Google+ Estórias Do Mundo: Fenícia: Meleagro e Seus Ratinhos

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Fenícia: Meleagro e Seus Ratinhos

, em Natal - RN, Brasil


Meleagro é um poeta grego, que escreveu em sua língua materna, mas também em fenício, por volta de 100 a.C. Ele era filho de Eucrates, nascido em Gadara, que hoje fica na Jordânia, apesar dele ter nascido em uma colônia grega, ele foi educado em Tiro, cidade fenícia, e passou sua vida em Cos, uma ilha grega, sob o reinado do rei Seleuco VI Epiphanes (entre 95-93 a.C.). Apesar de grego, aqui, o consideramos um poeta também fenício por causa de sua educação ter se dado toda em Tiro, o que, com certeza, influenciou a forma como ele passou a escrever seus epigramas, além de boa parte dos seus poemas terem sido publicados também na língua fenícia por volta de 80 a.C., na Antologia Palatina, que infelizmente não nos sobreviveu inteira. Alguns historiadores o classificam entre os cínicos, grupo filosófico que procurava a independência pessoal completa e total que para ser alcançada os seus membros tentavam reduzir suas necessidades ao mais básico para, diante da adversidade, eles não sofrerem quase nada. Ele escrevia seu conhecimento filosófico no que chamava de spoudogeloia (σπουδογέλοιος), ensaios em prosa satíricos que explicavam a filosofia em forma de ilustrações bem humoradas, estas, no entanto, foram completamente perdidas.
Já seus poemas, Meleagro escreveu muitos de teor amoroso, tanto de amor homoerótico, como aquele dedicado as mulheres. No caso dos poemas dedicados a um homem, muitos deles são dedicadas a um myiscus, em português, ratinho. Mas também existem outros amantes como Antíoco, Diocles, Thero e Alexis, são 15 ao todo.
São exemplos de seus poemas (tradução nossa):

As 12 horas da tarde
No meio da rua
Alexis!
Verão tinha tudo, mas trouxe o fruto
Para seu fim perigoso:
O sol do verão e o olhar daquele menino
Eles me afligem!

*

Socorro! Ele está desaparecido. Aquele menino selvagem, Eros, escapou!
Agora mesmo, como o dia estava quebrando, ele voou de sua cama e foi embora.
Descrição? Docemente choroso, fala sempre, rápido, irreverente,
Ri maliciosamente, asas em suas costas e carrega uma aljava.
Seu último nome? Eu não sei, por seu pai e sua mãe,
Quem eles são, na terra ou no céu, não vai admitir isso
Todo mundo odeia ele, você vê. Cuide-se, cuide-se,
Ou até mesmo agora ele vai estar tecendo novas armadilhas para seu coração
Mas uma olhada rápida para lá, vire lentamente. Você não precisa a mim, menino, enganar
Desenho seu arco tão suavemente onde você se esconde nos olhos de Zenófilo.
(AP V.177)

*

Eu não disse a você, oh, alma, se você olhar para fora, você vai ser pega
Você, coisa boba, se você vibrar tão perto de sua rede?
Não te avisei?
E agora que a armadilha é acionada
por que lutar em vão?
O amor amarrou suas asinhas,
aspergiu-lhe perfume barato, fingiu o seu desmaio no fogo
E lhe deu, na sua sede, lágrimas quentes para beber.
(AP XII. 132)

*

Essa é a mensagem, Dorkas, e quando você disse a ela
Então diga a ela, novamente, e mais uma vez, agora para se apressar.
Mas espere um minuto, espere aí, lentamente, meu Dorkas, lentamente.
Por que você está fugindo antes de você ouvir todas as suas instruções?
Diga também que eu... não diga nada. É mais viril ficar em silêncio.
Não lhe diga nenhuma maldita coisa. Diga apenas que eu... ah, diga tudo!
Tudo isso, Dorkas, tudo isso! Mas, Dorkas, por que te envio,
quando, olha, eu te segui o caminho todo até a porta?
(AP V. 182)

*

Você deixa as flores da primavera
os lírios e os demais
o que se plantar na sua pequena picada
no peito de Heliodora.

Para mostrar que na ferida de amor
tão profunda e terrível,
a doçura pode ser encontrada
isso torna a vida suportável?

Oh, por favor, sua notícia é um desperdício!
Eu sabia disso há muito tempo
Você acha que eu não provei
onde você, bêbado, demorou tanto?
(AP V. 163)

*

Se alguma coisa acontecer comigo,
Cleóbulo, meu amigo,
(Porque não me salvo -
Eu minto como uma videira em ondulação
quando jogo no jogo das meninas)
antes de enviar
minhas cinzas sob a terra
despeje vinho forte,
em seguida, grave, na urna embriagada:
"Hades, à saber, 
o Amor envia este presente a Morte"
E enterre-me e vá embora.
(AP V. 172)

*

Amanhecer odioso para os amantes, por que você sobe tão rapidamente
ao lado da minha cama, quando me deito com uma deliciosa demonstração?
Você não pode virar, correr para trás e ser a noite mais uma vez,
E parar aquele doce sorriso que derrama esta luz venenosa?
Uma vez você já fez isso antes, quando Zeus amava Alcmena.
Oh, aprendeu a correr para trás! Agora você não pode dizer que não sabe como...
(AP V 172)

*

Amanhecer odioso para os amantes, porque você rola tão lentamente
em todo o mundo triste quando sob o cobertor de outro homem
falsas demonstrações de amor e todo o calor do corpo dele ele doou como um deus?
Quando foi a minha vez de segurar seu corpo esbelto em meus braços
Você não podia esperar para lançar sua luz nojenta nos meus olhos.
(AP V. 173)

*

Oh, noite, e você oh lâmpada, somente tu estava ao lado de nossa cama
Não havia ninguém perto para que 
fossem testemunhas de nossos votos,
que ele me amaria,
e, eu, que nunca iria deixá-lo,
oh, noite, você se lembra.

Mas agora ele diz que os votos se foram com as águas de um rio,
Não demoraram mais do que as ondas quebrando,
e você, oh lâmpada, 
agora você o vê deitado
nos braços de outra pessoa.
(AP V. 8)

*

Peço-vos, Amor, em nome da minha musa, peço-vos,
Oh, deixe-me dormir e esquecer por um tempo este desejo por Heliodoro.
Meu deus, eu oro pelo seu arco, que não sabe como dar um tiro,
sem ninguém, mas o dia e a noite eu sofro e grito por mim!
Tudo bem, sem mais orações, seu filho da puta, você não vai fugir com ele.
Como minha última força, eu hei de escrever este poema para a polícia:
Foi o amor!
O Amor me matou.
(AP V.215)

Como podemos ver, a musa de Meleagro é, no entanto, não o amor romântico, mas o amor perdido, o sofrimento amoroso e a dor do afastamento de seu objeto amoroso seja pelo simples fim do encontro noturno em que eles estava juntos ou o término do relacionamento. Meleagro constantemente canta para os "ratinhos" que ele perdeu, para o amor que se foi, para o desejo não realizado e a dor que irrompe-lhe o coração, porém esta não é uma metáfora para a proibição em relação ao homoerotismo, a mesma pena que dedica-se ao fim de relacionamentos entre homens também canta o fim de amores entre homens e mulheres. É o poeta que, provavelmente, se encanta com este momento tão doloroso na vida de tantas pessoas e, por isso, que decide imortaliza-los em sua poesia. 

4 comentários:

  1. Nossa Foxx, belo texto. Eu adorei os poemas. É por isso que lhe falei que você não pode parar de escreve-los, são textos que além de servirem para aumentar nossos conhecimentos, são maravilhosos.

    Caio Jr. - RN

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    1. fico feliz que tenha gostado, Caio, é muito bom saber que alguém gosta, mas fica bem difícil de saber disso quando não se tem comentários né?

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  2. Fantástico!! São belos poemas, afinal!

    Achei muito chique a tradução ser feita por vc... hehehe

    Abraços, querido!

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    1. Brigado, moço, fico feliz que tenha gostado.

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway