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terça-feira, 29 de outubro de 2013

Hatti: Os Filhos Estuprados




Hatti é uma civilização extremamente importante que dominou a Anatólia, na atual Turquia, durante a Idade de Bronze, por volta de 3000 a.C. A Idade do Bronze substitui a Idade da Pedra Polida ou Neolítico e se caracteriza sobretudo pelo desenvolvimento da metalurgia, sobretudo do desenvolvimento de técnicas para a fundição do bronze, esta dura até por volta de 1200 a.C, quando se inicia a Idade do Ferro. Neste período ascenderam as civilização da Mesopotâmia no vale dos Rios Tigres e Eufrates, do Egito no vale do Nilo e, ao norte, de Hatti., estas são sem dúvida as três grandes civilizações que comandaram a história humana durante seus anos iniciais.  Porém elas têm muito em comum: a capital hitita se chamava Hattusa, seus habitantes falavam uma língua proto-indo-europeia chamada Luwita, enquanto a língua suméria e egípcia são semíticas, porém como o império logo se tornou grandioso era comum que se ouvisse pessoas falando, na capital, línguas dos outros povos que habitavam o império como o lídio, o cário, sidético, licio, pisídico e palaico, além da própria língua hitita, isto é, dos habitantes originais daquela terra. Eles possuíam um alfabeto hieroglífico, mas apossaram-se também da escrita cuneiforme assíria e, no fim, adotaram a numeração romana como parte do seu arcabouço cultural. Sua história se divide em basicamente três períodos: Velho Reino, de 3000 a 1400 a.C.; o Novo Reino, de 1400 a 1175 a.C., quando o imperador de Hatti rivalizava em poder com os faraós egípcios e os reis babilônicos; e, por fim, os Novos Reinos Hititas, que existem entre 1175 a 705 a.C., em que após o império se desfazer algumas cidades-estado mantém sua independência cultural até a dominação romana.
Um dos textos mais antigos oriundos desta civilização são As Leis. Não sabe-se com precisão quando os textos foram reunidos, mas eles remontam a 1600 a.C. e refere-se ao reinado de Labarna. Além deste ser um livro que relata as leis, ele também se preocupa em registrar a vida cortesã da capital através de crônicas históricas sobre o palácio e as disputas entre os vassalos do rei. Suas leis, no entanto, se caracterizam por duas ideias básicas: compensação, a vítima ganha algo para compensar o que perdeu; e retribuição, a ofensa é punida com um castigo equivalente a ela, algo parecido com o "olho por olho, dente por dente" das leis mesopotâmicas, contudo, em Hatti, a maior parte das punições tinham a ver com compensação. Mesmo as leis que puniam o assassinato, por exemplo, permitiam uma opção de compensação: "Se ele [o herdeiro] diz: 'Deixe-o morrer', ele deve morrer; se ele diz: 'Faça ele uma compensação', ele deve fazer uma compensação". Se o assassino não pudesse compensar financeiramente a família de sua vítima, uma vida como escravo sempre era uma opção. Os casos eram julgados pelo rei, autoridade máxima, ou pela rainha, ou pelos vassalos do rei, a quem este delegava o poder para julgar em seu nome. 
Entre as leis hititas existe um grupo de leis que falam sobre comportamento sexual, são as últimas catorze de um grupo de duzentas. A pena de morte só é aplicada em dois casos: bestialidade e incesto. O sexo com ovelhas, cães e porcos é punido com a morte, por exemplo, e curiosamente relações sexuais com cavalos e mulas só exigiam uma compensação ao dono do animal, porém o que mais nos interessa aqui é a lei hitita 189. Ela afirma: "Se um homem violar a sua filha que é um crime capital. Se um homem viola seu filho, que é um crime capital". Não existe nenhuma proibição com relação a relações entre pessoas do mesmo sexo além desta citação rápida em todo o livro. E esta justaposição de relações sexuais com a própria filha e filho, diz Gordon Wenham, mostram que a última união não é proibida porque se dá entre pessoas do mesmo sexo, mas porque é incestuosa . Hoffner observa que um homem que sodomiza seu filho é culpado de hurkel (relação sexual ilícita) porque o seu parceiro é o seu filho. 
Podemos ver a importância do tabu do incesto numa carta do rei Suppiluliuma a um de seus vassalos, um dos raros momentos em que um rei interferia na vida das cidades que haviam lhe jurado lealdade:

Para Hatti é um costume importante que um irmão não tenha relações sexuais com a sua irmã ou a sua prima. Não é permitido. Quem comete tal ato é condenado à morte. Mas a sua terra é bárbara, pois o homem tem regularmente relações sexuais com sua irmã ou prima. E, de vez em quando, uma irmã de sua esposa ou a esposa de um irmão, ou até uma prima chega até você, dê-lhe algo para comer ou beber. Você pode comer, beber e ficar feliz! Mas você não deve ter vontade de ter relações sexuais com ela. Não é permitido, e as pessoas são condenadas a morte como resultado desse ato. Você não deve iniciá-la de sua própria vontade, e se alguém vos engane para tal ato, você não deve ouvir dele ou dela. Você deve fazer isso. Ele deve ser colocado sob juramento para você. 

O hurkel é uma categoria interessante porque caso seu ator não seja extirpado da sociedade, através de um ritual ou mesmo assassinato, toda a sociedade hitita corria risco, por isso mesmo o rei estava proibido de fazer sexo antes de um ritual importante ou alguém que estivesse impuro era impedido de entrar nos santuários. Banhos, bodes expiatórios, banimentos, tudo isso eram formas de livrar-se de alguém que estava tão contaminado assim que poderia trazer o mal a todos que estavam ao seu redor, no entanto evitava-se a morte, sobretudo porque quando alguém cometia um hurkel e era morto seu corpo continuava contaminado e aquele que tocasse o corpo do morto para dar-lhe um destino adequado também seria novamente contaminado.




4 comentários:

  1. Com certeza o phodástico Railer mereceu!!!

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  2. WOW!! Também achei bem interessante o texto e mais uma vez tenho dúvidas Foxx;

    1º O alfabeto hieroglífico hitita, era igual ao egípcio, os hieróglifos eram os mesmos? Um alfabeto influenciou o outro ou eram distintos?

    2º Na carta do Rei, relações com primas e etc, eram um crime, mas se fosse uma relação entre primos homens, também seria considerado hurkel, ou só seria se fosse com mulheres (da família) ou incestos entre pai e filho?

    3º Eu não lembro muito bem, mas segundo um professor meu de história, havia também uma punição, onde a casa do criminoso eram destruída e ele e sua família eram apedrejados até a morte, está correta essa informação?

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    Respostas
    1. Boas perguntas, Ariano, bem... vamos por partes:
      1) não havia um alfabeto hieroglífico comum entre hititas e egípcios até onde eu saiba, mas foi o uso egípcio de uma língua escrita que fez os hititas os imitarem e depois imitarem os assírios e depois usarem o alfabeto romano também, o que importava era a praticidade.
      2) a relação entre primos homens também era proibida e considerada hurkel.
      3) eu acho que essa punição consta em um código de leis assírio, moço, mas não sei precisar qual. Se quiser posso pocurar pra vc.

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway