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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Índia: As Formas dos Deuses.

, em Natal - RN, Brasil
Ardhanarisvara

Nas narrativas tradicionais hindus, é muito comum as estórias de deuses e mortais que mudam de sexo. Inclusive em muitas oportunidades eles têm encontros sexuais em diferentes gêneros nos quais encarnam. Neste caso, homossexuais e transgêneros têm sido comumente identificados com as várias formas das deidades hindus, contudo, em muitos casos o problema dessas identificações vem do desconhecimento de como funciona a religião hindu, de suas características intrínsecas. Um exemplo é o caso de Ardhanarisvara, a imagem considerada hermafrodita de Shiva. Porém, neste caso de Ardhanarisvara o que acontece é que temos numa imagem que consiste em Shiva, deus parte da tríade mais importante do Hinduismo (Brahma, o cirador, Shiva, o transformador, e Vishnu, o preservador) e sua consorte, Parvati, representando a união das energias masculina e feminina na criação. Ardhanarisvara não é um deus distinto de Shiva e Parvati é a representação da união dessas duas energias na criação porque para o hinduísmo toda energia é dotada de masculino e feminino, então cada Deus possui também a sua consorte feminina que o complementa, sendo Shakti, a consorte feminina de Brahma, e Mohini a consorte, a contraparte feminina, de Vishnu. Sendo assim, não é um deus que pode ser associado as relações homoeróticas, apenas uma imagem representando a duplicidade da energia divina.

Aravan

Outro caso é de Aravan, um herói com quem Krishna se casou após tornar-se uma mulher. O simples fato da necessidade da transformação de Krishna, o deus supremo do hinduismo, filho de Shiva, nascido de uma virgem rainha, nasceu então com uma vida de príncipe e após sua morte elevou-se como deus, comprova que o tipo de relação existente aqui não é homoerótica. Aravan já era um mortal (também conhecido como Iravan), que é cultuado na região ao sul da Índia. Ele é o principal personagem do poema épico, Mahabharata, que narra a guerra Kurukshetra e sua morte no décimo-oitavo dia da guerra. Contudo, bravo e honrado, Aravan era amado dos deuses e como ele pediu que antes de sua morte ele conhecesse o amor e estivesse casado, Krishna apiedado transformou-se em mulher e casou-se com ele um dia antes de sua morte. 

Ayyappa

Um terceiro caso é de Ayyappa, deus das estradas e protetor dos viajantes, filho de Shiva e de Mohini, a consorte de Vishnu. Para muitos dos leitores, acostumados com a personificação dos deuses do universo ocidental, essa estória soaria como uma traição da esposa de Vishnu, contudo, os três grandes deuses do hinduismo, Brahma, Shiva e Vishnu não podem ser considerados seres com gênero definido, na verdade, como são energias, eles mudam de ambivalência frequentemente, podemos dizer na verdade que Vishnu é a vibração masculina da energia protetora, é quando Vishnu protege ativamente o planeta como guerreiro, já Mohini seria a forma de vibração feminina da mesma proteção, quando ele gera e nutre, por exemplo. Sendo assim, não existe mudança de sexo ou relação homoerótica entre Shiva e Vishnu para gerar Ayyappa, ele é gerado quando as duas energias são colocadas juntas. 

Bahuchara-devi

Bahuchara-devi é uma deusa que um dia sua caravana foi atacada e ela para evitar ser morta cortou seus seios e disfarçou-se de homem entre os guerreiros lutando para sobreviver. Odiosa dos homens que atacaram, tornou todos eles impotentes, condenando-lhes a apenas uma vida: castrar-se e tornarem-se eununcos ou nasceriam por sete vidas como homens impotentes. Seus sacerdotes a partir daí se tornaram também sempre eunucos. Já o caso de Bhagavati-devi é uma deusa que tem uma festa cujos homens devem ir travestidos de mulher para a adoração por causa de uma estória em que vaqueiros que não queriam ser reconhecidos e queriam prestar homenagem a deusa se disfarçaram de mulheres para ir ao templo, neste dia a própria deusa apareceu diante deles para receber suas oferendas dado a sua discrição em relação a fé. Em ambos os casos, aqui, as deusas, por causa de um elemento de seu mito, foram tomadas como padroeiras de uma parte da população hindu, Bahuchara como padroeira dos eunucos e castrados e Bhagavati, daqueles que se travestem.

Bhagavati-devi

Chandi e Chamunda são duas deusas guerreiras. Inicialmente eram demônios masculinos chamados Chanda e Munda, que realizaram grandes coisas a fim de agradar Brahma. Tanto agradaram o grande deus que este um dia apareceu diante deles e concedeu-lhes um desejo. Estes pediram para se tornarem grandes guerreiros, fortes o suficiente para dominar o mundo e conquistar os céus. Brahma concedeu-lhes o desejo, porém, como os dois eram demônios, logo se tornaram cada vez mais gananciosos e tentaram tomar as casas de Brahma, Shiva e Vishnu. Ficou então decidido que a deusa Durga cuidaria deles. Lutou ferozmente até vencê-los. Durga então os transformou em mulheres, já que não podia tomar o poder que Brahma havia lhes concedido, mas agora como mulheres eles não ameaçariam mais os deuses. 


Chandi e Chamunda

Gangamma-devi é a irmã mais nova de de Vishnu, a deusa da mentira e do disfarce. Ao nascer na Terra, ela era a mulher mais bonita em todo o planeta e usava o nome Ganga. O rei dos demônios então ao vê-la desejou-a para si. A deusa então para escapar dos planos do demônio de aprisiona-la em seu palácio usava sua maya (capacidade de criar ilusões) para disfarçar-se, contudo, somente ao se disfarçar de homem que o demônio não conseguiu encontra-la. Nestes dois últimos mitos, por exemplo, as transformações que são basicamente colocadas pela literatura especializada como travestismo não tem absolutamente nenhuma ligação com a sexualidade dos personagens, por isso também considero que não existem relações homoeróticas nestes contos.

Gangamma

Concluindo: as possibilidades dos deuses hindus de assumirem outro sexo é comumente ligada a relações homoeróticas, porém não deviam. Estas possibilidades de transformação na verdade não tem nenhuma relação com a sexualidade e sim ou a representações do poder feminino ou apenas momentos do mito dos personagens que explicam parte do rito. Que explicam porque a presença do terceiro sexo, por exemplo, é comum dentro do rito de um determinado deus, porém, diretamente, não representam relação direta com o homoerotismo, na verdade, seu mito é apenas apropriado por grupos que se relacionam com o homoerotismo. 

32 comentários:

  1. Belíssimo texto. Parabéns!

    Muito conteúdo, sem cansar, com uma abrangência impressionante. Estranha a minha sensação quando entro em contato com o pensamento, nesse caso, a religião, de alguma cultura oriental. Sempre me passa a impressão de um imenso abismo, uma impossibilidade, de conseguir pensar dessa forma...

    Novamente, parabéns!

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  2. Adoro Essas informações que você passa...

    confesso que é meio confuso, e por muitas vezes leio mais que uma vez pra entender...

    Mais mesmo assim Adoro...

    e Ai como anda "por enquanto"? Bjo boa semana

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    1. o que ficou confuso, amigo? me diz que no próximo eu já tento corrigir isso.

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  3. Overdose cultural...... só no Foxx! Hehehehe! Hugz, babe!

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  4. Gente, que show de cultura!
    Adorei a postagem!


    Mudando de assunto: adorei aquelas fotos da sua bunda e do seu corpo que você postou um tempo atrás... Delicioso...

    De um fã de SP.

    Bjo, delícia.

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    1. obrigado pelos elogios, tem algumas fotos aqui no blog e no link do tumblr lá em cima. mas pra vc ver que quem tem cultura tb é gostosinho. hehehe

      obrigado por ser um fã.
      fico feliz que vc goste do que eu escrevo aqui.

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    2. Cara, curti seu tumblr. Sim, você é culto e bem gostoso...

      Entenda da melhor forma possível o que vou escrever agora: eu ainda não tinha tido o privilégio de ver aquelas suas fotos da sua maravilhosa b-u-n-d-a...!!! Meu pau ficou babando e fui conduzido instintivamente a lhe prestar uma homenagem... Meu, que delícia...

      E lhe digo uma coisa: pelo amor de Deus, jamais se depile, no máximo uma leve aparada pra não ficar como o Tony Ramos. Seus pelos são tão bonitos, deixam você tão sexy, mexe com meu lado mais animal... Não caia na modinha dos que querem ficar lisos que nem um bebê. Há quem goste, mas não vejo graça alguma. E sei que muita gente concorda comigo.

      Ver a beleza de seu corpo mudou a forma de eu ver algumas de suas postagens dramáticas: como um cara tão, mas tão gostoso e, aparentemente, legal, pelo q leio no blog, não tem dado certo no amor? Não entendo. Sete tapas na cara de cada homem q não te deu valor.

      Além de ser culto, intelectual... Ai meu Deus, você vai ser a inspiração dos meus próximos banhos... srsrss.

      Se isso não for muita penetração(?!) na sua intimidade, você poderia satisfazer uma curiosidade (clássica) minha e do Brasil? O povo de Deus quer saber: ativo, passivo, flex, outra coisa...? Não sinta sua intimidade invadida (?!) e não é necessário responder, caso não queira.

      E essas suas postagens culturais são muito boas mesmo: gostei demais daquela sobre a tumba dos amantes egípcios q vc postou um tempo atrás. Além daquelas sobre a mesopotâmia.

      Aproveitando a ocasião: vc é graduado, mestre, doutor... o quê? E em quê? É professor? Talvez vc já tenha dito isso em algum lugar, mas conheço o blog há pouco tempo.

      Hum... agora estou tendo fantasias em que você é o professor gostosão e eu sou o aluno que está com dificuldades na sua matéria e necessita de uma atenção especial... O resto da história concluirei no meu próximo banho rrsrsrs.

      Bjão gato!
      Outro fã de São Paulo rsr.

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    3. gente, outro fã de SP?
      mas respondo suas perguntas sem problema:
      sou versátil e sou professor de história, terminando meu doutorado.
      fico feliz que vc goste dos meus textos históricos,
      eles são sempre os menos comentados, mas tenho um carinho mto grande por eles.

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  5. Percebi alguma relação de não se ter gênero dessa religião específica com os espíritos na doutrina espírita, onde, dizem os estudiosos, o espírito não tem gênero e só o tem quando vão reencarnar. Muito interessante seu texto. E não, não sou espírita, apenas um curioso mesmo!
    Abraçoooo!

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    1. pois é, os deuses hindus são energias que agem sobre o planeta e as pessoas, e energia em si não tem sexo, qndo os deuses se manifestam na forma humana eles podem ter várias formas (avatares) e estes podem ter qualquer gênero.

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  6. Ficou ótimo! O hinduísmo é a religião que menos entendo (se é que entendo alguma coisa). O seu texto esclareceu algumas. Bacana, gostei!

    Beijão.

    PS: culto e gostosinho... é isso? Eu acrescentaria: assanhadinho (kkkkkk)

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  7. Muito bom! Fascinante tudo isso...

    Beijos!

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  8. Mas que deselegante esse anônimo do "zzzzzzzz"... Amado, aprende uma coisa.. Retalhação de anônimo a gente não responde... "zzzzzzzzzzzzzz" pra quem vem fazer gracoinha sem mostrar a cara!!!!

    Agora.... Uma curiosidade sobre seu comentário no Yag.. Vai baixar qual filme????

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    1. ah, eu respondi ao anônimo ai porque eu realmente queria saber se ele poderia dar uma crítica que fizesse esse post ficar melhor. me dou mto bem com criticas "negativas".

      ah, qria baixar todos pra ver se concordo com vc ou não.

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    2. É. Eu não fale nada pq vi que era óbvio: o texto é ótimo e o comentário do anônimo dorminhoco é deselegante, sim! Não gostou não leia, simples assim!! Eu amei!

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  9. Um texto muito interessante.
    Sempre é bom conhecer, aprender mais sobre qualquer assunto e este, por sinal, muito me fascina!
    Beijos

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  10. interessantíssimo! curto demais conhecer um pouco destas culturas mais "exóticas" ...

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  11. Hahahahahaha! Saco de Ossos super-define! Hugz!

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  12. Fox, respondendo seu comentário lá no uivos: eu acho que medo é uma teoria que não se encaixa muito. Acho que se eles tivessem medo, eles não seriam assumidos dentro da empresa desde o princípio. Por mais que fossem do tipo que dão na cara que são gays, enquanto negassem até a morte ninguém pode dizer o contrário.

    Beijo.

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  13. Eu ia comentar o quão me senti ignorante por não saber sobre nada disso que vc está dizendo, mas vou me limitar apenas a tréplica do quarto comentário: MORTO
    te amo :*

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  14. acho a cultura indiana interessantíssima

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  15. Foxx, por curiosidade, o que você acha do Luiz Mott, o ativista do grupo Gay da Bahia?

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    1. ele produz coisa mto boa, de verdade, como historiador, mas ao mesmo tempo todos os trabalhos dele merecem ser lidos mto atentamente porque ele é dado a ver gays onde eles não existem.

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway