Google+ Estórias Do Mundo: PASSADO: Crônica da Vida Cotidiana II

quarta-feira, 11 de março de 2009

PASSADO: Crônica da Vida Cotidiana II

Este Mundo Ainda Tem Jeito

Essa estória se passou em 02 de junho de 2004, na parada de ônibus que ficava em frente ao Nordestão Cidade Jardim, um grande supermercado natalense. Quem me lembrou dessa estória foi o último post do Crônica Masculina, além, é claro, de um certo blogayro preconceituoso que anda rondando meu blog. Dedico a ele.





Eu acabara de sair da casa do Din, um amigo, já era noite, a meia-noite quase anunciava as doze badaladas, e tinha ido pegar o último ônibus que se dirigia a minha casa na parada do Nordestão Cidade Jardim. Era um domingo qualquer desses de inverno em Natal, o que quer dizer que poucas estrelas havia no céu e as nuvens se juntavam para chover sobre as fogueiras de São João. Única época que é certo chover em Natal, quando a primeira fogueira é acesa. Eu esperava o 63 sentado, cabisbaixo, pensando cá com meus botões quando um viadinho chegou na parada. Para quem não sabe, junto ao CCAB Sul, que fica quase ao lado do supermercado, tem uma boate gay: o famigerado Pagode, que eu frequentava quase que todo domingo anos atrás. Com certeza ele vinha de lá. E era muito viado, na verdade, era quase uma menina. E por milagre: eu não o conhecia. Mas educadamente ele de desejou boa noite quando se aproximou.
Bem... continuando a história... ele ficou lá esperando o ônibus dele quietinho, sem incomodar ninguém. Mas, no entanto, logo depois ele chegar e se acomodar, aproximou-se um casal com duas meninas que deviam ter entre 14 e 12 anos. A mais velha então começa a ter risinhos descontrolados ao ver o menino. Ria. Apontava. Humilhava o coitado que mantinha-se calado, olhando para o horizonte, como se nada o afetasse. Foi quando eu vi o que mais me deixou chocado. A mãe da menina virou e disse:
- Amanda, você não sabe o que é respeitar os outros? Sua sorte é que nós estamos na rua, senão eu batia na sua cara agora. Mas espere chegar em casa.
A menina, a tal Amanda, olhou incrédula para a mãe, se tivesse olhado pra mim teria visto o mesmo olhar no meu rosto, porque eu também não acreditava no que tinha ouvido. Olhei para o menino, o viadinho, e ele ouvira também e sorria de canto de boca, ela, a Amanda, então virou-se para o próprio pai, pedindo ajuda, e aí tomei meu segundo susto. O pai dela virou-se e falou:
- E quem vai bater quando chegarmos sou eu!
Amanda se calou. Eu contive um riso estupefato, o viadinho brilhava orgulhoso. De muito perto, vi a menina calar-se e buscar abrigo na barra da saia da mãe, como quem pede desculpas, como quem não sabe que cometeu um erro. Sua irmã, em silêncio estava, em silêncio permaneceu.
Essa estória permanece sempre nas minhas lembranças, mas como me lembro dela mudou muito porque eu também mudei. Lembro que saí de lá desejando sinceramente que Amanda tenha levado a surra prometida, achando que era isso que toda criança que demonstrasse algum tipo de preconceito deveria receber. Castigo! Porém, eu percebia que isso era meio que impossível pelo simples fato que crianças não são por si só preconceituosas, elas aprenderam com alguém. Aprenderam que pessoas que são diferentes delas são inferiores. Primeiro os negros, mas isso ficou bem impopular; depois os judeus, mas isso virou um crime ainda mais odioso; depois as mulheres, mas isto é atirar no próprio pé; restaram os gays, principalmente os viadinhos-efeminados que são os mais visíveis entre todos. E aí eu me lembro de Geni e o Zepelin, "ela é boa de apanhar, ela é boa de cuspir". Minha pergunta naquela época era com quem Amanda teria aprendido tanto ódio, aos 14 anos, se seus pais pareceram ser tão "esclarecidos"? É. Mas espero que Amanda tenha aprendido a lição. E os filhos dela não sejam mais preconceituosos.
Hoje minha pergunta é quando os próprios gays vão deixar de cuspir para cima? Quando vamos parar de ter preconceito com um menino que só teve o azar de não conseguir dissimular tão bem quanto nós? Por que é necessário dissimular? Por que fingir? E por que escolher seus amigos e/ou namorados somente entre estes que conseguem fingir que são "um simples amigo"? Bem, eu, graças a Deus, não faço isso! Do pecado da Amanda - e de um certo blogayro - eu estou livre.


PS: Para completar, agora falta ir lá nos sitezinho e assinar a lei que pune criminalmente a homofobia, vamos lá, não custa nada, porém, não sem pensar direitinho e ver que homofobia voltada contra o próprio grupo do qual você faz parte também é muito grave! E sim, a lei poderá ser usada contra outros gays que ajam com preconceito contra os seus!

26 comentários:

  1. Ainda não tive oportunidade de ver algo tão satisfatório. Só vejo o contrário, infelizmente =P

    ResponderExcluir
  2. somos influenciados muito pelos pais até uma certa idade, e qdo se chega nessa dita adolescencia, os amigos, colegas, influenciam muito... deve ser o caso dessa amanda... pq aprendemos a ser passivos (no sentido politico da coisa) com a homofobia... As vezes por questao de dominação física, numérica, mas as vezes por dominação mental. de tanto ouvirmos q nao prestamos, acabamos acreditando...
    boa noite, foxx
    abs

    ResponderExcluir
  3. .é difícil determinar ao certo de onde vem as influências. porque elas podem estar muito bem disfarçadas entre atitudes moralistas e campanhas bem intencionadas...

    .e quanto ao fato dissimular. alguns por opção. outros por obrigação. quem sabe por vergonha. talvez por medo. espero o dia em que todos possam ter o prazer de viver sem essas máscaras....

    .abraço

    ResponderExcluir
  4. sei lá, sabe?
    eu tenho tnt o q decidir

    naum sei o q penso a respeito msm

    as vezes me pego preconceituoso tb

    mas no fundo eu sou o menino
    sei lá

    xx

    ResponderExcluir
  5. Confesso q tenho um certo preconceito com viados muito viados, escrachados.
    Não os trato mal, não rio da cara deles, eu só não tenho nenhum amigo q seja assim.
    Acho que cada um escolhe uma forma de viver. E isso não foi o que escolhi para mim.
    Não vejo isso como uma divisão nociva ao mundo gay. Em qualquer lugar existem divisões, existem pessoas com atitudes diferentes.
    Tudo pode coexistir, desde que aja respeito!

    ResponderExcluir
  6. caracas... preconceito é materia para ser estudado para um doutorado...rsrs

    todos somos preconceitos em algo mas não percebemos as nossas atitudes,isso faz parte da sociedade, do ser humano... remover é tarefa ardua... na realidade não deveria nem existir essa palavra...

    eu tenho preconceito com chocolate branco... so gosto do preto... aff!!!!

    Bjs :-)

    ResponderExcluir
  7. Gente, eu quero os pais dessa menina de guarda-costas! bárbaro! quero ver uma cena dessas tb! acho que eu não ia conseguir conter a empolgação!

    ResponderExcluir
  8. Acredito que tenha a ver com o fato de querer ser aceito.
    O histórico que temos é exatamente esse: se vc for gay, afeminado, bichinha e por aí vai, será discriminado e colocado à margem.
    Ninguém quer isso.
    Entretanto, o erro não é de quem é assim e sim de quem discrimina.
    Aliás, quantos de nós, gays, não diminuímos os mais afeminados? Não rimos, debochamos?
    Questão a ser pensada e repensada.

    ResponderExcluir
  9. Eh, segundo Gadamer, preconceito todos temos, mas eh necessario avaliar quais sao os legitimos e quais os ilegitimos. Esse eh um tipico caso de preconceito ilegitimo, obvio.

    ResponderExcluir
  10. "Hoje minha pergunta é quando os próprios gays vão deixar de cuspir para cima? Quando vamos parar de ter preconceito com um menino que só teve o azar de não conseguir dissimular tão bem quanto nós? Por que é necessário dissimular? Por que fingir? E por que escolher seus amigos e/ou namorados somente entre estes que conseguem fingir que são "um simples amigo"?

    eu tbm me faço essa pergunta algumas vezes e te confesso que ainda tenho muito que aprender nesse aspecto,

    e com certeza o mundo seria um lugar muito mais agradavel se tivessemos mais pais como esses !

    ResponderExcluir
  11. Fala Raposão!!! Te add no msn, nos falamos qualquer dia!!

    ResponderExcluir
  12. História linda, assim linda tirando a parte do preconceito claro.

    Infelizmente muitas dessas coisas apenas acontecem com os taxados "viadinhos", mas mesmo assim todos estamos dentro deste preconceito.

    E pra falar a verdade, admiro todos os taxados "viadu" porqué para mim todos eles são bem esclarecidos e acima de tudo para si mesmos, muito marmanjo que se acha a ultima bolacha do pacote e ao mesmo tempo repudiam os mesmo, pode ter certeza eles sim são menos abertos para si mesmos.

    By the way, adorei o TAPA!!!!

    PS: Te deixei um selo de presente no meu blog, apesar de você ter muitos, mas achei esse que ganhei e estou te dando tbm, tão lindu!!!

    Bjunda Lê!

    ResponderExcluir
  13. Bem não sei se sou preconcetuoso, mas se os gays quisessem se envolver com figuras femininas, ou afeminadas, pegariam uma mulher mesmo... mais fácil né...?

    E muitos desses gays afeminados se acham a Silvetty Montilla, fazendo graça de tudo... odeio ouvir que amigo gay é tão divertido...

    E finalmente acho que a única prerrogativa em ser gay, é querer pegar outro homem, não necessariamente ser uma mulher...

    ResponderExcluir
  14. concordo com o paulo

    ResponderExcluir
  15. Adorei a atitude destes pais! Se todos fossem assim... ah, como seria diferente!!!

    ResponderExcluir
  16. nem perco meu tempo com isso, nem com gente assim.
    tenho meus amigos, minha familia e sou feliz. o resto é resto.

    ResponderExcluir
  17. ps: e adorei a mãe da amanda. três vivas pra ela!

    ResponderExcluir
  18. Pontos para os pais desta garota, todos deveriam ser assim. Quem sabe um dia neh.

    Quanto ao preconceito entre nozes, isso realmente é complicado, mas o que vi muitas vezes por aqui é muita biba forçando a feminilidade ao máximo.

    Cheguei a conversar com uma um dia e me foi dito que era uma forma de aparecer mais e poder conquistar alguns tipinhos hetero que gostam mais de mulheres. Então tá.

    Nada contra, cada um usa suas armas, mas acho estranho, da mesma forma que acho estraho uma garota ficar andando pela rua gritando, chutando latas de lixo, querendo ser como os meninos.

    Mas o que importa é ser feliz... e sermos respeitados como somos. Enqto a comunidade gay não se unir, querer apenas farra, teremos muitas diferenças.


    bjs

    ResponderExcluir
  19. Oi!
    Cheguei aqui "fuçando" os blogs da lista do Jarbas... adoro descobrir coisas novas.
    Amei o blog, viu?
    Quanto os pais da Amanda... M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O-S!!!
    Na verdade, o preconceito pode ser por influência dos amigos (como já foi dito aqui), dos professores, da mídia e tals... quer coisa mais absurda do que o estereótipo de gay dos programas de humor??? Claro que ao ver um rapaz mais afeminado se faz imediatamente o link com esse clichê... (daí a vontade de rir da menina, ela viu o "personagem da TV") é coisa pra fazer as crianças internalizarem a homofobia, mesmo! Horrível!!!
    Crianças são preconceituosas e cruéis, isso é fato. Em que outro ambiente a gente vê pessoas se apelidando por características físicas e comportamentais de forma tão pejorativa quanto na escola? É um tal de "gorda", "bichinha", "quatro olhos", "vesga", "manco"... não é? No entanto, não sei, sinceramente, se bater na tal Amanda é o melhor caminho. Talvez ela até se revolte mais e se torne homofóbica de vez. Mas que cabe uma chamada de atenção pública, uma boa conversa, um esclarecimento... isso é fato! E fundamental!
    Vou parar por aqui... sou prolixa à beça e meu comentário tá virando post!!! Risos
    Beijos e parabéns pelo blog!!!
    P.S. Aproveitei pra ir no site e votar: naohomofobia!!!

    ResponderExcluir
  20. Preconceito... como costumo dizer pré-conceito, julgamos as aparencias, o visto e nos esquecemos do que realmente conta, do que vale a pena lutar e acreditar...

    ResponderExcluir
  21. Vc eskeceu de dizer que VOCÊ ronda outro blog à muito mais tempo, perseguindo quem colabora com ele.
    E o tal "bogayro" só achou que tem direito de resposta:

    Os teus próprios leitores te deram a resposta.
    Espero que pare de pegar no meu pé depois dessa, pois vc é ignorante.

    Uns ñ sabem lidar com a situação. Outros disseram que ñ veem como divisão nociva pra ninguem, outros disseram que prerrogativa de alguns gays é gostar de homem, se kizessem afeminados, se envolveriam com uma mulher.

    Outros dizem que muitas bibas são forçadas e se acham.

    Vc é uma delas.

    Pois iniciou uma discussão inútil baseada num comentário meu que reflete exatamente a opinião dos teus leitores.

    Não sou preconceituoso.
    Não desrespeito afetados nem bichas.
    Não atravesso a rua quando vem uma em minha direção.

    Apenas te disse que ñ curto afetados no sentido de ñ sentir tesão por eles!!!!!!!!!!

    E ñ tenho amigo afetado, simplesmente por que ñ conheço nenhum a ponto de fazer amizade.

    Teus leitores disseram isso tmbm.
    Disseram ate que "as vezes se pegam preconceituosos"

    E agora??
    Vai deletar teu blog...

    ... ou vai se tratar com um psicólogo para deixar de ser o dono da verdade e protetor de quem sabe se cuidar muito bem?

    Me eskeça e me deixe em paz.

    ResponderExcluir
  22. Este foi o post que te falei que trouxe luz para uma inquietação minha... Obrigado.

    ResponderExcluir
  23. Ainda é possível. Me senti mal (u? Nunca sei como escreve) com tudo que olhei até hoje pelos olhos do preconceito. Nos ensina muito o post. Abraço.

    ResponderExcluir
  24. "Joga pedra na Geni Ela é feita pra apanhar, Ela é boa de cuspir. Ela dá pra qualquer um. Maldita Geni..."


    Minha falecida Vó Amava essa musica.
    Rolou um flashback nesse momento quando vc tocou no assunto.


    Gsus!

    ResponderExcluir
  25. Olha! Para vermos que preconceito não vem dos pais... pode vir dos outros ou da própria desconexão com o mundo...

    ResponderExcluir
  26. Eu sempre acreditei na mesma coisa que você: uma criança preconceituosa, aprendeu a ser assim com alguém, e tomara que ela não tenha apanhado, mas que tenha sido educada. Talvez hoje ela seja outra pessoa.

    ResponderExcluir

" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway