Google+ Estórias Do Mundo: China: O Deus Coelho

terça-feira, 14 de maio de 2013

China: O Deus Coelho

, em Natal - RN, Brasil


Tu Er Shen é uma divindade do panteão chinês que administra o amor e o sexo entre os homens homossexuais, seu nome significa literalmente "deus-coelho". O "Conto do Deus Coelho" consta no Zi Bu Yu, este é uma coletânea de contos reunidas por Yuan Mei durante a Dinastia Qing cujo nome significa "aquilo que Confúcio não falou" e reunia uma tradição oral que era parte do confucionismo, mas não estava dentro do esquema pregado pelo seu fundador, e ele conta que Tu Er Shen era originalmente um homem chamado Wu Tianbao, um soldado, que se apaixonou pelo jovem, inteligente e bonito inspetor imperial da província de Fujian. Wu Tianbao tentou combater seus desejos pelo inspetor, mas como era responsável por proteger o inspetor, ele o acompanhava para todos os lugares na província, foi impossível não ver seus sentimentos crescerem ainda mais. Mesmo quando ele não era necessário, Wu fazia questão de estar presente, o que não passou despercebido pelo inspetor, porém ele não sabia nada do que se passava dentro do coração do outro. Um dia, porém, ele foi pego espiando o inspetor tomar seu banho. Ele foi carregado pelos guardas até os pés do inspetor que o fez confessar o que ele estava fazendo ali, não após uma surra com varas de bambu. Wu Tianbao então admitiu que estava apaixonado pelo inspetor, que tomado de nojo, condenou Wu Tianbao à morte por espancamento. Contudo, ao chegar ao submundo, os funcionários da Morte consideraram que sua sentença fora um injustiça porque seu único crime era ter amado, para compensar-lhe então a injustiça, Wu Tianbao foi transformado em um deus para, a partir dali, proteger os amantes do mesmo sexo e protegê-los das injustiças. No seu templo, que depois de morto forçou os homens de sua antiga província a construir aparecendo aos anciões na forma de um coelho, é o lugar para apaziguar as brigas entre casais do mesmo sexo, ou daqueles que amam alguém do mesmo sexo e não são correspondidos, queimando insenso.
Este mito explica o costume comum a província de Fujian em que um homem e um jovem podiam se casar (qi), atestado por autores como Shen Defu e Li Yu (que escreveram ainda no século XVII). Neste sistema de casamento, o homem mais velho na relação desempenhava o papel masculino e era chamado de Qixiong, que podemos traduzir como amor adotivo. Este era quem pagava o dote para a família do homem mais novo, chamado de Qidi (amor novo), e é bom ficar claro que os mais virgens também tinham preços mais elevados. Li Yu descreveu a cerimônia como exatamente a mesma do casamento entre homens e mulheres. O Qidi que se mudava para a casa do Qixiong, onde ele seria completamente dependente deste último e deveria ser tratado como um genro pelos pais do Qixiong, como estes tratariam uma nora que também seria levada para a casa da família do marido. Este casal também podia adotar crianças, que seriam educadas pelo Qidi, contudo a cada 20 anos eles deveriam ter relações sexuais com alguma mulher a fim de terem filhos.Porém durante a dinastia Qing (entre 1644 e 1912), o culto ao deus Tu Er Shen passou a ser perseguido. 
Não obstante, em todo o império chinês, a gíria para se dirigir aos homens que tem comportamentos homossexuais era tuzi (coelhos). As imagens de Wu Tianbao mostravam sempre o mostravam nos braços de outro homem, apesar que se registra, a partir do século XVIII, o contrabando de novas imagens do deus coelho que mostrava apenas dois homens abraçando um ao outro, um com o cabelo grisalho e o outro bem mais jovem.

16 comentários:

  1. Po ja tinha lido isso uma vez e tenho isso salvo em algum lugar

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    1. sério? que legal! eu sinceramente conheço muito pouco de China antiga, então tô tendo que ralar bastante para escrever essa coluna.

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    2. Po nao tem mt coisa no brasil acho que o pais nao tem mt procura pela cultura e a historia aasiatica

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    3. É verdade, como as universidades pouco produzem sobre o assunto, pouco se ensina nas escolas, então se gera pouca demanda, e com pouca demanda as universidades pouco produzem sobre o assunto, pouco se ensina nas escolas...

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    4. Nos excluimos pq eu nao sei mais ao meu ver para a cultura ocidental e como eles continuarem exclusos

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  2. Adorei a história, bem interessante saber disso, agora adoro mais os coelhos. Quero criar um!
    Bjus Foxx!

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  3. Adoro seu blog e suas postagens.Sempre dou uma passadinha por aqui pra ler o que vc escreve.Acabei criando um blog também pra colocar um pouco do meu mundo.Uma forma que encontrei pra ter um alívio dos problemas diarios,vai servir como uma terapia pra mim. Abraços e sucesso!

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    1. Que bom que vc gosta do que eu escrevo, Nathan. E volte sempre! É sempre bom ver os comentários das pessoas sobre o que escrevo.
      Ah, boa sorte com seu blog, espero que ele ajude a você se aliviar, o que precisar pode contar comigo.

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  4. Menino não conhecia esse deus, super cool.
    A China não deixa de surpreender né?
    Abraços!

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    1. O que te surpreendeu é que exista um deus para as relações homoeróticas? Bem, isso era bem comum em várias religiões, mas a China é realmente muito surpreendente.

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  5. Digo, repito e digo mais uma vez: Foxx é cultura! Adooooro saber de tudo que não sabia... gracias, raposudo! E tipo assim: é só aparecer um "cazarré" qualquer que o senhor já me troca?!? Indignado! Hahahahaha! Bjs!

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  6. Olá Doutor!
    A relação entre animais e divindades é complexa e variada. Mas, geralmente, é de origem muito antiga. Junto a esse fator de complexidade, deve-se ajuntar a polivalências dos diversos motivos simbólicos derivadas de um lado, das várias camadas de tradições diferentes e, por outro lado, da estratificação histórica. Confúncio - e depois seus discípulos – consideram muitas dessas tradições como degeneradas . Talvez, por essa razão, o mito do Deus Coelho não seja citado em seus escritos de uma maneira direta. Ainda assim, ele sobrevive por longo tempo como prática normativa e cultual.
    O simbolismo do coelho é ambivalente, por um lado mostra características do ‘feminino’ como a fertilidade, e por outro, a bravura ( sim, um coelho pode ser bravo!) identificado como uma característica ‘masculina’. Quem sabe se não foi de uma associação semelhante que se desenvolveu o arquétipo do Deus Coelho????
    Mas é claro que nesse mato deve ter muitos outros ‘coelhos’ escondidos ... !

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  7. Esqueci de dizer que adorei o Post sobre os dragões!
    Valeu a pena a espera!!!!

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway