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quinta-feira, 9 de novembro de 2006

PRESENTE: Aventuras aventurescas

Após uma tediosa aula de Historiografia da Produção dos Espaços, ergui-me da sala e peguei minha mala que já havia preparado com três dias de atecedência. Ergui-me. Espreguicei-me. E Leilane me perguntou se eu estava chegando ou de partida. Gentilmente respondi que viajaria hoje ainda. "Estou indo agora pra rodoviária, Lê". Encaminhei-me até o ponto de ônibus, percebendo que teria muito tempo pra chegar na rodoviária, tinha comprado as passagens mais cedo para as 19h, tinha reservado as cadeiras 47 e 48. Lembrei então que ainda teria que encontrar Henrique no shopping. "Bom, assim eu aproveito e compro umas revistas e uma escova de dente". A gente sempre esquece algo quando arruma a mala. Peguei o circular do Campus, e sentei-me numa cadeira no meio do ônibus, liguei meu mp3 que tocava Chemical Brothers, e esperei o circular chegar ao ponto final ao lado do shopping que eu havia marcado, algumas horas antes com Henrique.
No shopping, dirigi-me primeiro a banca de revistas. Vasculhei a parte de quadrinhos procurando algo de interessante. Nenhuma das que costumo colecionar, X-Men, mas algumas relacionadas a mega saga que está sendo publicada agora, Dinastia M, mas pensei bem. Eu ía gastar tanto dinheiro nesta viagem, pra que uma revista que no fundo não me serviria de nada, que eu leria em 15 minutos ou 30 no máximo. Afinal dentro da minha bolsa estava Hell, e eu queria terminar aquele livro ainda aquela semana. Resolvi esperar Henrique apenas ouvindo música, o mp3 passeava agora entre músicas de Miss Eliot e Sean Paul. Sentei a uma distância que podia observar a parada que Henrique iria descer e fiquei observando o movimento, as pessoas indo e vindo, algumas belezas estranhas, outras pessoas nada belas, todas seguindo sua vida, conforme a luz do sol se despedia.
Atrazado meia hora, Henrique chegou. Ansioso, precisando de um cigarro, como ele sempre chega quando desce de um ônibus. "Não temos tempo amigo, quem mandou chegar tarde". Logo o outro ônibus que nos levaria a rodoviária chega. Eu percebo que estou com fome. Comento isso. Cronomêtramos o tempo para tentar comer algo antes de embarcar. E já estamos dentro do ônibus. Sentamos um de frente para o outro. Mas logo uma cadeira fica vaga e sentamos um de lado para o outro. A duas cadeiras do cobrador. Ainda na frente do ônibus. Vamos rindo e conversando. Alguns telefonemas são atendidos. Confirmamos que estamos indo. Recebemos a notícia que teremos que pagar mais caro pela pousada porque todas as outras estão lotadas. Ao mesmo tempo que nos entristecemos porque teremos que pagar mais caro, ficamos felizes porque agora sabemos que a cidade está lotada de gente de fora.
Chegamos na rodoviária. Localizamos nossa plataforma de embarque e olhamos para o relógio. Ainda dá tempo de um lanche e de tirar dinheiro para a viagem. Mas antes quero dar uma passada no banheiro. Banheiro. Espelho. Nota mental: meu cabelo continua caindo. Elogio mental: nem tô tão gordo assim. Vamos tirar dinheiro. R$ 150, 00. Acho que dá pra nós dois durante o fim de semana. Qualquer coisa levo meus cartões. Vamos comer. Eu peço um enroladinho (adoro salcicha) e um nescau prontinho, Henrique pede um pastel de forno e um refrigerante. Ele que paga. Adoro que paguem pra mim. Mas fui eu que comprei as passagens. Ele nem tem coragem de recusar. Comendo ainda, percebemos que as pessoas já estão entrando no ônibus. Terminamos nosso lache e subimos para encontrar nossos lugares.
Entramos. Rindo. Conversando. Encontramos nossos lugares e quando olho pra baixo encontro uma menina sentada em um deles. Henrique não sabe o que fazer. Eu muito menos. Ela olha pra nós como se não soubesse o que está acontecendo. A senhora ao nosso lado olha pra mim e em seu olhar está a explicação de tudo. A empresa vendeu assentos em pé, esta menina não tem um lugar marcado. Ela deveria viajar em pé, ou sentar-se caso alguém desistisse. Mas eu não queria me estressar. Henrique sentou-se do lado da menina. Eu sentei atrás. Cadeira 51. O rapaz que estava sentado do meu lado, então, vendo a situação ofereceu-se pra trocar de lugar com Henrique. Eu declinei num primeiro instante, eu tinha esperança que a menina se tocasse, mas ela não pretendia, então eu pedi ao rapaz que trocasse de lugar, se ele não se incomodasse. "Claro que não".
Lugares trocados já a caminho de nosso destino. Primeira parada ainda dentro de Natal. Sobem algumas pessoas que ocupam os ultimos lugares vazios. A maioria fica de pé. Todas se deslocam pro fundo do ônibus. Segunda parada ainda em Natal, aí mais algumas pessoas sobem, desta vez ficando em pé na parte dianteira do ônibus. O cobrador ainda não passara recolhendo e checando as passagens. E eu já havia me tranquilizado porque os donos das cadeiras que ocupávamos indevidamente com certeza não apareceriam. Eu já estava com o texto ensaiado pra expulsar aquela menina do lugar dela. "Sua rashinha..." era como começava. Ia baixar a bicha com certeza! Uma bicha barraqueira!!
Só que de repente, ouvimos um estampido. Eu olho pra fora. Achava que era um pneu. Uma pedra. Um traque e quando olho pra dentro do ônibus vejo as pessoas se jogando no chão. Meu primeiro pensamento foi como as pessoas são bobas, provavelmente eram crianças brincando na rua, mas em seguida eu vejo um cara, magro, de estatura mediana, negro, com cavanhaque, armado com um revolver. Logo por trás dele se formam mais outros vultos, tão magros quanto, mas de pele mais clara, um com outra arma de fogo, e outro armado com o que eu viria a perceber depois que era uma faca.
Não consigo raciocinar muito bem. Mas vejo Henrique escondendo o celular e a carteira dele dentro da cueca. Repito o gesto inconscientemente. Ouço pela primeira vez a voz do ladrão ordenando que passemos tudo. Carteiras, bolsas, celulares. Ele gritam. Agitam as armas. Dizem que alguém vai morrer ali se ninguém cooperar. As pessoas passam os celulares. Carteiras. Eu fico quieto. Não consigo me mexer. Só imagino que se ele chegar perto da gente, vai desconfiar de nem eu, nem Henrique termos celulares nem carteiras. Fico com medo dessa possiblidade e começo a inventar desculpas que nenhuma parece ser convincente. Imagino que Henrique pode dar a carteira dele. Sei que ele não tem muito dinheiro na carteira. Ao contrário de mim. Nosso dinheiro estava comigo. Meus cartões, caso perdessemos o dinheiro, estava comigo. Mas ele se recusa. Mas também logo percebo que por causa das pessoas em pé, os ladrões não podem chegar muito próximo da gente, eles apenas mandam que passemos tudo, e eu finjo que sou invisível.
As carteiras, bolsas e celulares acabam. Mas os ladrões não querem descer. Dizem pro motorista continuar andando. Agora eles pedem relogios e joias. Olho pro meu pulso e só tenho algumas pulseiras de contas. Nem lembro da existência de meu piercing nesta hora. Mas pensando bem eu não consigo tirar quando estou calmo, imagino nervoso como o ar estava ali. Pai nosso que estás no céu. O ônibus cheirava a tensão. Santificado seja o vosso nome. E ar ficava mais pesado conforme se ouvia baixinho, múrmurios de choros, gritos de crianças apavoradas e orações. Venha nós ao vosso reino. E os ladrões andam por cima das costas das pessoas que se abaixam amedrontadas nas cadeiras. Seja feita a vossa vontade. Agora que o único ladrão que estava sem arma de fogo fala pela primeira vez. Assim na terra como no céu. Grita pra que um rapaz passe-lhe a aliança. O rapaz apanha. O primeiro ladrão. O negro. Grita que eles têm que descer. Eles correm para frente do ônibus. Levam sacolas cheias. As pessoas ainda se mantêm tensas. Eles descem. O ônibus parte.
E do ônibus, contra os ladrões, são disparados três tiros. Pelo rapaz que trocou de lugar com Henrique. Do lado da minha janela. Eu vi a arma. E fiquei encantado pelo fogo do disparo. Parece que o tempo parou naquele instante.

12 comentários:

  1. Meu deusuuu.... faltou dizer q quando eles desceram e os tiros foram disparados, todos do onibus se abaixaram... e tbm a janela como vidro kebrado q o motorista terminou de tirar depis de 40 minuntos parados na policia rodiviaria federal !
    .
    hauauhuhauhaauhauha

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  2. Bom.. Novamente e De novo!
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    Querido.. Postagem excelente! Adorei esta sua aventura.. Fiquei na Duvida se você comprou ou não a escova de dentes.. Outra Duvida.. XIngou henrique pelo Atraso né?
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    Salvo as Duvidas... Quero deixar Claro Que quero receber de suas mãos devidamente dedicado a mim, Seu primeiro Livro!
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    E um Conselho Em caso de perigo Extremo.. Simule 1 desmaio.. é Tiro e queda! Eu Sei Que é Bem Pintoso, Mas.. Deve Funcionar..
    Nunca Fui assaltado!BOns anjos? talvez, sós ei que tenho medo de tal violência.. nunca se sabe do Que são capazes de fazer, "crianças" armadas.
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    No Demais post Aprovadissimo Com Louvor.. amei o Final.. Me lembrou da vez que atirei pela primeria vez.. (sim sou matador nas horas vagas! além de michê, traficante e babyciter) o Cheiro da pólvora, o clarão.. enfim... Magica... tragica! Rimou.. que GAy!

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  3. Olá...
    Passando para agradecer e retribuir a visita!
    Gostei do seu blog e principalmente da maneira como escreves!
    Parabéns!
    Abraços!

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  4. uh!!! fiquei sem ar.
    Otimo relato, vou passar por aqui mais vezes.
    Abração!!!

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  5. foox,
    grato pela visita.
    bom saber que vc tbm mora na " taba".
    gostei do seu blog:limpo,bonito!
    vamos contatar mais...
    abs.tertu

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  6. brigado pela visita
    é verdade isso que aconteceu? ou é um texto que vc escreveu?
    abrcs

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  7. caraca veio...
    que aventura... nossa, muito constragendor...
    aqui... gostei do seu blog, e do seu texto...
    vou te adicionar no meu..
    beijão cara

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  8. Amigoooooo! Tudo bem? Nossa, que aventura HARD, hein? Imagino o sufoco que vcs passaram...
    Bem, resolvi atender um pedido seu... Rssss Passa lá no meu blog!
    beijos!

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  9. Rapaz, muito legal esse relato e os outros posts também! Adorei!
    Que coisa tensa! Eu me imaginei vendo aquilo tudo!

    Bem, eu viria agradecer pela visita e falar sobre o comentário que fizeste, mas tô é curtindo o teu post.

    Ok... Viajei legal ao ler o comentário! Minha cabeça foi a mil! Fizeste-me pensar em muitas coisas! Gostei da tua opinião e ao ler teu blog pude entender um pouco mais do teu ponto de vista. Falando nisso, muito interessante o que escreveste em relação a teu passado!

    Uma ótima semana para ti!

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  10. Caraca! Eu estou, tipo, pasmo com esse texto.
    Isso aconteceu de verdade?
    Cara, eu nem sei muito o que dizer! Eu estou impressionadíssimo!
    E, fora que, está muito bem escrito!

    Adorei essa parte aqui:
    "Sentei a uma distância que podia observar a parada que Henrique iria descer e fiquei observando o movimento, as pessoas indo e vindo, algumas belezas estranhas, outras pessoas nada belas, todas seguindo sua vida, conforme a luz do sol se despedia."

    Gosto de fazer isso, as vezes inconseqüêntemente, outras quando saio para higienizar minha mente...
    O ser humano não é um objeto fascinante em todos os seus atos?

    Obrigado pela visita lá no meu blog!
    Vou passar aqui no seu mais vezes! Gostei muito da sua postagem!!!

    Grande abraço, rapaz!

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  11. Meu Deus como vc escreve bem! Juro que me arrepiei quando vc juntou a oração com o texto! Perfeito! Parabéns pelo talento amigo, quem me dera escrever em prosa assim. Bjs pra ti e ótima semana...

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  12. Belíssimo!
    Pra meu gosto, um dos melhores textos que vc já publicou aqui!
    Parabéns!

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway