Google+ Estórias Do Mundo: "...Alguma Coisa de Um Sábado a Noite"

terça-feira, 29 de maio de 2012

"...Alguma Coisa de Um Sábado a Noite"

, em Natal - RN, Brasil
I

Eu estava no ponto de ônibus, esperando-o para encontrar o Miguel e irmos para a Vogue. Sábado a noite, passava das 22:30h, quando ele surgiu do meu lado, como quem brota da terra, feito um demônio súcubo. "Vai p'ra onde bonito assim?", falou e, antes de eu responder, ele já havia levantado a camisa para exibir o abdômen perfeito. Meus olhos devem me denunciar profundamente nestes momentos porque o sorriso de satisfação que ele coloca no próprio rosto chega a me irritar. Respondi que ia encontrar amigos. "Ah, se você tivesse um tempo a gente bem que podia ir para um motel que tem ali". Eu olhei para ele, interessado em saber como ele concluiria o convite. "O motel custa apenas sete reais, o que me diz?". Minhas sinapses pipocaram. Lembrei que eu estou a sete meses sem sexo, olho para o corpo lindo que se oferece para mim ali, com certeza seria muito divertido, mas também não consigo não me preocupar em como eu me sentiria depois se entrasse neste relacionamento que nos usaríamos somente para sexo e que nunca evoluiria para nada mais que isso, afinal ele "é hétero". Posterguei então. "Ah, querido, eu tenho que ir agora. Já estou atrasado, na verdade. Fica para uma outra oportunidade". Ele me encara decepcionado e prepara-se para contra-argumentar. "Ó, meu ônibus 'tá vindo ali. 'Té mais!" E estendo a mão para ele apertar. "Até, então... ah, mas antes tu não teria 2 reais aí que pudesse me arranjar?". Aí eu lembrei que tem esse problema dele estar investindo em mim somente por vantagens financeiras.

II

Eu estava na área externa da Vogue, numa área em que existe um vídeo-bar, que naquele noite estava integrado a pista dado a quantidade de pessoas que haviam resolvido vir assistir aquele dj paulista tocar. Naquele momento que tocava "hey-ey-ey, like a girl gone wild, a good girl gone wild" foi quando ele passou por mim sorrindo e eu sorri em resposta,e ele falou baixinho: "Volto já!". Ele foi até o bar e comprou uma caipirinha em um copo de plástico, descartável. "Você está sozinho?", me perguntou e eu respondi que estava esperando meu amigo retornar do banheiro. "E o namorado, onde está?", eu ri da pergunta e disse que não tenho namorado. "Não acredito!", foi sua reação imediata, "Alguém como você, com certeza, tem namorado!". Eu ri alto, ele sorria do meu lado, um sorriso bonito que combinava com seu rosto e com a cara de safado que usava. Ele tinha o corpo fora de forma, não gordo, apenas fora de forma. E me convidou para acompanhá-lo de volta a pista de dança. Foi neste momento que eu lhe perguntei: "Você realmente não se lembra de mim?". Ele empalideceu e gaguejou uma resposta que nem ouvi. "Nós já ficamos uma vez e você nem lembra?". Enrubescido, notadamente envergonhado, gaguejando se afastou, se misturando as pessoas que dançavam na parte interna da boate.

III

Converso numa roda de conhecidos sobre o coral que faço parte, e me afastou para apagar no cinzeiro de vidro sobre a mesa o cigarro Lucky Strike que tenho entre os dedos. É quando um menino de regata branca me chama para outro grupo. "Posso te apresentar um amigo?". Consenti e ele me apresentou um menino negro, de cabelo raspado na lateral e alisado com algum produto químico, vestido uma camisa Cyclone. Conversamos um pouco, até o Miguel se aproximar trazendo uma lata de cerveja para mim e eu pedir licença porque precisava ir ao banheiro. Foi quando meu amigo, após sua quarta caipirinha, falou para o menino: "Mas não se preocupe que quando ele diz isso é porque ele não vai voltar". Eu me virei chocado. O menino também estava surpreendido, mas se recuperou rápido e foi o primeiro a falar: "Tudo bem, não tem problema. Foi um prazer te conhecer". Eu tentei negar que este não era o meu objetivo, eu realmente pretendia ir apenas até o banheiro e voltar. Ele então estendeu sua mão para mim que eu apertei e ele disse: "Se você voltar, de qualquer forma, vai ficar parecendo que fez isso somente para provar que seu amigo estava errado, então... vamos manter assim? Foi um prazer!". Eu senti minhas bochechas ficarem rubras e fuzilei o Miguel com o olhar, que brincava inocentemente com o canudo do seu copo, girando as pedras de gelo. "Desculpe meu amigo, então...". Ele sorriu e voltou a seus amigos, foi quando puxei o Miguel. "Como você faz uma coisa dessas?". Ele revirou os olhos, bebeu um gole de sua caipirinha e falou: "Se ele tivesse um pouco mais de atitude tinha era te beijado naquela hora", eu continuava o olhando incrédulo, "e eu bem sei que você não ficaria com ele, muito feio!". 

IV

Ele é lindo. Achei desde o primeiro momento, a descendência árabe da-lhe um charme especial e a inteligência de quem estuda questões de gênero e pesquisa o meio ursino entre os gay me chamaram bastante atenção. Neste mesmo dia ele me pediu um beijo e não vi motivos para negar-lhe, até ele terminar, e me dar uma nota. "Oito!", disse, e eu o olhei sem entender, ele sorriu como uma criança que brinca com a própria comida, "É que estou dando notas para os beijos hoje. O seu é bom, mas não perfeito!". Eu sorri, mantive a pose, apesar da minha vontade de espalmar meus dedos naquele rosto coberto por uma barba espessa. Naquela noite ele passou por mim e me enlaçou a cintura, me puxou e já pretendia um beijo, quando eu parei e disse não. Ele ficou surpreso! Olhava-me de olhos arregalados quando eu expliquei: "É que eu não quero ser avaliado hoje não!".

V

Os amigos dançam juntos quando um conhecido, de muito tempo, Caelus, me cumprimenta. Pergunta se voltei de vez para Natal e sobre os nossos antigos amigos em comum. Conto-lhe que não tenho mais nenhum contato com eles. "Por culpa do Fê, não é?". Eu arregalei os olhos, mas concordei. "Eu nunca gostei daquele menino, de verdade!". E ele conta porque não gostava de nosso antigo amigo em comum, e não deixo de demonstrar que suas palavras me surpreendiam. É quando o Miguel se aproxima, novamente, e eu apresento os dois, o Caelus, no entanto, se aproxima de mim e se deixa abraçar e eu, inocentemente, envolvo sua cintura com meu abraço e pouso minha mão na bunda linda dele. Ele não se incomoda e continuamos conversando. É quando eu lembro que preciso pegar o telefone de um amigo que está mais a frente porque ele decidiu participar do coral e eu vou precisar conversar com ele. Peço licença e deixo Caelus conversando com o Miguel quando me aproximo do meu amigo e peço-lhe o telefone. Troco mais algumas palavras com ele, enquanto uma go-go girl tira a roupa em cima do palco sob os olhos atentos de um dj que babava sobre ela. Foi quando retornei para perto do Caelus e Miguel e o primeiro dirigiu-se, sem alterar a voz e sempre com um sorriso no rosto meio irônico, a mim, dizendo: "Como assim você sai de perto de mim p'ra pegar o telefone de outro?". Eu me surpreendi e tentava responder que era meu amigo. "Me deixou aqui sozinho com alguém que eu nem conheço". Eu tentava me desculpar, mas ele mantinha um sorriso que me fazia achar que aquilo tudo não passava de uma brincadeira. "Preciso ir...", ele falou e saiu andando. Tentei segurá-lo, mas ele não quis ficar e quando eu o procurei, novamente, não o encontrei mais, dado a boate estar tão lotada. Foi quando só me restou me xingar: idiota, idiota, idiota!


46 comentários:

  1. Que relato! Até me senti nessa boate lotada, rs.
    Eu ainda me surpreendo com vc, Foxx. Como assim sair de perto de alguém por quem você se sentiu atraído e curioso pra buscar o tel de um terceiro? Tinha que ser naquele exato momento?
    Isso foi ingenuidade ou uma demonstração desnecessária de desapego ou incredulidade às pessoas? Pergunto isso porque tenho notado nas últimas postagens que vc não tem se esforçado para voltar a acreditar nas pessoas, romanticamente falando, claro.

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    1. eu sai por ingenuidade mesmo, Junnior, não esperava q ele estivesse interessado em mim... e sim, é verdade, não tenho me esforçado para acreditar nas pessoas, então, em momento algum eu cogitei que ele poderia estar interessado em mim...

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  2. Já não consigo pensar em mim vivendo situações parecidas.
    Deixei de frequentar bares e discotecas gays...
    Nada como ter alguém que se ama e que nos ama; vale tudo o mais!

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    1. verdade, infelizmente, ninguém é capaz de me amar né, João?

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  3. Que noite hein?! Putz! Ninguém merece!

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  4. Então, a gente já pode querer matar seu amigo Miguel???

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  5. Posso falar uma coisa? De boa, apenas uma impressão... você passa essa sensação pra gente que sua atenção está dispersa em n assuntos. É raro você estar focado. Pelos textos eu “acho” (bem achismo mesmo) que tanto o carinha da história III (isso é hora de ir ao banheiro?) e o outro da história V (isso é hora de se interessar pelo telefone do outro?... tem dó!) se sentiram mesmo fora do seu foco de atenção. E dependendo da pessoa, não tem nada pior, essa sensação de que se é preterido pura e simplesmente.

    Beijos.

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    1. na verdade, cesinha, é exatamente isso. pq eu me focaria nesses caras se eles não estão tão interessados por mim que o simples fato de eu ter ido no banheiro ou falado rapidamente com outra pessoa os fazem desistir?

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  6. Concordo com o CC. Isso não é um amigo, isso é um encosto.
    ab.

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  7. Mas que gente teperamental tb, hein?? Que saco.. Muita frescura pra minha cabeça... Antes ficasse com o primeiro que vc chamou de.. rss.. Hetero...

    Saradinho, oferecido.. motel de 7,00 reais... Amo!! Sou Dessas... Melhor isso do que gente q fica amgoada qdo vc pega o tel de um amigo ou vai ao banheiro.... Muita frescura, muita firula, muita pressão baixa...preguicinha mode on

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    1. ser hétero, como ser gay, é uma identidade, tenho a consideração de chamar a pessoa sempre pelo q ela se identifica.

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  8. seu sábado foi mais movimentado que o meu, no casamento da high society daqui onde eu me senti um peixe fora d;água por completo.

    e vc sabe, eu tinha ido pagar o motel com teu vizinho de boa. hehehe

    bjao

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    1. o problema não é pagar o motel, é pagar por ele, mesmo sendo 2 reais.

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  9. Escalpelando o amigo em 3, 2, 1... hahahahaha!
    Foxxito, gracias pelo teu comment, querido. 'Dorei! Hugz!

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  10. O que me mataria era a nota. Isso é terrível!!

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    1. pra mim o que me mata é ser tratado como descartável. isso me mata. convenhamos, vc pode ficar com uma pessoa por uma noite, sem trata-la como descartável, sem ficar já contando os minutos para dispensa-la, é preciso ter pelo menos o mínimo de respeito pelos sentimentos do outro que está ali com você.

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  11. Entendo como vc se sente nessas situações.
    As coisas comigo sempre foram piores ainda!
    Não sei se somos nós, se são eles. Provavelmente a soma de dois desencontros. Do que não resulta mesmo um encontro.
    Não, comigo, nesses ambientes, nunca deu certo.
    Desisti.
    Encontrei outras praias. Felizmente.

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    1. felizmente! e fico muito feliz que vc tenha encontrado!
      e também acho q este não é o melhor espaço mesmo, mas, convenhamos, pra mim qual seria o bom espaço?
      o bom espaço é quando vc encontra alguém disposto a ficar com vc, mas encontrar alguém disposto a ficar comigo (sem eu pagar por isso) ai sim nós nos deparamos com um problema.

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  12. Foxx:

    Queridon na boa??? Eu acho q cancelava o "pograma de índio" da boate(rsss) e ficava no tal motel com o gostosão do ponto de ônibus...hahahahaha. Eu podia vir aqui com um discurso moralista e fazer "a chique"..but...ia mesmo me esbaldar no motel. Foi pra boate e surtiu em que??? Afeeeeee...rs
    Linda semana. Abraços.

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    1. o problema do programa do motel é que... eu teria q pagar pelo motel e pelo gostosão... e isso, tenho certeza, me faria depois me sentir um lixo.

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  13. Oi ... Lendo seu relato tive vontade de deixar minhas impressões digitais no rosto do seu amigo Miguel. Que "amigão" você tem hein? Percebo que oportunidades lhe aparecem, algumas completamente dispensáveis ... Agora, outras você perde por inocência ou sei lá o que. Comigo não acontece nem uma coisa nem outra. Choraminguei !! Abraços !!!

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    1. pois é, parece até maldição, quando a oportunidade não é uma total furada, ai algo da errado pra me afastar da pessoa o máximo possível... maldição! karma! caminhos trancados! algo assim...

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  14. Te mandando um catálogo de ofertas em 3, 2, 1... hahahaha! Acho que o sapo Xô Mau Olhado cai bem, hein????? Hehehe!

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    1. verdade, querido. super precisando desse sapo.

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  15. Pelo menos aconteceu "algo" no seu sábado a noite... no meu, NEM isso!

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  16. Então... vou ficar com a turma que vai malhar o Miguel!!!
    Que mala sem alça hein...

    E essa criatura do abdomen de 2 reais te persegue! Sai encosto!

    Abraçaõ

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    1. sim, a criatura do abdômen me persegue...
      queria que alguém legal demonstrasse pelo menos metade desse interesse...

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  17. Não sei se você saiu com 1 amigo ou se tinha saído como baba... belíssimo amigo esse Miguel... enfim... quanto acontecimento nesse sábado seu em amigo... não acabaram como deveriam, mas a sinceridade é que algumas por culpas suas que com muita sensatez você as reconheceu! E vamos que vamos!

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  18. Vc sabe q sempre q leio teus relatos abro o Word pra não me perder?
    Tipo parte A, parte B...
    Tuas reflexões me tomam um tempo maior para análise e, digamos, digestão.
    Isso é um elogio, tá?

    Acho q o q me fica é: Acho q seria tão mais fácil dançar conforme a dança, né?
    Tipo: na parte I seria tão mais fácil se jogar, assim como geral faz.
    Mas vc (e eu) simplesmente não conseguimos. Isso por motivos distintos, mas simplesmente não conseguimos jogar. Isso é bom e ruim.
    E sobre a parte III: teu amigo tinha razão, né? Vc não ia voltar. Ou ia?


    Um bjo.

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    1. sim, querido, é verdade, seria mais fácil entrar nesse jogo, pagar pra ficar com o menino, e eu penso nisso todos os dias, mas tenho mto medo de como vou ficar se eu entrar nesse jogo novamente. muito medo!
      sobre se eu ia voltar, sim, eu pretendia voltar, estava apenas conversando com o menino, mas com as coisas que o Miguel falou, eu fiquei sem jeito de voltar...

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  19. PS: E vc entendeu como funciona a Nota Fiscal Paulista?
    Fiz até um resumo pra vc.

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  20. ninguém merece gente interesseira, ainda mais em relação à dinheiro... enfim...

    no mais, siga sempre seu coração que você vai se dar. tem hora que as coisas não acontecem como esperamos, mas nos resta aprender com elas e seguir em frente.

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    1. pois é, railer, eu tb acho isso...
      não suporto gente interesseira, mas infelizmente é o tipo de pessoa que se interessa por mim

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  21. qtos sentimentos dentro de uma balada... até me assustou... rsrsrs... abraço querido!

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  22. Votou bem! Sempre perspicaz essa raposa! Hehehe!

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  23. Bem... como prêmio-bem-consolação podes aplicar Copertone em mim. Serve? Hahahahaha! Hugz!

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  24. A paradinha do ponto de ônibus é MUITO típica.
    Quem nunca? kkkkkkkkkk

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  25. Febre de sábado há noite hem? ;P

    Essa de deixares um gatão por causa do telemóvel de outro mocinho...caraca, essa não lembra nem ao diabo! xD

    Abraço :3

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway