Rosa Maria era uma bela mulata com certeza. E Inácio acreditara que estava apaixonado por ela. Tinha certeza no alto dos seus quinze anos de experiência. Mas não podia voltar ao lupanar. Aquela idade, sem dinheiro, nem passar pela porta ele conseguia. Tereza não permitia! Ele tentava relembrar aquela noite quase sempre, o prazer que sentiu era uma experiência que ele conseguia acessar com facilidade, era muito real. Mas todas as vezes que Inácio contou-me aquela história. Todas as vezes que ele tentava lembrar, Rosa Maria era uma presença forte, mas o mulato desconhecido do outro cubiclo era o que fazia com que sua excitação alcançasse o clímax. Inácio não entendia porque isso acontecia, talvez porque sua fixação por Rosa Maria era tanta que não lhe deixava ver o que ele realmente procurava.
Não era incomum o rapaz fugir no
meio da noite para ir espiar as janelas do lupanar. Dizia para si que procurava
Rosa Maria e raramente conseguia ver o sorriso sem dentes dela ou ela no colo
de algum cliente. O mais comum que ele conseguia enxergar eram as outras das
raparigas que trabalhavam na casa de Tereza, com seus clientes, os quais ele
sempre tentava enxergar com mais detalhes. Sem saber porque sempre se
decepcionava após conferir quem era freguês.
Decepções e poluções noturnas eram
passadas sem nenhuma parcimônia. Inácio crescia irritado e arredio. Jandira
percebera a diferença no filho e ralhou Marcolino.
–
Fizeram algo com ele, omi! E foi naquele lugar!
Inácio parou de cantar as canções da
igreja e não frequentou mais a missa de São Miguel, para tristeza da mãe. Agora
ele aprendera a pitar um cigarro de palha e cantar baixinho canções de cabaréque
ouvia da janela. Fazia isso do outro lado do terreiro, ao fundo da casa,
embaixo de um umbuzeiro. Tornara-se menino-rapaz agora.
Logo arranjou lida também.
Trabalhava na roça do velho José Pedro. Plantava a mandioca, regava as plantas
com água que carregava na cabeça da lagoa, arrancava o capim e as flores da
Lundia que teimavam em crescer e destruía os ninhos das tocandiras. Trabalhava
dia e noite esperando receber o ordenado, poucas patacas que, da primeira vez
que recebeu, descobriu que teria que esperar pelo menos mais três meses para
poder voltar a casa de Tereza.
Mas um dia juntou o dinheiro e
voltou. Entrou arrumado com roupa de domingo e perfumado, com um cravo que
roubou do jardim da igreja na lapela, com o cabelo muito bem penteado, entrou
com ar garboso na casa de Tereza. Ela riu do outro lado da sala quando o viu
chegar. Devia pensar quem aquele moleque pensava que era, mas se aproximou e
com simpatia falou-lhe:
- Seja bem vindo, seu Inácio. Que posso
oferecer-lhe?
O olhar nervoso de Inácio entregava-lhe a curiosidade. Ele
procurava pelo salão Rosa Maria. Mas ele não
consegui pronunciar-lhe o nome. Na verdade ele mal conseguiu pronunciar
qualquer palavra. Tereza, mulher experiente, apenas o guiou até uma mesa e fê-lo
sentar.
- Bebe alguma coisa?
Ofereceu ela.
Ele assentiu com um movimento de cabeça e ela chamou uma
das garotas que lhe trouxe um vinho de catuaba. O copo chegou-lhe a mesa cheio
e ele tomou de um gole e pediu outro. Tereza riu. Dizendo:
-
Cuide bem do senhor Inácio, cabrita.
Ele
ignorou a piada e continuava a olhar o salão por debaixo de suas
sobrancelhas esperando Rosa Maria. No entanto ela demorou a aparecer, ele já
tinha bebido pelo menos seis ou sete copos de vinho quando a mulata adentrou o
salão. Sorria para todos, senhora
do lugar. Inúmeros homens avançaram para convidando-a
para sentar, mas ela encontrou Tereza no meio do caminho que cochichou algo
entre sorrisos em seu ouvido e ela o viu sentado lá. Quando Rosa Maria sorriu,
Inácio sentiu seu coração congelar por dentro. Um frio
tomou-lhe as entranhas e eles quis fugir, mas as pernas não
lhe obedeceram. Ele entendeu que era o amor que lhe fazia ficar, eu acho que era
o vinho. E tudo piorou quando ele viu
que ela caminhava até ele. Não diretamente. Ela parou em várias
mesas antes de chegar ao local que ele estava sentado. Sentou-se ao lado dele:
-
Que bom revê-lo.
Foram
as primeiras palavras que disse. Inácio não teve coragem de olhar-lhe
nos olhos, apenas levantou-lhe o copo de vinho, como se brindasse a sua presença.
Rosa, sorrindo, continuou a falar:
- Espero
que depois de pagar por todo o vinho que você tomou, sobre algum dinheiro para
nos encontrarmos mais tarde.
Disse
isso e levantou-se.
Inácio
ficou paralisado. Olhou a bolsa que tinha trazido com o salário de três meses,
sobraram-lhe patacas e uma tontura tomou-lhe as vistas. Ele levantou-se de súbito
e mirou a porta de saída com dificuldade. Não foi fácil
caminhar até lá. Mais difícil ainda foi chegar até em casa, bêbado, e com lágrimas
nos olhos.
Uma trama que aguçou minha curiosidade. Espero o proximo capitulo.
ResponderExcluirabraços