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terça-feira, 20 de agosto de 2013

Fenícia: O Senhor das Mulheres

, em Natal - RN, Brasil

Os fenícios, religiosamente, adoravam rochas e árvores que consideravam objetos divinos. As pedras sagradas chamados metil, ou seja, morada de Deus, muitas vezes eram pedras duras e negras com formas cônicas ou ovo, muitas vezes meteoritos caídos do céu. Árvores sagradas eram às vezes árvores reais, outras colunas de bronze ornamentadas, terminando em um cone. Estes ficavam em lugares altos, principalmente topo de montanhas, mas também templos erguidos em forma de pirâmide de degraus Cada cidade fenícia tinha seus próprios deuses, mas apesar disso todos os fenícios acreditava em um deus chamado de Baal (senhor) e uma deusa chamada Baalit (senhora). Este deus era um benfeitor iluminado que dispersava a vida entre os homens. Ele representava o sol, e era retratado às vezes como um ser humano, às vezes como um homem com cabeça de touro, acreditava-se que ele era caprichoso e sanguinário e para satisfazê-lo era comum os sacrifícios humanos, sobretudo de crianças. A deusa, baalit (senhora), chamada também de Astarté, esta era a deusa da lua, da primavera e da fertilidade.
No entanto, cada cidade tinha seu deus protetor Baal-Melkart era o deus de Tiro, era retratado com um grande guerreiro e excelente navegador, mas no seu templo ele era adorado na forma de uma imensa esmeralda. Em Cartago, o baal da cidade se chamava Moloch, que era representado com um colosso de bronze e também gostava de sacrifícios humanos. Já em Biblos, o grande deus chamava-se Adônis, esta palavra é a versão grega do nome do deus que deveria ser algo como Adão ou Adon, e é, basicamente, através de fontes gregas que sabemos a maior parte do culto a este deus. 
Por exemplo, o nascimento de Adônis é envolto em confusão para aqueles que esperam uma única versão autorizada. Walter Burkert, famoso mitólogo, explica que os helenos decididamente patriarcais e envoltos com uma forma de pensamento que organizava o mundo através da genealogia, deram como primeiros pais do deus Biblos e Chipre, indicadores fiéis de onde seu culto surgiu, mesmo lugar de onde veio o culto de Afrodite.
Existem várias versões para seu nascimento, a comumente mais aceita é que Afrodite (nome grego de Astarté) fez com que Mirra cometesse incesto com o seu pai, Ciniras, rei da Síria, por vingança. A ama de Mirra ajudou-a a realizar o plano e deitar-se com seu pai, no escuro; no entanto, quando Ciniras percebeu que estava com sua filha, graças a uma lâmpada deixada acesa, ele ficou furioso e a expulsou de casa, perseguindo-a. Mirra fugiu de seu pai e Astarté transformou a jovem na árvore da mirra. A jovem no entanto ficou grávida do próprio pai, e transformada em árvore, continuou sua gravidez até que um belo menino nasceu do tronco da árvore. Este mito explica inclusive o porquê da árvore sagrada de Adônis ser a mirra.
Após nascer, a versão grega diz que Cibele é a responsável por criar a criança, esta uma deusa frígia, e quando este torna-se adulto, um grande caçador, Astarté apaixona-se imediatamente por ele, a deusa então abandona seu marido e vive junto com o caçador entre as florestas e cavernas do atual monte Líbano, porém Baal enfurecido, ao descobrir o amante da esposa, transformou-se em um javali e atacou o jovem que ferido, esvaiu-se em sangue. O líquido vermelho que jorrava de suas veias transformou-se em anêmonas ao misturar-se com as lágrimas da deusa.  
Ao descer ao reino dos mortos, Mot, o deus da morte, apaixonou-se por Adônis também e quando Astarté desceu aos ínferos para buscá-lo e trazê-lo de volta a vida, o deus só permitiu sobre uma condição: que ele permanecesse quatro meses do ano junto a ele no inferno, contrariada Astarté teve que aceitar as condições do deus, porém sua tristeza era tão grande quando ele partia de volta a sua vida com Mot que toda a vida definhava, era o período do inverno.
Além da relação com Mot é interessante saber que Adônis era um deus que era cultuado sobretudo por mulheres, em rituais secretos. Os rituais de Adônis se davam quando o verão estava no seu auge, em Biblos. No templo havia um caixão aberto, que esperava os moradores da cidade encontrarem uma estátua de madeira pintada com um grande sangramento na sua lateral, local onde o javali-Baal havia ferido o jovem deus. A estátua era trazida, colocada no caixão, o esquife era velado  e enterrado nos chamados Jardins de Adônis. Os homens traziam galhos verdes de mirra que era deixados para serem secados ao sol, Baal, enquanto as mulheres em massa, gritavam, chorava, raspavam suas cabeças, corriam pelas ruas com roupas esfarrapadas, batendo no peito, gemendo de dor e arranhando o próprio rosto como se fossem as esposas, a baalit, que agora perdia seu grande amor. Explica Walter Burkert, em seu livro Religião Grega, que o clímax do culto é o luto pelo deus morto.

11 comentários:

  1. Uau! Uma verdadeira aula sobre mitologia! Tenho uma grande amiga que é apaixonada por esse assunto. Me lembrei dela.Juntos vocês iriam passar hora a fio, degustando sobre o assunto! Eu fico abobalhado como as histórias se mesclam, se cruzam e se fundem! Muitos fatos justificam o que "entendemos" ser a história da humanidade...Muito interessante!!!Beijão

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    1. Ah, amigo, mitologia é minha paixão mais antiga, o motivo pelo qual eu fui estudar história na faculdade.

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  2. E não é que eu entendi tudo! (rsrsrs) Ou quase tudo: Cartago era uma cidade fenícia? É a mesma cidade, no norte da África, que entrou em guerra com Roma? Só mais uma: os gregos absorveram algum deus fenício ou eu que fiz confusão?

    Abração

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    1. Vc entendeu tudo.
      Cartago é uma cidade fenícia, é a mesma do norte da África que entrou em guerra com Roma. Cartago é uma colônia, os fenícios tinham várias espalhadas por todo o Mediterrâneo, inclusive alguns historiadores supõe que eles tinham algumas no Atlântico também, no norte da África e na Ibéria, com os quais eles faziam comércio com celtas e vikings. Existiu inclusive uma teoria muito divulgada até metade do século XX que haveria no Rio de Janeiro também uma colônia fenícia por causa de inscrições rupestres que se consideravam complexas demais para serem de origem indígena (um preconceito ridículo com nossos índios, obviamente).
      Os gregos não tinham o costume de absorver deuses de outros povos, porém absorveram deuses fenícios, Adriano. Afrodite é o maior deles! Afrodite, como eu disse no texto, é o nome grego de Astarté, o culto é exatamente igual (falarei disso num próximo post inclusive), os gregos só criaram uma estória própria para eles. Mas também podemos citar Adônis, cujo nome fenício se perdeu e só o conhecemos pelo nome grego. Isso acontecia porque os gregos e fenícios habitavam a mesma região, o litoral da Ásia banhado pelo Mediterrâneo onde hoje fica o Líbano, Síria, Turquia, Chipre, etc, nessa região compartilhada os gregos entravam em contato e participavam dos grandes rituais religiosos fenícios e absorveram alguns deles, principalmente o de Astarté.

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  3. "Mitologicamente" trágico - e interessante!

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  4. Seus textos históricos são sempre maravilhosos Foxx. Só fiquei com uma dúvida sobre os gregos terem adotado deuses fenícios também(assim como egípcios, como você me explicou um tempinho atrás) mas a dúvida já foi esclarecida lá em cima ^_^ .

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  5. Olha, esse Adônis é mesmo um arrasa corações! Qualquer um que olha pra ele se apaixona... rs

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  7. Olá, por favor, não tenho encontrado a respeito da mulher felícia. O que representava a mulher felícia? Pode me ajudar ?

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    1. Como assim, José Carlos? O que exatamente você quer saber sobre a mulher fenícia?

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway