Google+ Estórias Do Mundo: A Parada Parada

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

A Parada Parada

, em Natal - RN, Brasil
Natal teve neste domingo, 16 de dezembro, a sua XIV Parada do Orgulho LGBT, ela estava programada para sair do bairro de Ponta Negra, que tem o nome da famosa praia potiguar, onde haveria sua concentração e se seguiria-se para a praça da árvore de Natal, em Mirassol, onde um palco traria atrações regionais como cantoras e shows de drag queens, tudo muito simples para um público esperado de não mais do que 100 mil pessoas. Contudo no momento em que os motores dos trios elétricos são ligados, chega a ordem vinda do Corpo de Bombeiros Militares do Rio Grande do Norte, a parada gay não poderia sair.
Os trios elétricos não tiveram permissão do CBM para fazer o pequeno percurso animando o público que já se aglomerava. Eles interditaram os trios elétricos argumentando que eles não ofereciam a segurança necessária; seguiam ordem da Cosern, Companhia de Eletricidade do Rio Grande do Norte, que argumentava que os trios elétricos poderiam cortar os fios de alta tensão ao passar no seu trajeto pela avenida. Os organizadores esbravejaram. Xingava-se a governadora Rosalba Ciarlini, acusava-se de homofobia institucional o Corpo de Bombeiros, o comandante-geral da corporação, cel. Dantas, também não foi perdoado. Foi quando um grito de ordem ecoou pelos altos falantes: "Se eles não permitem que saiamos com os trios, nós ocuparemos a avenida". Os participantes atenderam o apelo e espalharam-se pela avenida Engenheiro Roberto Freire, impedindo o trânsito dos carros e fechando a principal artéria da zona sul da cidade. Perguntava-se se no Carnatal, que havia sido semana passada, os bombeiros também faziam as mesmas exigências de segurança para Cláudia Leite cantar seu Largadinho.
O trânsito constante foi então bloqueado por drag queens em cima de saltos altíssimos e leques imensos. Meninos usando regatas cavadas se espalharam pelo asfalto dançando ao som da musica ensurdecedora que continuava saindo dos trios. Um dos organizadores conclamava: "Lembrem-se em quem vocês vão votar na próxima eleição, meus amigos, nós fomos impedidos de realizar nossa parada porque vivemos num governo homofóbico de uma governadora que usa tailleurs da década de 50 com os brincos mais cafonas que eu já vi na vida". Gargalharam com a comparação que ele fez em seguida entre a governadora e o personagem Valéria, do Zorra Total.
"Who run the world? Girls!" explodindo no outro trio era a trilha sonora de motoristas impacientes  que só podiam olhar enquanto uma drag desfilava sua bunda desnuda na frente do seu para-brisa. Outro organizador grita no microfone: "Fora Rosalba! Somos cidadãos e merecemos respeito!". Outro agradecia, no entanto, o apoio da prefeitura de Natal, que permitira o uso da avenida, na figura da Secretária de Saúde que estava em cima do trio elétrico, também agradecia a Polícia Militar que fazia a segurança e protegiam, agora, os manifestantes dos carros. Por entre os carros então manifestantes resolveram distribuir camisinhas e pediam assinaturas para um projeto de lei que criminalizaria a homofobia. 
Meninas logo colocaram suas garrafas de refrigerante e vodca no chão e faziam círculos onde conversavam animadas e paqueravam outras meninas que passavam por ali. Inúmeros vendedores ambulantes também começaram a tomar o espaço, puxavam seus carrinhos com uma grande caixa de isopor e uma placa imensa dizendo Skol R$ 2,00 e ocuparam a avenida se fixando entre os participantes que dançavam "hey, ey, ey, ey, like a girl gone wild, a good girl gone wild". Uma drag queen convidava as pessoas nos ônibus parados para descer e comemorar o orgulho de ser quem somos. 
A organização do evento tentou uma liminar na justiça autorizando que o evento ocorresse, e conseguiu, porém o comando do Corpo de Bombeiros ignorou completamente a ação. Eles estavam irredutíveis! Então o protesto se manteve. Foram sete horas de trânsito bloqueado. A polícia teve que intervir e criar um desvio após as duas primeiras horas. Mas o congestionamento foi inevitável. As 20:45 da noite, a primeira fala dos bombeiros apareceu. Thaisa Galvão, blogueira natalense de politica, disse que o coronel Dantas afirmava que a questão era exclusivamente a segurança, que os trios elétricos tinham 6 metros e não 5 como fora permitido. "Pode ver que ali na Roberto Freire os fios são baixos e tem até fios de alta tensão". Mas eu lembrei que o trio elétrico do Chiclete com Banana tem 7 metros de altura, e o de Ivete Sangalo 5,40. O tema da parada este ano, "A Homofobia fez isso comigo, e com você?", me pareceu bem apropriado.



25 comentários:

  1. A desculpa é sempre a mesma: estamos zelando pela segurança de todos. Vergonhoso...
    Bjão

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    1. Grande Amigo Wander, imaginemos que hoje é o dia vindouro a realização da 14 Parada Gay e infelizmente um extintor que não estava no suporte e que poderia ter evitado o incendio no trio eletrico, ou que esse mesmo extintor mesmo estando vencido por não estar devidamente no seu suporte estivesse caido na cabeça de um simpatizante de que seria a culpa? Do corpo de bombeiros que fez vista grossa? cada cabeça uma sentença e cada versão uma verdade, vamos ver a historia do corpo de bombeiros para depois criticar.

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    2. Você realmente defende os bombeiros com unhas e dentes, hein amigo? Agora, seria realmente bom se os bombeiros se pronunciassem sobre o assunto e explicassem detalhadamente os motivos pelos quais eles impediram a realização da parada. Seria bem simples mesmo, medir os carros novamente na frente de testemunhas imparciais, afinal a organização diz que nenhum carro passava dos 5 metros enquanto eles afirmam que os carros chegam a 7 metros, a diferença é muito grande. Alguém está mentindo.

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  2. isto me lembra BH!!! depois ainda falam qdo digo q este país é uma terra Tupiniquim! com todos os defeitos só sobra mesmo Sampa ... #fato

    bjão

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    1. Meu medo, Paulo, é não restar nem Sampa pra gente...

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    2. Este medo eu tb, de certo modo tb tenho ... mas sou otimista sabe!

      bjão

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  3. caramba, parada mesmo... mas que bom o pessoal achou um jeito de reivindicar e também se divertir.

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  4. Amo a maneira como o Foxx faz a gente se ambientar numa história. Me senti lá =]

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    1. a ideia era exatamente essa, Nil, que bom que deu certo.

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  5. Foxx:

    Se não vai por bem, vai por mal..hahahaha.

    Abraços, querido.

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  6. E eu que sempre tive um fetiche por bombeiros...rss.

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    1. eu tinha um colega de faculdade bombeiro, gostoso que só ele, que sempre repetia pra mim que sodomia é crime militar. kkkkkkkkkkk
      acho q ele notava meus olhares desejosos na bunda dele.

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  7. Parece que o Governo até colaborou com o tema da parada "A homofobia fez isso comigo, e com você?". Outra coisa que, no fundo é boa, a meu ver é a briga. O Governo queria impedir que a parada acontecesse, mas, se não tem cão caça com gato, e a parada aconteceu e, ainda por cima com esse fantástico bloqueio das ruas. É isso o que precisa: mostrar os dentes de vez em quando, e mostrar que a comunidade gay já é um "órgão" independente, conta com muita gente disposta a se unir para curtir. O resultado de tudo me pareceu ótimo! Bjs. Zeca.

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    1. Eu gostei também. Achei que as pessoas se divertiram com consciência política do que estavam fazendo ao ocupar a pista. Foi ótimo.

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  8. Este mundo só pode estar perdido mesmo.

    Beijo!

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  9. Foxx, sua forma de descrever nos insere perfeitamente no contexto, pelo bom texto (excelente, mas queria apenas rimar com e bom).
    Agora, abstraindo a questão da discriminação, da homofobia que pode estar implícita na decisão das tais "otoridades":

    Admitindo que houve festas anteriores com trios idênticos ou mais altos, passando pelas mesmas ruas ou com configurações idênticas ou muito similares:

    1) houve descaso, prevaricação, no caso do Carnatal, já que não tomaram as medidas de segurança que deveriam ter tomado; se foi isso, seria bom lembrar os tais bombeiros do ocorrido há algum tempo em São Luiz do Piraitinga, SP, durante um carnaval há uns dois anos; ou

    2) houve excessivo e exorbitante rigor no caso da Parada, e aí, se infundado, não fundamentado em razões técnicas, admitida a correção das permissões dadas ao Carnatal para condições similares de trios e vias... Se não eram legais nem técnicas...

    Em ambos os casos, acho que dava uma boa ação civil pública. Em qualquer hipótese houve algo mais grave. Houve, sim, gente que não cumpriu o que devia fazer (no Carnatal, e caberia perguntar por que interesse$) ou porque proibiu uma Parada na qual se apresentavam exatamente as mesmas condições do carnaval fora de época.

    A gente reclama da discriminação (pessoalmente, pelo pouco que li aqui, tendo a acreditar que é o que houve mesmo), mas tá na hora de alguém começar a pensar e agir dentro da lei. Que, apesar dos facistas de plantão, é igual pra todos. Mas cabe a esse todos fazer valer a mesma lei.

    Esta a dificuldade, né! Ainda mais num território ainda dominado por oligarquias... (o Brasil, sejamos honestos, não apenas o RN).

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    1. P.S. Também sou otimista, e acho que o mundo tem jeito. O simples fato de precisarem recorrer a argumentos e práticas condenáveis ou ilegais, que, ou poderiam incriminá-los por descaso na condução do Carnatal, ou por discriminação odiosa, já mostra que a civilidade avança, e o espaço para atitudes como essas fica cada vez menor.
      Eu, você e ninguém aqui conhecerá, mas o mundo um dia será melhor do que este que encontramos... Isso se, ao longo dos séculos a humanidade sobreviver a tanta destruição, claro...
      Bom Natal a todos!

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    2. eu também acho, Alex, cabe agora abrir uma ação contra, e investigar. Meter o ministério público no meio da conversa e provar por A + B o que aconteceu, e , no caso de homofobia, exigir uma retratação pública do Corpo de Bombeiros e do Governo do Estado, inclusive obrigando-os a fazerem e participarem de eventos que combatam a homofobia.
      PS: sugiro um calendário dos bombeiros cujo lucro vá todo para campanhas anti-homofobia. hehe

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    3. Boa Noite Amigo FOXX, espero q entendas os argumentos que aqui trago a baila, justificar a interdição da parada GAY com realização do carnatal é deveras insjusto e insensato, pois pelo que tive conhecimento (pois sou eng. civil) faltou ser apresentado aos bombeiros documentações indispensaveis exigidas pela lesgilação estadual e que os bombeiros sem distinção cumprem a risca pois la existem militares sérios e comprometidos.

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    4. Ainda na mesma linha, vejamos que os Bombeiros ja interditaram Marcha para Jesus, teatros , escolas do estado e municipio, e etc acho que vc deve se lembrar, e em relação ao carnatal concordo que ele numca foi interditado e ja fiz parte da equipe de IRACY organizadora do carnatal que ja até morreu gente eletrocutada; mais vejamos os projetos são apresentados com meses de antecedencia, o Carnatal ja Foi alvo de investigação do MP e sepre funciona, e vcs foi o contrario tentaram fazer valer pela vaidade, orgulho não pela legalidade.

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    5. olá, meu caro, pois o que eu tive conhecimento a documentação foi toda apresentada, as medições foram feitas diante de um representante do ministério público, e por algum motivo que eu não consigo entender o laudo dos Bombeiros deu um resultado completamente distinto do que dizia a documentação dos organizadores da parada que tinham ao seu lado o ministério público. Eu não duvido que existam militares sérios e comprometidos dentro dos bombeiros, com certeza existem, mas que esta decisão foi uma decisão política para impedir que a parada gay terminasse na praça da árvore, ah isso foi com certeza.

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  10. O MP precisa atuar e os governantes responderem por omissão no caso do Carnatal, ou por discriminação no caso da Parada. Pelo que se vê, parece que não tem saída. Ou foram irresponsáveis no primeiro caso, ou discriminatórios no segundo.

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    1. pois é, espero que o Ministério Público tenha a vontade política de correr atrás disso.

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  11. E no final este é um belo exemplo de uma parada gay que deu certo. É fácil ir pra festa e ficar na pegação, agora lutar, tomar as ruas e mostrar que está alí, isso é importante. Parabéns!!!

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway