Google+ Estórias Do Mundo: O Que Todo Cidadão Gay Precisa Saber

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O Que Todo Cidadão Gay Precisa Saber

, em Natal - RN, Brasil


Vamos falar de política? Marina Silva e Heloísa Helena estão agora fundando um partido novo que tem como nome provisório Rede Sustentabilidade, no entanto, além de lançar uma nova moda para o nome dos partidos políticos brasileiros vejo nas duas um mais do mesmo entre os políticos brasileiros que sinceramente não me anima a votar. Para quem não lembra, ambas foram candidatas a presidência em 2006, Marina Silva repetiu o feito em 2010. As duas são egressas do PT e saíram em épocas diferentes, Heloísa Helena ainda durante o governo Lula (em 2003) em protesto ao que chamaram de "políticas econômicas neoclássicas" e Marina Silva (em 2009) desgostosa em relação ao desenvolvimento sustentável do país. Marina se uniu ao Partido Verde, então; Heloísa Helena ajudou a fundar o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).
Quando ambas se candidataram em 2006 eu pesquisei melhor sobre elas para ver o que elas prometiam em suas plataformas políticas. Afinal, como historiador que sou, é-me impossível votar em tucanos, havia algumas possibilidades de esquerda: Dilma com o PT, Marina com o PV e Heloísa com o PSOL. A primeira vista parecia uma excelente situação para qualquer pessoa que estava cansado de ver o governo brasileiro nas mãos constantes da oligarquia cafeeicultora paulista, contudo a análise mais superficial fez com que Dilma se tornasse, não a melhor opção, mas a única opção. 
Marina Silva foi a primeira que os movimentos LGBTs procuraram em busca de que ela tomasse alguma posição clara sobre políticas específicas para esta minoria. Ela fugiu da raia. Lembro perfeitamente de como militantes gays praticamente armavam tocaias para surpreendê-las e arrancarem afirmações, até que alguém conseguiu empurrar uma bandeira do arco-íris e Marina Silva afastou de si como se tocada pelo próprio demônio. A máscara então caiu. Evangélica, a candidata do Partido Verde estava muito mais preocupada com a salvação de sua alma ou com os votos de uma parcela extremamente conservadora da população para assumir qualquer compromisso com a comunidade gay. Marina, no entanto, foi obrigada a tomar uma posição que fosse e ela saiu com a bendita ideia de um pebliscito: a proposta de Marina Silva era que os direitos reinvindicados pela militância gay como proteção contra ataques de natureza homofóbica e discriminação de qualquer tipo; casamento civil igualitário e todos os direitos que advém do casamento, sendo, especificamente, a adoção de crianças por casais gays, fossem todos decididos por meio de uma votação "democrática". 
O problema da democracia é que ela não é o governo do certo, é o governo da maioria. Vamos criar uma suposição aqui: digamos que Silas Malafaia ou Marcelo Crivella conseguissem passar uma lei que propusesse um plebicito no qual todos os gays do país seriam deportados. Digamos! Isso, de fato, não é algo certo ou correto, expulsar alguém do seu próprio país, no entanto se o pleito tivesse um resultado positivo a proposta ela seria cumprida com a força da lei. E, como os gays, as pessoas que seriam prejudicadas diretamente, são uma minoria, e também são minoria os heterossexuais que apoiam cidadãos gays, o resultado final deste sufrágio seria, provavelmente, a aprovação com ampla maioria. Nestas situações, cabe ao Estado, não expôr a minoria a os leões democráticos, e sim protegê-la para que ela possa ter direitos iguais apesar de ser menor. 
Já Heloísa Helena deu mais sorte. Como a ex-ministra Marina era uma candidata mais forte, a militância gay correu para ela; mas ao ver que esta tinha as raízes dentro da neopentecostalismo, voltou-se para a terceira opção de esquerda, a professora, senadora de Alagoas, Heloísa. Contudo a bomba do aborto explodiu, jogada por Serra, tentando desestabilizar a campanha de Dilma. O assunto então esfriou e a pauta se voltou ao movimento feminista e a legalização do aborto. Em entrevista ao Jornal da Globo, em 31/08/2006, Heloísa Helena foi perguntada sobre o aborto e respondeu que era contra, dizendo: "Se alguém acha que ser de esquerda ou ser feminista é ser favorável ao aborto, então não me incluam, os aborteiros do país, na estrutura da esquerda". Isto apesar do programa do PSOL ser claramente a favor do descriminalização do aborto, programa este que Heloísa Helena ajudou a montar, afinal ela é uma dos seus fundadores. Sobre as políticas gays, no entanto, não houve nenhum registro, nenhuma manifestação positiva ou negativa, da parte da senadora, porém muitos disseram que ela era favorável porque também no programa do partido diz: "Combate à homofobia e à discrimianção e repressão policial e social motivadas pela opção (sic) sexual dos indivíduos". Evangélica, no entanto, motivo pelo qual a fazia ser contra as regras do partido sobre o aborto, ficou difícil para mim acreditar que ela também, por causa de sua posição religiosa, também não pudesse esquecer este trecho do programa partidário.
Agora em 2013, então, Marina Silva e Heloísa Helena abandonam seus respectivos partidos para fundar uma nova sigla. A Rede Sustentabilidade nasce num momento em que elas novamente se vêm em conflito com os partidos. Marina Silva viu sua imagem manchada pelos vereadores eleitos e a prefeita de Natal, Micarla de Souza, do PV. Marina exigiu sua expulsão do partido, não aceita pelos outros colegas, pouco tempo depois a própria Marina pediu seu desligamento a chapa. Heloísa Helena viu o PSOL, partido a qual fundou, se tornando o maior defensor da causa gay através da imagem de Jean Wyllys. A Rede Sustentabilidade começou com a proposta audaciosa de não aceitar nenhum inscrito no partido que tivesse sua ficha suja, isto é, que respondesse a algum processo na justiça; esta ideia já foi a primeira a cair. Vendido como a nova política brasileira, o Rede Sustentabilidade, contudo, não passa de um novo nome para o modelo ultrapassado que já vimos. Gente conservadora que finge ser de esquerda, igual ao meu pai. Não confio nenhum pouco nessas duas senhoras, mas agora você pode dizer que tudo isso é apenas daddy issues.








35 comentários:

  1. Política neste país Tupiniquim me dá noje ... não confio e nem acredito em ninguém ... todos são farinha do mesmo saco ...

    bjão

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  2. Vamos falar de tekpix? Nunca votei nem votaria em nenhuma dessas duas. Menos ainda agora. Queria JW pra Presidente!

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  3. Gostei do teu texto, no começo eu até tinha esperança nelas, pois assim como vc jamais votaria em tucanos, mas acabei simpatizando mais com o PT, apesar de várias ressalvas. agora eu penso que esses partidos estão interessados na maioria que pode eleger eles, tentam fazer um jogo duplo mas não tem como sustentar esse jogo por muito tempo. Mas as vezes eu penso também se somos uma minoria tão pequena assim, pq se juntar gays, lésbicas, feministas, pessoas mais liberais acho que faríamos uma diferença

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    1. O problema é confiar nessas pessoas "mais liberais", Frederico. Elas existem? Será? Outra coisa: existem várias feministas homofóbicas também!

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  4. Bom dia, gosto muito deste blog,parabéns aos idealizadores, e quanto ao texto concordo, mas eu tenho uma certeza quanto a política brasileira, não acredito nos meios de comunicação, tudo o que a rede globo anuncia,por exemplo, a gente tem que considerar o contrário, porque é notório a manipulação, as noticias são tão improváveis que chegam a beirar o ridículo, que mesmo a pessoa mais leiga fica na dúvida.
    Um abraço.

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    1. obrigado, João Carlos, que bom que vc gosta do Estórias do Mundo, é bom saber que tem gente que curte meu trabalho.
      Sobre a Globo, eu concordo plenamente, e devemos incluir ai também a Veja, a Folha de São Paulo, o Jornal O Globo e a Época, dá pra ver inclusive agora como eles têm vendido a história de que a Petrobrás está falindo, como se fosse possível a empresa que tem o monopólio de produção de combustível num país como o Brasil que vive apenas de transporte rodoviário ter prejuízo. Agora também recentemente como eles trataram as manifestações contrárias a presença da blogueira cubana Yáoni Sánchez. Eles querem vender a versão deles da realidade, independente da verdade.

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  5. Obrigado pelas informações. Mesmo. E eu até sigo a fã page da Marina no facebook. Estou repensando minhas ideias! A sério!

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    1. Pois repense mesmo, Rodolfo, e que bom que vc gostou da nova tipografia.

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  6. Ah, mais uma coisa. A tipografia deu uma melhorada incrível. Muito mais agradável aos olhos. Obrigado e parabéns!

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  7. Parabéns. Você foi perfeito em suas colocações. Fora as três!!!!
    Bjux

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  8. será que um dia teremos efetivamente uma representação política? ou isso é simplesmente impossível pois o preço a pagar é a integração e, não sei se integrar seria algo desejável já que ser guei é ser algo 'fora do normal'?

    não vejo representação que não use a luta por direitos como arma para nos guetificar e controlar e, como disse, não sei se ingressarmos na política com uma representação 100% guei ajudaria..

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    1. É, Melo, sua dúvida é a que permeia todo movimento gay faz muito tempo: devemos nos integrar? devemos romper com a sociedade atual e criar uma nova? desde a década de 1980 se discute se a melhor opção era abandonar esta sociedade e lutar pela sua desconstrução (desconstruir famílias, Estados, configurações de gênero), ou se seria mais útil se integrar a ela, aceita-la e aprender a viver dentro dela. Não sei realmente que resposta dar a isso, mas sou obrigado a reconhecer que seria quase impossível desconstruir de verdade essa sociedade, no máximo, flexibiliza-la, que acho que é o que fazemos agora, não acha? Integrar-se, per si, sempre soou-me como se esconder por debaixo das cobertas, sem visibilidade nenhuma, essa opção definitivamente não é aceitável, mas acho que temos conseguido desestabilizar algumas das chaves de nossa sociedade, como casamento por ex, ao reconstruir essas instituições nós gays, sem dúvida, estamos transformando o mundo em um lugar muito melhor.

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  9. Prefiro os pedreiros cafuçus... hahahaha! Muito (MUITO) bem colocado, Mister Foxx! Bjs!

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  10. nossa, adorei ler este post.. muita coisa que eu não sabia sobre as candidatas..sempre voto nulo, acho que as mudanças devem partir da população, nenhum governo vai mudar assim, com tanta condescendência.

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    1. Otávio, mas se vc vota nulo, vc não ajuda a mudança nenhuma, vc apenas ajuda a manter o status quo. É exatamente o que eles querem, quanto mais pessoas votarem nulo se eximindo do processo, menos chances de mudança nós temos.

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  11. A politica brasileira me deixa tão descrente sobre nosso futuro, mas conhecendo tantas pessoas dispostas a lutar mesmo que superficialmente como eu, aumenta a esperança sobre nosso futuro. Sobre os políticos alguns de vez em quando suspiram algo de bom ou tentam. Das duas pensei em votar na Marina que não ocorreu ao estudar mais sobre ela.

    Abraços Foxx, adore esse post!

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    1. se a luta for apenas superficial, Luiz, eu não acredito que algo possa ser feito, mas ao mesmo tempo se conscientizar, ler sobre os candidatos, e votar com responsabilidade não é uma luta superficial, apesar de parecer pouco, é tudo que é necessário.

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  12. Parabéns pelo post. Concordo com tudo. Para mim, nenhuma delas é confiável. São ainda piores do que os outros políticos porque os outros pelo menos a gente sabe que não são santos. Elas, ao contrário, vendem uma imagem que não resiste a um olhar um pouco mais cuidadoso.
    Se dependesse delas, não teríamos democracia alguma, isso sim! Se elas são incapazes de aceitar os diferentes, os que não confessam suas alardeadas crenças, como podem falar em democracia?
    Entre as duas, anularia meu voto!
    Existem muitas histórias a serem contadas, ainda...
    Abraços

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    1. pois é, elas acabam por iludir ainda mais a população por tentarem criar uma imagem de que são diferentes dos outros políticos. Como os brasileiros estão ávidos por algum político que mude nossa situação atual que qualquer um que levante esse discurso atrai de imediato atenção. Elas se usam disso, mas no fim não são mais nada do que o mesmo.

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    2. Elas são piores! Porque querem passar a imagem de uma pureza que não têm!

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  13. Não entendo nada de política, mas deu uma boa resumida pra minha cabeça. Enfim, não gosto muito da esquerda..
    bjo

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    1. amigo, você não gosta da esquerda? o mais engraçado é que até a o surgimento dos yuppies, na década de 1980/90, com certeza seria impossível sequer imaginar alguém que fosse gay e não fosse de esquerda... mas tudo bem. só que tem que acrescentar isso, nenhuma das duas hoje, Marina e Heloísa, se consideram de esquerda, os analistas, hoje, as consideram de extrema direita.

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    2. Elas são fundamentalistas, de direita!

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  14. Oi, Foxx!

    Quando eu lí pela primeira vez sobre isso, já estava de bode com Marina Silva e Heloisa Helena que, como você disse, estão recheadas de dogmas e isso é incompatível com quem pretende qualquer tipo de governabilidade em uma democracia, mesmo que capenga como são as democracias atualmente ou, talvez, o conceito de democracia seja algo que, no final das contas resulte numa utopia inviável. Outra coisa que parece detalhe, mas essa palavra "sustentabilidade" está tão gasta e insustentável aos meus ouvidos, pelo menos, que fico com raiva só de ouvir. Enfim, Essa legenda e essa dupla dinâmica de pretendentes ao governo, tô fora!

    Beijos do José Solon

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  15. Explicando: quem vai pra cama sozinho sou eu... tendo em vista que com o PS4 o marido vai ficar na sala de tv forever... entendeste? Hehehehe!

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  16. Ótimo! É chato, é ruim... mas precisamos mesmo falar de politica de vez em quando... ok, tinha que ser com mais frequência. rs

    É pra chorar ou rir da"rede sustentabilidade" dessas duas? Sustentabilidade por sustentabilidade, homossexuais são muito mais sustentáveis - nesse mundo cheio de barreiras - do que elas possam sonhar.

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  17. Longe de mim defender a Marina, mas existem boatos de que ela não teria dito que é a favor de plebiscito para casamento gay, e que essa ideia era concernente somente à legalização da maconha e aborto. Fato é que ela também não se manifestou a favor da união civil entre pessoas do mesmo sexo e eu acho que ela não vá se manifestar mesmo. Não se posicionar sobre determinados assuntos é tomar uma posiçao de omissão, e é o que acho que ela vá fazer com todas as questões 'delicadas' para evangélicos que se dizem progressistas.
    Parabéns pelo texto, Foxx
    Jean Wyllys para presidente ;)

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  18. Foxx:

    A política é suja e até estes políticos que se dizem favoráveis aos LGBT só estão pensando em votos. Fato.

    Beijo e linda semana.

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  19. Gente... Por isso que não me fio em politicos...

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  20. Por que não falar de política?
    Gosto dos seus posts !
    Abraço !

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  21. Chubby sofre. Experiência própria. Hahahahahaha! Bjs!

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  22. gostei mt do seu blog
    super inteligente sua colocaçao e fantastica e ja tinha feito essa pesquisa deve ser pq tbm sou formado em historia
    mas vejo um problema mt seria na comunidade gay a ql eu pertenço que no momento q temos q militar e revindicar nossos direitos q sao as paradas isso nao acontece
    a parada nao passa de um carnaval onde as pessoas vao para bj na boca porisso nao parcipo + pq se eu quiser bj na boca tenho 365 dias no ano pra isso e nao no dia q vou querer ser tratado como um cidadao e nao como um marginal

    mas adorei seu blog e vou recomendar a tds do meu convivio

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    1. Murilo, pensa bem: se vc acha que ninguém milita e reinvindica direitos nas paradas, ai no lugar de vc ir e militar e reivindicar, vc deixa de ir, eu escuto sempre esse discurso aqui pela internet, todos dizem que não vão, como é que alguém vai reinvindicar algo então se todo mundo que se preocupa com isso deixou de ir? eu vou, levanto meu cartaz e grito o que for preciso, tomo avenida e não deixo carro passar, faço a minha parte, pode ser pequena, mas se todos pararem de fazer sua pequena parte pq a maior parte não faz a dela, ninguém nunca fará nada. Eu te aconselho, sei que é uma ousadia afinal mal te conheço, mas te aconselho a ir sim. Vá a parada e faça sua mini-parada de um homem apenas pedindo direitos, vc estará fazendo a sua parte.

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    2. essa e uma nova perspectiva vou tentar

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway