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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Cultura, Homocultura, Subcultura

Falar sobre subcultura é caminhar na corda bamba. Isto porque para alguns o conceito é rizível, para outros é o centro de explicações complexas sobre o comportamento de grupos sociais. Mas, apesar disso, todos concordam com sua definição. Uma subcultura é um tipo de cultura que se constrói sob uma cultura oficial, isto é, é uma forma de ler a realidade utilizando símbolos da cultura oficial, porém dando a eles significados próprios que só são entendidos pelo grupo no qual a subcultura foi gestada. Para alguns ela não é possível porque dentro de grupos sociais a cultura é compartilhada por todos igualmente. Um exemplo daqueles que pensam desta maneira são os marxistas clássicos. Estes não aceitam a ideia de subcultura porque dado a oposição burguesia x proletariado, e sendo a burguesia nesta situação a única produtora de cultura, revestida com o nome de ideologia. Sendo assim não existe espaço para outras subculturas e, muito menos, outras ideologias. Para este entendimento do processo social, a cultura só existe no mundo burguês e é repetida pelo proletariado, o único outro grupo social, o que garante a dominação do segundo pelo primeiro.
Os novos marxistas, para não compararmos alhos com bugalhos, do grupo renovado por E. P. Thompson, historiador inglês, já garantem que a produção cultural também é tarefa dos grupos que não estão no topo da pirâmide social. O proletariado também é capaz de produzir cultura e cultura contestadora capaz de absorver, apropriar-se, resignificar e modificar elementos da cultura burguesa ou, ultrapassando a discussão marxista, da elite dominante. Aqui, a capacidade do outro grupo reler a cultura dita oficial sobre seus próprios termos cria a possibilidade da construção de subculturas associadas a grupos sociais. E, como a sociologia e a antropologia vêm mostrando, associado a grupos cada vez menores. 
Dito isto, podemos falar em subcultura gay? Sim e não! Sim, porque é inegável a construção de uma homocultura a partir da década de 1930 na Europa e, em seguida, no Pós-Guerra americano, neste último intensamente influenciada pela contra-cultura (ler mais sobre isso aqui e aqui). Contudo temos que dizer não se pensarmos que a homocultura é um bloco único. A homocultura não é, mais, uma subcultura coesa. Afinal, se uma subcultura nasce exatamente da contestação de uma cultura hegemônica - no caso, heteronormativa - é natural que, ao tornar-se hegemônica dentro do grupo social ao qual ela se liga, haja, rapidamente, reações de contestação criando subculturas dentro da subcultura. 
É da própria contestação da hegemônia homocultural que surgem as variações da cultura gay como os Ursos (é inegável a aversão ursina ao padrão estético que se tornou hegemônico no mundo gay); os HSH ("Homens que fazem Sexo com Homens" que negam até o próprio título de homossexual ou gay); os "Sou Gay, Mas Não Sou Efeminado" (que se manifestam vivamente contra o que eles chamam de estereótipo da cultura gay); também podemos citar o grupo yupie (que criou símbolos de status associados com o poder aquisitivo, como baladas caras, moda, perfumes e jóias, integrando-se ao mercado); ou o grupo cristão (católico e evangélico que mantém suas vidas dentro de padrões que são aceitos pelos grupos religiosos que se filiam), poderíamos citar vários outros grupos, porém a ideia é que apesar destes todos, em grande parte, participarem de uma homocultura comum, eles reagem a ela construindo novas formas de ler a sociedade do qual fazem parte a partir de novos símbolos.

20 comentários:

  1. É por isso que eu digo Foxx... EU SOU URSO!!! kkkkkkkkk
    Como sempre, seu texto foi impecável... Seu blog já virou referencia bibliográfica para mim...

    Um beijo Foxx... Até o próximo

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  2. Mais um texto fantástico. tenho indicado seu blog aqui na terrinha o que tem rendido comentários bem interessantes nas conversas noturnas no MSN. Valeu por manter este blog sempre tão atualizado e com textos tão relevantes. Nós precisamos de mais uns 10 Foxx no Brasil.

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  3. Poxa, que aula e que legal esse tema.
    Um texto interessante e bom de ler.
    Muito bem explicado. Vc acha que isso se aplica as homossexuais femininas? Também se formam essas variações, esses subgrupos?
    Ah!, nem é O QUE vc escreve mas é COMO e fico imaginando vc falar... e acho engraçado. O último que li foi no blog do Paulo.
    Beijokas, meu querido, feliz Natal e um 2011 feitinho pra vc.

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  4. Agora sim, concordo plenamente com seu texto. :D Abração!

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  5. Texto BRILHANTE! Fiquei tão impressionado que, em breve, escreverei algo sobre essa temática.

    PARABÉNS querido!

    FELIZ NATAL!

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  6. Eu gosto de textos como este, não que os outros não me agradem ou agradem menos, apenas é uma sensação diferente que me agrada profundamente.

    Na primeira parte, quando você fala da visão marxista, me lembrei de Bakhtin, já que a teoria bakhtiniana contempla essas possibilidades que o marxismo, que na sua época era o pensamento oficial na Rússia, não concebia como possível.

    Acho que é isso.

    Beijo, raposinha fofa!

    Boas Festas!

    Dan.

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  7. Um... então, se eu entendi, subcultura é algo como o protestantismo?

    Bom, acho que é normal pensar que cada grupo adapta a sua normatividade a seu tipo de comportamento, afinal, se você goza (ui!) da "liberdade" de seguir por um caminho, não é natural que procuremos aquele que se ligue mais a algo que nos deixe confortável? E se isso não existe, ou se sofre imensamente com isso, ou se cria algo novo :p

    Um beijo primo!

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  8. só te uma coisa em comum com todos eles. Madonna.

    eu sei, saí do sentido do texto.

    vc sabe q eu adoro qd vc escreve essas teorias históricas, pq eu tenho poucas oportunidades de ler sobre isso.

    é interessante isso de sub-cultura, porque a gte pega coisas da cultura e elas se tornam tipicamente nossas, como é o caso dos gays.

    lady gaga, Cat Power, Caio F. Abreu, Chico Buarque e a maldita Madonna.

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  9. Adorei o texto... e concordo completamente! É sim possível uma subcultura dentro de uma outra oficial! Acho que é isso que as tornam mais interessantes!

    ***

    Aliás... também chorei com o curta queridÓn... por isso indiquei a todos... vale a pena compartilhar sentimentos!

    ***

    umBeijo!

    ;-D

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  10. Nossa, que texto! Eu gosto dos seus textos assim, porque além de culto, dá um novo ângulo pra coisas que a gente vê todo dia. Sei lá, eu curto e me desperta interesse. Muito poder.

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  11. Gente estudada é outro nível, né? ^^

    Gosto pra caramba desses seus textos cabeça, Foxx, ainda mais porque ainda estou meio que explorando esse universo gay... sempre "buscando conhecimento", hehehe

    Bjo e abração! E desculpe pela demora de ler o post, ^^"

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  12. otimo! otimo ter gente pensando por perto.

    [j]

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  13. Na verdade as fotos não são aquelas q melhor definem um cafuçu, mas foram as q encontrei e q mais se aproximavam.
    Na verdade a foto q ilustraria o post seria a foto do AD de cueca nova q ele não me mandou ainda! kkkk

    bjão

    ;-)

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  14. Não. também falamos do público gay! Mas não só isso. Tudo que retratar Recife/Pernambuco já vale. Temos muitas carências de blogs, não podemos nos limitar a um nicho apenas. Embora, o público gay seja nosso principal alvo.

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  15. Muito bom seu texto
    Mas isso não é um fenômeno exclusivamente gay, como você mesmo insinuou no início. O ser humano tem se mostrado cada vez mais criativo na forma de se auto-afirmar, e sempre uma criatividade voltada para a inserção em um grupo social. Mesmo que haja a importância de se fazer único, ainda sim somos necessitados de uma identificação com o próximo.
    Não desqualifico ou desmereço as subculturas gays - que para mim, sim, podemos/devemos falar delas - penso que elas só enriquecem a maneira que podemos ser vistos.
    Não há nem a necessidade de a pessoa se afirmar dentro de uma subcultura, porque naturalmente isso acontece e ela se agrega aos de pensamentos semelhantes, com as mesmas condutas. Claro que há pessoas que não tem oportunidade de se encontrarem com outros "do seu grupo", mas isso já é outra história

    Beijo, seu marombeiro

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  16. Foxx,

    Amei o texto, meus parabéns. Repito as palavras do Julio: Torna-se uma referencia bibliografica para mim. Bjs e Feliz Natal.

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  17. Ultimamente seus textos andam interessantíssimos!

    Acredito que tudo isso se deve a velha história de que ninguém é igual a ninguém. Já conheci alguns amigos de amigos meus, gays, que não achei nada interessantes e que héteros seriam muito mais interessantes para uma amizade mais sólida. Conforme os grupos aumentam e se definem, acredito que cada vez mais tornam-se heterogêneos.

    Beijo!

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  18. Sua observação sobre a frase de Mandela é oportuna e pertinente, mas acredito q possa tb ser contextualizada de forma mais ampla ... para o meu momento atual ela caiu como uma luva ...

    bjão amigo

    um 2011 GENIAL

    ;-)

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  19. Mais um belo texto, Foxx! Interessantíssimo... Quanto ao sim e não sobre a existência da subcultura gay, eu volto um pouco no tempo para lembrar das aulas de matemática: os conjuntos hehehe. Acho que existe sim uma subcultura gay maior, que é a contestação da cultura hétero. Mas a existência de sub-subculturas não descaracteriza a subcultura.

    Vejamos: acho que o que mais caracteriza a subcultura é a oposição a uma cultura vigente, não a homogeneidade interna.

    Isto posto, os gays se "opõem" à cultura hétero e, tomada isoladamente, esta subcultura pode ser dividida entre aqueles que se contrapõem num determinado ponto. E para diversificar ainda mais, temos os que podem facilmente pertencer a diversas sb-subculturas.

    Num mundo tão HETEROgêneo como o mundo gay, às vezes fica mais fácil classificarmo-nos por aquilo a que nos opomos do que pela homogeneidadae enquanto grupo.

    Xêrooo e feliz ano novo!

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  20. A busca por Pertencer ou Fazer Parte nunca cessa, não é? E nisso símbolos são apropriados, re-apropriados e reciclados.

    Gostei.

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway