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sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Creta: O Antigo Amante

, em Natal - RN, República Federativa do Brasil


Dentro do ciclo apolíneo, após cometer o assassinato da Píton, em uma versão, e dos Ciclopes, durante a guerra entre os deuses e os Titãs, em outra, o deus da luz e das artes se isolou na corte do rei Admeto para purificar-se do pecado contra a vida que havia cometido por nove anos. Admeto era filho de Feres, rei da cidade que levava seu nome, e Periclímene. Participou na juventude da caçada ao javali de Cálidon e da expedição dos Argonautas em busca do velocino de ouro, dois importantes ciclos entre os heróis gregos. Ao retornar a sua cidade natal, jovem ainda, tornou-se rei porque o pai abdicou do trono em sua honra e, nos primeiros anos do seu reinado, o deus Febo Apolo pediu exílio em sua casa, tornando-se pastor do seu gado e, conta-se também, que eles teriam se apaixonado. 
O Hino a Apolo escrito por Calímaco foi um dos poucos textos que nos sobraram que descrevem o relacionamento entre o rei e o deus. É no parágrafo 47, traduzido abaixo que encontramos a referência:

[47] Febo e Nômio podemos chamá-lo, desde que, quando por Amfrísios, ele cuidava de éguas domesticadas, atingido pelo amor do jovem Admeto, cuidava do seu rebanho de gado, de abelhas, nem faltava às cabras do rebanho, sobre o qual como eles se alimentam, Apolo lançava seu olho; nem sem leite que as ovelhas, que também não eram estéril, mas todas teriam cordeiros em pé; e ela que nua em breve seria mãe de gêmeos.

Apesar de Junito Brandão propor que foi a extrema deferência com a qual foi tratado pelo rei que o fez o deus manter sua gratidão, algumas referências falam que é paixão de Apolo por Admeto o faz ajudá-lo nas mais incríveis tarefas, mesmo depois que o exílio termina. Por exemplo, quando o rei decide se casar com Alceste, a filha de Pélias, rei de Iolco, foi o deus quem ajudou-o na tarefa imposta pelo rei para dar a mão da princesa em casamento. Pélias exigiu que o noivo se apresentasse em um carro puxado por uma parelha antagônica: um leão, símbolo da valentia e da força; e um javali, tradução de poder espiritual. O deus de Delfos concedeu-lhe um carro puxado pelos animais (o que, com certeza, representa uma iniciação dentro dos mistério dentro da religião apolínea) e com isso o rei de Feres recebeu em felizes núpcias a bela Alceste. 
Febo também salvou Admeto de uma morte prematura quando as Queres sorteiam seu nome para a morte. Apolo embriagou as senhoras do Destino e as fez prometer que se alguém tomasse o lugar do jovem rei, sua vida não precisava ser extinguida. Em sua glória, o deus apareceu a seu antigo amante e contou o que havia conseguido para ele. No entanto, infelizmente nem seus idosos pais, nem seus amigos ou irmãos quiseram fazer este sacrifício, somente Alceste, sua amada esposa, prontificou-se quando o deus contou a forma como poderia salvar sua vida. Na tragédia Alceste, de Eurípedes, é Herácles, que era amigo de Admeto desde a expedição dos Argonautas quem salva a bela rainha da garras de Tânatos, a morte, já diante do túmulo. Porém as versões mais antigas afirmam que foi a rainha dos mortos, Perséfone, que admirada com tamanho amor que Alceste demonstrou pelo marido a enviou de volta a vida para que o amado do deus não sofresse. 
É interessante notar que o relacionamento entre Apolo e Admeto não inviabiliza de maneira alguma o casamento e o verdadeiro amor que este último vem nutrir depois pela princesa de Iolco. O amor entre o antigo amante divino e de Alceste é real e reconhecido pelas divindades também (Herácles e Perséfone) demonstrando o quanto a sexualidade aqui não estava dividida entre distantes polos rotulados como homossexual e heterossexual cuja experiência em um lado impossibilitaria a vivência de qualquer coisa na sua contraparte, isto é, na sociedade creto-micênica as experiências homoeróticas e heteroeróticas podem ser vividas pelo mesmo indivíduo sem nenhum problema, na verdade, elas só demonstram fases distintas da vida de um mesmo homem, sendo as relações homoeróticas voltadas normalmente à juventude enquanto é reservado à maturidade (sobretudo pensando na geração de descendentes) os relacionamentos com o gênero oposto. 

10 comentários:

  1. Parece que nossa juventude - pelo menos parte dela - anda seguindo esse caminho. Mais um a dizer isto foi o Luca Santanna, ontem no Metrópolis (TV Cultura, SP)

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    1. Amém, as pessoas serão mais felizes se não se prenderem a rótulos, não é?

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    1. O negócio é aprender com a história não é, Wnaderley?

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  3. Tb assisti ao Metrópolis ontem e ao ler vc hoje fiquei com a mesma impressão do Edu ...

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    1. Então amém de novo, que vocês fazem pela boca de um anjo.

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  4. Me senti representado por esse texto.... hahahahahahhahhahahaha ;)

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    1. ah, não argumenta que eles são bissexuais não que isso é uma outra história. Mas acho que preciso explicar isso melhor em um próximo texto.

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  5. Adorei ler sobre essa lenda, que é nova pra mim.
    Realmente a sociedade atual seria mais fácil sem esses rótulos, mas hj as pessoas não sabem viver sem eles, infelizmente.

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    1. Não podemos ser anacrônicos querendo que o mundo de hoje se comporte como o passado, criticando nossas sociedade atual por causa de uma necessidade que ela possui hoje, mas por outro lado também não podemos encarar as necessidades de hoje como coisas naturais, como se "sempre tivesse sido assim", esta coluna aqui no blog é para provar, por A + B, que o mundo nunca foi como é hoje, que nada dos nossos comportamentos atuais pode ser considerado "natural".

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway