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sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Creta: O Dom do Belo Deus

, em Natal - RN, Brasil


Os centros de culto de Apolo na Grécia eram Delfos e Delos e datam de VIII antes de Cristo. O santuário de Delos foi dedicado também à sua irmã-gêmea, Ártemis. Em Delfos, no entanto, o deus era venerado como o grande matador da serpente Python e como profeta. É, sem sombra de dúvida, nesta função que adquire desde a Grécia arcaica, que Febo Apolo se tornou mais importante para todas as cidades-estado da Hélade. De sua origem oriental, Apolo trouxe a arte de inspiração (semeía kai térata), isto é, o sacerdote ou sacerdotisa era possuído pelo deus e neste estado de transe falava sobre o passado e o futuro daqueles que consultavam o oráculo; o deus da luz também ensinava a seus sacerdotes à observação dos presságios dos dias, das estrelas e do movimento dos planetas para prever o futuro. O trabalho oracular introduzido a partir de Anatólia era bastante popular, fazendo do deus um dos poucos personagens pan-helênicos, isto é, cultuado em todas as cidades gregas sem exceção, inclusive nas colônias gregas na Ásia, África e Itália. Mesmo o deus também estando conectado com rituais de cura (através do Paean, o médico dos deuses), e inspirava magia através de uma canção (hino, paián) que deixava o fiel e o sacerdote (iatrománteis) em êxtase permitindo a cura; mesmo ele mantendo uma popular figura de deus que evita o mal (Apollon Alexikakós), nos tempos clássicos, era como profeta que Apolo era mais importante.
E é também como parte do ritual de iniciação do sacerdote para tornar-se apto a falar pelo deus que os mitos que falam de relações homoeróticas envolvendo Apolo se encaixam. Diz Filóstrato, o Jovem, em Imagens, no III século d.C, ao descrever uma pintura sobre cujo tema é o amor de Apolo e Jacinto:

"O filho de Leto para o amor dos jovens promete dar-lhe tudo o que ele possui em troca de permissão para associar-se com ele, pois o deus vai ensinar-lhe o uso do arco e música, e entender a arte da profecia, e não para ser inábil com a atração, e presidir o concurso da palestra, e ele vai conceder a ele que, andando no carro puxado por cisnes, ele deve visitar todas as terras caras à Apolo" (24) .

Febo Apolo promete dar aquele que o ama tudo o que ele possui. E um dos talentos que o deus da luz possui é esta semeía kai térata, trazida do Oriente, que permite que o seu iniciado possa comunicar-se diretamente com ele e, portanto, também saber do futuro. A técnica, portanto, somente é ensinada àqueles que o deus amaA expressão "amado de Apolo" é bastante comum entre os profetas tanto homens como mulheres. Marpessa, Cassandra, foram mulheres que ao ganharem o amor do deus ganharam o dom da profecia (mantía). Alguns homens também ganham o mesmo dom ao receberem o beijo do filho de Zeus e Leto. Temos uma lista de amantes que também eram sacerdotes e/ou profetas: Apolônio de Rodes, no Argonautica (II. 178), e o Pseudo-Apolodoro, no Bibliotheca (III, 1, §2), falam de Atimnio, filho de Fêniz e Cassiopeia, ou de Zeus e Cassiopeia, era um belíssimo jovem, que também fora amante de Sarpédon, mas amado pelo deus, chegou a ser cultuado em Creta. 
Diz Pseudo-Apolodoro:

[3.1.2] Agora Astério, príncipe dos cretenses, casado com Europa e trouxe suas crianças 
9, mas quando eles estavam crescidos, eles brigavam entre si; porque amaram um menino chamado Mileto, filho de Apolo por Aria, filha de Cleochus.
10 Como o menino era mais amigável para Sarpedon, Minos foi para a guerra e teve o melhor dele, e os outros fugiram. Mileto desembarcou em Caria e ali fundou uma cidade que chamou de Mileto depois de si mesmo; e Sarpedon aliou com Cilix, que estava em guerra com os Lycians, e tendo estipulado para uma parte do país, tornou-se rei de Lycia.
11 E Zeus concedeu-lhe a viver há três gerações. Mas alguns dizem que eles amavam Atimnio, filho de Zeus e Cassiopeia, e que era sobre ele que eles brigaram. Radamante legislou para os ilhotes
12 mas depois ele fugiu para a Beócia e casou Alcmena
13; e desde sua saída do mundo, ele atua como juiz em Hades, juntamente com Minos. Minos, residente em Creta, aprovaram leis, e se casou com Pasífae, filha de Hélios
14 e Perseis; Asclepíades mas diz que sua esposa era Creta, filha de Astério. Ele gerou filhos, a saber, Catreus, 
15 de Deucalião, Glauco, e Androgeus: e filhas, a saber, Acalle, Xenodice, Ariadne, Fedra; e por uma ninfa Paria tinha Eurymedon, nephalion, Crises e Philolaus; e por Dexithea tinha Euxanthius.

Plínio, no História Natural e As Cartas de Filostrato, conta sobre Branco, que seria ou filho de Apolo ou filho de Smicrus e amante do deus, sua mãe era uma mulher de Mileto, que, enquanto estava grávida, teve uma visão de que seu ventre estava sendo perfurado com um raio de luz. Branco recebeu então habilidades proféticas de Apolo e introduziu a adoração do deus em Didyma e Mileto. Seus descendentes, o Branchides, eram um clã influente dos profetas (Reunindo-se em conselho, os Címios deliberaram consultar o oráculo dos Branquides sobre o partido a tomar [Heródoto, História, 1, CLVII]). Luciano  também o cita em seu Diálogo dos Deuses (6.2), entre Zeus e Eros.

EROS: Você pode me deixar fora, Zeus! Acho que eu você está sendo mal comigo! Eu sou apenas uma criança; uma criança rebelde.
ZEUS: Uma criança, mas nascido antes de Japeto não é? Você é um velho ruim! Só porque você não tem barba, e nem cabelos brancos, acha que pode passar por uma criança?
EROS: Bem, e o que tais danos, ó poderoso, tem este velho já feito a você para que você fale em acorrentar-me deste jeito?
ZEUS: Pergunte ao seu próprio sentimento de culpa, ó mal. As brincadeiras que você me jogou! Sátiro, touro, cisne, águia, chuva de ouro, eu fui tudo no meu tempo; e eu tenho que lhe agradecer por isso? Você nunca por acaso fez as mulheres apaixonarem-se por mim; ninguém é ferido com meus encantos, que eu tenha notado. Não, deve haver magia nele sempre; e devem ser mantidos bem longe da vista. Eles gostam do touro ou o cisne bem o suficiente, mas uma vez que eles puseram os olhos em mim, e eles estão com medo por suas vidas.
EROS: Bem, é claro. Eles são apenas mortais; a visão de Zeus é demais para eles.
ZEUS: Então, por que Branco e Jacinto gostam tanto de Apolo?
EROS: Dafne fugiu dele, de qualquer maneira; apesar de seu cabelo bonito e seu queixo suave. Agora, vou dizer-lhe o caminho para conquistar os corações. Mantenha essa égide de vocês tranquilos, e deixe seu raio em casa; torne-se tão inteligente como você pode; enrolar o cabelo e amarrá-lo com um pouco de fita, obter um manto de púrpura, e os sapatos enfeitados com ouro, e marchar adiante para a música de flauta e tambor; e veja se você não pode conseguir um mais fino com Dionísio, para todos os seus Ménades.
ZEUS: Oh! Eu não vou ganhar nenhum corações em tais termos.
EROS: Oh, nesse caso, então não se apaixone. Nada poderia ser mais simples.
ZEUS: Atrevo-me a dizer; mas eu gosto de estar apaixonado, só que eu não gosto de todo esse alarde. Agora mente; se eu deixá-lo fora, é sobre esse entendimento.

Píndaro em Píticas (v.106) e as Narrações de Conon citam Carneus que era um vidente da Acârnia, filho de Zeus e Europa, que havia sido criado pela mãe do deus, Leto. Criado junto com o deus, seu companheiro de infância, também fora amante de Apolo. Conta Pausânias que Carneus acompanhou os Heraclidas em sua invasão a Grécia, mas foi morto por Hipotes por que suas profecias eram obscuras. Apolo no entanto vingou o amante, atingindo os dórios com a peste, que só foi afastada quando os Heraclidas expulsaram Hipotes do seu acampamento e instituíram o culto a Carneus, para felicitar o deus.
Pausânias, em vários trechos de Descrição da Grécia (3.24.5, 4.31.1, 4.33.5), mas, principalmente, quando ele se dedica a Esparta, o historiógrafo conta o mito, diferenciando o profeta do culto específico a Apolo que acontecia na maior cidade-estado da Lacedemônia:


[3.13.3] Carneus, a quem eles davam o nome "da Casa", teve honras de Esparta, mesmo antes do retorno dos Heraclídes, o seu lugar está na casa de um vidente, Crius (RAM), o filho de Theocles. A filha deste Crius foi vista quando ela estava enchendo o seu cântaro por espiões dos dórios, que entraram em conversa com ela, e visitaram Crius e aprenderam com ele como tomar Esparta.

[3.13.4] O culto de Apolo Carneus foi estabelecida entre todos os dórios desde então.  Carneus, um acarnaniano por nascimento, que era um profeta de Apolo. Quando ele foi morto por Hipotes, filho de Filas, a ira de Apolo caiu sobre o acampamento dos dórios que entraram em exílio por causa da culpa de sangue, e a partir deste momento o costume foi estabelecido entre os dórios de propiciar o vidente acarneu. Mas esse não é o Carneus lacedemônio, que era adorado na casa de Crius o vidente enquanto os aqueus ainda estavam na posse de Esparta.

[3.13.5] A poetisa Praxilla representa Carneus como o filho de Europa, Apolo e Leto sendo seus enfermeiros. Há também uma outra conta do nome; em Tróia, às árvores que foram cortadas pelos gregos para fazerem o grande cavalo que venceu a guerra vieram de um bosque que era consagrado a Apolo. Ao saber que o deus se indignou com eles, para evitar a ira do Deus, os gregos propiciaram-lhe sacrifícios e nomeado Apollo Carneus da árvore carneia que derrubaram para o cavalo, um costume prevalecente desde velhos tempos.


6 comentários:

  1. Acho que este texto foi o mais complexo de toda a sua série sobro homohistória....

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    1. foi? teve algo que vc não entendeu, meu querido?

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    2. Não. deu pra entender tudo. Mas que ele foi complexo, isso ele foi... rs

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    3. ufa!
      então tá tudo bem!

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  2. Gostei muito desse texto FOXX!
    Não sabia que o próprio Zeus também gostava de rapazes, isso é muito interessante!

    Obrigado pela partilha :3

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    1. sério? nossa, a história de Ganimedes é tão famosa. Mas que bom que vc agora sabe né?
      =)

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Ernest Hemmingway