Falar sobre subcultura é caminhar na corda bamba. Isto porque para alguns o conceito é rizível, para outros é o centro de explicações complexas sobre o comportamento de grupos sociais. Mas, apesar disso, todos concordam com sua definição. Uma subcultura é um tipo de cultura que se constrói sob uma cultura oficial, isto é, é uma forma de ler a realidade utilizando símbolos da cultura oficial, porém dando a eles significados próprios que só são entendidos pelo grupo no qual a subcultura foi gestada. Para alguns ela não é possível porque dentro de grupos sociais a cultura é compartilhada por todos igualmente. Um exemplo daqueles que pensam desta maneira são os marxistas clássicos. Estes não aceitam a ideia de subcultura porque dado a oposição burguesia x proletariado, e sendo a burguesia nesta situação a única produtora de cultura, revestida com o nome de ideologia. Sendo assim não existe espaço para outras subculturas e, muito menos, outras ideologias. Para este entendimento do processo social, a cultura só existe no mundo burguês e é repetida pelo proletariado, o único outro grupo social, o que garante a dominação do segundo pelo primeiro.
Os novos marxistas, para não compararmos alhos com bugalhos, do grupo renovado por E. P. Thompson, historiador inglês, já garantem que a produção cultural também é tarefa dos grupos que não estão no topo da pirâmide social. O proletariado também é capaz de produzir cultura e cultura contestadora capaz de absorver, apropriar-se, resignificar e modificar elementos da cultura burguesa ou, ultrapassando a discussão marxista, da elite dominante. Aqui, a capacidade do outro grupo reler a cultura dita oficial sobre seus próprios termos cria a possibilidade da construção de subculturas associadas a grupos sociais. E, como a sociologia e a antropologia vêm mostrando, associado a grupos cada vez menores.
Dito isto, podemos falar em subcultura gay? Sim e não! Sim, porque é inegável a construção de uma homocultura a partir da década de 1930 na Europa e, em seguida, no Pós-Guerra americano, neste último intensamente influenciada pela contra-cultura (ler mais sobre isso aqui e aqui). Contudo temos que dizer não se pensarmos que a homocultura é um bloco único. A homocultura não é, mais, uma subcultura coesa. Afinal, se uma subcultura nasce exatamente da contestação de uma cultura hegemônica - no caso, heteronormativa - é natural que, ao tornar-se hegemônica dentro do grupo social ao qual ela se liga, haja, rapidamente, reações de contestação criando subculturas dentro da subcultura.
É da própria contestação da hegemônia homocultural que surgem as variações da cultura gay como os Ursos (é inegável a aversão ursina ao padrão estético que se tornou hegemônico no mundo gay); os HSH ("Homens que fazem Sexo com Homens" que negam até o próprio título de homossexual ou gay); os "Sou Gay, Mas Não Sou Efeminado" (que se manifestam vivamente contra o que eles chamam de estereótipo da cultura gay); também podemos citar o grupo yupie (que criou símbolos de status associados com o poder aquisitivo, como baladas caras, moda, perfumes e jóias, integrando-se ao mercado); ou o grupo cristão (católico e evangélico que mantém suas vidas dentro de padrões que são aceitos pelos grupos religiosos que se filiam), poderíamos citar vários outros grupos, porém a ideia é que apesar destes todos, em grande parte, participarem de uma homocultura comum, eles reagem a ela construindo novas formas de ler a sociedade do qual fazem parte a partir de novos símbolos.
É por isso que eu digo Foxx... EU SOU URSO!!! kkkkkkkkk
ResponderExcluirComo sempre, seu texto foi impecável... Seu blog já virou referencia bibliográfica para mim...
Um beijo Foxx... Até o próximo
Mais um texto fantástico. tenho indicado seu blog aqui na terrinha o que tem rendido comentários bem interessantes nas conversas noturnas no MSN. Valeu por manter este blog sempre tão atualizado e com textos tão relevantes. Nós precisamos de mais uns 10 Foxx no Brasil.
ResponderExcluirPoxa, que aula e que legal esse tema.
ResponderExcluirUm texto interessante e bom de ler.
Muito bem explicado. Vc acha que isso se aplica as homossexuais femininas? Também se formam essas variações, esses subgrupos?
Ah!, nem é O QUE vc escreve mas é COMO e fico imaginando vc falar... e acho engraçado. O último que li foi no blog do Paulo.
Beijokas, meu querido, feliz Natal e um 2011 feitinho pra vc.
Agora sim, concordo plenamente com seu texto. :D Abração!
ResponderExcluirTexto BRILHANTE! Fiquei tão impressionado que, em breve, escreverei algo sobre essa temática.
ResponderExcluirPARABÉNS querido!
FELIZ NATAL!
Eu gosto de textos como este, não que os outros não me agradem ou agradem menos, apenas é uma sensação diferente que me agrada profundamente.
ResponderExcluirNa primeira parte, quando você fala da visão marxista, me lembrei de Bakhtin, já que a teoria bakhtiniana contempla essas possibilidades que o marxismo, que na sua época era o pensamento oficial na Rússia, não concebia como possível.
Acho que é isso.
Beijo, raposinha fofa!
Boas Festas!
Dan.
Um... então, se eu entendi, subcultura é algo como o protestantismo?
ResponderExcluirBom, acho que é normal pensar que cada grupo adapta a sua normatividade a seu tipo de comportamento, afinal, se você goza (ui!) da "liberdade" de seguir por um caminho, não é natural que procuremos aquele que se ligue mais a algo que nos deixe confortável? E se isso não existe, ou se sofre imensamente com isso, ou se cria algo novo :p
Um beijo primo!
só te uma coisa em comum com todos eles. Madonna.
ResponderExcluireu sei, saí do sentido do texto.
vc sabe q eu adoro qd vc escreve essas teorias históricas, pq eu tenho poucas oportunidades de ler sobre isso.
é interessante isso de sub-cultura, porque a gte pega coisas da cultura e elas se tornam tipicamente nossas, como é o caso dos gays.
lady gaga, Cat Power, Caio F. Abreu, Chico Buarque e a maldita Madonna.
Adorei o texto... e concordo completamente! É sim possível uma subcultura dentro de uma outra oficial! Acho que é isso que as tornam mais interessantes!
ResponderExcluir***
Aliás... também chorei com o curta queridÓn... por isso indiquei a todos... vale a pena compartilhar sentimentos!
***
umBeijo!
;-D
Nossa, que texto! Eu gosto dos seus textos assim, porque além de culto, dá um novo ângulo pra coisas que a gente vê todo dia. Sei lá, eu curto e me desperta interesse. Muito poder.
ResponderExcluirGente estudada é outro nível, né? ^^
ResponderExcluirGosto pra caramba desses seus textos cabeça, Foxx, ainda mais porque ainda estou meio que explorando esse universo gay... sempre "buscando conhecimento", hehehe
Bjo e abração! E desculpe pela demora de ler o post, ^^"
otimo! otimo ter gente pensando por perto.
ResponderExcluir[j]
Na verdade as fotos não são aquelas q melhor definem um cafuçu, mas foram as q encontrei e q mais se aproximavam.
ResponderExcluirNa verdade a foto q ilustraria o post seria a foto do AD de cueca nova q ele não me mandou ainda! kkkk
bjão
;-)
Não. também falamos do público gay! Mas não só isso. Tudo que retratar Recife/Pernambuco já vale. Temos muitas carências de blogs, não podemos nos limitar a um nicho apenas. Embora, o público gay seja nosso principal alvo.
ResponderExcluirMuito bom seu texto
ResponderExcluirMas isso não é um fenômeno exclusivamente gay, como você mesmo insinuou no início. O ser humano tem se mostrado cada vez mais criativo na forma de se auto-afirmar, e sempre uma criatividade voltada para a inserção em um grupo social. Mesmo que haja a importância de se fazer único, ainda sim somos necessitados de uma identificação com o próximo.
Não desqualifico ou desmereço as subculturas gays - que para mim, sim, podemos/devemos falar delas - penso que elas só enriquecem a maneira que podemos ser vistos.
Não há nem a necessidade de a pessoa se afirmar dentro de uma subcultura, porque naturalmente isso acontece e ela se agrega aos de pensamentos semelhantes, com as mesmas condutas. Claro que há pessoas que não tem oportunidade de se encontrarem com outros "do seu grupo", mas isso já é outra história
Beijo, seu marombeiro
Foxx,
ResponderExcluirAmei o texto, meus parabéns. Repito as palavras do Julio: Torna-se uma referencia bibliografica para mim. Bjs e Feliz Natal.
Ultimamente seus textos andam interessantíssimos!
ResponderExcluirAcredito que tudo isso se deve a velha história de que ninguém é igual a ninguém. Já conheci alguns amigos de amigos meus, gays, que não achei nada interessantes e que héteros seriam muito mais interessantes para uma amizade mais sólida. Conforme os grupos aumentam e se definem, acredito que cada vez mais tornam-se heterogêneos.
Beijo!
Sua observação sobre a frase de Mandela é oportuna e pertinente, mas acredito q possa tb ser contextualizada de forma mais ampla ... para o meu momento atual ela caiu como uma luva ...
ResponderExcluirbjão amigo
um 2011 GENIAL
;-)
Mais um belo texto, Foxx! Interessantíssimo... Quanto ao sim e não sobre a existência da subcultura gay, eu volto um pouco no tempo para lembrar das aulas de matemática: os conjuntos hehehe. Acho que existe sim uma subcultura gay maior, que é a contestação da cultura hétero. Mas a existência de sub-subculturas não descaracteriza a subcultura.
ResponderExcluirVejamos: acho que o que mais caracteriza a subcultura é a oposição a uma cultura vigente, não a homogeneidade interna.
Isto posto, os gays se "opõem" à cultura hétero e, tomada isoladamente, esta subcultura pode ser dividida entre aqueles que se contrapõem num determinado ponto. E para diversificar ainda mais, temos os que podem facilmente pertencer a diversas sb-subculturas.
Num mundo tão HETEROgêneo como o mundo gay, às vezes fica mais fácil classificarmo-nos por aquilo a que nos opomos do que pela homogeneidadae enquanto grupo.
Xêrooo e feliz ano novo!
A busca por Pertencer ou Fazer Parte nunca cessa, não é? E nisso símbolos são apropriados, re-apropriados e reciclados.
ResponderExcluirGostei.