundo.
- Quando quiser conversar sobre isso, sobre o verdadeiro significado de estar próximo a Deus então nós voltaremos a nos falar. Até lá, boa noite com seu preconceito.
Juntei então o meu laptop que estava sobre o sofá da casa dela, eu aproveitava a internet de alta velocidade para baixar alguns episódios de séries para assistir. E retornei para minha casa, pensando: 
- De fato eu tenho passado tempo demais na casa deles. Hora de corrigir isso.


terça-feira, 1 de outubro de 2013

Fenícia: Meleagro e Seus Ratinhos

, em Natal - RN, Brasil


Meleagro é um poeta grego, que escreveu em sua língua materna, mas também em fenício, por volta de 100 a.C. Ele era filho de Eucrates, nascido em Gadara, que hoje fica na Jordânia, apesar dele ter nascido em uma colônia grega, ele foi educado em Tiro, cidade fenícia, e passou sua vida em Cos, uma ilha grega, sob o reinado do rei Seleuco VI Epiphanes (entre 95-93 a.C.). Apesar de grego, aqui, o consideramos um poeta também fenício por causa de sua educação ter se dado toda em Tiro, o que, com certeza, influenciou a forma como ele passou a escrever seus epigramas, além de boa parte dos seus poemas terem sido publicados também na língua fenícia por volta de 80 a.C., na Antologia Palatina, que infelizmente não nos sobreviveu inteira. Alguns historiadores o classificam entre os cínicos, grupo filosófico que procurava a independência pessoal completa e total que para ser alcançada os seus membros tentavam reduzir suas necessidades ao mais básico para, diante da adversidade, eles não sofrerem quase nada. Ele escrevia seu conhecimento filosófico no que chamava de spoudogeloia (σπουδογέλοιος), ensaios em prosa satíricos que explicavam a filosofia em forma de ilustrações bem humoradas, estas, no entanto, foram completamente perdidas.
Já seus poemas, Meleagro escreveu muitos de teor amoroso, tanto de amor homoerótico, como aquele dedicado as mulheres. No caso dos poemas dedicados a um homem, muitos deles são dedicadas a um myiscus, em português, ratinho. Mas também existem outros amantes como Antíoco, Diocles, Thero e Alexis, são 15 ao todo.
São exemplos de seus poemas (tradução nossa):

As 12 horas da tarde
No meio da rua
Alexis!
Verão tinha tudo, mas trouxe o fruto
Para seu fim perigoso:
O sol do verão e o olhar daquele menino
Eles me afligem!

*

Socorro! Ele está desaparecido. Aquele menino selvagem, Eros, escapou!
Agora mesmo, como o dia estava quebrando, ele voou de sua cama e foi embora.
Descrição? Docemente choroso, fala sempre, rápido, irreverente,
Ri maliciosamente, asas em suas costas e carrega uma aljava.
Seu último nome? Eu não sei, por seu pai e sua mãe,
Quem eles são, na terra ou no céu, não vai admitir isso
Todo mundo odeia ele, você vê. Cuide-se, cuide-se,
Ou até mesmo agora ele vai estar tecendo novas armadilhas para seu coração
Mas uma olhada rápida para lá, vire lentamente. Você não precisa a mim, menino, enganar
Desenho seu arco tão suavemente onde você se esconde nos olhos de Zenófilo.
(AP V.177)

*

Eu não disse a você, oh, alma, se você olhar para fora, você vai ser pega
Você, coisa boba, se você vibrar tão perto de sua rede?
Não te avisei?
E agora que a armadilha é acionada
por que lutar em vão?
O amor amarrou suas asinhas,
aspergiu-lhe perfume barato, fingiu o seu desmaio no fogo
E lhe deu, na sua sede, lágrimas quentes para beber.
(AP XII. 132)

*

Essa é a mensagem, Dorkas, e quando você disse a ela
Então diga a ela, novamente, e mais uma vez, agora para se apressar.
Mas espere um minuto, espere aí, lentamente, meu Dorkas, lentamente.
Por que você está fugindo antes de você ouvir todas as suas instruções?
Diga também que eu... não diga nada. É mais viril ficar em silêncio.
Não lhe diga nenhuma maldita coisa. Diga apenas que eu... ah, diga tudo!
Tudo isso, Dorkas, tudo isso! Mas, Dorkas, por que te envio,
quando, olha, eu te segui o caminho todo até a porta?
(AP V. 182)

*

Você deixa as flores da primavera
os lírios e os demais
o que se plantar na sua pequena picada
no peito de Heliodora.

Para mostrar que na ferida de amor
tão profunda e terrível,
a doçura pode ser encontrada
isso torna a vida suportável?

Oh, por favor, sua notícia é um desperdício!
Eu sabia disso há muito tempo
Você acha que eu não provei
onde você, bêbado, demorou tanto?
(AP V. 163)

*

Se alguma coisa acontecer comigo,
Cleóbulo, meu amigo,
(Porque não me salvo -
Eu minto como uma videira em ondulação
quando jogo no jogo das meninas)
antes de enviar
minhas cinzas sob a terra
despeje vinho forte,
em seguida, grave, na urna embriagada:
"Hades, à saber, 
o Amor envia este presente a Morte"
E enterre-me e vá embora.
(AP V. 172)

*

Amanhecer odioso para os amantes, por que você sobe tão rapidamente
ao lado da minha cama, quando me deito com uma deliciosa demonstração?
Você não pode virar, correr para trás e ser a noite mais uma vez,
E parar aquele doce sorriso que derrama esta luz venenosa?
Uma vez você já fez isso antes, quando Zeus amava Alcmena.
Oh, aprendeu a correr para trás! Agora você não pode dizer que não sabe como...
(AP V 172)

*

Amanhecer odioso para os amantes, porque você rola tão lentamente
em todo o mundo triste quando sob o cobertor de outro homem
falsas demonstrações de amor e todo o calor do corpo dele ele doou como um deus?
Quando foi a minha vez de segurar seu corpo esbelto em meus braços
Você não podia esperar para lançar sua luz nojenta nos meus olhos.
(AP V. 173)

*

Oh, noite, e você oh lâmpada, somente tu estava ao lado de nossa cama
Não havia ninguém perto para que 
fossem testemunhas de nossos votos,
que ele me amaria,
e, eu, que nunca iria deixá-lo,
oh, noite, você se lembra.

Mas agora ele diz que os votos se foram com as águas de um rio,
Não demoraram mais do que as ondas quebrando,
e você, oh lâmpada, 
agora você o vê deitado
nos braços de outra pessoa.
(AP V. 8)

*

Peço-vos, Amor, em nome da minha musa, peço-vos,
Oh, deixe-me dormir e esquecer por um tempo este desejo por Heliodoro.
Meu deus, eu oro pelo seu arco, que não sabe como dar um tiro,
sem ninguém, mas o dia e a noite eu sofro e grito por mim!
Tudo bem, sem mais orações, seu filho da puta, você não vai fugir com ele.
Como minha última força, eu hei de escrever este poema para a polícia:
Foi o amor!
O Amor me matou.
(AP V.215)

Como podemos ver, a musa de Meleagro é, no entanto, não o amor romântico, mas o amor perdido, o sofrimento amoroso e a dor do afastamento de seu objeto amoroso seja pelo simples fim do encontro noturno em que eles estava juntos ou o término do relacionamento. Meleagro constantemente canta para os "ratinhos" que ele perdeu, para o amor que se foi, para o desejo não realizado e a dor que irrompe-lhe o coração, porém esta não é uma metáfora para a proibição em relação ao homoerotismo, a mesma pena que dedica-se ao fim de relacionamentos entre homens também canta o fim de amores entre homens e mulheres. É o poeta que, provavelmente, se encanta com este momento tão doloroso na vida de tantas pessoas e, por isso, que decide imortaliza-los em sua poesia.